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Coluna da Denise

POR MARES NUNCA DANTES NAVEGADOS

29 de maio de 2008, nº 06, ano I

Como anunciava a Acadêmicos da Rocinha no seu mal desenvolvido enredo de 1998, chegou a hora da linguagem virtual.

O Sambario está fazendo aniversário. Há quatro anos o portal desenvolvido pelo Marquinho veio se somar a um novo canal de comunicação importantíssimo para o carnaval carioca, a mídia virtual. E Marquinho está mesmo de parabéns. Quem acompanhou o nascimento do site, sabe das dificuldades que ele enfrentou para colocá-lo no ar.

Com a proposta inicial de se exaltar o samba-enredo, o Sambario, como todos os grandes sites do carnaval, passou a ampliar o seu canal de comunicação. Isso se deve à interatividade que a mídia virtual proporciona. Hoje, no site, os usuários podem baixar sambas-enredos, partilhar dos comentários dos sambas dos principais grupos do carnaval, ano a ano, ver a trajetória dos principais intérpretes na Sapucaí e a discografia da grande festa. Podem também navegar na história, nos quesitos de julgamento, nas fotos dos desfiles e das quadras, e, de quebra, ler as colunas dos colaboradores e o editorial do moderador.

E pensar que há bem pouco tempo, era quase impossível para os amantes do samba ter um canal tão amplo para debates, download, informações sobre desfiles. Tal avanço tornou-se possível graças a Internet, que, com políticas de inclusão digital, estará cada vez mais acessível aos brasileiros.

“Nas ondas do rádio e da televisão, viajante do progresso sou feliz”. 

A Internet vem revolucionando a comunicação no mundo, pois ela conseguiu aliar a notícia em tempo real do rádio ao poder da imagem da televisão. De certa forma, ela veio atender a necessidade dos amantes do carnaval, que ficaram órfãos da extinta e saudosa Rede Manchete de Televisão, que foi o canal pioneiro a enxergar o carnaval muito além do dia da transmissão dos desfiles. Para os balzaquianos, ainda estão vivos na memória os boletins diários de preparo para a festa, dentre eles: Esquentando os Tamborins, Tantos Carnavais  e  Feras do Carnaval.

É bem verdade que esse papel de proximidade com o carnaval era bem mais explorado no rádio, especialmente em programas como o “Rio de Toda a Gente”, quase uma voz solitária ao abordar o universo das escolas de samba durante todo o ano.

Da mesma forma, na mídia impressa, Cláudio Vieira, no jornal "O Dia", também fazia coro junto àqueles que enxergavam o carnaval carioca além dos dias de momo, e apresentava-nos à sua coluna semanal abordando os bastidores dos preparativos das escolas de samba cariocas.

Televisão, rádio e a mídia impressa cumpriram seu papel, cada um a sua maneira. Mas nenhum deles tem a dimensão da mídia virtual. A Internet pode ser encarada como um divisor de águas na mídia carnavalesca.

“Se navegar é preciso, navegando num sorriso, vou cruzando a Sapucaí”.

Lembro-me que a mídia virtual carnavalesca chegou timidamente. Em 1996, uma das principais páginas a falar sobre o samba foi produzida pela Riotur, indicando, para o carnaval 1997, a ordem do desfile das escolas de samba e os valores dos ingressos da Sapucaí.

A partir desse primeiro passo, começaram a aparecer mais algumas mídias, bem setorizadas: o portal de algumas escolas, de algumas alas comerciais e algumas listas de carnaval.

Da troca de e-mail ao chat, nasceram as listas de carnaval. Acredito que o Rio Carnaval e o Planeta Samba foram as pioneiras a colher opiniões dos usuários acerca da escolha de sambas, enredos e demais assuntos que movimentam o carnaval carioca.

Nesse tempo, final dos anos 90 e começo da atual década, também era bem navegado o sítio do Salgueiro, que tinha um canal de comunicação com os internautas.

