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Edição nº 12 - 3/3/2008
Justificativas no ar - O site da LIESA já está
disponibilizando as planilhas das notas dos julgadores do Grupo
Especial, juntamente com as justificativas dos mesmos para as
avaliações diferentes de "dez". Como não poderia
deixar de Salve simpatia - Não sei como ainda não havia relatado essa história. Quase ao final do show de Jorge Benjor (D) no Teatro do Bourbon Country em Porto Alegre, no dia 18 de setembro de 2007, o rei do swing cantou "Peguei um Ita no Norte", famoso pelo popular "explode coração". Até aí nenhuma novidade, já que Benjor é salgueirense fanático. A maior surpresa, no entanto, viria a seguir. Após o último verso do samba-enredo de 1993 do Salgueiro, eis que o cantor entoa "Era uma vez/era assim que começava/eu era menino e hoje recordo/das histórias que vovô contava...". Isso mesmo! Jorge Benjor brindou o público com "O Saber Poético da Literatura de Cordel", obra-prima de 1973 da Em Cima da Hora. Um grande presente para esta agremiação querida esta lembrança de um dos papas de nossa música. Uma pena que a escola de Cavalcante tenha sido rebaixada para o Grupo D em 2009. Que a gloriosa Em Cima da Hora dê de uma vez a tão aguardada volta por cima, para o bem do nosso carnaval.
Top 10 - Intérpretes no disco - Fazendo uma espécie de plágio do nosso estimado colunista Rixxa Jr, tomei a liberdade de fazer um Top 10 carnavalesco. Nestes últimos dias vinha pensando: quais são os melhores intérpretes em matéria de gravação em disco? Não estou fazendo um apontamento particular de um intérprete no desfile, e sim de sua atuação fonográfica. Até porque a grande maioria eu não acompanhei em ação na avenida e de muitos não há sequer um registro de áudio durante um desfile. Sinto deixar de fora dessa lista feras como Neguinho da Beija-Flor, Silvinho do Pandeiro, Preto Jóia, Dedé da Portela, Quinho, Rixxa, Nêgo, Wander Pires, entre outros. A seguir, a lista de meus dez intérpretes favoritos no disco. Detalhe: Jamelão é considerado hors-concours a fim de evitar qualquer tipo de polêmica.
10º Grillo - Está na lista pela maestria e valentia com que defendeu os clássicos da Unidos da Ponte nos anos 80. Suas interpretações impecáveis e guerreiras no LP abrilhantaram ainda mais sambas como "E Eles Verão a Deus" (1983), "Oferendas" (1984), "Dez Nota Dez" (1985), "Tá na Hora do Samba que Fala mais Alto..." (1986), "G.R.E.S. Saudade" (1987), etc. 9º Rico Medeiros - Sua voz grave e rouca é notória pela emoção ao interpretar sambas do lirismo de "De Yorubá, a Aurora dos Deuses" (Salgueiro-78), "Rio de Janeiro" (Salgueiro-1981), "Traços e Troças" (Salgueiro-1983), "Fernando Pamplona" (Salgueiro-1986) e "Tereza de Benguela" (Viradouro-1994). Mas sua melhor atuação no disco, na minha opinião, ocorre no samba "Feliz por um Dia" da Lins Imperial para o LP do Grupo de Acesso de 1985, onde consegue imprimir uma emoção singular em um samba de enredo.
8º Carlinhos de Pilares - O saudoso e mais irreverente intérprete de todos os tempos figura na lista por seu eterno alto astral na gravação dos sambas, além de cantá-los perfeitamente e soltar cacos criativos na hora exata, glorificado por um carisma fora do comum, muito também em função de sua indefectível risadinha. Consagrou os sambas da Caprichosos, principalmente "E por falar em Saudade..." de 1985. Sua melhor atuação fonográfica talvez esteja no obscuro LP do Terceiro Grupo de 1979, em que surpreende com um notável lirismo na interpretação de "A Guerra do Reino Divino", samba da Lins Imperial em 1979.
7º Sobrinho - Dono de uma voz grave e potente, tinha o dom de transformar qualquer boi-com-abóbora em um verdadeiro espetáculo. Além das legendárias interpretações para os sambas da Unidos da Tijuca de 1981 a 1984, também ficou famoso por soltar cacos inusitados e, ao mesmo tempo, cultuados, durante as gravações. No samba da Vila Isabel de 1985, do nada larga um "coisa fofa". Quatro anos depois, como apoio de Jamelão na Mangueira, entoa um cômico "Re-ca-rey" logo após a citação de "Chico Recarey" no samba "Trinca de Reis". Isso sem contar o "eu te dou até mais do que isso" presente no samba "Obrigado Brasil", da Unidos de Bangu em 1983 (sua melhor gravação, na minha opinião).
