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EU SÓ PEÇO A DEUS UM POUCO DE MALANDRAGEM 25 de junho de 2008, nº 08, ano I Não é que já temos a ordem dos desfiles
da Associação? E fiquei surpresa ao saber que a Associação
insistiu em colocar a escola que desce do Especial para abrir o
desfile. Para 2009, é a mais uma vez uma posição
incômoda para a São Clemente. E como explicar esse absurdo?
Além de ser a escola que vem com estrutura de Especial, é uma
das escolas com maior regularidade no grupo. Há mais de uma década a escola fica nas
primeiras posições, seja em que ordem programada ela desfile.
Já foi até campeã em 2003, sendo a primeira a desfilar, quando
começou esta invenção pouco inteligente do pessoal da
Associação. Qual o propósito dessa fixação? Tratar
desigualmente uma escola que na essência sempre foi da
Associação? Punir a escola por ter conseguido vencer no Grupo
A? Ser a escola duplamente penalizada, por preconceito dos
jurados do Especial, que não lhe reserva notas boas por ter
vindo da Associação e a Associação, quando ela retorna, paga
na mesma moeda, desprezando-a e dando as piores condições para
ela disputar em igualdade o desfile? Não entendo. E não falo isso por ser a
São Clemente, declaradamente minha escola do coração. A mesma
indignação eu tive quando Estácio e Rocinha não tiveram
oportunidade de sortear a sua presença no desfile dos anos em
que ambas abriram aos desfiles.
Não acredito que fira a igualdade (e olha
que sou advogada) tratar desigualmente as escolas em suas
diferenças. Parece-me lógico que as escolas que melhor se
apresentaram no ano anterior, possam ser tratadas de forma
diferenciada pelo esforço que se propuseram. Afinal, a
Liesa vive proclamando aos quatro ventos que carnaval é “business”
e as escolas têm de dar espetáculo. Assim, o justo no Grupo A, seria a escola
que vem do Especial e mais as quatro melhores classificadas no
grupo (2º, 3º, 4º e 5º) entrarem no sorteio, para a segunda
metade dos desfiles. A razão disso? Para pegarem uma Sapucaí
lotada, para não deixarem o público dormir ou ir embora, pois,
muito provavelmente, são escolas que brigaram e brigarão
décimo a décimo para a injusta única vaga de acesso ao Grupo
Especial. Acho sim que a campeã e a vice do Acesso
B poderiam ter a chance de ir para sorteio. Mas essas deveriam se
unir com as escolas piores classificadas no grupo (6º, 7º e
8º) para serem sorteadas entre as primeiras posições. Para mim, essa é a verdadeira igualdade,
tanto para as escolas, quanto para o público que quer
assisti-las. E já que a Prefeitura e a Liesa não voltam ao
esquema de subir duas escolas, seria um alento para aquelas que
se esforçassem ter posições de desfiles prestigiadas, que
muitas das vezes, são prejudicadas em seu ardiloso trabalho pelo
sorteio, que não condiz com o esforço implementado por elas. O sorteio como posto no Grupo A, com a
exclusão da escola vinda do Especial, pode ser legítimo, mas
totalmente injusto. Já imaginou o glorioso desfile do Império
Serrano em 2008 ter acontecido às 20h, com uma Sapucaí fria e
com o público ainda por chegar? Como disse o Luis Fernando Reis na sua
coluna do site Carnavalesco, sábado é dia de trabalho, tem jogo
pelo campeonato carioca (quem não se lembra do percalço sofrido
pela União da Ilha em 2004), o público curte o carnaval de rua,
nos blocos e bandas, é natural chegar mais tarde na Sapucaí. E se as escolas que atraem mais
simpatizantes forem menosprezadas pela Associação, com certeza
a resposta do público vai ser de apatia e de ir embora pra casa
mais cedo. Nos demais grupos da Associação, o que
se verifica é a quantidade excessiva de escolas. Ninguém
agüenta numa terça-feira de carnaval esperar 13 escolas para
