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CLÓVIS BORNAY

CLÓVIS BORNAY

Ano de nascimento: 1916

Ano de falecimento: 2005

Cheio de encantos
Irradiantes de esplendor
Os olhos da Marquesa de Santos
E o coração do nobre imperador

E de repente
Uma lei surgiu
E os filhos dos escravos
Não seriam mais escravos no Brasil

Criava assim um mundo novo
E glorificava um grande povo

Ô skindô lalá
Ô skindô lelê
Olha só quem vem lá
É o saci-pererê

Oi, que dança boa
Para se dançar
Dava um negócio no corpo
Ninguém conseguia parar

Olelê olalá
Me solta, me deixa
Que eu quero sambar
Olelê, olalá
Eu quero cantar, batucar e pular


        Clóvis Bornay nasceu em Nova Friburgo, na Região Serrana do estado do Rio, em 10 de janeiro de 1916. Desde 1928, ainda garoto, sempre gostou de participar dos bailes de carnaval do Fluminense Futebol Clube, mostrando que tinha habilidade para lidar com o mundo do samba. Em 1937, com 17 anos, quis ser integrante Teatro Municipal do Rio de Janeiro e conseguiu, depois de muita luta, convencer o então diretor do local, Silvio Piergilli, a criar um baile de gala com fantasias de luxo. Sua primeira fantasia fora confeccionada pela italiana Josefina Pampuri e se chamava “O Príncipe Hindu”. Era de extremo bom gosto, feita com cristais lapidados. Quando entrou na passarela, logo de cara, Bornay foi ovacionado, aplaudido euforicamente por toda platéia. Não foi a toa que se sagrou campeão do concurso.

        Com passar dos anos, Bornay foi se tornando um dos maiores nomes da história do carnaval. Suas fantasias eram sempre belíssimas, assimilando elegância com criatividade. Era quase unânime em seus concursos do Teatro Municipal, faturando inúmeras premiações. Entre seus maiores concorrentes, estavam Evandro de Castro Lima, Mauro Rosas, Marlene Paiva, Guilherme Guimarães, Flávio Rocha, entre outros. Mesmo assim, de tantas vezes vencer, acabou recebendo o prêmio simbólico de “Hors Concours”, na qual poderia participar de qualquer concurso de fantasias, que nunca seria julgado com os demais, pois todos sabiam que Bornay seria sempre superior.

        Depois do esfuziante “História do carnaval carioca”, o cenógrafo Fernando Pamplona esteve longe do carnaval carioca e Clóvis Bornay foi chamado pelo Salgueiro para fazer o desfile de 1966. A escola sempre teve a característica de levar nomes importantes do Teatro Municipal ao mundo do samba. Na verdade, Bornay já teve certo contato com a agremiação no carnaval anterior, na qual o baile de gala (criação sua) havia recebido uma singela homenagem no desfile do Pamplona. Para desfile de 66, o carnavalesco elaborou o enredo Os Amores Célebres do Brasil, fazendo alusões às paixões inesquecíveis da história brasileira. Essa chegada de Clóvis Bornay às escolas de samba marcou a vinda de fantasias luxuosas em seus destaques. Era algo que ele sabia fazer muitíssimo bem, como sempre demonstrou em seus trabalhos no Teatro Municipal. O Salgueiro acabou por fazer um desfile bonito, com alguns bons momentos, porém altamente frio e insosso, prejudicado ainda por uma turbulenta chuva. Não tinha grande comunicação com o público e se tornou completamente apagado em relação ao do ano anterior. A escola por pouco não caiu, pois ficou em 5º lugar e o descenso era só a partir da 7ª colocação. O bicampeonato era um sonho que não havia se realizado.

        Naquele mesmo ano, as escolas de samba Aprendizes de Lucas e Unidos da Capela, duas agremiação tradicionais da Leopoldina, ficaram em 7º e 8º lugar, respectivamente. Mas para evitar o rebaixamento, as duas escolas usaram a esperteza e acabaram se fundindo, surgindo assim a Unidos de Lucas, muito conhecida também como Galo de Ouro da Leopoldina, pelas suas cores vermelha e dourada. Ambos os grêmios fundadores sempre tiveram destaque hegemônico no Grupo 1 e tinham força suficiente continuar brilhando, principalmente depois de unirem-se. Clóvis Bornay havia acabado de sair do Salgueiro (Fernando Pamplona acabou voltando para a escola da Tijuca) e foi convidado a fazer o carnaval de 1967 da então recém-criada Unidos de Lucas. O enredo se chamaria Festas Tradicionais do Rio de Janeiro, uma exaltação aos festejos mais marcantes da história do Rio. O desfile acabou dando certo e a Unidos de Lucas ficou em 5º lugar, posição quase cativa da agremiação, que viria até receber mais tarde a intitulação de “quinta força das escolas de samba”.

