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Edição nº 11 - 12/2/2008 É, amigos... O carnaval já acabou! Num ano bissexto como 2008, tudo volta ao normal um pouco mais cedo, ainda na primeira quinzena de fevereiro. O pior é que o próximo carnaval acontecerá apenas daqui a um ano e mais alguns dias depois. Vai ser duro para o folião esperar. Após a dita TPC (Tensão Pré-Carnaval), agora o fã de carnaval será assolado pela longa DPC, a Depressão Pós-Carnaval. 2008 marcou pelo bom nível dos desfiles (superior a 2007), pela volta de Salgueiro, Portela e Imperatriz ao Sábado das Campeãs, e também por acontecimentos bizarros e inusitados tanto nas transmissões de carnaval como em pleno asfalto da Passarela do Samba. Mas nessa época do ano, vale tudo... Meu nome é Wilson! - Na dispersão, ao término do desfile da União da Ilha, o repórter da CNT Marco Moreira faz a seguinte pergunta à pessoa entrevistada, imaginando com toda a ingenuidade tratar-se de uma bela passista: "Qual o seu nome, querida?". A resposta foi direta: "Meu nome é Wilson, e sou do Paraná". Foi o que bastou para a equipe do Carnaval do Povão, principalmente o carnavalesco Milton Cunha, pegar no pé de Marco a noite inteira. Tanto que, ao final da transmissão, após o apresentador Jorge Perlingeiro perguntar quais eram as quatro favoritas do Grupo A, Milton soltou com toda a sua irreverência: "Wilson, Wilson, Wilson e Wilson". Marco Moreira deverá reconhecer travestis mais rapidamente depois dessa, e também escutará muitas piadinhas por algum tempo. Até porque o vídeo já é pérola na Internet. O momento embaraçoso pode ser acompanhado aqui. Desfile sem samba - A sensação de quem ligou a TV para acompanhar a já tradicional transmissão da CNT dos desfiles das escolas do Grupo A certamente foi de um vazio no ar: cadê o samba? Ouvia-se apenas um abafado sussurro do carro de som, enquanto a equipe do Carnaval do Povão, principalmente Jorge Perlingeiro e Milton Cunha, falava pelos cotovelos. O volume do samba só aumentava e melhorava consideravelmente quando Perlingeiro anunciava a letra na tela. Aí o samba-enredo era ouvido perfeitamente. Porém, era só Perlingeiro reassumir o microfone para o som do samba diminuir. Evidente que a intenção de Perlingeiro é boa, mas a transmissão da CNT também em termos de imagem deixa muito a desejar em relação à Globo e até à Bandeirantes. E depois, o fato da cabine do Carnaval do Povão ser filmada inúmeras vezes com convidados e patrocinadores puxando o saco do apresentador dá a impressão de que o próprio Perlingeiro (D) quer ser o dono do espetáculo, e não as escolas na Marquês de Sapucaí. Vale lembrar da enfadonha entrevista com o prefeito César Maia no desfile de 2007, que perdurou durante quase uma hora. Tanto que o desfile da Cubango no ano passado só passou a ser mostrado da metade pro final. Pelo menos Jorge Perlingeiro parecia mais bem humorado esse ano, encerrando a transmissão com o sorriso de orelha a orelha sobretudo pela lembrança do caso Wilson e também por ter conseguido transmitir todas as escolas, ao contrário de 2007 quando encerrou os trabalhos antes da entrada da Caprichosos em função de desavenças com o presidente da escola Paulo de Almeida, o que rendeu um discurso com um esporro histórico do apresentador, antes de encerrar com um gélido "só se for agora". Que a Jorge Perlingeiro Produções deixe o som do samba mais audível no próximo ano, se não for pedir muito. A propósito... - Por que a CNT insiste em só passar a apuração dos desfiles do Grupo A para o Rio de Janeiro? As outras praças tiveram de aturar um leilão de bijuterias orientais e depois uma sessão de descarrego. Isso que o Perlingeiro insistia em anunciar a transmissão da apuração às 17h50min da quarta-feira de cinzas de minuto a minuto. Acorda, Maria Beltrão!! - A Porto da Pedra terminava seu desfile. O narrador Cléber Machado, do alto da bolha da Globo na Sapucaí, inicia um diálogo com a jornalista Maria Beltrão, ao mesmo tempo em que a câmera focaliza a dupla que apresenta os desfiles do Rio desde 2002. Cléber pergunta à Maria: "Você se lembra do início da canção 'Aquele Abraço', do Gilberto Gil?". Ela faz uma pequena pausa e canta timidamente: "Alô, torcida do Flamengo...". O locutor intervém: "Não, tem a ver com o desfile do Salgueiro". Uma pausa mais longa, até que Maria Beltrão, toda desorientada, balbucia: "O Gilberto Gil vem ao desfile?". Mal ela termina a frase, Cléber Machado desiste do desastrado diálogo: "É o Salgueiro, a próxima escola a desfilar na Sapucaí com o tema 'O Rio de Janeiro Continua Sendo'". Ficou visível o constrangimento da dupla após