SAMBARIO - O site dos sambas-enredo

Os merchans mais caras-de-pau do carnaval - Um dos assuntos que ainda está gerando tititi nos bastidores carnavalescos é o veto da Rede Globo ao polêmico trecho do refrão do samba da Rosas de Ouro, que dizia "Tá na boca do povo, o cacau é show". Mesmo com a clara referência à fábrica de chocolate que patrocina a escola já registrada no CD oficial de São Paulo, a Vênus Platinada, sempre obcecada com o dito "merchan grátis", exigiu à agremiação que o trecho fosse modificado. Portanto, no Anhembi, a Rosas cantará "o cacau chegou". Um revés e tanto para essa mania que anda assolando o carnaval nesses nebulosos tempos mercantilistas e desvalorizando a beleza dos desfiles e dos sambas em prol de propagandas baratas. Tudo bem que, para as escolas, o patrocínio é sempre necessário. Mas certas coisas têm limites... Inspirado nesse episódio, o SAMBARIO apresenta um ranking com os 10 merchans mais bizarros da história do carnaval. Como que as escolas conseguiram exaltar os respectivos patrocinadores, ainda que de forma indireta ou praticamente despercebidas. Vocês notarão também que nenhum dos carnavais citados abaixo obteve êxito, e o pior é que tem escola do Grupo Especial de 2010 do Rio na jogada...

10º "Tamanho orgulho te cantar na academia" (Salgueiro 2002) - O olho clínico do colunista do site Rixxa Jr. quem me apresentou essa: pegue as três primeiras letras do vocábulo "tamanho", presente no último verso do samba-enredo salgueirense, e descubra quem patrocinou o carnaval da Academia naquele ano. A Beija-Flor, que também exaltou a aviação naquele mesmo ano, entrega no CD quem bancou o desfile nilopolitano, com o cavaco reproduzindo os acordes do clássico jingle da Varig "Estrela brasileira do céu azul..." durante o grito de guerra do Neguinho.

9º "Meu samba é Franca paixão" (Estácio 1999) - A cidade de Franca, no interior paulista, é um dos polos do setor calçadista no Brasil. E como o enredo estaciano falava de sapatos, nada como exaltar o patrocinador transformando o nome da cidade em adjetivo pra encaixar no refrão central, numa forçada de barra histórica. Já diria nosso colunista Cláudio Carvalho, com relação ao trecho "E dou um bico na tristeza, que beleza...": "Na boa, quem merecia um 'bico' era esse samba".

8º "Hoje a energia é o nosso desafio e o nosso desafio é aqui" (Mangueira 2005) - Só faltou a Estação Primeira bolar uma rima pra palavra "Petrobrás", tamanha a cara-de-pau em citar o slogan da estatal durante praticamente toda a letra do samba-enredo. Se "o desafio é a nossa energia", até hoje os mangueirenses procuram justificar exatamente a falta de energia daquele desfile...

7º "2004 é o sonho brasileiro" (Mangueira 1997) - Pela primeira vez depois de uma tentativa no longínquo 1936, o Rio de Janeiro lançava uma candidatura com o objetivo de sediar os Jogos Olímpicos. Na época, a campanha foi divulgada de forma incessante pela mídia. Porém, a prefeitura do Rio esbanjou demais em propaganda (em especial no desfile mangueirense, que falou sobre a história das Olimpíadas), se esquecendo de formalizar um projeto consistente e os R$ 18 milhões gastos pela cidade não foram suficientes para o Rio sequer passar para a segunda fase do processo que escolheria Atenas para sediar aqueles Jogos. Mas se 2004 foi o sonho brasileiro, todos sabem que 2016 é a realidade.

6º "Samba, suor e cerveja, um batuque na mesa... schindô" (Estácio 2003)- Mais uma vez a Estácio figura no ranking, dessa vez no enredo em homenagem às Cachoeiras de Macacu. A escola deu o seu jeitinho em exaltar uma certa marca de cerveja, de forma indireta no canto... mas clara na letra. Ao invés do natural "skindô", ela apresentava a pérola "schindô". Essa foi de chorar...

5º "Lembrando PIS e PASEP e também o FUNRURAL" (Beija-Flor 1975) - Convém recordarmos também merchans políticos. Até um ano antes da trinca Laíla-Joãosinho Trinta-Neguinho (mais a grana do Papai Anísio) revolucionar esteticamente o carnaval, a então obscura e minúscula Beija-Flor de Nilópolis não passava de um capacho puxa-saco do nebuloso regime militar. O título do enredo "O Grande Decênio" dizia tudo: celebrava os 10 anos dos milicos no poder. Além do PIS-PASEP e o FUNRURAL, o MOBRAL é a outra invenção da ditadura citada na letra do horrendo samba nilopolitano (o mesmo órgão aparece no samba de 1973 da Beija, sobre educação). Interessante citar ainda o enredo da Vila Isabel em 1990, "Se esta Terra fosse Minha", que, já em tempos pós-ditadura, aproveitou para defender a reforma agrária.

