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SORTE TEM QUEM ACREDITA NELA 4 de janeiro de 2009, nº 20, ano II Qualquer
prognóstico acerca dos desfiles é temerário. Nem mesmo os
ensaios técnicos que servem de prévia para as escolas se
organizarem para o desfile podem significar mais do que
simplesmente são: apenas ensaios. Tampouco a audição do CD com
os sambas-enredos e as críticas, negativas ou positivas, pode
representar algo mais que simples gosto pessoal. Nem mesmo a
festa de protótipos que algumas escolas realizaram também serve
de termômetro para especulações acerca do desfile. Assim como
futebol se ganha no campo, carnaval também se ganha no dia do
desfile. É lógico que essa máxima por vezes é mitigada, pois
há muito subjetivismo no julgamento. O nome e o poder da escola
influenciam, mas o certo é que hoje uma agremiação para ganhar
um campeonato precisa trabalhar arduamente. Não basta ter um
bom enredo, bom samba, boa evolução, boa harmonia, boa bateria,
boa comunicação com o público. Esta última, aliás, há
tempos se distanciou da Sapucaí no dia do desfile oficial. A sorte de cair
em uma posição boa de desfile ajuda, mas é preciso bem mais
que sorte. Pés de coelho, ferraduras e um astral bem maior que o
do ano passado não bastam. Aliás, sorte tem quem acredita nela.
Também não adianta rezar na cartilha da Liesa, e no dia do
desfile “fazer tudo errado”, perdendo o carnaval para
si mesma. O fator extra
desfile e a mídia em torno da escola têm colaborado bastante
para algumas agremiações entrarem no desfile como favoritas,
fazendo com que na mente de cada pessoa ocorra uma segregação
entre as escolas, dividindo-as entre as que serão candidatas ao
título, as intermediárias e a que fatalmente vai ser rebaixada. Isso não é
benéfico para o carnaval. Aquela mágica que acontecia até
meados da década de 90, quando uma escola surpreendia na
avenida, era um dos fatores que fazia com que o carnaval carioca
tivesse aquele glamour e fosse um campeão de audiência.
Sem contar que durante todas as décadas vimos nascer ou renascer
(sem trocadilhos) novas escolas, que se juntavam às
tradicionais, e tinham condição de ganhar projeção nacional.
Assim aconteceu com a Beija-flor, Imperatriz, Em Cima da Hora e
Ilha (década de 70), Caprichosos, Cabuçu, Ponte, São Clemente,
Unidos e Império da Tijuca e Estácio (década de 80),
Viradouro, Grande Rio e Porto da Pedra (década de 90). Na década atual,
não houve renovação. Apenas a Paraíso do Tuiuti surpreendeu a
furar um bloqueio, mas isso ainda nos tempos em que a
vice-campeã do acesso era promovida ao status especial. A exceção da
década ainda é o carnaval da Unidos da Tijuca de 2004, não
pelo diferencial da emoção, mas sim pela sua concepção
estética, que o destacou exatamente por destoar da grande
maioria dos desfiles, que passaram rigorosamente parecidos, belos
e grandiosos. Hoje, o produto
carnaval carioca não seduz mais como antigamente, e é preciso
que as autoridades envolvidas revejam imediatamente a política
do carnaval, tentando inserir o “povo” novamente na
Sapucaí, revendo regulamentos, critérios de julgamento, melhor
distribuição de recursos entre as escolas, política de
acessos, que permitam, como no passado, que o Grupo Especial
tenha oxigenação, com o surgimento e ressurgimento de novas
forças etc. Mas esse é um
assunto interminável e que dá muito pano para a manga. Mas fica
aqui o registro para que, com o ano que se inicia, com a mudança
na prefeitura carioca, principal patrocinadora dos desfiles,
