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Coluna da Denise

ACONTECEU, VIROU MANCHETE

18 de dezembro de 2010, nº 38, ano III

A primeira década dos anos 2000, que contou com a exclusividade da Rede Globo na cobertura, deixando para trás a saudosa Rede Manchete, chega ao fim. É tempo de fazermos a retrospectiva do ano de 2010 do carnaval carioca. E não podemos, aqui, dizer que o carnaval foi igual ao que passou.

Se a licitação para a organização do carnaval não saiu do papel, não por falta de vontade da Prefeitura, o carnaval de 2010, especialmente o produzido pela Liesa, deu provas de que o carnaval se reinventa sempre.

É certo que a tal rampa no segundo recuo de bateria, entre os setores 9 e 11 da Marquês de Sapucaí, foi uma medida equivocada, mas a mudança no regulamento que permitiu o aumento do número de julgadores, que passam de 40 para 50 julgadores,  a criação de mais um módulo de julgamento, a alteração da nota mínima passando de 7 para 8 e o descarte da maior e menor nota de cada quesito formaram um pacote de boas medidas.

O tão aguardado título da Unidos da Tijuca, acompanhado pela pop star Madonna, não só quebrou o maior jejum da história do carnaval (74 anos), como também consagrou a criatividade do carnavalesco-sensação da década, Paulo Barros. Realmente seria muito injusto nos despedirmos da atual década, sem premiar aquele que pode ser considerado a grande novidade dos desfiles na atual fase do carnaval.

Com o segredo revelado e premiado, desde a comissão de frente impactante ao bom desenvolvimento do enredo que revelou os grandes segredos da humanidade, cabe às demais escolas, para o futuro, procurarem seu espaço e seu caminho, pois a roda da vida gira pra frente e mais um ciclo, ao que parece, se fecha no carnaval carioca.

Por sua vez, a Grande Rio, mais uma vez, chegou bem perto do título, superando-se no passeio pelos principais desfiles ocorridos nos 25 anos do Sambódromo, com direito a reprise de um dos momentos mais marcantes da atual década dos desfiles, o astronauta norte-americano voador.

Contrariando expectativas, Salgueiro, Vila Isabel e Beija-flor não se destacaram. O sonhado bicampeonato não veio para o Salgueiro, que passou morno com o desfile sobre a história do livro. A Beija-flor, atropelada com o escândalo político em Brasília, que colocou água no chope do cinqüentenário de Brasília. Nem com o belo samba de Martinho, a Vila Isabel emocionou com o desfile em comemoração aos 100 anos de Noel Rosa.

Confirmando expectativas, mesmo tentando tapar o sol com peneira, a Viradouro apresentou um dos piores desfiles de sua história, sobre o México, ilustrado pelo péssimo acabamento das alegorias e pelas simplórias fantasias, que rendeu a escola o seu primeiro rebaixamento ao grupo de acesso, com toda justiça, o que rendeu muita notícia pós-carnaval, terminando com a renúncia do presidente da agremiação.

Por outro lado, superando expectativas, a União da Ilha teve muito de comemorar, não pelo penúltimo lugar alcançado, mas pelo fato de permanecer no Grupo Especial, fato que não acontecia com a escola ascendente de grupo há 10 anos. Mais uma “vitória” conquistada pela excelente carnavalesca, Rosa Magalhães (que deixou a Imperatriz após 18 desfiles) e se enveredou nas aventuras de Dom Quixote, de Miguel de Cervantes.

Em momentos opostos, a Mangueira mesclou o tradicional verde e rosa, na homenagem à música brasileira, com a inédita paradinha funk da bateria, que chegou a ficar presa entre grades na avenida. Modernidade, entretanto, que fez a Portela derrapar na confecção ao mundo virtual desenvolvido no seu desfile, salva pela bossa da tradicional bateria da escola, vencedora do estandarte de ouro.  

A Mocidade e a Imperatriz mostraram que ainda têm um longo caminho para se tornarem novamente competitivas. A escola de Padre Miguel, que falou sobre os paraísos da humanidade, teve como destaque a eterna madrinha, Elza Soares. Nem mesmo a volta de Max Lopes fez com que a Imperatriz, detentora do melhor samba-enredo, sobre a religiosidade do povo brasileiro, fizesse um bom desfile, permeado de falhas em harmonia e evolução, que nem de longe lembra sua fama de certinha.

O Porto da Pedra apresentou boas alegorias e fantasias, mas não apresentou um enredo linear, misturando eras na avenida, como a do fashion tigre que veio no setor da pré-história.

