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BEIJA-FLOR, VILA ISABEL E IMPERATRIZ - O SAMBA É NOSSA VOZ 21 de outubro de 2009, nº 26, ano II A trilha
sonora das escolas do Grupo Especial para 2010
foi definida esta semana. Se, em princípio, a
divulgação dos enredos não nos
deixou otimista para a elaboração dos sambas, foi
com surpresa que algumas
escolas conseguiram, mesmo com enredos enfadonhos, apresentar sambas
razoáveis,
apesar de muito aquém da história dos desfiles. Nesse
primeiro momento, em que os sambas ainda estão sendo
trabalhados para a gravação - muitos ainda podem
sofrer modificações na letra e
na melodia - aponto como meus preferidos a tríade
Beija-flor, Vila Isabel e
Imperatriz Leopoldinense. Nesse
aspecto, a grande ousadia dessas escolas foi
desvincular seus sambas da
“padronização”
chatíssima que há alguns anos insiste
em nivelar todos os sambas por baixo. Para
não tomar o tempo do leitor, resolvi ser mais
objetiva na minha opinião, sem o pretensão de
esgotar a temática e ferir
suscetibilidades. Beija-Flor Sou candango,
calango e Beija-Flor! Se o enredo
geográfico nos parecia limitado, eis que a
Beija-Flor, com sua maestria de costume, apresenta uma bela sinopse e
nos
presenteia com um samba-enredo de verdade.
Cadenciado,
com uma melodia maravilhosa e uma letra
descritiva e coerente, o samba da escola merece a nota 10 com louvor. Vila
Isabel Veio ao
planeta com os auspícios de um
cometa O
melhor enredo do
Grupo Especial de 2010 será representado por um samba
não menos excepcional. Os
versos reproduzidos acima descrevem em pouquíssimas linhas a
vida do
homenageado. A mesma simplicidade permeia todo o samba, com
exaltação dos
grandes momentos vividos pelo compositor, até mesmo quando
remete à sua
“passagem para o espaço sideral”. Nota
10. Imperatriz
Leopoldinense Terra
abençoada! Morada divinal Brilha a coroa
sagrada Reina
Tupã, no carnaval... Outro samba
que surpreende, especialmente se levarmos em
conta o enredo. Isso porque o enredo, por já ter sido
tão decantado na avenida,
parecia-nos fadado a um samba “qualquer nota”. Pelo
contrário, a escola escolheu
um samba-enredo bastante ousado, tanto na letra quanto Afora
esses três
espetaculares sambas, ainda destaco mais dois que, num patamar
inferior,
cumprem com seu objetivo. Tantas
emoções na verde e rosa Brilham as
estrelas imortais "Bate outra
vez" uma saudade Lembro dos
antigos carnavais Por
ocasião da divulgação da sinopse,
confesso que não me
seduzi pelo enredo da Mangueira. Achei a proposta muito
simplória para uma
escola da estirpe da verde e rosa. Mas como era de se esperar, a escola
se
agiganta nas dificuldades e as coisas vão, naturalmente, se
ajeitando e se
encaixando dentro do previsível para a escola. O samba tem
passagens muito boas
(especialmente a primeira parte). A segunda parte, entretanto, nota-se
uma
acentuada caída, mas nada que comprometa. Agora é
só aguardar a Mangueira
encerrar os desfiles (tomara que seja com dia claro). Nota: 9,3 Porto
da Pedra Ao desfilar o
carnaval
Outra escola
que não me seduziu pela sinopse, mas que
conseguiu fazer um samba bem “pra cima” e, de certo
modo, bem razoável para o
desfile. O refrão do meio, no entanto, dá uma
quebrada no samba, algo que
poderia ser revisto pela escola. Nota: 9,0
A
partir daí, a coisa vai ficando mais
difícil, mas ainda podemos citar alguns sambas medianos,
que, com boa vontade,
podem ter a chance de não serem descartáveis. Viradouro A
fé que desata os nós une a gente de novo Caudilhos
guerreiros se abraçam ao povo Ouve-se a voz