ações efetivas sejam realizadas para que na nova década que se
aproxima haja uma significativa mudança no status quo do
nosso carnaval. Vamos nos
concentrar então nos prognósticos dos desfiles do Grupo
Especial para 2009. Como dito alhures, é muito cedo para isso,
pois muitos barracões ainda estão começando os trabalhos, os
ensaios ainda estão pipocando, ou seja, as escolas ainda estão
esquentando seus tamborins. Mas eu prefiro
que assim seja. Pois fazer prognóstico de ensaios, de barracão
é tão temerário que o fazer sem esses elementos. No caso, sem
a pretensão de adentrar nos aspectos técnicos, que afloram
somente quando do desfile oficial, quero apenas traçar um
contexto genérico, muito mais a ver com os fatores extra
carnaval, que propriamente com a competência e dedicação
particular de cada escola. Por isso, se
algum comentário estiver na contramão da realidade, relevem,
pois não é intenção desta autora ferir suscetibilidades. 1) IMPÉRIO SERRANO - VALE A PENA
VER DE NOVO O Império tem
uma missão “quase” impossível. Desde o enxugamento do
número de escolas do Grupo Especial, a agremiação que sobe do
acesso é fatalmente candidata ao rebaixamento. Por vezes, por
falta de estrutura mesmo, mas também por preconceito dos
jurados, já que fica bem mais fácil achar defeitos em quem
está se integrando ao grupo. Mas ao contrário
dos outros anos, quem abre o desfile é o IMPÉRIO SERRANO,
escola tradicionalíssima, e com uma garra e uma tarimba
indiscutíveis, que fazem à diferença no desfile. O samba,
reeditado, promete contagiar principalmente os componentes da
escola. A bateria talvez seja a melhor do grupo, sendo
praticamente impossível que a escola perca pontos nesses dois
quesitos. Fora isso, o
Império sobe mordido, vindo de um desfile heroico no grupo de
acesso, onde a escola foi buscar forças nos seus componentes e
no seu santo protetor para assegurar sua volta ao lugar de onde
nunca deveria ter saído. De positivo, o
fato de ter uma carnavalesca iniciante na carreira solo, que, ao
estrear no Grupo Especial, concorrendo com o marido, pode
levá-la à superação e a querer mostram um “bom”
serviço. Nada obstante,
ainda existem outros quesitos que a escola deve ficar atenta e
não vacilar para dar justificativas aos jurados para que lhe
tirem preciosos décimos que coloquem em risco sua permanência
no grupo. Fica aqui o
registro. Será que das escolas tradicionais apenas o Império é
merecedor dessa gangorra que os jurados o transformaram desde a
década de 90? Se prestarmos bastante atenção em desfiles de
outras co-irmãs com histórias tão gloriosas quanto à da
Serrinha, verificaremos que algumas já mereciam ter visitado o
acesso. Então fica a pergunta: por que se tornou tão fácil
retirar décimos do Império Serrano? Como diz a escola, a
democracia tem um preço e o Império vem pagando essa conta nos
últimos anos. Espera-se que o
“Vale a pena ver de novo”, no caso do Império,
restrinja-se ao samba-enredo. 2) GRANDE RIO - A PERFUMARIA CAXIENSE A escola de
Caxias conseguiu achar nesta década o caminho para o sábado das
campeãs, mas ainda luta para conseguir o inédito título de
melhor do carnaval, já perdido, aliás, em 2006, por erros da
própria escola no desfile. Inexplicavelmente,
o sucesso da Grande Rio veio na contramão de seu descuido com
bons enredos e sambas, que a impuseram no carnaval na década de
90. Para 2009, no entanto, o enredo proporcionará à escola uma
retomada de grandes desfiles. É o que se espera. Também já é