4º "Feito Garoto me lambuzei" (Caprichosos 2006) - No último ano da agremiação de Pilares no Grupo Especial, o enredo sobre o chocolate precisava, de alguma forma, entregar o patrocinador na letra do samba-enredo. Pelo menos não soou tão forçado...

3º "Faz da criança um cidadão Positivo pra nação" (Portela 2010) - A mudança da letra do samba soou esquisita na primeira audição, justamente pela ausência de óleo de peroba da diretoria portelense, que permitiu uma aberração dessas. O trecho original "Faz da criança inspiração pro futuro da nação" se transformou nisso daí, tudo para exaltar a marca de computadores que investe no polêmico enredo sobre inclusão digital. A Portela periga interromper sua trajetória ascendente em virtude do tema duvidoso. Espero que eu esteja enganado... Afinal, como costumo dizer: a jaqueira é positiva pra nação.

2º "Vibra arquibancada, explode o camarote número um" (Grande Rio 2010) - O merchan da Brahma já era bastante previsível, já que o enredo é em homenagem aos 20 anos do camarote da cervejaria. Porém, a imposição tardia da empresa em exigir que os termos "guerreiro", "brasileiro" e "número um" constassem na letra, mesmo após a entrega dos sambas por parte dos compositores, foi de uma maldade extrema, a tal ponto que os mesmos desembolsassem mais grana nos estúdios para que os sambas fossem regravados com as mudanças exigidas pela Brahma. Por isso que a Sapucaí ouvirá esse refrão em forma de jingle na semana que vem. Só espero que não levem esse "explode o camarote número um" ao pé da letra...

1º "Moça o teu doce é saboroso... lá em nosso Ninho tem sabor especial" (Grande Rio 2005) - O primeiro colocado do ranking não podia ser diferente. Os dois trechos da primeira parte do samba explicam tudo. E, pra fechar com chave de ouro, nada como recordar Wander Pires, intérprete do samba-enredo, pedindo licença à apresentadora Leda Nagle no especial de carnaval do programa "Sem Censura" para exaltar o patrocinador logo após o canto do samba. E assim, Wander, com todos os seus falsetes e reverberações manjadas, soltou: "É da Nestlééééé...".

Os melhores sambas-enredo da década II - Com o sucesso das coletâneas postadas no editorial anterior, o SAMBARIO oferece ao internauta mais três discos com seleções da década, dessa vez focando principalmente o carnaval de São Paulo, cujo decênio foi privilegiado em termos de samba e desfile. São dois álbuns, dos mesmos moldes dos disponibilizados no último editorial: um referente aos melhores sambas-enredo que desfilaram no Sambódromo paulistano entre 2001 e 2010 e outro com os mais belos concorrentes que não foram pro Anhembi. Ainda oferecemos o volume 2 dos melhores concorrentes da década no Rio de Janeiro. Sobre a coletânea dos melhores de São Paulo, antes que alguém se queixe, chegamos a um consenso de que nenhum samba de 2010 mereceu entrar na seleção. Confira as capas (de autoria de Lucas Vagner Milato) e o repertório de cada um dos discos:

1 - Salgueiro no Mar de Xarayés, é Pantanal, é Carnaval (Salgueiro 2001)
Autores: Tiãozinho, Renato Raposo, Marcelo Raposo, Preto Velho e Claudinho Frutline
Intérprete: Celino Dias

2 - Para sempre no seu Coração, Carnaval da Doação (Mocidade 2003)
Autores: Toco, J. Brito, Domenil, Guinna, Marcelo do Rap e Rafael
Intérprete: Jackson Martins

3 - Salgueiro, Minha Paixão, Minha Raiz - 50 Anos de Glória (Salgueiro 2003)
Autores: João Estevam, Marcinho, Duda Ferreira e Eduardo Medrado
Intérprete: Anderson Paz

4 - Um grito que ecoa no ar. Homem/Natureza - em perfeito equilibrio (Império Serrano 2005)
Autores: Luiz Carlos do Cavaco e Jorginho do Império
Intérprete: Jorginho do Império

5 - Um por todos e todos por um (Imperatriz 2006)
Autores: Eduardo Medrado, João Estevam, César Som Livre e André Bonatte
Intérprete: Anderson Paz

6 - O Império do Divino (Império Serrano 2006)
Autores: Carlinhos da Paz, Paulinho Valença, Karlinhos Madureira, Luiz Carlos, Alexandre Roberto e Do Canto
Intérprete: Carlinhos da Paz

