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Edição nº 17 - 27/9/2008 Botando a mão no fogo - A vida de crítico de samba-enredo não anda nada fácil... Recentemente, o site Carnavalesco (da enjoadíssima vinheta "SRZD - Carnavalesco", que irrita qualquer um que ouve os concorrentes por lá) teve de tomar medidas drásticas em função dos muitos comentários de baixo calão postados pelos internautas nos tópicos sobre disputas de samba. Aquele espaço, então bastante aberto, passou infelizmente a estar destinado apenas à semeação de discórdias, com discussões fortes entre simpatizantes de determinadas parcerias, além dos próprios compositores também intervirem nas brigas, sobrando até para gente competente como o jornalista Eugênio Leal, que amargou algumas ofensas só porque se esqueceu de avaliar um ou outro samba. Ou seja, ninguém está livre desses infortúnios. Eu mesmo senti na pele no ano passado quando disse que a maioria dos trechos do samba salgueirense para 2008 era em tom maior. E o que dizer do nosso colunista João Marcos, quando este desferiu duras críticas à obra do Salgueiro de 2007? É... realmente a parada é complicada, mas mesmo assim eu não tenho medo de encarar. Por isso, meto a mão no fogo e, neste editorial, realizei uma resumida análise nas safras de cada escola do Grupo Especial, de maneira a tentar agradar a todos, apontando os meus favoritos por gosto pessoal. Mas como estamos cientes de que nem sempre o melhor samba-enredo leva a vitória nas disputas, também arriscarei a parceria que deve ganhar de acordo com o ponto de vista atual de determinada escola com respeito à influência de compositores e ao padrão atual dos desfiles, independente de meu gosto. Quem discordar de alguma coisa, pode me descer lenha à vontade pelo sambariobr@yahoo.com.br, mas de preferência sem ofensas pessoais. Críticas construtivas - eu disse construtivas - serão sempre bem-vindas! BEIJA-FLOR - "Oh
mãe, o seu ventre banhou". A parada já parecia
definida antes mesmo das eliminatórias se iniciarem em
Nilópolis. O samba-enredo de Cláudio Russo, se
tivesse a forma humana (apelando para um clichê), estaria com os
dois pés na Marquês de Sapucaí para ser a trilha sonora
oficial da escola na luta pelo tri em 2009. Para o enredo sobre o
banho, Laíla e sua trupe resolveram modificar o estilo de samba,
pedindo aos compositores algo mais suave com relação aos
sambas-enredo pesados com os quais a Beija-Flor desfilou nos
últimos carnavais. O resultado foi uma safra bastante contestada
até pelos próprios torcedores nilopolitanos. Mas a parceria de
Cláudio, com toda a sua experiência, conseguiu desenvolver uma obra
envolvente, com melodia inspirada verso a verso e refrões
fortíssimos, que compensam alguns problemas que a letra
apresenta. Os concorrentes que podem esboçar alguma reação
contra Cláudio Russo são os de Amendoim, com
melodia de boas variações e refrões competentes; de Sidnei
de Pilares e seu refrão principal arrasa-quarteirão, aliado ao lirismo das demais partes; e de Tom
Tom, que possui uma boa torcida e tem se apresentado bem
na quadra, embora eu o considere um samba fraco. SALGUEIRO - "Menina, quem
foi teu mestre?". Parece que, quanto mais se aproxima a
hora da final, mais a parada na Academia parece indefinida.
Porque, simplesmente, a safra salgueirense é qualificadíssima!
Algo que já era esperado, em função da riqueza do enredo sobre
o tambor. No entanto, se apenas a minha opinião pesasse, a
disputa já seria resolvida com a vitória da parceria de Edgar Filho.
Sem dúvida, para mim, é o melhor samba-enredo do ano em todas
as eliminatórias, por ter um quê de ousadia na melodia, de
desafio à padronização detalhada das obras atuais, além de
seu estilo ser um tanto nostálgico com respeito às obras dos
anos 70. Por todas essas
originalidades numa época em que o samba-enredo é vitimado por
um estilo de desfile repetitivo e sem inovações, cujo andamento
da bateria limita muito o requinte da letra e, principalmente, sua
melodia, mantenho-me surpreso com o fato da obra de Edgar Filho
ainda estar vivo na disputa, permanecendo entre os seis sambas
postulantes à glória de representar o Salgueiro na avenida. E
como são quatro sambas que disputarão a final da escola, quem
sabe a Academia não nos proporciona essa alegria de trazer uma
obra tão fantástica como a de Edgar na decisão salgueirense.