hora de a escola se conscientizar que é preciso mais que só
perfumaria. Um bom começo é livrar-se do estigma de escola dos
artistas, da Rede Globo, da mídia e se concentrar mais nos
quesitos do desfile. Errar menos em
termos de evolução, principalmente, é preciso. Na avenida, o
acordo financeiro vindo da França será materializado, que
pressupõe um desfile rico e histórico. Uma prova e tanto para
Cahê Rodrigues, que não é estreante, mas que pode se firmar
como um grande carnavalesco, uma vez que terá estrutura
financeira para conceber o desfile. O samba da escola
é bem apropriado para o desfile e, junto com as alegorias,
fantasias, cujo enredo proporciona que sejam ricas e clássicas,
e a bateria de Mestre Odilon podem levar a Grande Rio mais uma
vez ao desfile das campeãs. Nada obstante
2009 ser o ano da França no Brasil, o campeonato pode esbarrar
na falta de sorte no sorteio da posição de desfile. Ademais,
por mais que o enfoque do enredo seja a influência na cultura
brasileira, vivemos o período em que o Governo Lula anda
exaltando para o mundo as cores verde e amarela, sendo arriscado
exaltar outra bandeira na avenida. De positivo, a
avaliação sempre benéfica dos jurados, que parecem gostar
muito dos desfiles apresentados pela escola, uma vez que, nos
últimos carnavais, se comparada com outras agremiações, é uma
das que menos perde décimos pelos supostos erros cometidos na
avenida. De qualquer
sorte, a cada ano, a Grande Rio vem se aproximando do grande
estouro de seu champanhe. 3) VILA ISABEL -
A ÓPERA DOS MALANDROS 2009, para a
escola do bairro de Noel, é desafiante. Isso porque, após anos
no acesso, seguida da transfiguração que lhe concebeu um
campeonato com apenas dois anos consecutivos no Especial na atual
década, fez com que a escola se impusesse no mundo samba como
franca favorita dos desfiles. O insucesso de
2008, que a afastou do sábado das campeãs, pode ser o fator
motivacional para que a escola venha aguerrida para o desfile de
2009. O competente Alex
Souza, responsável pelo excelente conjunto de alegorias de 2008,
tem o desafio de escrever seu nome na história dos desfiles com
a concepção da homenagem ao centenário Theatro Municipal do
Rio de Janeiro. De quebra, a escola contratou o
carnavalesco-sensação da década, Paulo Barros, para
auxiliá-lo. Em princípio
essa “união” nos pareceu estranha, mas não é que
para o marketing da escola esse “casamento” pode
funcionar. Afinal, todos querem ver como será, na avenida, a
junção de estilos tão diferentes, o que, por si só, já faz
com que a Vila seja a escola mais esperada do carnaval. Ademais, se Paulo
Barros é constantemente acusado de alterar a essência do
desfile, nada mais apropriado, em se tratando de um enredo que
exalta o teatro, que ele faça um show a parte, e traga para a
Vila todos os seus trunfos e inovações, elevando à enésima
potência sua criatividade, que aliada ao bom gosto, requinte e
detalhamento de Alex Souza, pode render um excelente “espetáculo”
na avenida. Por outro lado,
é extremamente complicado lidar com egos e vaidades,
principalmente para um carnaval levado por duas estrelas. Logo,
além da indiscutível química, é necessária uma certa dose de
temperança e humildade, para que a prima donna desse
desfile seja única e exclusivamente a Unidos de Vila Isabel. 4) MOCIDADE - O
DESPERTAR DE UMA ESTRELA E a Mocidade
prossegue na busca de um estilo para colocá-la de volta no
seleto rol de escolas favoritas. A crise que andou rondando a