Nessa época surgiu também um pioneiro periódico virtual acerca do assunto, produzido pelo André Jobim, que era um misto de informações contemporâneas com memórias do passado, especialmente enfocando o Salgueiro.

A necessidade e a busca por informação fizeram surgir sites especializados na abordagem das memórias das escolas de samba: a Galeria do Samba e a Academia do Samba, ainda produtivos.

A Galeria do Samba se destacou por trazer um diferencial. Trata-se do Espaço Aberto, que cumpre com um dos principais objetivos da comunicação virtual, a interatividade em tempo real. Durante 365 dias do ano, os usuários cadastrados criam e respondem mensagens  sobre as principais notícias do carnaval: sorteio, festa, escolha de enredo, sinopses, escolha de samba, ensaios, desfiles. Um sucesso!

Outro grande espaço para nossas escolas foi estabelecido pelo site Esquentando os Tamborins, que traz fórum, notícias, memórias dos desfiles, mas se aprimorou por apresentar sambas concorrentes nas eliminatórias das escolas e criou até uma rádio, que trazia informação de desfiles antigos, sambas eliminados, mas que, infelizmente, teve a proposta abortada com o tempo.

Como não lembrar também do site do Renatinho Buarque? Um jovem que abraçou o samba e nos presenteou com o maravilhoso Apoteose on Line, que além de trazer nuances sobre os carnavais do Sambódromo, também nos presenteou com belas fotos, download de sambas e páginas das principais escolas (Grupo Especial, Grupo A e Grupo B).

A democracia da mídia virtual nos permitiu ter um site destacado para as escolas esquecidas da mídia, que desfilam da Intendente Magalhães, e que, possuem, por intermédio do site O Batuque, seus dias de glória.

É lógico que a mídia tradicional também se rendeu à Internet. Desde o Jornal do Brasil, o pioneiro, os demais jornais cariocas também passaram a ter sua versão virtual. Deles, infelizmente, o Jornal do Brasil não mantém até os dias de hoje uma cobertura em tempo real com as notícias do samba. O jornal o Globo, assim como o portal da televisão, também se foca aos assuntos do carnaval mais precisamente nos últimos meses que antecedem à grande festa.

Há de se louvar o trabalho da equipe de O dia. Com a criação de O Dia na Folia, há alguns anos, o jornal virtual vem dando um banho nas concorrentes. Em princípio, nasceu para ser, como o das concorrentes, um portal temporário, mas, nos últimos dois carnavais, o portal passou a estar sintonizado com as notícias diárias da organização da grande festa nos 365 dias do ano.

Os grandes portais da internet, Terra, Uol e dos principais jornais do país, também passaram a abrir espaço para o carnaval carioca.

De lá para cá, novos espaços foram chegando: O Carnaval Carioca, Tudo de Samba, Papo de Samba, Setor 1, Tradição do Samba e tantos outros, não citados, que já abriram e fecharam seus portais, mas que contribuíram e contribuem para não deixar o nosso samba morrer.

Mais recentemente, nos deparamos com o excelente Carnavalesco, que traz credibilidade aliado à visão crítica e aberta a todos os usuários que o acessam, além de ótimos colunistas.

“Leva meu samba, meu mensageiro, esse recado...”

A Internet também é uma ótima ferramenta para os colecionadores. Por meio do site Carnaval ao Vivo, youtube, ou através de outros blogs de interessados, alguns internautas têm tido a oportunidade de rever os antigos desfiles das escolas de samba, preciosidades que a Rede Manchete levou para o túmulo e que a Rede Globo não se mobilizou para lançar comercialmente.

Também por meio da Internet se premia escola de samba. Além das enquetes dos principais jornais e portais, foi criado o Sambanet. Por 10 anos, o Sambanet vem dando visibilidade para as escolas do Acesso A e B, que desfilam na Marquês de Sapucaí, criando esse importante incentivo para o chamado grupo de base. Acredito que, gradativamente, tal incentivo vai se estender às escolas da Intendente Magalhães. 

