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VILA ISABEL, UM PALPITE FELIZ 18 de julho de 2009, nº 24, ano II E o carnaval de 2010 já deu seus primeiros passos. Após o
“sorteio” que definiu algumas posições na ordem do desfile, as doze agremiações
escolheram seus enredos e apresentaram ao público e compositores suas sinopses.
Depois de ter agonizado durante 8 anos no Grupo de Acesso,
a União da Ilha volta ao Especial e se lança numa aventura fascinante com o
sonho de conseguir reverter uma escrita anunciada: a agremiação que sobe de
grupo e abre o carnaval é a única rebaixada
pelos jurados. Sabedora das dificuldades, a escola insulana contratou a
maior campeã da fase do Sambódromo, Rosa Magalhães, que, divorciada da
Imperatriz mas com a maestria que lhe é peculiar, pegou a Espanha como pano de
fundo para traçar um paralelo entre Don Quixote, de Cervantes, e a União da
Ilha, do Governador. A sinopse é objetiva, bem construída e é um prenúncio de
que é possível que o delírio da União da Ilha possa mudar a realidade reinante
na Liesa. A escola terá desafios tão importantes quanto os do cavaleiro de A Imperatriz, assim como as escolas que procuram se
reabilitar na avenida, também se aventura em 2010, com o propósito de percorrer
a história do Brasil, para mostrar que nosso país é laico, e que, por isso, é a
terra de todos os deuses. De plano, a sinopse já nos revela que houve a mudança na
condução do desfile da escola de Ramos. O enfoque do enredo é bem ao estilo de
Max Lopes. Entretanto, a sinopse não traz uma nova visão para o tema, que já
foi diversas vezes decantado na avenida. Mas, confiante no trabalho do competente Max Lopes, vai
ser bom ver a “nova” Imperatriz em seu recasamento com o mago das cores. A Imperatriz pode até tentar, mas o segredo dos deuses está
sendo preparado na surdina pela Tijuca. Um dos segredos para a escola do morro
do Borel ter se tornado competitiva nesta década foi revelar o carnavalesco Paulo
Barros, que está de volta, com total liberdade, Essa reconciliação pode ser a
chave para desvendar o segredo que só será revelado na quarta-feira de cinzas. Em tempo de atos secretos do Senado Federal, o enredo é
totalmente instigante e pertinente. Afinal, o segredo é a alma do negócio. A opção da sinopse é lúdica e levará os foliões a tentar
decifrar a magia e os mistérios do enredo durante o desfile. A fórmula, no
entanto, deve prevalecer a mesma dos últimos carnavais, que se traduz na marca
registrada do carnavalesco e da escola. De qualquer sorte, a chave para
desvendar tal segredo somente será revelada na quarta-feira de cinzas. A partir da leitura da sinopse, não é segredo para ninguém
que a Viradouro fez o caminho oposto da União da Ilha ao optar por ter um país
estrangeiro como tema. A proibição a enredos nacionalistas já caiu faz tempo.
Assim, não se vislumbra nenhum problema na homenagem. A proposta da Viradouro resume-se a exaltar o México. É
certo que a cultura mexicana tem elementos fortes para conduzir os setores da
escola, e que alguns deles estão bem descritos na sinopse. Porém, não havendo
nenhum fato, evento ou motivo relevante para esta exaltação, como aconteceu,
por exemplo, com o Japão, na homenagem do Porto da Pedra em Da história do México à história do livro, a Sapucaí
continua vermelho e branca para que o Salgueiro faça sua viagem rumo ao
infinito. A aposta da escola, campeã de 2009, é virar mais uma página em sua
trajetória e abrir um portal imaginário para o mundo da história das
civilizações e estórias de ficção, proporcionadas pelo fascínio da leitura. O tema é rico, uma vez que a história do livro confunde-se
com a própria história da humanidade, e a sinopse, por vezes, remete a um
carnaval ao estilo de Paulo Barros. De qualquer sorte, o Salgueiro espera escrever mais um
capítulo em sua trajetória e quem sabe com a colaboração dos espectadores da
Sapucaí o sonho da escola pode virar realidade. Um sonho que se tornou realidade foi o de Brasília, a
capital da esperança, que fará 50 anos e, por isso, virou enredo da poderosa Beija-flor.
A sinopse reproduz o que os patrocinadores gostariam que
fosse levado para a avenida. Assim, a sinopse da Beija-flor decepcionou um
pouco, pois se resume a relatar uma Brasília utópica, sem fazer o paralelo com
a “ilha da fantasia” do poder. Seria muito mais interessante e carnavalesco, convenhamos,
ver a capital federal ser pano de fundo para a escola desenvolver um bom
panorama crítico e político da influência do poder, durante os regimes e
períodos vivenciados pelo Brasil. Se na visão da Beija-flor, Brasília é o paraíso, a Mocidade,
após o péssimo desfile de 2009, segue em busca do seu paraíso perdido. Se
depender da sinopse, não é certo ter o sucesso almejado já em 2010, mas, com
certeza, a escola pode mesmo espantar a crise e estar bem mais perto do caminho
paradisíaco. Apesar de a sinopse remeter a vários enredos já passados
na avenida, que versavam sobre os paraísos e infernos da humanidade, esse é de
longe o melhor tema que a escola levará para a avenida nos últimos anos. Enquanto no Paraíso da Mocidade o homem está nu, na Porto
da Pedra a tendência é vestir-se conforme a moda. A sinopse liga a história da moda
à arte e ao comportamento da humanidade. Em princípio, o título do enredo do Porto da Pedra mostrava-se
bem mais interessante, parecendo-nos se tratar de algo carnavalesco, alegre, ousado
e transgressor como a música de Noel e a moda como fator de protesto. Entretanto, com a divulgação da sinopse, o enredo parece-nos
escravizado por uma moda arcaica, burocrática e blasé. Quem não quer ficar fora da moda é a Portela. A escola que
foi pressionada a se modernizar, vem pro
tudo ou nada em 2010. A Portela pretende navegar por bytes nunca dantes
navegados. Há alguns anos, a escola de Madureira resolveu ser a porta-voz
oficial do “politicamente” correto e em 2010 tem a difícil missão de transpor
para a avenida em alegorias e fantasias a inclusão digital. A sinopse é algo de inusitado. Se a escola quis inovar,
principalmente em relação ao tema, a intenção não foi das melhores. Isso porque
a sinopse deveria ter como função básica apresentar o enredo aos compositores,
para se extrair os principais aspectos do desfile para desenvolver o samba. A despeito de a Portela, por meio da sinopse, ter
antecipado como virão alguns setores e segmentos da escola, a forma concebida
vai dificultar em muito o lapidar dos compositores. Além da abstração do tema,
da sua falta de intimidade com aspectos plásticos do carnaval, a sinopse “tem
problemas sério de conexão”. Falta-lhe uma referência, um elo, um fio condutor...