escola, ao que parece, lentamente vem se afastando e o sol
poderá, com o tempo, voltar a brilhar para a escola de Padre
Miguel. O enredo é
cultural e interessante, mas os estilos literários tão
diferentes dos homenageados podem confundir a sua leitura pelos
jurados e espectadores. O ano de 2008 já
trouxe melhoras para a escola e acredito que 2009 será mais uma
provação para a busca do seu equilíbrio interno, mas, diante
de tantas escolas estruturadas, não acredito que a Mocidade
possa alcançar, já em 2009, melhores posições na
classificação. Ademais,
precisamos confirmar o talento do carnavalesco, que ainda é
desconhecido por parte do grande público. No fundo, fica
uma sensação de vazio toda vez que a Mocidade anuncia o enredo
e desfila. Escola antenada com as inovações, há muito a
Mocidade tem deixado a desejar os entusiastas pelos desfiles, e
essa falta de “tesão” tem contribuído para a perda de
preciosos décimos no resultado. A escola sempre
foi vanguardista e é preciso resgatar essa essência, seja que
estilo a escola for tomar para o futuro. De positivo, a
paixão e o amor dos componentes e torcedores da escola, que
acabam a impulsionando para o desfile, vencendo desafios e
adversidade, como ocorrido no último carnaval. Vamos aguardar se
nesse desfile a estrela vai despertar. A torcida é grande. 5) BEIJA-FLOR -
VÁ TOMAR BANHO Em tempo de sua
supremacia, qualquer prognóstico para a escola só pode ser
positivo. A Beija-flor tem uma estrutura invejável e um
investimento fabuloso em seus setores. Isso ajuda e muito. Apesar de o
enredo escolhido soar estranho, a escola fez uma boa escolha em
termos de samba, e pode confirmar seu favoritismo mais uma vez. Particularmente,
entretanto, acredito que o dia do desfile e o enredo podem ser a
pedra nos sapato da Beija-flor. Isso porque se esse enredo fosse
levado por outra escola com menos peso no cenário do samba,
muito provavelmente sofreria com a má avaliação dos jurados e
da mídia carnavalesca. Mas se formos
olhar o lado positivo, somente uma escola do porte da Beija-flor
pode se dar ao luxo de ousar nesse sentido, sendo certo que, com
a estrutura, competência e o “toque de Midas” que a
escola tem, fica fácil transformar qualquer abóbora em
carruagem. De positivo,
ainda, o fato de a escola assumir uma nova linha de enredo, se
afastando das sagas que foram responsáveis pelo seu sucesso
recente. A Beija-flor, desde a vinda de Alexandre Louzada para a
composição da comissão de carnaval, vem gradativamente
ganhando uma imagem mais suave, sem perder a qualidade, e isso é
muito positivo. 2009 com certeza não será diferente. É só conferir
mais esse banho que a Beija-flor promete dar na avenida ou
aguardar para que alguma co-irmã interrompa a fase de títulos
de Nilópolis, mandando-a, figuralmente, tomar banho, abrindo
caminho para uma nova campeã. 6) UNIDOS DA
TIJUCA - O CÉU DE BRIGADEIRO A Tijuca vem
sendo presença frequente no sábado das campeãs e não se pode
atribuir esse fator ao acaso ou a sorte, tampouco a Paulo Barros,
já que ele saiu da escola, e quando, pela Viradouro, concorreu
diretamente com a escola do Borel, ficou, pelos jurados, abaixo
dela. Em relação ao grande público, os enredos tanto da Tijuca
pré quanto da pós-Paulo Barros continuam muito criativos e bem
sucedidos. Logo, ao manter o
estilo, a Tijuca vai mais uma vez testar se a fórmula criada por
Paulo Barros não caiu no desgaste. Outro desafio é encerrar o
primeiro dia desfile, após a passagem da superioridade da Beija-flor.
