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FUTEBOL DÁ SAMBA?
A
relação entre futebol e carnaval no Rio de Janeiro sempre
foi muito estreita. Embora aqui as escolas de samba de clubes ou
torcidas não tenham tanta força como em São Paulo,
vários times já foram enredo de
agremiações. É o caso do Flamengo, homenageado
pela Estácio de Sá em 1995, do Vasco, pela Unidos da
Tijuca em 1998 e do Fluminense, pela Acadêmicos da Rocinha, em
2003. As três homenagens se deram em alusão ao
centenário dos clubes. No caso do Flu, que havia completado 100
anos em 2002, o carnaval se deu antes do 101⁰ aniversário.
Esperava-se que o Botafogo fosse enredo de alguma escola em 2004, mas
isso não aconteceu. Em contrapartida, América e Bangu,
que também chegavam ao centenário naquele ano, foram
enredo de Unidos da Ponte e Unidos de Padre Miguel, respectivamente.
Mas
passemos a falar de outros tipos de homenagens, que vão na
contramão das que mencionamos até agora. Como alguns
sabem, outros não, sou colecionador de camisas de futebol. A
recente homenagem do Fluminense a Estação Primeira de
Mangueira, com a bela camisa em alusão a Cartola, me motivou a
pesquisar outros casos similares na história.
Pois
bem. A referência mais antiga que liga uniformes de times de
futebol a pavilhões de escolas de samba diz respeito ao
castorzinho mascote de Bangu e Mocidade. A menção ao
saudoso Castor de Andrade, patrono de ambos, é um caso
único no futebol brasileiro. Com o time alvirrubro, Castor
sagrou-se campeão carioca em 1966 e vice-campeão
brasileiro em 1985, na histórica final contra o Coritiba,
decidida nos pênaltis. Além disso, ganhou a Taça
Rio de 1987. Cansado de ser roubado no futebol, segundo suas
próprias palavras, Castor deixou o Bangu em 1988, após o
clube disputar a primeira divisão do campeonato brasileiro pela
última vez. Emprestou o time quase inteiro para o Botafogo, que
quebraria um jejum de vinte e duas temporadas sem título no ano
seguinte. Passou a investir somente na Mocidade, com a qual voltou a
ser campeão em 1990, 91 e 96, um ano antes de sua morte.
O
primeiro registro propriamente dito de um time de futebol fazendo
referência a uma escola de samba data da quarta-feira de cinzas
de 2011. Naquela ocasião, o Duque de Caxias enfrentou o Vasco em
São Januário, que já foi palco do desfile das
escolas de samba. O clube da Baixada estampou em sua camisa o emblema
da Grande Rio na derrota por 4x2 para o cruzmaltino. A homenagem se deu
em solidariedade ao incêndio que acometeu o barracão da
escola na Cidade do Samba e a fez desfilar simbolicamente num ano em
que tinha tudo para brigar pelo título.
Seis
anos depois, em 2017, foi a vez do Madureira, vizinho do Império
Serrano e da Portela, produzir uniformes em homenagem às duas
escolas. A camisa que fazia referência aos setenta anos do
Império foi produzida primeiro e chegou a ser utilizada no jogo
do tricolor suburbano contra o Flamengo naquele ano. Se a sorte
não sorriu para o time, que perdeu por quatro a zero, o fez para
a escola da Serrinha, que ganhou o grupo de acesso. Num ano
inesquecível para o bairro de Madureira, a Portela sagrou-se
campeã do Grupo Especial e também foi agraciada com uma
indumentária do clube, do qual Natal e Carlinhos Maracanã
já haviam sido dirigentes. Uma curiosidade: Maracanã, que
era amigo de Castor, também foi mecenas do Bangu e até
hoje tem uma sala com seu nome em Moça Bonita.
Um
caso inusitado de "patrocínio" de escola de samba a um time de futebol
se daria dois anos depois, em 2019. O Esporte Clube Nova Cidade, de Nilópolis,
jogou a segunda divisão do campeonato carioca de 2019 com um imenso
logotipo da Beija-Flor na camisa. Clube de baixo investimento, o
alvirrubro buscou se apoiar na vizinha rica e famosa para voltar a seus
dias de glória. Em seu melhor momento, o Nova Cidade chegou a disputar
a primeira divisão estadual em 1989 e 1990. Apesar de sofrer uma sonora
goleada de 8x1 do Flamengo de Zico, Bebeto e Telê Santana no primeiro
ano, o time deu trabalho aos outros grandes. Empatou uma vez com o
Fluminense (1x1 em 1989) e duas vezes com o Vasco (2x2 em 1989 e 1x1 em
1990), que naquele período conquistou o bicampeonato brasileiro e era
chamado de Selevasco.
Passamos
agora a falar de outros casos não menos curiosos: escolas de
samba que viraram times de futebol. Se buscarmos na história das
primeiras, veremos que algumas delas se originaram dos segundos. O caso
da Mocidade, oriunda do Independente Futebol Clube, é o mais
famoso, mas existem outros. Quem inverteu a lógica pela primeira
vez foi a Unidos do Alvorada, de Manaus, que em 2012 deu origem ao
Unidos do Alvorada Esporte Clube. O símbolo da escola de samba e
do time é o mesmo, diferenciando-se apenas nas datas de
fundação. A escola venceu o carnaval manauara uma
única vez, em 2014, quando homenageou o lutador José
Aldo. O time profissionalizou-se em 2022 e conquistou a segunda
divisão amazonense esse ano, batendo o São Raimundo,
semifinalista da Copa Conmebol em 1999, nos pênaltis.
Encerramos
essa coluna lembrando o caso mais recente, e frustrado, de uma escola
de samba que se aventurou nos gramados. O Império Serrano, do
qual falamos há pouco, fundou, em 2020, um clube homônimo.
Após estrear na Série C, quinta divisão estadual,
em 2021, o time de futebol foi semifinalista da
competição por duas vezes. Caiu diante do Paduano, time
do Exército Brasileiro, naquele ano, e diante do Rio de Janeiro,
de Realengo, em 2022. Com o rebaixamento da escola no carnaval de 2023,
a breve história do Império Serrano Esporte Clube teve
fim.
Talvez as poucas e infrutíferas tentativas de se mesclar futebol e samba sirvam de alerta para o presente do carnaval carioca, quando vemos uma profusão de escolas de samba esportivas nos grupos inferiores. Aqui no Rio essas duas coisas costumam andar numa boa juntas, mas nada bem misturadas.
Cláudio
Carvalho
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