O tema - a democratização do acesso às tecnologias da informação - ficou solto, sem propósito, sem uma finalidade
específica. A sensação é de desleixo. Se a Portela defende a democratização da informação, a Grande
Rio pegou como mote um grupo seleto de afortunados para levar adiante a sua
pretensão de homenagear o Camarote da Brahma. Em se tratando da Grande Rio, é
lógico que as “celebridades” terão um lugar de honra no desfile. A escola de Caxias, inteligentemente, fez do olhar do
folião que frequenta o festejado camarote a linha condutora do enredo. Daí
porque serão mostrados todos os grandes momentos vivenciados na Sapucaí por
escolas diversas que encantaram o olhar do “ sambista n. Para quem na década de 90 viu grandes enredos serem
desenvolvidas pela até então pequena “Grande Rio”, fica a sensação de que o seu
crescimento foi inversamente proporcional a sua capacidade criativa. Mas não
podemos deixar de ressaltar que a escola está antenada com os rumos atuais que
o carnaval tomou, por mais que isso possa nos incomodar. Impossível, no entanto, vai ser assistir de camarote o
desfile da Vila Isabel. Difícil será não se deixar envolver pela belíssima
homenagem que a escola está reservando para o centenário de Noel Rosa. A sinopse está perfeita: histórica, didática, envolvente,
nostálgica. O enredo pode ser facilmente traduzido como um símbolo de resistência
cultural que deveria ganhar adeptas entre as escolas de samba da cidade do Rio
de Janeiro. Falar de Noel, em seu centenário, é falar do samba, é
falar de Vila Isabel. Ainda bem que a Vila abraçou o enredo, atitude que a
Mangueira, por exemplo, anos antes, deveria ter tomado por ocasião do
centenário de Cartola. Aliás, esse “vacilo” da Mangueira ainda repercute na
trajetória da escola, que a partir de então entrou numa crise existencial que,
esperamos, com a nova presidência e a convocação de todos os mangueirenses
possa ser amenizada já a partir do próximo carnaval. O enredo da Mangueira, em princípio, está aquém da
grandiosidade da escola. Não que a música brasileira não mereça ser
homenageada, como, de fato, já o foi recentemente pela Portela. É que a sinopse apresentada nos pareceu muito superficial,
abrangente em demasia e pouco objetiva. De positivo, as homenagens aos grandes
artistas. Mas sabemos do brio da escola e dos componentes. Não é a toa que,
espertamente, a LIESA facilitou para que a escola encerrasse um dia de desfile
e o acaso definiu que ela encerraria o carnaval das grandes escolas. O momento mostra-se propício para que a escola repense sua
forma de fazer carnaval. Ninguém pode desmerecer que durante esta década a
Mangueira realmente surpreendeu positivamente e se tornou uma escola
competitiva em todos os sentidos, inclusive na parte plástica e no gigantismo.
Para tanto, teve de rever alguns conceitos arraigados pela tradição. O problema
é que nessa trajetória a escola errou a mão e tem, a partir do ano que vem, a
oportunidade de reencontrar o equilíbrio entre o moderno e o tradicional. Em conclusão, os títulos dos enredos e as sinopses são
importantes, mas não são prenúncios de um bom desfile. Eles passam a ser
descartáveis, após a escolha do samba, o desenho de carros alegóricos e das
fantasias. O desfile propriamente dito, na avenida, é quem revelará
se o enredo é ou não bom. Logo, muitas surpresas ainda nos esperam, e o que é
aparente bom pode se tornar pífio e o que é ruim pode se mostrar uma surpresa
agradável. Assim, a próxima etapa é aquela em que as escolas devem
caprichar na escolha dos sambas, trabalharem bem os quesitos de barracão e
ensaiarem a evolução e a harmonia com afinco, pois afinal, apesar de os
bastidores contarem muito, carnaval ainda pode ser ganho na avenida. A lamentar, entretanto, a ausência do Império Serrano no Especial de 2010, especialmente pelo enredo escolhido para 2010. Fica até chato ficar batendo na mesma tecla que a Liesa deve rever os critérios de julgamento, especialmente no que se refere à ascensão e ao decesso de escolas. Mas isso é assunto para uma nova coluna. Beijos e sorte as 12 agremiações do Grupo Especial. |
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