O samba é
apropriado e o enredo aproxima o público, que sempre teve
fascínio pelas viagens espaciais, ainda mais em se tratando do
ano internacional da astronomia. Não sei se já
estaria na hora de os jurados prestigiarem esse estilo de
desfile, já que tem faltado muito pouco para a Tijuca alcançar
o tão almejado campeonato. Acredito que a escola fará um bom
desfile dentro de suas pretensões, mas o estilo, por ser
incomparável com os das demais escolas, pode ser fator
discriminante por parte dos jurados, afastando-a do campeonato. De qualquer
sorte, a única escola que nesta década tem mexido de alguma
forma com o público é a Tijuca, já que ela sempre traz para o
desfile algum momento ou fato vivenciado pelos espectadores,
despertando um sentimento de familiaridade e saudosismo, que
trazem conforto e satisfação. E ao que nos
parece, o enredo de 2009 tem todos os elementos para encantar a
Marquês de Sapucaí. 7) PORTO DA PEDRA
- A CURIOSIDADE MATA Um grande desafio
ronda a Porto da Pedra. Das grandes escolas, o Tigre de São
Gonçalo tem escapado do rebaixamento por muito pouco, o que, de
quebra, leva o público a duvidar mais uma vez de sua
permanência no Grupo Especial. Sem hipocrisias,
é fato de que um grupo cada vez mais enxuto e seleto, a chance
de crescimento de uma escola de porte médio como a Porto da
Pedra é mínima. Mas, de tempos em tempos, essa regra é
quebrada. São Clemente 1990, Porto da Pedra 1997, Grande Rio
2003 e Unidos da Tijuca 2000 são alguns poucos exemplos. Das
mencionadas, a Grande Rio e a Unidos da Tijuca, até o momento,
não se desviaram do percurso e na atualidade estão muito
próximas de uma conquista. A Porto da Pedra,
a meu ver, tem um grande complicador que é a concorrência
direta da Unidos do Viradouro. É sabido que é possível a
convivência entre escolas de locais limítrofes no mesmo grupo,
mas a tendência é sempre haver dificuldades em duas grandes
forças vindas de, praticamente, a mesma região. Em 2009, pode ser
diferente, já que a contratação do excelente Max Lopes pode
ser prenúncio de que dias melhores virão para o Porto da Pedra.
Porém, o samba da escola, desse ano, deu uma decaída. O enredo
da escola é confuso e sua leitura pode ser um problema para a
compreensão dos jurados e público em geral. O mote da
curiosidade parecia-nos, quando do anúncio do enredo, bem
lúdico e despretensioso, aproximando-se da fase áurea do Porto
da Pedra, quando esteve à frente da concepção dos desfiles,
Mauro Quintaes. Até porque a curiosidade faz parte da vida dos
seres humanos, ainda mais numa década em que houve a
exasperação dos chamados reality shows televisivos, dos papparazzi
e da era cibernética. O enredo,
entretanto, é muito mais audacioso, sendo ligado às grandes
invenções da humanidade, que, por lógico, perpassa pela
curiosidade de seus criadores, mas se aproxima, guardando as
devidas proporções, do carnaval bem sucedido da Tijuca de 2004.
Tal fato pode ser perigoso, eis que não se sabe se a Porto tem
estrutura para dar um passo maior que suas reais condições
momentâneas. Conta a seu favor
o talento de Max, que após o fracassado desfile da Mangueira,
vai se empenhar para desfazer a má impressão deixada. O dia do
desfile também a ajuda e muito. Ademais, a escola, apesar das
limitações, tem feito desfiles com garra, o que pode
impulsionar na sua luta por permanecer especial. 8) SALGUEIRO -
QUE RUFEM OS TAMBORES Renato Lage não
precisa provar nada para ninguém, mas é perceptível que ele
ainda não conseguiu, na nova fase de Salgueiro, o sucesso
esperado de quem revolucionou o carnaval na década de 90. O enredo do Sal,
um tema na verdade, pode parecer direto e objetivo, mas, para os
dias atuais e, se comparado com os das demais escolas, passa a
ser muito simples, o que de cara afasta qualquer pretensão de
campeonato, a não ser que aconteça aquela mágica do carnaval
que o próprio Salgueiro já protagonizou quando de seu último
levantado. Na minha
concepção, acontece o inverso ao enredo do Porto da Pedra.