6º Dominguinhos do Estácio - O veterano intérprete deverá encantar na Inocentes de Belford Roxo a partir do ano que vem. Provavelmente fará história novamente com a leveza de sua interpretação, aliada a um gigantesco carisma e descontração. Dominguinhos não é só conhecido pelos sambas animados que defendia na Viradouro e na própria Estácio. Nos primeiros anos de carreira, alavancou sambas líricos como "O que que a Bahia tem" (Imperatriz-1980) e "O Teu Cabelo não Nega" (Imperatriz-1981). Mas a melhor gravação que considero está escondida no Grupo de Acesso de 1978. É impressionante a emoção impressa ao belíssimo samba "O Mestre da Musicologia Nacional", que defendeu na Santa Cruz daquele ano.
5º Ney Vianna - Mesmo estando muito bem sucedido por gente talentosa como Paulinho Mocidade, Wander Pires e Bruno Ribas, até hoje a Mocidade suspira de saudade do seu melhor intérprete em todos os tempos. Aquele negro magro e alto transformava, com sua marcante voz grave, qualquer samba da agremiação de Padre Miguel em obra-prima. Versátil, conseguiu adaptar bem seu timbre tanto nos sambas mais leves da escola (década de 70) como nos mais pesados (anos 80). Ninguém imagina outro cantor entoando os legendários versos do samba de quadra "Cartão de Identidade", alusivo consagrado por Ney nos sambas da Mocidade de 85 a 88 no LP.
4º Aroldo Melodia - Um dos melhores intérpretes de todos os tempos e talvez o mais carismático de todos, encantou o Brasil inteiro com o lirismo de sambas como "Domingo" (Ilha-77), "O Amanhã" (Ilha-78), "O Que Será" (Ilha-79) e "É Hoje" (Ilha-82). A partir de sua passagem pela Mocidade em 1984, revelaria uma outra faceta: a de puxador irreverente. Dentre tantos sambas descontraídos, um lhe notorizou de vez: "De Bar em Bar, Didi um Poeta", o famoso samba de 1991 que marcou sua volta à União da Ilha. Sua atuação hilariante na gravação, com uma voz de bêbado que encarna de corpo e alma o folião que "toma um porre sem socorro porque está feliz", ajudou a tornar este samba-enredo uma de nossas canções mais cultuadas até hoje.
3º Quinzinho - Intérprete que marcou pela leveza de suas interpretações, com uma voz doce, grave e agradável de se ouvir, de maneira a um samba de qualidade mediana se consagrar apenas pela presença de seu timbre de gigantesca e singular afinação. É dele a gravação original do clássico "Bumbum Paticumbum Prugurundum", do Império Serrano em 1982. Também encantou nos sambas da Viradouro no início da década de 90. Sua melhor atuação, para mim, ocorre no samba da Santa Cruz de 1988 no Grupo de Acesso, "Como se Bebe nessa Terra". Quinzinho faz uma tremenda falta no carnaval!
2º Abílio Martins - Intérprete cigano, não costumava fincar raízes em uma escola, tendo passagem por quase uma dezena delas. Mas cada agremiação que contou com sua voz gravíssima defendendo o seu samba pode se considerar privilegiada por ter Abílio no rol de seus cantores. A cada samba que gravou, é notada uma afinação perfeita em cada sílaba dos versos entoados, além de uma emoção singular. O ano de 1981 é abençoado pela participação maciça do intérprete nos discos de sambas-enredo, pois gravou nada menos do que seis (incluindo o do Império Serrano no LP do Grupo Especial). As mais legendárias atuações de Abílio estão presentes na faixa do Engenho da Rainha daquele ano ("O Curioso Mercado do Ver-o-Peso", onde percebemos seu timbre musical chegando ao seu mais alto grau de gravidade) e no dueto histórico com Luiz Gonzaga no samba em sua homenagem "Lua Viajante", da Unidos de Lucas em 1982.
1º Roberto Ribeiro - Curiosamente, nunca participou de um disco oficial de sambas-enredo em função de seu contrato com a Odeon. Mesmo assim, Roberto Ribeiro, intérprete oficial do Império Serrano em 1971 e de 1974 a 1981, encabeça a minha lista por vários motivos. Primeiro, é dele aquele que eu considero o melhor registro fonográfico de um samba-enredo em todos os tempos: a gravação de "Heróis da Liberdade" para seu LP "Fala meu Povo" de 1980, em que canta a primeira parte "a capella" para depois aparecer o acompanhamento tanto com cadência como em ritmo de avenida na segunda parte. Segundo, sempre Roberto gravava sambas-enredo do Império em seus discos. Nem é preciso dizer que os interpretava com uma garra e categoria descomunal, daquelas de motivar o bamba a ouvir de joelhos. Até porque consagrou um samba derrotado nas eliminatórias imperianas, "Estrela de Madureira", cujo registro histórico alavancou sua carreira. E, por fim, apenas dois anos antes de sua morte (ao ser atropelado por um carro), mesmo já longe da fama de outrora, me fazer chorar sempre que ouço suas interpretações para "Exaltação a Tiradentes" e "Aquarela Brasileira", presentes no álbum do Império Serrano para a Coletânea Sony. Arrisco-me a dizer que, se eu tivesse a possibilidade de ressucitar uma celebridade que tanto nos deu alegria e emoção, essa seria Roberto Ribeiro! Marco Maciel |
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