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UMA HISTÓRIA SEM FINAL 15 de setembro de 2008, nº 13, ano I Hoje minha coluna tem endereço
certo. Um pouco longínquo, mas quero dedicar essa coluna ao
Grêmio Recreativo Escola de Samba Acadêmicos de Santa Cruz. Por
dois motivos. O primeiro é imediato, pelo fato de alguns
torcedores apaixonados pela agremiação terem realizado um
trabalho de qualidade ao colocar no ar um sítio que já desponta
como um dos melhores em termos de escolas de samba, o http://academicosdesantacruz.com.br.
O segundo, mediato, em razão de a escola estar comemorando em
fevereiro próximo o seu jubileu de ouro. E olha que a Santa Cruz tem
história pra contar. Se em sua primeira apresentação no bairro
houve a promessa de "tacar fogo", quando a escola
resolveu atravessar os trilhos do progresso para chegar à Praça
XI, nascia ali um marco para o bairro e para o carnaval, pois,
nada obstante a Zona Oeste já possuir algumas representantes no
desfile, a Santa Cruz veio com vontade de se tornar uma grande
escola. É lógico que a escola enfrentou
preconceitos. Durante anos, foi estigmatizada como a escola da
última estação, do subúrbio mais longínquo do centro
carioca, mas a Santa Cruz foi guerreira e soube administrar as
dificuldades e, o que é melhor, soube esperar, pois construiu
sua história de forma independente, digna e segura. Fato é que, já em No ano de É bem verdade que a escola não
conseguiu fincar sua bandeira na elite do carnaval em nenhum
desses anos, mas, superou dificuldades e colocou o bairro de
Santa Cruz.na história dos desfiles cariocas. Os Acadêmicos de Santa Cruz
também podem ser considerados como a escola de maior
regularidade na chamada segunda divisão do carnaval carioca. Dos
seus oito títulos, cinco deles foram conquistados no grupo de
acesso ao especial, o que a faz disputar com a Estácio de Sá
(se considerarmos sua fase como Unidos de São Carlos), o titulo
de escola que mais ascensão teve, por campeonato, ao grupo de
elite na história dos desfiles. Em pouquíssimo tempo superou a
madrinha Unidos de Bangu, deixou a Unidos de Padre Miguel na
poeira e assumiu, por méritos, a função de ser a segunda
grande força representativa da Zona Oeste no carnaval carioca. E a escola mostrou a sua cara no
carnaval. Multifacetada. De contrastes. Erudita, popular.
Heróica, anarquista. Sóbria, etílica. Boêmia. Crítica.
Sacana. Exagerada. Corajosa. Clássica. Futurista. Na rolança do tempo, a escola
escreveu, através de seus enredos, páginas e mais páginas de
cultura - por meio das artes, música e teatro; e de história do
Brasil - Brasil, folclórico, do extrativismo à reciclagem.
Amazonas, Bahia, Ceará, Brasília, Minas Gerais, São Paulo e o
Rio de Janeiro. O Rio Antigo, o Rio dos Vice-Reis,
o Rio de todos os tempos e costumes. Até o Rio de Itaguaí. A escola também trouxe outras
culturas. Refez a rota dos mercadores, desde os fenícios,
passando pela Pérsia, Índia, China, Américas. África, Egito,
Madri, Las Vegas, Grécia, China, Japão, Rússia, Paris também
estiveram nesse roteiro cultural. A Santa Cruz fez o seu papel no
carnaval carioca. Vejamos. - exaltou as
mulheres, Dalva de Oliveira, Carlos Gomes e Braguinha muito antes
de Portela, Imperatriz Leopoldinense, Unidos da Tijuca e
Estação Primeira de Mangueira; - ousada,
invadiu a “praia” da sociedade carioca e assumiu seu
lado fútil e cafajeste, ao homenagear Ibrahim Sued; - sob a
proteção dos orixás, mostrou o candomblé, levando o terreiro
para a avenida; - passeou
por todos os espetáculos do mundo e provou que o maior deles é
o carnaval carioca; - clamou por
liberdade em dois momentos históricos de nossa história, dos
inconfidentes aos heróis da resistência; - fez da
conexão Santa Cruz - França um momento de encanto e sedução. Por ironia do destino, ela própria
sofreu o revés de, no apagar das luzes, ter visto um de seus
sonhos sucumbir. Mas, escola que é guerreira, não esmorece. E
quem pensava em calar a Santa Cruz, não calou. Como dizia o
Stanislaw, também já homenageado pela escola, “quem não
tem quiabo, não oferece caruru”. E haja trevo de quatro folhas,
banho de arruda, figa de guiné. Passados alguns anos, a escola
volta a se envolver em mais uma polêmica no carnaval de 2002.
Sabemos que a Vila não quer abafar ninguém, mas a Santa Cruz
também quer mostrar que faz samba também. Entre confete e
serpentina, salve o sentimento do artista, que invade a alma do
sambista e alegra o coração. Afinal, segura a pemba, pois a
verde e branco é isso aí. Eis a Santa Cruz, abençoada,
imortal, patrimônio cultural. A escola que faz parte desse show
maravilhoso que se tornou o carnaval carioca. E quanto ao futuro?
Se o tempo é um mistério, quem saberá? “Vem
plantar Fazer
o nosso amanhã florir E
reciclar a consciência O
futuro vai sorrir”
O
final dessa história não termina por aqui, pois a escola ainda
tem um objetivo maior, e, provavelmente, na próxima
década, uma nova página pode ser escrita pela Santa Cruz
no carnaval carioca. De certo, mesmo, a nossa
percepção de que o show vai continuar. É Santa Cruz, vamos
aplaudir! Só merece a voz do povo, quem já fez por merecer.
Parabéns, Santa Cruz! Observação: esta coluna é uma homenagem ao André Ribeiro,
um santa-cruzense da melhor qualidade. |
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