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ANÁLISE
DOS
SAMBAS DA SÉRIE A 2013 12 de janeiro de 2013, nº 44, ano VII A
unificação dos Grupos A e B da antiga
Lesga, que inchou a segunda divisão das escolas de samba do Rio
de Janeiro,
rendeu um CD duplo para contemplar os 19 sambas. Em sua maioria, os
sambas são
bons, excetuando os sambas da Rocinha e Alegria da Zona Sul, que
destoam dos
demais. Pelo menos no CD, não há um gigantesco
desnivelamento entre as escolas.
Eis minhas impressões da gravação. CD 01 FAIXA 1 -
UNIDOS DO PORTO DA PEDRA – O
Tigre de
São Gonçalo, após um indigesto iogurte, retorna ao
Grupo de Acesso, após vários
anos de Grupo Especial, calçando as sandálias da
humildade, para voltar a rugir
alto na avenida. O enredo escolhido pela escola, sobre o
calçado, embora já
levado algumas vezes no grupo, pelo Arrastão de Cascadura e pela
Estácio de Sá,
é bem divertido e o samba retrata essa
descontração. Nele se encontram as
sapatilhas da bailarina, os tamancos do Zé Pereira, o bicolor
vermelho e branco
dos malandros, o salto de Luis XV, as botas do gato, o sapatinho de
cristal da
Cinderela, a plataforma de Carmem Miranda, o sapatão da Maria e
tantas outras
referências da sinopse que se encaixaram no samba de forma
bastante
convincente. Não chega a ser um grande samba, mas, com certeza
não deixará a
escola de pés descalços. FAIXA 2 – UNIDOS DO VIRADOURO – A escola de Niterói tenta se reerguer com uma bela e justa homenagem ao Salgueiro. E focando no estilo da escola tijucana, a Viradouro traz um samba “nem melhor, nem pior, apenas diferente”. A letra do samba exalta o padroeiro Xangô e os grandes carnavais que fizeram do Salgueiro uma escola revolucionária. Letra curta e objetiva e melodia encaixada com perfeição. Tirando da cabeça o que do bolso não dá, se depender do samba, a escola tem tudo para brilhar. FAIXA 3
– ACADÊMICOS DE SANTA CRUZ –
Um dos
grandes trunfos do samba, sem dúvida, é o
intérprete. Paulinho Mocidade volta
em grande estilo ao carnaval carioca, em mais uma escola de cor verde e
branca.
Sua interpretação arretada valorizou
ainda mais o já bom samba da escola da Zona Oeste. Exaltando o
Ceará, o samba
traz os elementos característicos do Estado brasileiro: jandaia,
lendas, como a
do dragão e de Iracema e fatos históricos, o movimento
abolicionista de José do
Patrocínio e a devoção popular a Padre
Cícero. Não podia faltar o folclore, as
mulheres rendeiras, sanfoneiros, carnaúba e outras culturas da
região. Enfim,
um samba descritivo e de fácil compreensão. Embalada pelo
belo samba, a Santa
Cruz tem tudo para chegar e nos fazer delirar. FAIXA 4
– ESTÁCIO DE SÁ – O
Berço do
Samba mais uma vez aposta em um enredo homenagem, sendo que dessa vez
com
categoria. A exaltação a Rildo Hora rendeu um samba com
melodia muito
cadenciada e letra descritiva, que explora a vida do homenageado e suas
obras,
desde sua vinda, ainda menino, ao subúrbio de Madureira no Rio
de Janeiro. O
Leão, com o maestro regendo a orquestra Medalha de Ouro, pode
sonhar em voltar
a ser especial. FAIXA 5
– ACADÊMICOS DA ROCINHA –
“Com todo
respeito”, a Rocinha merecia um enredo e um samba melhor. O fraco
e
incompreensível enredo, que mistura culinária japonesa,
italiana, americana e
brasileira, só poderia render um samba confuso. Aí, para
os compositores não
sobraram outro caminho a não ser o de apelar pela linha trash (“Solta um x-bacon
(...) O fast-food é comida do povão. Tá duro, pede
um podrão no seu João!”).