essa total falta de sincronia, principalmente o vermelhão do rosto de Maria, que soltou um risinho pra lá de amarelo... Pelo menos a Academia (foto à esquerda) levou o vice-campeonato. O famigerado metrônomo - Se a equipe do Carnaval do Povão da CNT fala pelos cotovelos, pelo menos eles são mais críticos e tecem análises coerentes. Infelizmente não se pode dizer o mesmo do time escalado pela Globo, que se repetiu mais uma vez, bem como a prolixidade dos comentários. A carnavalesca Maria Augusta é a única que tece críticas, mas me pareceu um tanto tendenciosa, fazendo média a algumas escolas. Para Chico Spinosa, todas as escolas estavam lindas e maravilhosas. Um verdadeiro peso morto na transmissão, a não ser pela indireta que soltou durante o desfile da Grande Rio ao criticar os corpos de várias mulheres que desfilavam, sem citar os nomes das tribufus. Pior mesmo foi o sambista Dudu Nobre (D), que se por um lado parou de dizer que a bateria estava "tirando onda" na Sapucaí (como repetia insistentemente a cada vez que era indagado), por outro adotou a faceta de crítico voraz, mas apenas se baseando no metrônomo, o aparelho que mede as batidas por minuto da bateria. Se a escola não passava de 150 batidas, estava tudo ótimo, maravilhoso na visão do "grande especialista" Dudu. Mas se ultrapassava as 150... nossa, era um Deus nos acuda, um salve-se quem puder. Até Maria Augusta se atreveu a dar pitaco em andamento de bateria aproveitando a presença do famigerado aparelho. Assim, até meu cachorro pode avaliar bateria... Inclusive as medições do metrônomo foram tão "úteis" que Dudu se aproveitou do equipamento para fazer severas críticas ao andamento da Imperatriz e, na hora da apuração, a bateria gresilense ganhou quatro notas dez. O sambista Arlindo Cruz, durante a transmissão do desfile das campeãs pela Bandeirantes, criticou a conduta de Dudu Nobre ao avaliar bateria apenas pelas batidas por minuto. Que a Globo reveja a utilização do enjoado metrônomo no próximo ano, pois ficou provado que o aparelho não serve de parâmetro pra nada. E é óbvio que o bonachão Dudu Nobre não combina nem um pouco com o estilo ranzinza de Fernando Pamplona. Que volte a apelar para o clichezão "a bateria tá tirando onda"... A propósito II... - Alguém ainda entende o que o historiador e pesquisador Haroldo Costa fala durante as transmissões da Globo? Será eternamente um dos grandes intelectuais da história do nosso carnaval, mas há tempos está merecendo aposentadoria. Suas intervenções infelizmente não acrescentam mais nada. Pobres repórteres - Talvez Marcos Uchôa (E) tenha se sentido mais à vontade cobrindo a Guerra do Iraque em 2003, porque chegou a ser constrangedor o número de interrupções que o experiente repórter sofreu dos diretores de harmonia na primeira noite do Grupo Especial. Uchôa tomou empurrões dos truculentos integrantes das escolas em praticamente todas as intervenções que fez entre a noite de domingo e a madrugada de segunda. É o que dá a Globo encher a Sapucaí de jornalistas a fim de poluir a transmissão com uma saraivada de entrevistas que levam do nada ao coisa nenhuma. A pergunta clichê "qual a emoção de desfilar na Sapucaí?" e a resposta mais clichê ainda "é uma emoção muito grande" supera os limites de cada "karma" que um ser humano possui. E pensar que o esquenta das escolas não é transmitido em função disso (pelo menos as equipes de cantores dando o pontapé inicial do samba apareceram um pouco mais com o telão que a Globo colocou na concentração)... Pior é que os repórteres buscam essas intervenções com a escola já em plena evolução. Daí a irritação dos diretores de harmonia, que têm toda a razão em afastá-los. Evidententemente, só não podem abusar da violência, como na agressão ao fotógrafo Diego Mendes do site Setor 1 que tentava registrar Juliana Paes em um ensaio da Viradouro dias antes do carnaval, e a intervenção drástica dos membros da escola paulista Pérola Negra à equipe da Rede TV! (embora essa emissora não tenha um pingo de interesse em carnaval, e sim às celebridades que passam por lá - ah, que saudades da Rede Manchete!). A solução da Globo para melhorar a transmissão seria, sem dúvida, diminuir o número de repórteres a fim de fluir melhor a transmissão, sem a poluição de entrevistas dispensáveis e insuportáveis. Já que não tem como excluir quadros como "Esquina do Samba" e "Camarote Nova Schin", que não acrescentam absolutamente nada, mas são bancados pelos patrocinadores... E, pelamordedeus, essa de interromper o início dos desfiles para mostrar flashs dos carnavais de Salvador e Recife é de arrepiar... de raiva!!! A