PRINCIPAL    EQUIPE    LIVRO DE VISITAS    LINKS    ARQUIVO DE ATUALIZAÇÕES    ARQUIVO DE COLUNAS    CONTATO

Coluna da Denise

OS CD'S DA ASSOCIAÇÃO -  O SOM DA INTENDENTE

30 de janeiro de 2013, nº 45, ano VII

Uma pena o lançamento dos sambas das escolas que desfilam na Intendente Magalhães ter se programado para ocorrer na segunda quinzena de janeiro, a poucas semanas do carnaval. Mesmo assim, temos de louvar o trabalho, pois têm muitos sambas bons.

CD 1 - GRUPO B

FAIXA 1 – UNIDOS DE LUCAS -  o Galo de Ouro da Leopoldina abre o CD com um belo samba. Lúdico, educativo, de fácil “leitura”, que nos remete à nossa infância. O samba descreve com precisão toda a viagem da escola pela literatura infantil, pois relembra historias clássicas que fazem parte da imaginação do público: o Mágico de Oz, a Pequena Sereia, o Sítio do Picapau Amarelo, Peter Pan, Aladin, Cinderela...E quem quiser que conte outra.

FAIXA 2 – IMPÉRIO DA PRAÇA SECA - O recorrente enredo sobre o Santo Guerreiro é tema da ascendente escola de Jacarepaguá. O samba é convencional, conta o enredo, cumpre o seu papel. Segue a escola na busca de um amanhã mais feliz. Nada mais a acrescentar.

FAIXA 3 - ROSA DE OURO – A escola traz o tema ouro como enredo e percebe-se a preocupação dos compositores de tentarem juntar as inúmeras concepções da palavra para que a escola defenda o enredo com galhardia (aliança, disco, tesouro, riqueza, a medalha, o próprio nome da escola, etc). Por mais que se reconheça o esforço, o tema deixou o samba sem uma sequência lógica.

FAIXA 4 -  ARRANCO -  Mesmo distante do palco da Sapucaí, a escola tem de ir aonde o povo está e o Arranco entra em cena para buscar seu verdadeiro lugar. Se depender do samba, a escola cumpriu direitinho o seu papel. A escola exalta o teatro com um samba que é um “espetáculo” à parte. A letra e a melodia se encaixam com perfeição, fazendo com que o samba fique pra cima, descritivo e fácil de cantar. Com certeza, vai fazer a plateia delirar. MERDA!

FAIXA 5 - EM CIMA DA HORA - A simpaticíssima escola de Cavalcante traz um baita enredo, uma justa homenagem ao saudoso João Nogueira. Exaltando as obras do homenageado, sua ligação ao samba e especialmente a sua brasilidade, o samba é muito bom. Uma letra irretocável e uma melodia na medida vão embalar a escola, que pode pisar na Intendente sem sem medo de ser feliz, nem que o espelho se quebre.

FAIXA 6 - DIFÍCIL É O NOME  - A escola de Pilares exalta o cinema brasileiro e cita no samba personagens que deram o que falar na telona, como Bruna Surfistinha, Heleno de Freitas, Pixote, Orfeu e outros. Também o enredo traz títulos de filmes nacionais do passado e do presente. Não consegui, entretanto, entender a relação dos filmes com o Rio de Janeiro, já que alguns filmes citados retratam outras cidades, mas, pela arte, tudo vale. O samba não é dos melhores, mas não faz feio.

FAIXA 7 – UNIDOS DA VILLA RICA - Respeite a Villa que a Villa chegou. Simples assim. Precisa dizer mais alguma coisa? Não li a sinopse da escola de Copacabana, mas o samba da Villa Rica fala por si. Aliás, falar de felicidade é de uma clareza meridiana. A letra do samba em algumas passagens me fez fazer um elo com o da Rocinha de 2006 e da Mocidade de 1992. Qual é o preço da felicidade? Vamos esperar quarta-feira (uma pequena falha do samba, pois acredito que a escola terá de esperar a quinta-feira, geralmente dia de apuração do resultado das escolas desse grupo).