O refrão já diz tudo e deixa um gosto amargo na boca de
quem canta. A receita é
esperar que a escola se garanta com os outros quesitos de desfile, para
compensar esse “rango” de segunda. FAIXA 7 – UNIÃO DO PARQUE CURICICA – O que falar de uma escola que tem a chance de fazer história, ao ter tido a oportunidade de ficar a um passo da elite do samba, e resolve reeditar um samba de outra escola? Nada. FAIXA
8 – UNIDOS DE VILA SANTA TEREZA –
Essa sim soube aproveitar a chance de
ouro de desfilar no grupo que ascende à elite do especial. Um
samba muito bom
para exaltar as recorrentes águas de Oxalá nos desfiles
cariocas. Se o enredo
não é inédito e já rendeu grandes sambas,
os compositores não fizeram por menos
e fizeram outra grande obra. Acredito que essa passagem do samba
representa o
momento da escola de Coelho Neto: “Que a
felicidade hoje é o nosso lugar. No meu andor levo amor e
bondade. O bem a quem
amar”. Axé, Santa Tereza. FAIXA 9
– UNIDOS DO
JACAREZINHO – A
simpática escola que saiu da Intendente para ficar a um passo do
Grupo Especial, faz uma justa homenagem ao centenário de
nascimento do Mestre
Jamelão. O samba é todo costurado com as obras cantadas
pelo cantor (“Pois a tua voz não é
leviana. Cantou folha
morta. Matriz ou filial. Ela disse-me assim. Os seus nervos são
de aço”) e
faz referência ao dito mau humor do homenageado. Pode até
não ser um grande
samba, mas é muito bom de ouvir e de cantar. CD 02 FAIXA 1
– RENASCER DE JACAREPAGUÁ
– Mais um enredo sobre a cidade do Rio de Janeiro que rendeu um
bom samba, com uma letra bem trabalhada e uma melodia encantadora, como
a
cidade maravilhosa. Dos versos iniciais (“Deus
me dê asas para voar. Eu preciso enxergar. De cima, como é
mais bela”) até
o refrão principal, o samba dá conta do recado. Resta
saber se a escola vai
mesmo renascer para o Especial. FAIXA 3
– IMPÉRIO DA TIJUCA – A
escola
do Morro da Formiga tem sido a escola que mantém uma
regularidade de bons
sambas. Em FAIXA 4
– ACADÊMICOS DO CUBANGO – A
escola de Niterói exalta a arte. A escola, em sua
incansável busca
pelo campeonato, prossegue com sua teimosia de um dia conseguir
alcançar o
sonho especial. A sinopse, no entanto, exigia um samba mais
melódico. A letra
também deixa um pouco a desejar, já que usa e abusa de
metáforas, quando
poderia ser bem mais objetivo, de forma a facilitar a
compreensão dos ouvintes.
Isso, entretanto, não tira o foco da escola, que tem um bom
enredo e o céu por
limite. FAIXA 5 – PARAÍSO
DO TUIUTI – A escola de São Cristovão exalta o
humorista Chico Anysio, que
já fora homenageado, em vida, pelas escolas Caprichosos de
Pilares e Arranco. A
homenagem póstuma, no entanto, não traz grandes
novidades. O samba, não poderia
ser diferente, cita os grandes personagens do homenageado, a
televisão, a
cidade natal de Chico... A segunda parte traz versos recheados de
clichês. Sem
grande destaque no grupo, o samba não ajuda o decantado sonho da
Tuiuti. FAIXA 6 – CAPRICHOSOS
DE PILARES – A campeã do antigo Grupo B, traz um
samba que tem a difícil
missão de retratar o enredo sobre o fanatismo. O samba
não seguiu a complicada
sinopse e não traduz o enredo em sua plenitude. Dessa forma,
revela-se
incompreensível aos ouvintes. Entretanto, nas passagens que
retratam a
Caprichosos, o samba cresce, o que nos revela que o verdadeiro
fanatismo é o
amor incondicional dos componentes pela escola, que lhe dá
chão para cumprir a
missão de ser uma escola especial. FAIXA 7 – UNIDOS
DE PADRE MIGUEL – Mais um enredo afro no grupo, mas que se
diferencia dos
demais. Citando os deuses africanos, a escola escolheu um samba bem
valente,
que promete revelar a energia de Padre Miguel para festejar o
reencontro entre
o céu e a terra. Com a cabeça feita e batendo seu tambor,
a escola possui um
bom samba para abrir seus caminhos e ver brilhar seu pavilhão
pros olhos da
Sapucaí. FAIXA 8 – SERENO
DE CAMPO GRANDE – A escola da Zona Oeste, é mais uma
estreante no Grupo,
sendo beneficiada com a junção de grupos. Humilde, a
escola se aventura entre
os bichos-papões do grupo, buscando paz, equilíbrio e
harmonia. O samba tem a
difícil missão de materializar o rebuscado enredo que
fala de criação, ambição,
destruição... É demais para um grupo de acesso,
não? Que a voz de Deus ecoe e
que Ele ilumine a árdua missão da escola de Campo Grande. FAIXA 9 – TRADIÇÃO
– Por mais que a Tradição tenha um elo com a
Portela, não se justifica
reeditar mais uma vez o samba da sua matriz. Ainda mais o belo samba de
1981,
que no CD ficou muito a desejar. De bom, o fato de a
Tradição, com a fusão de
grupos, ficar mais próxima do Grupo Especial. Quem sabe esse
seja um estímulo
para que a escola “desperte para um novo dia”. FAIXA 10 – UNIÃO DE JACAREPAGUÁ – A tradicional escola de Jacarepaguá canta o município de Vassouras na Sapucaí. O samba é até bonzinho, mas a letra se restringiu a falar dos barões do café e da mão de obra escrava, o que nos deixa a falsa impressão de que o município não tem mais nada a acrescentar. Seguindo esse roteiro, a União de Jacarepaguá tem “a esperança de um final feliz”. Não é tarefa das mais fáceis.
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