PRINCIPAL    EQUIPE    LIVRO DE VISITAS    LINKS    ARQUIVO DE ATUALIZAÇÕES    ARQUIVO DE COLUNAS    CONTATO

Editorial Sambario
  
Edição nº 78 - 23/01/2021

CONCORRENTES NAS VOZES DOS COMPOSITORES

Numa conversa com meu amigo Cassius Silva sobre o samba de Zé Katimba para a Vila Isabel, em homenagem a Martinho da Vila, surgiu a ideia de relembrar, nessa nova edição do Editorial, alguns concorrentes defendidos pelos próprios compositores, nomes tradicionais do gênero, com gravações simples e sem muita "pirotecnia" tipo firulas com alusivos imensos e intérpretes caros. Prevalecem registros mais "raiz" de melodias nostálgicas, conforme a bela obra do veterano Katimba para seu grande amigo Martinho.

SE INSCREVA NO CANAL SAMBARIO NO YOUTUBE

Cassius é responsável pelo excelente canal Carnaval e Parintins, que costuma divulgar os sambas concorrentes em parceria com a página 100% Carnaval (comandada por outro grande amigo, Michel Grillo), além de ter o podcast Papo de Toada voltado para o boi-bumbá. O igualmente parceiro Fábio Freitas, que possui um ótimo canal com dicas de como assistir aos desfiles na Sapucaí, além de fazer rankings de alegorias e comissões de frente, também ajudou na relação. Todos os vídeos abaixo com as obras são do Carnaval e Parintins. Vamos recordar!



BALANÇA POVO QUE CHEGOU MARTINHO (Zé Katimba - Vila Isabel 2021-2) - Uma obra que nos remete a sambas-enredo ouvidos nos bolachões dos anos 70. Versos curtos, poucas linhas (apenas 20), ao estilo que o velho Katimba costumava trazer para a sua Imperatriz. O refrão principal que você não esquece na primeira audição está lá também. Zé Katimba, que fará 90 anos em 2022, grava com a categoria de sempre o samba, que assina junto com o cavaquinista Alceu Maia (arranjador há anos dos discos oficiais de sambas-enredo) e o filho Zé Inácio. Com o cancelamento definitivo do Carnaval em 2021, a disputa de samba da Vila (e das demais escolas) está indefinida.



ENTRA NA RODA, MARIA (Tantinho - Mangueira 2016) - A obra-prima sobre Maria Bethânia marcou o retorno do saudoso Tantinho às disputas da verde-e-rosa, num lindíssimo registro da versão concorrente pela voz do compositor. O samba caiu na semifinal, mas se tornou tão inesquecível que foi parar no álbum da cantora em gratidão à Estação Primeira "Mangueira - A Menina dos meus Olhos", lançado em 2019. O próprio Tantinho, que morreu no ano passado, é quem grava a obra no disco da menina dos olhos de Oyá, indicado ao Grammy Latino em 2020.



BATE FORTE EM MINHA ALMA, REFRIGERA O CORAÇÃO (Denise Reis - Cubango 2016) - De forma descompromissada, a escritora niteroiense Denise Reis se interessou pelo enredo "Um Banho de Mar à Fantasia" sobre a água realizado pela Cubango e inscreveu um samba que impressionou pela melodia, ainda que a letra, simplória em alguns momentos, em nada descrevesse a sinopse. Mesmo com a gravação praticamente caseira feita pela própria Denise, o hino ganhou muitos simpatizantes, entre eles Leonardo Bessa, que se ofereceu para regravar o samba e defendê-lo na quadra. Não adiantou: caiu nas primeiras eliminatórias.



SOU VILA ISABEL, SOU PRIMEIRO LUGAR (Tunico da Vila e Pedro Luís - Vila Isabel 2014) - O filho de Martinho nos ofereceu essa composição cantada pelo próprio, com melodia classuda e uma letra extensa com poucos refrães. O cantor Pedro Luís, um dos compositores, também participa da gravação. "Eu quis fazer um samba que exaltasse a força da nossa comunidade, um samba livre de refrões, de linhas. Acho que consegui fazer um samba bem tradicional e com aquele grito guerreiro para dar uma força ainda maior", disse Tunico, em entrevista para o jornal O Dia. A atriz Suzana Pires também assina a obra, que foi finalista da disputa.