FAIXA 8 – BOI DA ILHA  - A escola da Freguesia traz um valente samba para decifrar as máscaras africanas, seus símbolos, rituais e a influência que causaram no pintor espanhol Pablo Picasso. A letra curta, porém detalhada, conta a sinopse e os compositores tentaram fazer com que nós, não-africanos, tentássemos entender o real significado das máscaras africanas. Conseguiram.

FAIXA 9 – FAVO DE ACARI - Um bom samba de exaltação ao subúrbio de origem embala o Favo de Acari. A enorme sinopse não está toda no samba, mas os compositores extraíram aquilo que julgaram mais relevante e de fácil comunicação com o grande público, como as mães de Acari, o Círio (que eu nem sabia que existia no bairro), festa junina etc. Agora como uma parada gay vai se misturar com esses temas tão díspares é um grande desafio. Se no samba já destoou, imagino como deve ser difícil de ser mostrado na avenida.   De qualquer sorte, valeu, o samba está uma uva!

FAIXA 10 - MOCIDADE VICENTINA – A escola retorna a Intendente com o samba que chama atenção pela bela interpretação do Artur e pelo belo e, ao que me parece inédito, enredo sobre a vida da poetisa e doceira de profissão Cora Coralina. Não li a sinopse da escola, mas o samba também fala por si. Um refrão forte e uma letra encadeada, que retratam os becos e as ruas históricas de Goiás Velho, fazem deste samba um dos melhores do CD.

FAIXA 11 – UNIDOS DA VILA KENNEDY - As brincadeiras infantis sob a visão do artista plástico Ivan Cruz estão presentes no samba da Vila Kennedy, que é de fácil compreensão e serve aos propósitos da escola. O samba retrata a simplicidade das cantigas de roda e das brincadeiras de rua que fazem a alegria de qualquer criança.

FAIXA 12 –  UNIDOS DA PONTE – A escola traz um bom samba nostálgico de um carnaval do passado: confetes, serpentinas, cordões, fantasias marcantes, máscaras, etc. Ao que parece, a escola pretende fazer da Intendente um grande baile de carnaval. Ai, ai, ai, já passou da hora da Ponte se reerguer no cenário carioca, não? Pena que isso não dependa apenas do samba.

FAIXA 13 – ACADÊMICOS DO SOSSEGO  - O ícone Carmen Miranda ainda continua viva, especialmente no carnaval carioca. E o Sossego liga o nome da Pequena Notável a uma baiana de codinome Luiza D’Oyá, que teria sido a musa inspiradora da música O que é que a Baiana tem?, de Dorival Caymmi. Confesso que desconhecia completamente essa versão, daí a importância de nosso carnaval. Um enredo que poderia representar uma mesmice – Carmen Miranda, tão decantada na nossa festa – envereda por outro caminho. No samba, o enredo, sem a sinopse, não é compreensível, nada que muitos balangandãs e baianas não resolvam. 

CD 2 - GRUPO C

FAIXA 1 – CORAÇÕES UNIDOS DO AMARELINHO  - A escola traz um samba bem encadeado, melódico e de fácil compreensão. Na sua reverência ao herói Caramuru, o samba conseguiu retratar fielmente a objetiva sinopse da escola. Uma verdadeira aula de história revela que a escola realmente não está de brincadeira. A intenção de brincar com a expressão “Amar é lindo” e o nome da escola deu um charme especial ao samba. Um dos melhores sambas do CD.

FAIXA 2 – LINS IMPERIAL  - A escola segue em seu calvário e apela para a reedição do samba Por um Lugar ao Sol, que lhe deu em 1986 o campeonato do terceiro grupo. Apesar de ser contra reedições, neste caso, ele veio bem a calhar, afinal, como diz o samba, “a esperança não acabou. Minha Lins Imperial, onde você for eu vou. Seja aqui nesta avenida ou na passarela principal”.

FAIXA 3  – BOCA DE SIRI  - O tema do Boca de Siri me parece um dos melhores do grupo. O samba tem boas passagens (especialmente o refrão principal), porém não li a sinopse e algumas passagens do samba não me foram compreendidas. No mais, a mistura do homem branco com a tribo indígena e a defesa pela preservação do território do Xingu.

