Coluna do Cláudio Carvalho
QUO
VADIS, PORTELA?
Antes
de entrar no assunto propriamente dito, convém fazer um
esclarecimento. Estou escrevendo essa coluna antes do carnaval, logo,
ainda não sei o resultado da apuração, que
será realizada,
como sempre, na quarta–feira de cinzas. Aconteça o que
acontecer, porém, a pergunta que não quer calar é:
para onde vai a Portela?
Tudo mudou nos arredores de Oswaldo Cruz e Madureira. Após
reinar quase que de forma absoluta por mais de duas décadas, o
Sr. Carlos Teixeira Martins não conseguiu eleger seu candidato,
Marco Aurélio Fernandes, como sucessor. Como todos sabem,
assumiu a presidência da Portela o Sr. Nilo Mendes
Figueiredo ou Comandante Nilo, que já chegou promovendo uma
revolução nos quadros da escola. O intérprete
Bruno Ribas e o mestre de bateria Marçalzinho (filho do
lendário Mestre Marçal)
entraram no lugar, respectivamente, de Gera e Mestre Mug. Foi montada
uma comissão de carnaval, encabeçada pelo carnavalesco
Amarildo Melo, que no ano passado estava defendendo as cores do Arranco
do Engenho de Dentro. Outros setores da escola, como casal de mestre
sala e porta bandeira, harmonia, dentre outros, também sofreram
mudanças. Até o Portelão passou por algumas
modificações, dentre elas a implantação de
um banheiro GLS (que não vingou) e a mais polêmica de
todas, que foi a retirada do busto de Carlinhos Maracanã (que
debandou para os arredores do Estácio) da entrada da quadra. A
notícia de maior impacto, porém, dá conta de um
atraso no barracão da escola.
Muita gente começou a especular sobre o que poderia acontecer a
partir daí. Pessimistas, urubus e seca–pimenteiras de
plantão passaram a prever um futuro negro para a escola. Devemos
levar em consideração o fato de que, embora seja apenas
um quesito, alegorias e adereços
têm influência direta em vários outros. Só
que o buraco é bem mais embaixo. Não se trata de saber
apenas o que irá acontecer a Portela na segunda–feira de
carnaval. Eu, por exemplo, estou preparado para tudo, desde um pouco
provável título até uma briga pra não cair,
que poderia até mesmo se revelar infrutífera. A grande
questão, que me levou a tomar emprestado o título da
obra–prima de Cecil B. de Mille, é saber que rumo a escola
irá tomar nessa nova
administração. É óbvio que o resultado da
próxima apuração terá influência
direta nisso, mas acho que não poderemos julgar o trabalho da
diretoria por apenas um carnaval; aconteça o que acontecer. O
que me preocupa é em saber se a escola está bem
politicamente, se o que rola nos bastidores é para o bem ou o
mal da escola. Tá certo que quase ninguém agüentava
mais a pasmaceira que havia se instalado em Madureira nos
últimos anos. O portelense, acima de tudo, quer vitórias
para alegrar seu coração. Mas e agora, o que vai ser?
Sim, porque não vejo como as coisas continuarem da mesma forma.
Agora é calça de veludo ou bumbum de fora. Se antes a
desculpa de alguns era que a Portela não ganhava porque
não gostavam do Carlinhos Maracanã, o que dizer depois
que ele saiu? E mais ainda: será que essa saída foi
realmente boa para a escola? Por um lado penso que sim, pois a
perspectiva de títulos se renova. Ao mesmo tempo, fico
apreensivo no que diz respeito a forma como a nova diretoria se
fará representar na Liga, e como esta irá responder a
essa representação. Antes, era muito difícil mudar
alguma coisa. Agora, que tudo está mudado, a gente não
sabe o que vem pela frente.
Mas eu vou pagar pra ver. Como eu disse, ainda está muito cedo
pra se fazer qualquer tipo de julgamento, e eu prefiro dar
crédito
à atual diretoria. Pelo menos, parece haver a
intenção de fazer pela escola algo de que os componentes
se ressentiam pela
falta em tempos já idos.
Seja como for, espero que essa Nova Portela não se restrinja ao
nome, afinal a escola precisa de renovação,
e um grande passo para isso foi a criação da nossa escola
de samba mirim. Minha geração cresceu sem saber da
grandeza de uma Portela, de um Império, e conseqüentemente,
os quadros das escolas de Madureira estão envelhecendo. Hoje, a
molecada só quer saber de Mangueira, Beija–Flor e
Imperatriz. Tudo bem que o Brasil é um país sem
memória, mas a Portela tem de fazer sua parte, para que os mais
novos troquem os famigerados bailes funk pelos ensaios na Rua Clara
Nunes, 81.
Eles precisam saber o que é a Portela! E Portela, minha gente, é isso ai:
- 21 vezes campeã do carnaval;
- única hepta-campeã do carnaval (de 41 a 47);
- primeira a ser campeã com 10 de ponta a ponta;
- detentora de 41 Estandartes de Ouro, sendo quatro de melhor escola (76, 79, 80 e 95), sete de melhor samba–enredo
(75, 79, 81, 87, 91, 95 e 98) e dois de melhor bateria (72 e 86);
- a única a figurar em todos os desfiles principais desde o primeiro;
- introdutora de diversas novidades no mundo do samba, como
samba–enredo, uso de apito para comandar a bateria,
comissão de frente uniformizada e corda para organizar os
desfiles;
- primeira escola de samba a excursionar;
- a escola de Paulo do Portela, Natal e Clara Nunes;
- berço do samba e de sambistas como Alberto Lonato, Alcides
Lopes (o malandro histórico), Alvaiade, Antônio Caetano,
Antônio Rufino, Argemiro,
Candeia, Casquinha, Chico Santana, Claudionor, Jair do Cavaquinho,
João Nogueira, Manacéa, Mijinha, Monarco, Noca, Paulinho
da Viola, Surica, Zeca Pagodinho e tantos outros;
- Velha Guarda show, referência para as demais;
- Madrinha de escolas tais como Beija–Flor, Viradouro, Vila
Isabel, União da Ilha, Arranco, Ponte, Em Cima da Hora, dentre
outras;
- Escola que resistiu à perda de diversos quadros para o
Império Serrano e ao surgimento de Quilombo e
Tradição,
frutos de sua costela;
- Agremiação que, mesmo sem ganhar há 20 anos,
não é ultrapassada pelas outras, tamanha a disparidade em
número de títulos.
Portela é voz que não se cala, é canto de alegria
no ar. Antes das pessoas falarem mal, deviam estudar mais. Tem muito
mais coisa que eu queria dizer, mas meu espaço é curto, e
como diz a letra do
samba: se eu for falar da Portela, hoje não vou terminar.
Cláudio
Portela
claudioarnoldi@ig.com.br
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