da revolução Apesar de
particularmente não gostar do enredo sobre o
México, há de se ressaltar a
competência da sinopse que proporcionou que os
compositores fizessem um samba mediano. Eu não gosto do
refrão principal desse
samba, que remete a um estigma que os brasileiros têm dos
mexicanos. Para mim,
com tanta riqueza no tema, achei pouco criativo apelar pelo lugar
comum. Nota:
8,5 União
da
Ilha Voltou a Ilha O
ótimo sincronismo da sinopse da Ilha não
refletiu no samba. Não sei se a causa foi a
fusão. Observa-se que não só a
melodia como a letra perdeu em objetividade, coesão e
entrosamento. A melhor
parte do samba, para mim, ficou sendo aquela que diz: “Voltou
a Ilha”. Tomara
que o povo realmente vibre de alegria. Nota: 8,5 Mocidade Do
Éden ao paraíso da loucura Ninguém
sabe quanto é o que se
procura Hoje o povo
quer felicidade No
paraíso da igualdade e liberdade Estrela faz o
meu sonho mais real Devido
aos recentes problemas vivenciados pela
Mocidade, até se justifica a euforia da comunidade com esse
samba. Mas
convenhamos, o samba está excessivamente marcheado,
especialmente no refrão
principal. Desculpe-me aqueles que gostam do estilo, mas eu
não gosto. O enredo
é bom, o Cid é competente e tenho certeza que a
escola vai se redimir com esse
desfile. Pode até ser que o samba contagie a avenida e
cumpra o seu papel e aí
a comunidade vai estar com toda a razão de festejar.
Não entendi a passagem no
samba que diz que a Mocidade voltou. Voltou da onde? Do lugar que nunca
foi,
embora poderia ter ido? Nota: 8,5 Salgueiro Eu viajei
nessa magia Da
atual campeã do carnaval, esperava-se um grande samba.
Não foi por
causa de clareza da sinopse que o samba escolhido não
conseguiu se sobressair
na safra do carnaval 2010. Não há grandes
equívocos na letra, nem mesmo na
melodia, mas o samba não tem a “cara” do
Salgueiro. E isso pode custar caro
para a escola. Nota: 8,5 Deixei
por último
três dos sambas do especial que me pareceu equivocados. Pelo
menos na primeira
impressão. Pode ser que com a gravação
oficial, possa tais sambas serem mais
convicentes. Tijuca A senha o
segredo da
vida O
enredo é pouco revelador, mas o samba deixa
transparecer que faltou argumento aos compositores para elaborar um
grande
samba. E frases do tipo “Unidos da Tijuca, não
é segredo eu amar você”, que
nada tem a ver, em princípio, com o enredo, ficaram soltas
no samba. E isso
dificulta a vida do folião que quer cantar o samba e
entender o que se canta.
Nota: 8,0 Portela O meu
pavilhão é
minha paixão! Não
gostei do enredo, não gostei da sinopse,
mas tinha grande expectativa de que o samba iria aliviar meu
coração no sentido
de amenizar os meus senões. Ledo engano. O
informatiquês do samba só serviu
para revelar o equívoco cometido pela Portela na escolha do
enredo. Mas como
anota o samba, Portela é jaqueira
que não vai tombar. Boa sorte, Águia. Nota 7,5 Grande
Rio Guerreiros do
samba a arte se consolidou Saudade da
linda voz que se calou... eu sou
cantor... eu sou cantor... No seu
protesto nunca fui um puxador A sinopse foi muito bem realizada, porém o mesmo não posso dizer do samba. Com a junção, então, achei o samba desproporcionalmente grande e sem conexão. Não entendi a menção ao enredo “O Amanhã” da União da Ilha, que não passou pelo sambódromo e tampouco foi visto pelo Camarote decantado. Os dois refrões são de péssimo gosto, no meu entender. O samba vale, no entanto, pela lembrança dos carnavais inesquecíveis, de João 30 e de Jamelão. Nota 7,5. |
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