        Em 1968, Clóvis Bornay decide apostar no enredo História do Negro no Brasil, hoje muito conhecido como Sublime Pergaminho graças ao belíssimo samba-enredo de Nilton Russo, Carlinhos Madrugada e Zeca Melodia. Era um tema que apelava bastante para o lado emotivo dos foliões, pois falava do processo de abolição da escravatura do Brasil imperial. A Unidos de Lucas estava sendo aclamada já como campeã, pois tinha o “Dream Team” do ano, tendo um grande número de pontos positivos. A escola mostrou na avenida um belíssimo conjunto de fantasias e alegorias, mostrando com elegância a relação entre as culturas branca e negra. O enredo era de fácil compreensão e foi muito bem bolado pelo carnavalesco. Foi um desfile empolgante, muito bem acabado e, sobretudo, emocionante. Os componentes fizeram seu desfile sabendo que brigariam pelo campeonato. Infelizmente, a Unidos de Lucas ficou apenas, como de praxe, na 5ª colocação.

        Para 1969, o Galo da Leopoldina prometeu vingança! O enredo era intitulado Rapsódia Folclórica, fazendo alusões às diversas manifestações culturais do Brasil. Porém Bornay tinha, na verdade, a Portela como centro das atenções, pois foi convidado pelo presidente Caetano Piloto para fazer o carnaval de 69 da escola de Madureira. Na Unidos de Lucas, Bornay havia deixado o parceiro Fábio Mello como carnavalesco principal. Só para constar, o Galo da Leopoldina fez um desfile bonito, porém trágico, cheio de incidentes, como o desaparecimento completo da bateria da escola quase na hora da escola desfilar, pelo fato de suas fantasias ainda não estarem prontas. O diretor de harmonia Marco Aurélio Jangada foi obrigado a chamar urgentemente alguns ritmistas de dois blocos carnavalescos para não desfilar sem bateria. A Unidos de Lucas acabou ficando em 9º lugar, sendo rebaixada.

        Na Portela, o carnavalesco decidiu falar da viagem de Pedro Álvares Cabral rumo às Índias, onde sua esquadra descobriu o Brasil. O enredo se chamaria Prosocopédias cabralinas, mas Bornay acabou escolhendo um nome mais simples e passou a ser então Treze Naus. A Portela investiu muito nesse desfile. Via-se uma seqüência de fantasias e alegorias extremamente bem feitas, com um excelente acabamento do início ao fim. Não faltaram caravelas, estandartes e brasões da corte portuguesa. Foi um desfile extremamente animado, com o público cantando o samba com empolgação, mas a escola acabou sofrendo com um problema desesperador. Os carros eram altos demais e vários deles acabaram prendendo-se sob uma das pontes da região da Candelária. Houve até certos momentos em que alguns deles tiveram que ser quebrados para finalmente passar. Mesmo assim, o entusiasmo era grande demais e esse foi o ponto decisivo do sucesso do desfile. A Portela acabou ficando em 3º lugar.

        Em 1970, Bornay planejou o desfile da Portela com o fantástico enredo Lendas e Mistérios da Amazônia. O desfile foi aguardado com muita expectativa, pois o samba da escola para aquele ano, de autoria de Catoni, Jabolô e Valtenir, é considerado por muitos como o melhor da história da Portela. Eram 3.000 componentes e desde o início do desfile, já era possível ouvir os gritos de “já ganhou!” vindo do público. As fantasias, adereços de mão e principalmente as alegorias estavam impecáveis, resultado do belíssimo acabamento que Bornay dedicou a cada uma delas. A Portela tinha uma comunicação incrível com os expectadores. Todo aquele ano de trabalho teve o resultado esperado, que era a fortíssima aceitação do público. A tradicional águia, trazendo o nome da escola em seus pés, era de extremo bom gosto e emocionava todos que a viam. As alas, riquissimamente fantasiadas, representavam índios, bandeirantes e seres místicos da floreta amazônica. Um dos pontos altos daquele desfile foi o segundo carro que representava as religiões indígenas, tendo uma escultura do deus Tupã com três metros de altura. Já o terceiro, fazia alusões à lenda de Jaçanã, que havia se transformada pela ira do Pajé. Era uma alegoria com um fantástico impacto visual, com direito até à figura do saci-pererê. E por último, veio o quarto carro, lembrando as mulheres guerreiras amazonas, montadas em cavalos, ao lado da imagem das icambiabas, as mulheres sem marido. A Portela havia acabado de realizar um momento único no carnaval carioca. Terminou seu desfile deixando um ar claro de campeonato vindo. E não deu outra: Portela conseguira seu 19º título no carnaval! Foi um desfile extraordinário e Clóvis Bornay levou seu primeiro e único campeonato, o último sozinho da agremiação.