NASCE DE REPENTE UM SAMBA-ENREDO PRA ANIMAR A MINHA GENTE (David Corrêa - Salgueiro 2012) - Outra grande perda do samba em 2020, o multicampeão David Corrêa não conseguiu muitas vitórias nos últimos anos. Esse simpático samba-enredo, que recebe uma bela gravação de David com a voz em plena forma, não chegou na final daquela disputa salgueirense. O "Vou me embora agora" que abre o refrão principal, claramente remete ao clássico "Macunaíma" (Portela 1975), de sua autoria.



O FILHO FIEL VOLTOU (Tantinho - Mangueira 2011) - Vale a pena lembrar mais uma vez Tantinho, que para homenagear Nelson Cavaquinho, nos proporcionou outro samba incrível, que a doce voz do saudoso compositor deixa ainda mais sublime. Foi desclassificado antes da final.



A VILA VEM AÍ E NÃO VEM MANSA (Mart'nália e Jorge Agrião - Vila Isabel 2008)- Esse valentíssimo samba chegou a proporcionar uma pequena briga de família. Martinho, que também colocou hino na eliminatória de 2008 da Vila para o enredo "Trabalhadores do Brasil", teria dito que se a obra da filha fosse melhor do que a sua, retiraria a composição da disputa. Ambos caíram na semifinal. Numa gravação raiz, Jorge Agrião comanda o canto enquanto Mart'nália entoa o alusivo e solta cacos, levantando um samba vibrante, envolvente, de uma ginga irresistível, mas que provavelmente teria uma execução difícil num desfile devido à complexa melodia da extensa segunda parte. Mas é infinitamente superior às duas obras finalistas daquela temporada, que geraram uma infeliz e terrível junção. Ah, e também é bem melhor do que o concorrente de Martinho.



SOU A ALMA, SOU A CARA, SOU O RETRATO (Sylvio Paulo e Juan Espanhol - Arranco 2006) - O enredo "Gueledés - O Retrato das Almas" marcou um retorno às raízes do velho Arranco do Engenho de Dentro, com o veterano intérprete Sylvio Paulo voltando a ganhar samba na escola depois de anos. O próprio gravou e defendeu junto com o velho parceiro Juan Espanhol (falecido em 2019) o elogiadíssimo samba-enredo, que ganharia o Estandarte de Ouro do Grupo de Acesso em 2006. O então novato Zé Paulo Sierra cantou a obra na avenida, mas a interpretação do grande Sylvio Paulo nessa versão dos compositores é mais tocante. Ele voltaria a ser o cantor oficial do Arranco em 2008, ficando por apenas uma temporada.



OLOKUM, SENHOR DOS MARES (Luiz Carlos da Vila - Vila Isabel 2005) - Na volta da Vila ao Grupo Especial, a escola promoveu uma acirradíssima final cuja disputa ficou centralizada entre a parceria de André Diniz, que seria a vencedora, e esse magnífico concorrente do veterano Luiz Carlos da Vila, que grava com maestria a obra. O samba, de melodia mais tradicional e nostálgica, acabou preterida pela pegada mais atual e com cara de desfile contemporâneo do hino que desfilou. Luiz Carlos da Vila morreria em 2008.

SE INSCREVA NO CANAL SAMBARIO NO YOUTUBE

_________________________________

Atitude sensata, por parte do prefeito carioca Eduardo Paes, ao anunciar antecipadamente aquilo que, no fundo, todo mundo já sabia mas não queria admitir: o cancelamento do Carnaval em julho, deixando os desfiles das escolas de samba na Sapucaí para 2022. Com o programa de vacinação devendo se estender por um longo período, é prudente evitarmos qualquer tipo de ilusão, deixando de lado planejamentos equivocados e que se tornariam desnecessários. O foco agora é na ajuda aos trabalhadores do Carnaval, que dependem da folia para seus sustentos. Que o poder público não os deixe na mão.