ver o Arranco passar. Não é justo com a simpática escola do
Engenho de Dentro, que ficou na quarta colocação do Grupo B e
muito menos justo é a Alegria da Zona Sul, quinta colocada no
grupo, ter de abrir o desfile do Grupo B com o dia claro e a
Sapucaí vazia. Vale lembrar que essas escolas, á bem pouco
tempo, estavam no Grupo A. De que valerão seus esforços e suas
conquistas? Será que tratá-las com uma pseudo isonomia
estaríamos respeitando-as na essência do princípio da
igualdade? Até quando vamos conviver com a falácia
de que o Grupo B pode vir a desfilar na sexta-feira? Enquanto
tiver com 14 escolas, isso nunca irá acontecer. O Grupo B deve
ser o reflexo do Grupo A. Deveria ter as mesmas 10 escolas, o
mesmo tempo de desfile. O Grupo A e o Grupo B da Associação são
os chamados grupos de base e devem ser valorizados, inclusive
financeiramente. Eles representam a intermediação entre um
carnaval tradicional (popular) e o carnaval moderno (espetáculo
do grupo Especial). Os verdadeiros grupos de acesso ocorrem na
Intendente Magalhães. Sei que é triste ver Unidos da Ponte,
Unidos de Lucas, Unidos do Cabuçu, Vizinha Faladeira, Em Cima da
Hora e Engenho da Rainha desfilando por lá, pelo histórico e
pela simpatia dessas escolas, mas, infelizmente, os rumos que o
carnaval tomou é irreversível. Essas escolas precisam de
administradores e pessoas empreendedoras, que superem, não só
com amor, as suas deficiências financeiras e estruturais.
Fica incoerente não permitir o Canarinho
das Laranjeiras de se apresentar e filiar nova escola, por mais
brilhante que tenha sido seu desempenho como bloco (o Favo de
Acari venceu todos os carnavais que disputou). Em relação aos grupos C e D, eu imagino que eles deveriam ter a mesma estrutura, mesmo tempo de desfile, mesmas regras em relação a componentes e carros alegóricos. Acho que 14 escolas em cada um, não compromete o desfile, se bem que, seria bom o desfile começar mais tarde. Então 12 escolas seria o ideal para esses grupos. Esse número mínimo de alas e componentes
também deveria ser esquecido e não penalizado. Muitas dessas
escolas estão na situação que estão pela intolerância da
Associação, que insistiu penalizar, seguindo cegamente o
regulamento, e não olhando a realidade dessas escolas. Mais vale
uma escola com um bom samba, bateria, fantasia e alegorias, com
pouco contingente, que uma escola com bom contingente, mas
deficiente nos quesitos aqui citados. Outra coisa. Ainda não foi digerido pelos
simpatizantes dos desfiles, as notas dadas em
Esse grupo E, ou Grupo de Avaliação, poderia ocorrer no bairro dessas escolas, com o apoio da Prefeitura, e com uma comissão de jurados que, não iriam avaliar quesitos, e sim o conjunto do desfile apresentado. Iria verificar condições de barracão, serviços comunitários, administração competente. Um carnaval é muito pouco para avaliar as condições de uma escola. E voltando à São Clemente e ao nome
desta coluna, está sendo anunciada que a escola possa vir mais
próxima de seu estilo, que, aliado a sua excelente base e
estrutura, pode ser o fator decisivo para escola driblar a
péssima incumbência que a Associação lhe reservou ao ordenar
iniciar os trabalhos na Sapucaí. Superada a indignação, clementiano que
se preza tem de obter vantagem dessa situação
desfavorável. E aí é esperar sinopse, a concepção do enredo,
os ensaios, as eliminatórias do samba e a expectativa de ver no
dia do desfile nossa bem-humorada Ópera do Malandro, ao som de
um belo samba, fantasias e alegorias de “catiguria”, e
um contingente humano alegre e festeiro de malandrinhos e
malandrinhas, na ardilosa conquista de mais um campeonato. Tenho absoluta certeza que a São Clemente
vai te seduzir.
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