        Em 1971, Clóvis Bornay saiu da escola de Oswaldo Cruz, substituído pelo carnavalesco Arnaldo Pederneiras, que deu o vice à escola com o enredo A Lapa dos três tempos. Naquele ano, Bornay não fez carnaval. Em 1972, o carnavalesco foi chamado para trabalhar na Mocidade Independente de Padre Miguel. Escolheu o enredo Rainha mestiça no templo do lundu, fez um desfile simpático e conseguiu um agradável 6º lugar. No ano seguinte, o carnavalesco fez o desfile da escola com o enredo Rio – Zé Pereira e conseguiu uma modesta 7ª colocação. Naquele mesmo ano, o bicheiro Castor de Andrade passa a bancar a escola da Vila Vintém e Clóvis Bornay é substituído por Arlindo Rodrigues, que em 1974, viria a fazer um desfile antológico e tornar a Mocidade uma das mais influentes escolas de samba da história. Já o Bornay, abandonou a confecção dos desfiles de escola de samba, deixando de ser assim a profissão de carnavalesco.

        Mesmo sem fazer mais desfiles, Bornay foi durante décadas destaque de diversas escolas de samba, sempre com fantasias incrivelmente elegantes. Entre seus grandes momentos como destaque no carnaval, fantasiou-se várias vezes de Estácio de Sá, fundador da cidade do Rio de Janeiro. Nunca abandonou o mundo do samba e sempre lutou em benefício do carnaval, como, por exemplo, as inúmeras tentativas de tornar os desfiles de escolas de samba algo gratuito, pois achava que o carnaval era a “festa do povo” e tinha que ser degustado pelo próprio povo. As suas variadas fantasias são constantemente expostas em desfiles no exterior e algumas delas podem ser encontradas em acervos nos Estados Unidos e Europa. Em 1996, o carnavalesco recebe da Assembléia Legislativa do Rio a medalha Tiradentes, dada sempre a personalidades que tenham relevância cultural em grandes serviços prestados ao Brasil. Em outubro de 2005, Clóvis Bornay vem a falecer depois de uma parada cardiorrespiratória em decorrência a uma desidratação e a uma infecção intestinal. Clóvis Bornay marcou para sempre o carnaval pela sua extravagância e originalidade e seus trabalhos nas escolas de samba ficaram fortemente imortalizados.

HISTÓRICO: Estréia como carnavalesco de escola de samba no Salgueiro em 1966 com o enredo "Os Amores Célebres do Brasil"
1966: Salgueiro
1967 e 1968: Unidos de Lucas

1969 e 1970: Portela
1972 e 1973: Mocidade

MARCA: Luxo exuberante nas fantasias de destaques. Clóvis Bornay revolucionou a estética do carnaval carioca, pois trouxe, pela primeira vez, destaques ricamente vestidos para os desfiles de escolas de samba

CAMPEONATOS: Apenas um: 1970 (na Portela, com Lendas e Mistérios da Amazônia)

VICES-CAMPEONATOS: Nenhum

ESTANDARTES DE OURO: Nenhum

PS: na contagem dos “Estandartes de Ouro”, são incluídas também premiações que não envolve somente o carnavalesco, mas também a escola como um todo, como “Melhor escola” ou “Comunicação com o público”

FOTOS DE CLÓVIS BORNAY


Clóvis Bornay de Pedro Álvares Cabral em 1969, como destaque da Portela em 1995 e ao lado de dona Dodô

DESFILES DE CLÓVIS BORNAY

A estréia de Clóvis Bornay no Salgueiro em 1966

O fantástico desfile de 1968 da Unidos de Lucas

O desfile extraordinário da Portela em 1969

E a apresentação portelense de 1970: campeão

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