Quanto à minha expectativa de vitória, acho que a disputa se
centralizará entre as obras das parcerias do atual bicampeão Dudu
Botelho e de Guilherme Sá. Minha
preferência é por este segundo, que mistura valentia e lirismo
no momento certo, além de possuir um refrão central
maravilhoso. Mas creio que dê Dudu mais uma vez, não apenas por
trazer o favoritismo atrelado às suas duas vitórias anteriores,
mas também por possuir um samba-enredo extremamente forte,
principalmente por sua belíssima segunda parte, embora ainda
peque um pouco nos refrões, que ainda não caíram por completo
no meu gosto. A parceria de Xande de Pilares
apresenta uma obra desta linha, porém sem a força dessas duas
citadas. Já o samba de Moisés Santiago deve
chegar no máximo até a final, já que sua escolha pode
representar um retrocesso que se remeteria aos contestados sambas levados
pela escola de 1993 a 2006, com refrões oba-oba, melodia
marcheada e excesso de clichês na letra. A obra de Josemar
Manfredini também segue este mesmo caminho trilhado
pelo samba do Moisés. Uma pena o corte precoce do samba da
parceria de Márcio André, pois estava crente
que este chegaria à final. GRANDE
RIO - "Minha alma
é tricolor". A escola apresenta bons sambas em sua
disputa, procurando seguir a sua atual linha de sambas-enredo,
que não chega a ser uma unanimidade entre os bambas. A obra do
atual campeão Mingau é a mais aclamada, sendo o samba-enredo mais recomendado
para o desfile da Grande Rio, com bons refrões e melodia muito
bem variada nas duas partes. A obra de Márcio das
Camisas é mais animada, com um refrão principal que
gruda nos ouvidos e melodia que se destaca em alguns trechos, mas
o samba, ainda assim, é bastante inferior ao de Mingau. Um outro
samba-enredo que não é tão bem comentado, mas que possui muitas
qualidades, é o de Flávio Santtana. Com um
belíssimo refrão principal e uma melodia envolvente, é outro
samba que também faria bonito representando a agremiação de
Duque de Caxias. Outra obra que pode beliscar uma vaga na final
é o de Ney do Pagode. PORTELA - "Quem sabe eu
encontre você na avenida". A linha a ser seguida pela
escola continuará sendo a dos últimos anos, com obras que
apostam em lirismo e poesia. E muitos concorrentes da Portela
apresentam essas características. Os sambas foram divulgados
recentemente, mas dá para se ter alguma noção das obras que
aparecem com destaque na safra portelense. A composição da
parceria de Flávio Bororó é daquelas que
cativam à primeira audição, com uma segunda parte absurdamente
linda em todos os sentidos. É um samba que certamente fará
frente à Diogo Nogueira e companhia, que tenta
o tricampeonato com um samba-enredo de qualidade semelhante aos
seus dois anteriores, ou seja, também muito bonito, levando o
favoritismo gabaritado pelos dois trunfos anteriores. Outro
samba-enredo que se destaca é o da parceria de Mauro
Diniz, cuja dolência de sua melodia é louvável. Seu
único porém talvez seja a repetição do "amor, amor,
amor" nos dois refrões, mas é um samba que deve
crescer na disputa. Uma agradável surpresa é a presença de Eliane
Faria,
filha de Paulinho da Viola, com um samba na competição e
um refrão principal de excelente qualidade. A dupla do
Arranco, Espanhol e Sylvio Paulo, apresenta uma
obra bem suave, com versos de efeito, ao estilo que conhecemos
desta dupla multicampeã no carnaval. Faço menção
também ao samba de Serginho Procópio e
parceiros, que é um pouco diferente destes anteriores citados,
sendo bem mais pesado. Mas é um samba que ganha pontos comigo a
cada audição, em função de seu excelente conjunto melódico. Por fim, o veteraníssimo Ary do Cavaco,
que não integra nenhuma grande parceria este ano, concorre
sozinho com uma obra emocionante, que se assemelha a um samba de
quadra. Enfim, teremos em Madureira uma disputa acirradíssima,
mas que
certamente garantirá mais uma grande obra portelense na
Marquês
de Sapucaí em 2009. UNIDOS
DA
TIJUCA - "Dourado é o sol a clarear".