Por meio da internet, criam-se até escolas de samba virtuais, que possuem liga, regulamento, enredos, fantasias, desfiles, sambas-enredos e torcida. Um estímulo à criatividade e ao talento dos internautas.  

Se os amantes do carnaval, isoladamente, e a mídia têm se esforçado para divulgar a grande festa, os maiores interessados (prefeituras, liga, associação, escolas) estão deixando a desejar.

“Hoje o tempo voa amor, escorre pelas mãos...”

A Prefeitura, por meio da Riotur, limita-se a divulgar o cronograma do carnaval. Fica a pergunta se a Prefeitura não está se organizando para os tempos modernos. Não entendemos porque os desfiles, especialmente os da Associação das Escolas de Samba, não são transmitidos ao vivo pela Internet por iniciativa dela, nem que tenha de buscar parcerias.

O site da Liesa, um pouco mais organizado, traz históricos, fotos dos últimos desfiles, resultados, mas ainda não criou um canal direto com os internautas. É impressionante como a cúpula da Liesa resolve assuntos importantes do carnaval, como redução do número de escolas, ascensão das escolas do grupo de base, escolha de jurados, tempo de desfile, alterações no regulamento, sem consultar ou abrir um canal de comunicação para o público, que é, na verdade, o público alvo dos desfiles. Afinal, parafraseando Milton Nascimento e Fernando Brant, toda escola tem de ir aonde o povo está.

 O mesmo se diga da AESCRJ. Audiovisual, então, passa longe dos sites dessas instituições. As grandes festas (de apresentação de enredos, sambas, sorteios) são fechadas e a forma de transparência e divulgação perpassa, necessariamente, de abrir um link no site dessas entidades para que o grande público tenha acessibilidade aos assuntos do carnaval.

“Quero ser a pioneira, a erguer minha bandeira e plantar minha raiz”

Quanto aos sites das escolas, a coisa não é muito diferente. Hoje, a grande maioria delas tem o seu sítio, mas, sua serventia tem sido restrita à venda de fantasias, que é o setor mais explorado na mídia carnavalesca. Li uma notícia afirmando que 50% das fantasias das grandes escolas são vendidas pela Internet.

Excetuando o excelente site do Salgueiro, o bom site do Império Serrano, as outras escolas estão engatinhando nessa empreitada. A maioria deles resume-se a copilar notícias internas das agremiações, esquecendo-se do potencial da Internet para a construção de um centro de memória das escolas, o verdadeiro “museu” do samba e do carnaval.

Das escolas da Associação, destaco o site da União da Ilha do Governador, e das escolas da Intendente, tiramos o chapéu para o pessoal de Cavalcante. O sítio da Em Cima da Hora, se ainda não ideal, deixa para trás o de muitas escolas com maior poder aquisitivo.

Talvez a demora ou a pouca importância dada pelas escolas, fizeram surgir a necessidade dos chamados sites não-oficiais. É de se lamentar a saída do ar do site O beija-flor, cujo conteúdo poderia ter sido recepcionado pelo site da Beija-flor. O Portelaweb é outro excelente site, neste setor, que engole o site oficial da Portela.

“Obrigado. De coração eu agradeço esse legado”.

Poderia aqui ficar linhas e mais linhas agradecendo aos Andrés, Marcos, Albertos, Alfredos, Luises, Renatos, Marcelos, Diegos, Cássias, Ricardos, Denises, Thatianas, Brunos, Fábios, Gustavos, Wellintons e tantos outros.

A Internet está no ar e chegou para ficar.  Na era da modernidade, uma nova realidade será. Mas, também na Internet, espaço armazenado é precioso. Assim, enquanto estamos caminhando para o surgimento de uma fusão entre a televisão e a internet em um só canal de comunicação, despeço-me desta coluna.

“Cantando espalharei por toda a parte, se a tanto me ajudar o engenho e arte”. Parabéns, Sambario! Até a próxima coluna!


denisefatima@gmail.com