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GRUPO DE ACESSO... ERA UMA VEZ



21 de fevereiro de 2024, nº 70

GRUPO DE ACESSO... ERA UMA VEZ


Casal da Império da Tijuca, rebaixada para a Intendente em 2025
(Crédito: Site Carnavalesco)



No ano de 2012, tivemos a última edição da segunda divisão do carnaval carioca em um único dia. Naquele desfile, organizado pela Liga das Escolas de Samba do Grupo de Acesso (LESGA), se apresentaram, na ordem, Paraíso do Tuiuti, Acadêmicos da Rocinha, Estácio de Sá, Inocentes de Belford Roxo, Império da Tijuca, Unidos do Viradouro, Acadêmicos de Santa Cruz, Império Serrano e Acadêmicos do Cubango.


A vitória da Inocentes sobre a escola de Madureira levantou, na mídia, suspeitas sobre a lisura da entidade, que havia assumido a organização do Grupo A em 2009. Apesar de o resultado poder ser considerado justo, houve quem dissesse que havia uma lista de escolas pré-selecionadas para serem campeãs, e que a próxima da fila seria a Santa Cruz. Verdade ou mentira, não deu tempo.

A péssima repercussão da apuração do carnaval de São Paulo, onde um torcedor da Império de Casa Verde rasgou um envelope de notas, levou a Globo a deixar de passar os desfiles daquela praça para o Rio. Detentora dos direitos de transmissão do acesso carioca, a Vênus Platinada deixou de vendê-los para concorrentes e anunciou que, a partir do ano seguinte, iria incluí-lo na grade local.

Como os desfiles do carnaval paulistano acontecem em dois dias, a "solução" encontrada pela emissora foi inflar o Grupo A, para tapar o buraco de uma eventual sexta-feira sem transmissão de desfiles em sua cidade natal. O resultado foi que, além da Caprichosos de Pilares, campeã do Grupo B em 2012, subiram Alegria da Zona Sul, Unidos de Padre Miguel, Sereno de Campo Grande, Tradição, União do Parque Curicica, Unidos de Vila Santa Tereza e União de Jacarepaguá, escolas que ficaram entre a segunda e oitava colocação naquele desfile, que aconteceu pela última vez numa terca-feira de carnaval na Marquês de Sapucaí.

Essas agremiações se juntaram a Unidos do Porto da Pedra e Renascer de Jacarepaguá, rebaixadas do Grupo Especial no mesmo ano, além de Unidos do Jacarezinho, campeã do Grupo C, realizado na Intendente Magalhães, num total de 19 participantes.O desfile foi organizado pela recém-criada Liga Independente das Escolas de Samba do Rio de Janeiro (LIERJ) e o novo grupo, uma espécie de misto de segunda e terceira divisão, passou a se chamar Série A.

Pois bem. Como todos sabem, a Globo não é lá muito afeita a  exibir os desfiles na íntegra. Se ela não fazia isso no Grupo Especial, que dirá num acesso inchado. Jacarezinho, Porto da Pedra e Santa Cruz, portanto, foram alijadas da transmissão, que iniciou na quarta escola, Vila Santa Tereza. A pobre e aguerrida agremiação de Coelho Neto, região da Grande Madureira, desfilou sem a fantasia da ala de passistas, o que transformou o cartão de visitas do desfile num festival de lingerie.

Apesar desses e de outros problemas já esperados num universo tão heterogêneo de escolas, o resultado daquele ano, que consagrou a Império da Tijuca como grande campeã, foi incontestável. Parecia que a mudança era um mal que vinha para bem. Sereno, Jacarezinho e Vila Santa Tereza foram rebaixadas para a Série B, já na Intendente, de onde subiu a Em Cima da Hora.

O grupo seguiu firme até 2017, quando 14 escolas desfilaram. Houve algum resultado contestado aqui e ali, o que, convenhamos, faz parte do show. Em 2018, porém, começam os problemas, vindos de cima. Naquele ano, a Grande Rio foi rebaixada do Grupo Especial e, pela segunda vez consecutiva, houve virada de mesa. Como nenhuma escola caiu para a Série A, a LIERJ resolveu seguir o (mau) exemplo da LIESA e não rebaixou a Acadêmicos do Sossego, última colocada, sob o pretexto de "manter o mesmo número de escolas no grupo", já que a Unidos da Ponte havia sido promovida da Intendente.

Nunca é demais lembrar que a intenção da Globo, naquela altura do campeonato, já era retomar o modelo de desfile em um dia, com 12 escolas, diante do fracasso retumbante do desfile de sexta no Ibope e na Sapucaí. Portanto, em 2019, eram pra ter descido três escolas na Série A, já que o grupo recebeu duas (Imperatriz e Império Serrano) do Grupo Especial, mas sabe-se lá por que só caiu uma. No ano da pandemia, então, o acesso voltou a ter 14 escolas, número que, em 2022, aumentou para 15.

Naquele carnaval, a LIGA-RJ assumiu o grupo, que passou a se chamar Série Ouro. Já enfraquecido pela quantidade de escolas pequenas oriundas da Intendente Magalhães (a diferença entre essa passarela e a Sapucaí, para quem não sabe, é abissal), o desfile perdeu ainda mais força com o rebaixamento de duas de suas escolas mais tradicionais: Cubango e Santa Cruz. Ainda em 2022, houve o surgimento de uma nova escola, a Acadêmicos de Niterói, que passou a desfilar no lugar da Sossego (há quem diga que é a mesma agremiação repaginada).

Apesar do resultado "aceitável" de 2023, o grupo desfilou em 2024 com 16 escolas, número mais próximo da aberração de 2013 do que do "sonho" da Globo, que, depois de dez anos, voltou a repassar o direito de transmissão para outra emissora,no caso, a Band. Nessa miscelânea de escolas tradicionalíssimas como Império Serrano, Estácio,  União da Ilha e São Clemente  com outras menos afortunadas, sagrou-se campeã, finalmente, a pedra cantada Unidos de Padre Miguel, como já havia sido o Império Serrano em 2022 e a Porto da Pedra em 2023, lembrando muito a tal "fila" da LESGA.

Naquela época, o desfile do acesso acontecia, como já dissemos, em um dia, e o do terceiro grupo na Sapucaí. Não sei se éramos felizes e não sabíamos, mas quando vemos, esse ano, a querida Império da Tijuca dar lugar a uma escola de samba do Botafogo, dá pra dizer que sim. Agora, além de manter os famigerados dois dias e de ter cada vez menos agremiações  tradicionais, o acesso "ganhou" uma escola "desportiva", nos moldes das que desfilam em São Paulo.

Depois de 20 anos prestigiando essa festa, já aviso que em 2025 nela não tomarei parte. Seguirei assim até que algo mude. De preferencia com  um acesso de 10 ou até 12 escolas no sábado de carnaval e com a volta  do terceiro grupo à terça-feira gorda da Sapucaí. Enquanto isso não acontece, prefiro ficar com a nostalgia daquele longinquo e polêmico carnaval que o Império Serrano perdeu...

NOTA DO EDITOR: A opinião do colunista não reflete, necessariamente, a do site SAMBARIO

Cláudio Carvalho
claudioarnoldi@hotmail.com