No acesso, não podemos dizer que foi surpresa o campeonato da São Clemente, uma vez que a escola desenvolveu um alegre desfile, com uma correta exibição do “Choque de Ordem” na Cidade do Rio. Mas o nostálgico enredo da Estácio de Sá, que contou sua história desde a origem, também foi destaque nesse desfile. Assim como a cidade imaginária aquática criada por Paulo Barros para a Renascer de Jacarepaguá, prejudicada pela excessiva  sanção à sua comissão de frente por infringir o regulamento.  O Império da Tijuca foi outra escola que fez um bom desfile sobre a vida da rainha Jinga, embalada pelo belo samba, vencedor do estandarte de ouro.

A Rocinha e o Império Serrano não confirmaram na avenida o favoritismo. A primeira, com o desfile sobre as guerreiras amazonas, reincidiu em erros básicos, como insuficiente número de baianas e evolução irregular. Já a tradicional escola de Madureira tentou se reerguer contando o belo enredo sobre as ruas do Rio, mas fez um desfile burocrático, acabando na apuração com o modesto sexto lugar.

Se o desfile da Caprichosos foi um show de evolução e canto, o mesmo não se pode dizer da falta de capricho nas alegorias e fantasias pela escola de Pilares. De forma contrária, a Cubango e a Unidos de Padre Miguel, escolas que se integraram ao Grupo A em 2010, impressionaram  pela qualidade dos seus carros e fantasias. A escola de Niterói falou sobre a história do primeiro hospício do Brasil, mas teve problemas em evolução. E o Boi Vermelho, cujo enredo era o aço, sentiu o peso de abrir o desfile, com atrasos na armação da comissão de frente, e com as arquibancadas vazias. Na apuração, a Cubango teve melhor sorte que a escola da Zona Oeste, que terminou rebaixada, o que gerou mito protesto, de ambas.

No mais, a Santa Cruz fez um desfile correto sobre a história da dança, mas morno e sem grandes destaques. E a Inocentes de Belford Roxo surpreendeu com o vice-campeonato ao trazer um enredo recorrente no carnaval sobre a importância da água. Com um belo enredo, mas mau desenvolvido, não foi surpresa o rebaixamento do Paraíso do Tuiuti, que reviveu a obra da escritora Eneida de Moraes, cujo maior destaque foi a criativa indumentária da bateria.

Nos demais grupos, a integração da Alegria da Zona Sul à Liga das Escolas de Samba do Grupo de Acesso - Lesga, ao vencer o Grupo B, que lhe assegurou a volta ao sábado de carnaval em 2011, a despeito do excelente desfile do Arranco, que ficou com o vice-campeonato e não subiu. Nesse grupo, destacou-se ainda a Sereno de Campo Grande e decepcionaram Boi da Ilha, Flor da Mina e Jacarezinho que mereceram o rebaixamento para a Associação das Escolas de Samba da Cidade do Rio de Janeiro - AESCRJ. As demais escolas do Grupo B também se integraram meses mais tarde à Lesga, havendo mais um ruptura entre as escolas da AESCRJ.

No Grupo C, a agora Independente de São João de Meriti (ex- Praça da Bandeira) conquistou o título e voltou a Sapucaí, assim como a vice-campeã Difícil é o nome de Pilares. Apesar do bom desfile, não foi dessa vez que a Unidos de Vila Kennedy carimbou seu retorno à Sapucaí. Esse grupo, entretanto, inexplicavelmente sofrerá um inchaço para o carnaval 2011, pois além de integrar a campeã e vice-campeã do Grupo D, respectivamente, Em Cima da Hora, por merecimento, e a Unidos de Villa Rica, também subiram Favo de Acari e Rosa de Ouro, outras escolas que se destacaram no desfile.

No Grupo D, além das quatro promovidas, destacou-se, de forma positiva, a boa apresentação do Gato de Bonsucesso e, de forma negativa, a tradicional Unidos de Lucas, que com os sucessivos rebaixamentos, termina a década no último grupo (sexta divisão) do carnaval carioca.

No Grupo E, a estreante Império da Praça Seca e a tradicional Leão de Nova Iguaçu cumpriram seu papel e ascenderam de grupo. O grupo em 2011 recepcionará a Matriz de São João de Meriti e o Chatuba de Mesquita, escolas aprovadas no extinto Grupo de Avaliação. Para o carnaval de 2011, não haverá escolas avaliadas, havendo a promoção do bloco melhor classificado pela Federação dos Blocos da Cidade do Rio de Janeiro.

Com essas linhas, despeço-me dos amigos leitores, desejando-lhes um feliz natal e um próspero ano novo e que venha o carnaval de 2011.