FAIXA 4  – ACADÊMICOS DA ABOLIÇÃO - Talvez o samba mais bem cantado do CD, a potência vocal do intérprete deu um charme todo especial ao belo samba. Falar da raça negra, apesar de ser uma constante nos desfile, na maioria das vezes dá um bom caldo. Gostei do samba pela sua simplicidade e objetividade, todo na primeira pessoa. Como disse, a voz do intérprete dá uma encenação de superação e lamento ao samba que emociona.

FAIXA 5  – ACADÊMICOS DO DENDÊ - Um samba animado. Essa é a melhor definição do hino do Dendê para 2013. Ao falar de diversas espécies de feira, o samba deságua na xepa e a escola bota prá ferver. Enredo e samba apropriados para um desfile da Intendente Magalhães.

FAIXA 6  – UNIDOS DE BANGU  - A escola voltou e diz no samba a que veio. Como ela se filiou ao grupo, furando a rigidez da Associação, que mandou umas dez escolas para a Federação dos Blocos, eu não sei. Mas o que sei é que a escola aproveitou a oportunidade e nos brinca com um bom samba, numa ousada inspiração em um poema de Casimiro de Abreu, o samba retrata as coisas simples do subúrbio de nossa infância que ficaram na saudade, assim como a comunidade saudosa por ter de volta uma escola de samba voltada para o bairro. Um feliz retorno.

FAIXA 7  – MOCIDADE UNIDA DA CIDADE DE DEUS  - Um enredo bem inusitado promete a Mocidade Unida, agora com Cidade de Deus de volta ao nome. Ao contrário do Dendê, a escola buscou um enredo que não tem uma identificação imediata com o povão. Ao que dá entender a sinopse, escola pretende ensaiar a ópera O Navio Fantasma, de Wilhelm Richard Wagner, na Intendente Magalhães. O samba seguiu com rigor a sinopse divulgada pela escola, mas não é de fácil compreensão.

FAIXA 8  – ARRASTÃO DE CASCADURA - Palhaço e circo são o que promete o Arrastão de Cascadura, tema mais que recorrente na Intendente Magalhães. O samba retrata a sinopse, mas achei a letra rebuscada demais para um tema simples por natureza. O samba tem altos e baixos.

FAIXA 9  –ACADÊMICOS DO ENGENHO DA RAINHA - E o funk se casa com o samba no Engenho da Rainha, que exalta a mãe Loira Verônica Costa. Gostava mais do samba na versão dos compositores, que apelava pro pancadão... O samba ficou um tom abaixo pra baixo no CD. Quanto à letra, a escola deveria focar a história do funk, com o americano James Brown e até poderia citar a Verônica Costa e outras personalidades brasileiras do funk carioca (DJ Malboro, Latino, Claudinho e Buchecha).

FAIXA 10 – UNIDOS DO CABUÇU - A Revolta da Chibata, liderada por João Cândido, é o mote para a Cabuçu falar de censura e exaltar a música Mestre Sala dos Mares, e contar a trajetória triste do Almirante Negro. O samba é fiel à história e à sinopse. E só.

FAIXA 11 – GATO DE BONSUCESSO – A escola traz o inusitado enredo sobre insetos e sua contribuição para o ecossistema. Como fica o gato nessa história? Cria asas e se faz passar por inseto e organiza uma escola de samba de insetos. Enredo pra lá de confuso. Coitado dos compositores, que até tentaram, mas o samba ficou tão confuso quanto o enredo.

FAIXA 12 – ACADÊMICOS DE VIGÁRIO GERAL -  Mais uma escola da Intendente a recorrer a um tema infantil. O Vigário Geral recorda a infância, por meio de brincadeiras e brinquedos. Um tom de dèjá vu ronda o samba da escola, que não é inédito, mas é bom.

CD 3 - GRUPO D

FAIXA 1 – MOCIDADE INDEPENDENTE DE INHAÚMA - A escola faz uma sessão de cinema recordando os filmes infantis, dos brasileiros Menino Maluquinho e Turma da Mônica aos blockbusters americanos. O samba descreve as obras sem o compromisso de uma sequência lógica. Pelo samba, não dá para saber se a escola pode se credenciar ao “Oscar” do  grupo.