7 - Áfricas - Do berço Real à corte brasiliana (Beija-Flor 2007)
Autores: Tom Tom e Cia
Intérprete: Tom Tom

8 - João e Marias (Imperatriz 2008)
Autores: Junior Duarte, Armenio Poesia, Arthur Bernardes, Carlinhos da Penha e Freddy Vianna
Intérprete: Freddy Vianna

9 - Reconstruindo a Natureza, recriando a vida: o sonho vira realidade (Portela 2008)
Autores: Wanderley Monteiro, Luís Carlos Máximo, Toninho Geraes e Toninho Nascimento
Intérprete: Pixulé

10 - Tambor (Salgueiro 2009)
Autores: Márcio André, Walkir, Grassano e Aranha
Intérprete: Alexandre D'Mendes

11 - E por falar em amor, onde anda você? (Portela 2009)
Autores: Flavio Bororó, Ronaldinho PQD, Cristiano Moreno, Edmar Oliveira e Luiz Fróes
Intérprete: Tinga

12 - Mocidade apresenta: Clube Literário Machado de Assis e Guimarães Rosa, estrelas em poesia (Mocidade 2009)
Autores: Igor Leal, Diego Nicolau, Iuri Abs, Arlindinho Neto e Gustavo Henrique
Intérprete: Gilsinho

13 - Histórias sem fim (Salgueiro 2010)
Autores: Zedi, Mauro Torrão, Ivan Salvador, Carlos Bobola, Josias Passa Régua
Intérpretes: Yeda, Babinha, Marcelo e Vicente

14 - Mangueira é Música do Brasil (Mangueira 2010)
Autores: Conrado Laurindo, Fred, Mancha do Cavaco e Willian Tadeu
Intérprete: Guilherme Partideiro

Bônus Track - Estado Maravilhoso Cheio de Encantos Mil (Vila Isabel 2001)
Autores: Evandro Bocão, André Diniz e cia.
Intérprete: Wander Pires

1 - Voei, voei. Na Vila aportei, onde me deram a coroa de rei (Nenê de Vila Matilde 2001)
Autores: Santaninha, Baby, Clóvis e Rubens Gordinho
Interprete: Baby

2 - A lenda da lenda: do Fascínio de Ophir ao Mistério das Encantadas (Mocidade Alegre 2001)
Autores: Ratinho, Biro-Biro, Ricardinho, Raphael e Gudi
Interpretes: Clovis Pê e Daniel Collête

3 - São Paulo dá Samba, Olha aí o Nosso Carnaval! (Acadêmicos do Tucuruvi 2001)
Autores: Leandrinho, Pagodinho, Luiz e Gustavo
Intérprete: Freddy Vianna

4 - Xeque-Mate (Gaviões da Fiel 2002)
Autores: José Rifai e Alemão do Cavaco
Interprete: Ernesto Teixeira

5 - Em Não Se Plantando, Tudo Nos Dão? Não! (Nenê de Vila Matilde 2002)
Autores: Paulinho Sampagode, Fabiano Sorriso, Edy, Pedrinho Sem Braço, Santaninha, Baby, Clovis e Rubens Gordinho
Intérpretes: Baby e Leci Brandão

6 - Omi - O Berço da Civilização Iorubá (Mocidade Alegre 2003)
Autores: Tico, Imperial, Silvio Negão, Silva Oliveira, Fábio Bonfim
Interprete: Daniel Collête

7 - A Revolta da Chibata. Sonho, coragem e bravura. Minha história: João Cândido, um sonho de liberdade (Camisa Verde e Branco 2003)
Autores: Carlos Junior e Didi
Interprete: Carlos Junior

8 - Do Além-Mar à Terra da Garoa... Salve Esta Gente Boa (Mocidade Alegre 2004)
Autores: Tico, Imperial, Silvio Negão, Fábio Bomfim, Biro-Biro, Raphael e Juninho
Intérprete: Daniel Collête

9 - Ipiranga, Berço Esplêndido de um Povo Heróico (Imperador do Ipiranga 2004)
Autores: Marcinho Queleke, Robson Batuta e Dall Acqua
Interprete: Moises Santiago

10 - Eu Também Sou Imortal (Vai-Vai 2005)
Autores: Danilo Alves, Marquito, Estevam, Vagner Almeida, Mineiro, Régis, Frá e Japole
Intérprete: Agnaldo Amaral

11 - Mar de Rosas (Rosas de Ouro 2005)
Autores: Emerson de Paula, Osmar Costa e Dema de Deus
Interprete: Darlan

12 - Bem Aventurados Sejam Os Perseguidos, Por Causa Da Justiça Dos Homens... Porque Deles É O Reino Dos Céus (Mancha Verde 2006)
Autores: Douglinhas, Vaguinho e Jaú
Intérprete: Vaguinho