Enquanto esta quis o mais complexo, o Sal optou pela
simplicidade, como em 2008, quando saiu da apuração com um
inesperado vice-campeonato. Para uma escola do porte do
Salgueiro, entretanto, fica uma sensação de “quero mais”. O samba da escola
também não ajuda. Apesar do frisson causado quando da
divulgação da sinopse, esta não serviu para inspirar os
compositores. Mas, como dito
anteriormente, o Salgueiro tem um carnavalesco talentoso, garra e
competência para se impor na avenida. De bom, com
certeza, a parte do enredo que faz uma justa homenagem a Mestre
Louro, que comandou a furiosa nos seus melhores dias. Ademais,
desfilar na segunda-feira e na posição conquistada pelo sorteio
pode proporcionar a garra e o empenho necessário para “explodir
corações” novamente na avenida. Mas isso, só no
dia para conferir. 9) IMPERATRIZ - O
CACIFE DE RAMOS Depois da
sucessão de títulos, a Imperatriz passou a ser ofuscada no
desfile das escolas de samba, e daí críticas surgiram à
excepcional Rosa Magalhães. Na realidade,
acredito que a fama de “certinha”, imposta pela mídia
do carnaval, incomodou tanto, que a escola se perdeu ao se
preocupar excessivamente em fazer desfiles mais soltos,
descuidando-se do visual. Ano passado, a
escola ensaiou uma reação, que lhe assegurou a volta ao desfile
das campeãs. Afinal, o enredo tinha a cara da carnavalesca, que
abrira a mão do famigerado patrocínio para desenvolver um
enredo livre. Em 2009, o fato
se repete. A escola tem uma grande motivação para acelerar seu
processo reativo: o jubileu de ouro. Pelas mãos da competente
Rosa Magalhães, o enredo vai muito além do cinqüentenário da
escola, remetendo às essências do surgimento da Imperatriz,
trazendo toda a riqueza cultural do bairro de Ramos. Por tudo isso, e
pela exaltação do samba e de suas raízes, é que acredito
muito no desfile, especialmente pela sorte da posição obtida no
sorteio, o que nos dá a certeza de que a escola, mais uma vez,
vai dar o ar de sua graça no desfile das campeãs. Comparar décadas
é difícil, mas se a Imperatriz conseguir fazer metade do que
fez a Mocidade em 1990 (não em termos de concepção do desfile,
mas sim em extravasar a comemoração, deixando de ser um
pretexto interno para se tornar uma celebração do consciente
coletivo de todos, especialmente dos espectadores do desfile), é
bem provável que possa sorrir novamente na quarta-feira de
cinzas. O povo brasileiro
tem esse sentimento solidário de impulsionar e se deixar
contagiar pela alegria alheia, por isso o dever de casa “interno”
da Imperatriz é extremamente importante para o sucesso do
desfile. Se a Imperatriz
precisava de um impulso para voltar a disputar títulos, o
momento é mais que propício e o resultado pode ser mais que
compensador. 10) PORTELA - UMA DECLARAÇÃO DE AMOR A
responsabilidade da Portela em 2009 também é grande. Depois de
muitos anos, a escola conseguiu em 2008 voltar ao sábado das
campeãs. A tal “modernidade” tão apregoada nos dias
atuais, parece que aos poucos está se inserindo na tradicional
escola de Oswaldo Cruz. A escola, assim
como a vizinha Império Serrano, foram as últimas resistentes ao
mexer com certas tradições em seus desfiles, razão pela qual
se pode explicar o enorme distanciamento do pódio. O enredo é
difícil e abstrato, mas rendeu um dos melhores sambas do
carnaval, na minha concepção. A escola não
conseguiu manter o carnavalesco Cahê Rodrigues, mas traz dois
bons carnavalescos que vinham se destacando nos grupos de acesso
do carnaval. Apesar de Lane já ter muitas passagens pelo
Especial, 2009, com certeza, será o seu maior desafio. Isso
porque o Grupo Especial traz bônus e ônus: ao mesmo tempo que
é uma vitrine consagradora é também intolerante para com erros
inconcebíveis. Ainda mais em se
tratando de uma escola como a Portela, que tem uma enorme torcida
em todas as regiões do país e precisa confirmar boas
colocações no carnaval carioca, para mais tarde tentar o tão
sonhado campeonato. O dia e horário
de desfile são muito bons para as pretensões da escola. O
enredo traz um saudosismo pelos antigos carnavais que pode ser o