Numa safra bastante nivelada, vejo mais qualidades no samba de Júlio
Alves e Totonho, que em muitos trechos, principalmente na primeira
parte, deixa de lado as características funcionais corriqueiras
dos sambas da Unidos da Tijuca, partindo para o lirismo e a
poesia. Melhor dizendo: toda a primeira parte desta obra do
Júlio é um achado. Na minha opinião, os dois sambas que podem
desbancá-lo são os das parcerias de Ivinho do Cavaco
e de Valtinho Jr. IMPERATRIZ - "Vem curtir bom samba, pode chegar". Para contar a história da escola, os
compositores gresilenses nos proporcionaram uma belíssima safra,
da qual é difícil apontar com precisão um provável resultado.
A parceria que, a princípio, desponta como favorita é a de Josimar,
campeão em 2005 e 2008, pois sua obra é bem encorpada, com
trechos emocionantes e uma melodia muito interessante que
certamente garantirá uma boa passagem pela Marquês de Sapucaí.
A excelente obra de Guga também empolga em
muitos momentos, apostando mais no lirismo melódico. A lamentar
o recente falecimento de Veneza, integrante desta parceria e
vencedor na escola em muitos anos. Um outro samba adorável é o
de Inácio Rios, cuja leveza da melodia é uma
delícia de cantar. O samba-enredo de Armênio Poesia
e companhia também é muito aclamado pelos torcedores da escola,
sendo este mais valente. A obra de Tuninho Professor
também pode chegar lá... Enfim, é certo que a Imperatriz
Leopoldinense, para falar de seus 50 anos de história, trará um
lindo samba para a avenida. VIRADOURO - "Girou,
girou... despontou". Por ter uma melodia mais envolvente, dois bons
refrões (inclusive o principal) e estilo bem adequado aos
sambas-enredo atuais, aposto no tricampeonato de PC
Portugal (ele estava na parceria de Gusttavo Clarão em
2007). Inclusive,
a disputa deve se centralizar entre este samba-enredo do atual
compositor campeão (que abusa das gírias na letra) e o de Gilberto
Gomes, que lembra muito os sambas compostos por Clarão
para a escola, até porque Gilberto sempre fez parte de sua
parceria. Mas o samba-enredo mais conceituado da disputa é o composto pelos veteranos Heraldo Faria e Flavinho
Machado, que é bastante dolente, embora não tenha me
conquistado por completo. Porém, a obra nem de longe lembra as
atuais escolhidas pela agremiação niteroiense, que
ultimamente anda preferindo sambas mais funcionais e - por que não? -,
mais marcheados. Vale lembrar da papagaiada do ano passado,
quando o lindo samba de Gusttavo Clarão caiu logo nas primeiras
eliminatórias. MOCIDADE
-
"Samba verde e branco". O samba-enredo de Igor
Leal, Diego Nicolau e companhia arrancou-me lágrimas
logo em sua primeira audição, sendo emocionante do primeiro ao
último verso. A atual parceria campeã da Mocidade, desfalcada
de Marquinho Marino (que não quis concorrer este ano), se uniu
aos jovens Nicolau e Iuri Abs, finalistas em 2008, e capricharam
na obra, que larga com um franco favoritismo na minha humilde
opinião. Outro samba muito qualificado na disputa é o de Jefinho,
que se uniu aos veteranos e multicampeões Santana e Ricardo
Simpatia para compor uma obra bastante dolente, que pode ser a
maior desafiante da parceria de Diego. Já a obra de J.
Giovani pode chegar mais uma vez à final, mas, na minha
opinião, o samba tem menos força que o da mesma parceria no ano
passado. E o samba-enredo de Dico da Viola não me
convenceu, pecando em algumas partes. VILA
ISABEL - "Vi lá... no Theatro a cortina se
abrir". É outra disputa que parece definida antes
mesmo de começar. André Diniz se aproxima de
seu hexacampeonato particular (é ganhador na escola desde 2004)
com um samba bastante superior ao do carnaval passado, seguindo a
mesma linha das obras do compositor, sendo bem funcional e
trazendo alguma dolência em sua melodia. O concorrente de Mart'nália ganhou o reforço dos compositores
Eduardo Medrado e Kléber Rodrigues, famosos por inovarem nas
melodias dos sambas-enredo, mas que, porém, não cativam a diretoria das
escolas, que costuma movimentar a tesoura contra eles. É um samba
delicioso, bastante gingado, porém não tem a cara da Vila e
tampouco do carnaval atual. Pode chegar no máximo a uma
semifinal, se os diretores da Vila estiverem de boa vontade... O
também atual campeão Dedé Aguiar tenta seu
bicampeonato particular com um bom samba, embora este contenha
muitos clichês em sua letra. Já o samba-enredo de Luiz
Carlos da Vila é mais longo e um pouco arrastado. MANGUEIRA - "E nem cabe
explicação". Depois da surpreendente queda do samba
de Renan Brandão e companhia, considerada
então a única obra que poderia fazer frente à super-parceria
de Lequinho e Gusttavo Clarão, o resultado
parece irreversível na Estação Primeira. Até porque o hino
composto por Lequinho e parceiros, embora um tanto marcheado em
alguns momentos, possui o estilo dos atuais sambas mangueirenses.
