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QUEM VAI FICAR COM MARY 17 de julho de 2010, nº 33, ano III Depois da Copa do Mundo, parece que tudo vai voltando ao
normal, inclusive em se tratando de escola de samba. Enredos sendo definidos,
sambas sendo apresentados, ordens de desfile sorteadas. Mas isso é assunto para
uma próxima coluna. Estaria tudo normal, se não fosse um detalhe. A principal
vedete que toma de assalto as principais mídias que cobrem o carnaval é a administração
do GRUPO B, a terceira divisão do carnaval carioca. Essa indefinição deixou
para trás os constantes atrasos da Portela em definir seu enredo, o inesperado
silêncio da Vila Isabel em definir seu rumo para o próximo carnaval, a crise
que assola o Império Serrano, as novas perspectivas da Viradouro, etc. Se pensarmos em que um passado nem tão distante, a imprensa
passava ao largo do desfile da terça-feira de carnaval, realmente é de se
espantar esse suposto interesse repentino no grupo. O grupo se tornou tão importante no pós-carnaval de 2010
que até já provocou renúncia, desligamentos e muitos bafafás e contradições na
mídia carnavalesca. O que estaria por trás dessa evidência? De concreto, não sabemos. Foi noticiado que haverá uma
reunião no próximo dia 19 com as principais entidades que administram os
desfiles das escolas de samba para definição de quem será a entidade
responsável pelo Grupo B. Foi noticiado também que desse encontro o Poder
Público vai propor a padronização de todos os grupos de escolas de samba. Acho uma boa o Poder Público se aproximar da administração
do carnaval, não só se responsabilizando por repassar os recursos necessários
para os desfiles, mas, principalmente, fiscalizar o bom emprego e a
administração desses. Foi acertado deixar as escolas se administrarem no
passado. Porém, por se tratar de uma prestação de serviço público, uma vez que
o samba carioca é patrimônio cultural, a Prefeitura deve acompanhar as medidas
tomadas pelas escolas, tais como: número de filiadas, horário de desfile,
escolha de jurados, critérios de acesso, cumprimento do regulamento. Logo, essas políticas internas das entidades que definem
quantas escolas podem desfilar, podem ser despejadas, quantas sobem, quantas
descem, quando não se cumpre o regulamento, acessibilidade do grande público
aos desfiles, devem ser objeto de reflexão. O número ideal de escolas no Especial é mesmo de 12
escolas? Por que isso não foi pensado antes de se construir 14 barracões? É uma
pergunta que deve ser respondida. É razoável que o desfile do grupo especial inicia-se às
21h por causa do contrato da TV? O Grupo não poderia voltar a ter 14 escolas
iniciando o desfile às 20h? O acesso de apenas uma escola do Grupo A não é
responsável pela ausência de renovação na elite e a constatação de que o
carnaval está virando uma “mesmice”? Como que as escolas que caem do Especial e deixam a Cidade
do Samba sem qualquer ajuda e amparo podem se reerguer com esse afunilamento,
que, com o passar dos anos, só as distancia da padronização do modelo de
desfile desenhado pela maior entidade do carnaval? Em relação ao Grupo A foi noticiado a possibilidade de
reduzi-lo a apenas 8 escolas. Sob a ótica de que o desfile é feito em apenas um
dia, acredito que a medida é salutar. Mas será que esse Grupo não poderia ter a
mesma regra do Especial (dois dias de desfile?). O afunilamento no Grupo A, assim como o afunilamento
anterior do Grupo Especial, não vai comprometer toda a sistemática dos desfiles,
influenciando diretamente nos demais grupos? Parece-nos que a lógica de reduzir os Grupos Especial e
“A” é uma solução satisfatória economicamente. Com a escassez de recursos,
fatiar o bolo com menos escolas pode proporcionar uma melhor aplicação e
comprometimento com o desfile, ou, como querem alguns, com o espetáculo. Daí, o interesse pelo Grupo B. que já abriga algumas
escolas tradicionais, e se, na prática, a medida for adotada, poderá atrair
mais escolas outrora “especiais”. Mas essa elitização em cadeia não compromete culturalmente
o carnaval? Será que as escolas que hoje estão na Intendente (existe
grupo que pode desfilar com 19 escolas em apenas uma noite ano que vem) têm
condições de sobreviver a esse modelo de afunilamento proposto, caso chancelado
pelo Poder Público? Um possível enrolar de bandeiras de escolas tradicionais
será tolerado em nome da padronização e elitização do carnaval? O carnaval do povão, após a elitização do Grupo A, e com o
possível reflexo direto no Grupo B, vai mesmo se restringir a Intendente
Magalhães? No caso da Intendente, é correto todo ano se permitir a
filiação de novas escolas? Não seria o momento de procurar administrar o que
temos (e não são poucas as agremiações filiadas nas entidades), incentivando
fusões de agremiações pertencentes a mesma comunidade, para termos um carnaval
mais representativo, centralizado, competitivo e menos inchado? São inúmeras questões que essa importantíssima reunião
anunciada deveria enfrentar. A definição de quem vai ficar com o Grupo B é uma medida
imediata para o carnaval de 2011, mas
torna-se irrelevante se compararmos às soluções que devem ser tomadas de forma
mediata para a administração do carnaval do terceiro milênio, com a definição
dos papéis (obrigações, direitos e responsabilidade) de cada entidade privada e
pública na condução dos desfiles, vitrine do carnaval brasileiro e mundial. Acho que a Prefeitura poderia efetuar estudos e após a
conclusão colocar uma proposta definitiva em audiência pública, com a abertura
de um canal de comunicação no sítio da Riotur, para que a população opinasse
acerca de mudanças estruturais da organização do desfile. Entendo que o carnaval carioca é uma vitrine e que
movimenta grandes recursos, incentivando o turismo e deve ser analisado sob o
aspecto financeiro, mas também entendo que é preciso política voltada à
preservação cultural das agremiações e formas de fomento para que as escolas
consigam manterem-se ativas e comprometidas com a cultura nacional. Assim como a Mary do filme que dá nome a esta coluna, o carnaval carioca desperta paixões e interesses e precisa urgentemente ser planejado estrategicamente de uma forma a conjugar o financeiro e o cultural. |
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