grande trunfo da escola de Madureira. Vale lembrar que
o último namoro da Portela com o campeonato remonta 1995, cujo
enredo tinha traços bem parecidos com o que a escola vai levar
em 2009. De quebra, para
matar a saudade, a eterna musa do carnaval, Luma de Oliveira,
assume o posto de rainha de bateria da escola. Ainda acho cedo
para pensar em quebra de jejum pelos títulos, mas há um
prenúncio no ar de que em breve os portelenses poderão tirar da
garganta o grito de campeã. 11) MANGUEIRA - A CARA DO POVÃO Superação. Essa
é a palavra de ordem na Mangueira para apagar o fracassado
desfile de 2008. Se por sua vez o
enredo é pra lá de batido, o samba conseguiu superá-lo e é um
dos melhores do ano. Ademais, o termômetro para saber se o
enredo é bom ou não se mede pelo entusiasmo da comunidade, que
nos parece, está bem elevado. A vinda de
Szaniecki para a escola completa o processo de renovação, que
se iniciou, mesmo que tardiamente, ainda antes do desfile de
2008, o que deve proporcionar uma nova leitura em termos de
alegorias, sem tanta suntuosidade, que, por vezes, ofuscava o que
a Mangueira tem de melhor: os componentes. Por outro lado, o
carnavalesco deve estar consciente de que a Mangueira, pela sua
importância nacional, é como a lente de um microscópio que
deixa transparecer em alta definição não só as qualidades de
um trabalho, mas, principalmente, defeitos, que não são
tolerados pelos mangueirenses. Luizito está em
sua melhor fase e já é hora de o pessoal do Estandarte de Ouro
prestar mais atenção nesse intérprete. É cedo para
especular, mas a impressão que nos fica é que a escola mais
querida do Brasil vai arrepiar na avenida, credenciando-se mais
uma vez ao título. É o que todos os cariocas esperam, por
sinal. 12) VIRADOURO - OS DEUSES DEVEM ESTAR
LOUCOS No mesmo intento
da Mangueira, a Viradouro também pretende resgatar a sua
essência em 2009. Isso após dois carnavais enveredados por um
estilo que não combina com suas tradições, valendo-lhe, no
caso de 2008, seu afastamento do sábado das campeãs, o que não
acontecia há muito tempo, já que a escola era figura certa
naquele desfile comemorativo. Com menos
proporção que a crise da Mangueira, a Viradouro também sofreu
algumas baixas nesses últimos tempos, por isso o desfile de 2009
mostra-se muito importante. A
responsabilidade de encerrar o desfile não é novidade para a
escola, mas conceber um enredo sob o manto de patrocínio é uma
tarefa bem complicada para a escola de Nikiti. Decantar a tão
exaltada Bahia na Sapucaí é uma tarefa um pouco ingrata, pois
há uma dificuldade de fugir do lugar comum, mas até que neste
ponto Milton Cunha, com sua astúcia e inteligência, conseguiu
extrair dessa recorrência, algo bem positivo: o astral dos
soteropolitanos (a tão massificada energia nagô), seja nas
expressões idiomáticas ou na tão cultuada religiosidade. Nada obstante, o
enredo, não por culpa de Milton, mas pela obrigação de inserir
o biocombustível como mote principal, é deveras confuso. O samba da
escola, caso comparado com o do ano passado, teve uma ligeira
melhorada. Oxalá que a
Viradouro consiga realizar um bom desfile. Se depender da
comunidade de Nikiti e a excelente bateria de Mestre Ciça, que
há tempos tem merecido mais atenção do pessoal do Estandarte
de Ouro, é bem provável que sim, mas, para tanto, Milton Cunha
vai ter de se superar para que o combustível biológico baiano
seja sustentável em termos de desfile. Em resumo, sem
levar em consideração aspectos técnicos que somente poderão
ser avaliados quando do desfile, na minha prévia concepção,
SEM CONSIDERAR A ORDEM DE COLOCAÇÃO E SIM A ORDEM ALFABÉTICA,
as escolas para 2009 podem assim ser divididas em grupo de
quatro: - posição
superior da tabela: Imperatriz, Mangueira, Tijuca e Vila. - posição
intermediária: Beija-flor, Grande Rio, Portela e Salgueiro. - na parte
inferior: Império Serrano, Mocidade, Porto da Pedra e Viradouro. Feliz 2009,
leitores. E que dias melhores virão. Vamos acreditar. |
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