Tanto por influência dos compositores quanto pela qualidade da
obra, deverá ganhar com o pé nas costas. Considerando que a safra da Mangueira não é das
melhores... Talvez o samba-enredo que mais faça frente à Lequinho é o do
veteraníssimo David Corrêa, que construiu um samba bastante
cadenciado. O da parceria de Paulinho Rocha, embora
tenha uma segunda parte demasiadamente longa,
também é bastante interessante. Já o concorrente de Índio
da Mangueira cai muito de produção na segunda parte. PORTO
DA PEDRA - "Sou Porto da Pedra e não vou me
calar". O tricampeonato da parceria de David de
Souza no Tigre se desenha com este fantástico samba, de
variações melódicas estupendas e feito sob medida para o
vozeirão de Luizinho Andanças. Mas a escola tem outras boas
opções, como a obra valente de Waldeir Melodia,
o lirismo do samba de Cici
Maravilha e a animação do samba-enredo de Ronald
Belfort. Teremos também, ainda no Grupo Especial, a reedição do Império Serrano, que levará "Lendas das Sereias" pela segunda vez em quatro carnavais (a Inocentes de Belford Roxo já pegara o samba "emprestado" em 2006). O intérprete Gonzaguinha, efetivado no microfone principal imperiano, teve boa atuação na gravação demo da obra, originalmente composta para o carnaval de 1976. No Grupo de Acesso, teremos a reedição do Império da Tijuca, que contará a história de Mestre Vitalino sob a trilha sonora do estupendo samba-enredo de 1977 da escola, que ganhou uma regravação espetacular de Pixulé. No Estácio, creio que a disputa se centralize entre os sambas de Thiago Daniel e de Alexandre D'Mendes. Minha preferência é pelo primeiro, defendido de forma brilhante por Diego Nicolau e com uma melodia muito bem trabalhada. Já Alexandre é o atual campeão na escola, e traz um samba bem mais valente. O que pode pesar contra Alexandre é que o hino da parceria para 2009 segue a mesma linha do samba de 2008, que teve uma pífia passagem na avenida. Outra disputa interessante é a da Santa Cruz. Evidentemente, Fernando de Lima larga com o favoritismo por já ter faturado o título na agremiação zilhões de vezes, sem contar que ele ainda se uniu à parceria de Melo, com quem a escola construiu a fusão que formalizou a obra de 2008. E o samba é bom! Mas o concorrente que conquistou meu coração na Santa Cruz é o de Gil Lessa, que traz uma melodia diferenciada e envolvente, daquelas que despertam todas as atenções logo na primeira audição. Outro samba que pode surpreender é o de Rodrigo Raposa. Bem, a sorte está lançada! Estamos entrando no mês de outubro, e as definições estão próximas de ocorrer. Muitas emoções à vista, portanto! Vamos ver quantos palpites irei acertar! Todos os sambas citados acima você pode baixar em nossa seção Sambas 2009. Tire as suas conclusões e veja se elas fecham com as minhas. Para fechar este editorial, confira o calendário com as datas das finais de sambas-enredo no Rio (tais datas podem estar sujeitas a alterações). Na próxima edição, iremos avaliar os 11 sambas campeões do Grupo Especial (fora a reedição imperiana). Até lá! 10 de
outubro (sexta-feira) - Renascer de Jacarepaguá e Paraíso
do Tuiuti PS: Com algum atraso, concedo meus parabéns à União do Samba Brasileiro, a grande campeã do Grupo Especial da LIESV (Liga Independente das Escolas de Samba Virtuais) em 2008. Marco Maciel |
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