FAIXA 2 –  MATRIZ DE SÃO JOÃO - O Corcovado inspira a escola de São João de Meriti. Sem acesso à sinopse da escola, percebo que o samba é bem convencional, falando das belezas paisagísticas, da construção da ferrovia, da trilha, do turismo. O samba, no entanto, é objetivo, o que pode embalar e transportar a Matriz para outras trilhas.

FAIXA 3 –  UNIDOS DE MANGUINHOS - O tema fácil conspira para um samba cheio de referências claras à cultura nordestina, de identificação imediata para os ouvintes. Com um samba animado, a escola tem tudo para dar o seu recado e mostrar o seu valor.

FAIXA 4 –  FLOR DA MINA DO ANDARAÍ - Desconhecendo a sinopse da Flor da Mina, fica difícil fazer qualquer menção ao samba. Até porque o samba exalta o negro e, ao que me parece, a escola estava programada para contar sua história.

FAIXA 5 –  ARAME DE RICARDO - O Arame também revisita o Nordeste,  com um samba com uma letra descritiva e uma melodia harmoniosa. Com uma proposta diferente da Unidos de Manguinhos, do mesmo grupo. Se comparados os sambas que exaltam o nordeste, o Arame leva vantagem no sonho de ser campeão.

FAIXA 6 – VIZINHA FALADEIRA - Um bom samba traz a pioneira e octogenária Vizinha Faladeira, que fala das diversas festas espalhadas pelo Brasil, sejam importadas ou não. Se depender do samba, a festa da Vizinha pode acabar em um bom carnaval.

FAIXA 7 –  CHATUBA DE MESQUITA – A escola de Mesquita  fala do teatro de revista, dando destaque as vedetes e até as chacretes. O samba reproduziu a sinopse, mas faltou irreverência e picardia, para seduzir o público. O samba poderia ser melhor, na minha opinião.

FAIXA 8 – LEÃO DE NOVA IGUAÇU - A escola de Nova Iguaçu homenageia o seu ex-diretor de bateria, Andrezinho, filho do famoso Mestre André da bateria de Padre Miguel. O samba descreve a vida do homenageado, com uma melodia que se destaca mais que a letra.

FAIXA 9 – TRADIÇÃO BARREIRENSE DE MESQUITA – A nova escola de samba, recém promovida de bloco, faz sua estreia com um samba bem descritivo dos subúrbios de Oswaldo Cruz e Madureira. Mesmo sem ter tido acesso à sinopse da escola, o samba é compreensível, pois traz elementos amplamente conhecidos do público: trem, Mercadão de Madureira, samba, Portela e Império Serrano. Mais um bloco que disse a que veio.

FAIXA 10 – UNIDOS DE COSMOS – A escola da Zona Oeste presta uma homenagem à Rosele Nicolau, primeira dama da escola de samba Acadêmicos de Santa Cruz, falecida em 2009, prematuramente aos 50 anos. O samba retrata a origem libanesa da homenageada, sua colaboração nos enredos de sua escola de coração, com uma letra simples e uma melodia tradicional.

FAIXA 11 – MOCIDADE UNIDA DO SANTA MARTA - A  escola de Botafogo vem com um samba bem animado, a começar pelo refrão principal. O enredo, em si, é diversificado, daí o caldeirão decantado no samba. Enaltecendo a população, o samba, a ênfase é mesmo cantar a história do morro. A mistura já deu (bom) samba, resta saber se ela vai encantar na avenida.

FAIXA 12 – UNIDOS DO ANIL - A escola de Jacarepaguá homenageia a Associação das Escolas de Samba da Cidade do Rio de Janeiro.  Por não ter tido acesso à sinopse da escola, fica difícil de saber o mote do enredo, mas parece que a situação política recente da entidade, que sofreu uma renovação em 2012 dá o tom do enredo. Pelo samba percebe-se que contará a história do samba, da Associação, agraciando Getúlio Vargas, os presidentes que passaram por lá e os projetos, como o Cassamba.