propósito III... - Por que a Globo não mostrou o Quinho nenhuma vez esse ano?? Vale lembrar que até na "Esquina do Samba" o intérprete do Salgueiro apareceu no ano passado, dando entrevista para a atriz Cláudia Rodrigues. Tem caroço nesse angu... Em compensação, pra câmera da Bandeirantes, ele mandou uma série de beijinhos, proporcionando a imagem mais engraçada do carnaval de 2008 durante a transmissão dos desfiles das campeãs. Há lugar para Paulo Barros no carnaval? - O modesto sétimo lugar dado à Viradouro põe em xeque a reputação do carnavalesco, cujo estilo é amado por uns e odiado por outros. Os conservadores andam levando a melhor nas conversas de botequins, já que o júri da LIESA mais uma vez tirou preciosos décimos das inovações mostradas por Paulo Barros. É inegável que as alas coreografadas e a leitura simples do enredo tornam seus desfiles mais envolventes (contemplem o belo carro do bebê à direita). Porém, os problemas de acabamento em alguns carros como o das baratas andando pela comida acabaram evidentes, além da pista de esqui como abre-alas não ter nada a ver com carnaval. E uma pena mesmo que a alegoria do Holocausto não tenha desfilado, pois ela arrepiaria mesmo (pegando o gancho do enredo da Viradouro), além de chocar e, principalmente, conscientizar o povo da maldade que até hoje assola nosso mundo. Afinal, como mostrou o carro do Tiradentes que substituiu o do Holocausto, não se constrói o futuro enterrando a história. Não foi algo tão impactante como o "Mesmo proibido, olhai por nós" que cobriu o Cristo Mendigo da Beija-Flor em 1989, mas foi um protesto muito inteligente. O sétimo lugar de 2008, sua pior colocação desde quando despontou para o Brasil com o carro do DNA em 2004, fornece cada vez mais munição aos críticos de Paulo Barros, que são muitos. Diante dos conservadores que desejam ver carnaval ao invés de teatralizações e bolas atiradas ao público pelos componentes da bateria, repito a pergunta do tópico: há lugar para Paulo Barros no carnaval? Pelo visto, ele só conquistará um título no Grupo Especial se mudar totalmente seu estilo, deixando as inovações de lado em prol de um espetáculo mais tradicional. Embora seja a favor de que Paulo Barros continue investindo em seus desfiles teatralizados, uma das marcas indeléveis do carnaval carioca nesta década. Força, Paulo Barros!!! A propósito IV... - Alguém enxergou o tapa-sexo da modelo Viviane de Castro? Eu não! E muito menos o pessoal da LIESA que tirou meio ponto da São Clemente em função da genitália desnuda, o que contribuiu para o rebaixamento da escola. "Desculpe por dizer avenida" - Foi uma das tantas frases trashs largadas por José Luiz Datena, escalado para transmitir o desfile das campeãs pela TV Bandeirantes. Incrivelmente, o apresentador do "Brasil Urgente" achava que "avenida" era um termo pejorativo no carnaval. Entre outras pérolas, chegava a ser cômico ver ele se referir a todos os carros como se fossem abre-alas, além de pedir constantemente para mudar a tomada das câmeras, tornando a apresentação das alegorias e das alas no cronograma pra lá de desordenada. Os comentaristas Milton Cunha e Arlindo Cruz penaram com as bruscas interrupções que sofriam do Datenão a cada vez que falavam. Nos momentos de maior empolgação, o jornalista pedia - aos berros, é claro! -, que o som do cavaco, do violão e da bateria fossem ecoados separadamente, levando os técnicos de som à loucura. Depois, ordenava ao telespectador para que não dormisse, ao mesmo tempo em que fazia seguidas lamentações a cada vez que um desfile terminava. Outro momento cômico ocorreu quando a rainha de bateria da Grande Rio, Grazielli Massafera, mandou um beijo pro Datena a pedido da repórter e ele largou: "Cuidado, a minha patroa está voltando de férias". Porém, o acontecimento mais curioso foi Arlindo Cruz cantar errado um trecho do samba-enredo da Grande Rio: "ORGULHO do petróleo e do gás" ao invés de "Origem do petróleo e do gás". Não seria nada de mais se não fosse o próprio Arlindo ser um dos autores do samba... Particularmente, estava cético quando à escalação de Datena para o sábado das campeãs, já que ele havia feito uma péssima transmissão do desfile de São Paulo no ano passado. Mas suas pérolas acabaram por descontrair o público que acompanhou tudo até o final. Mesmo assim, ainda prefiro o estilo leve de Luciano do Valle, que deixou de trabalhar no carnaval carioca para fazer Ituano x Corinthians no Campeonato Paulista. A propósito V... - O que aconteceu com o Wander Pires, afinal? E que venha 2009!!!!!!!! Marco Maciel |
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