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Coluna do Cláudio

SORRIA! VOCÊ ESTÁ EM MADUREIRA, TERRA DO SAMBA

Nessa minha quarta coluna no Sambario, peço licença aos internautas para fugir um pouco do assunto que vinha abordando nas colunas anteriores, ou seja,o samba-enredo. Hoje quero falar sobre a eterna capital do samba, ou seja, o bairro de Madureira, na Zona Norte do Rio. Região principal de uma área que serviu de nascedouro para Portela (Oswaldo Cruz) e Império Serrano (Vaz Lobo), o bairro é um verdadeiro patrimônio cultural do samba e das religiões afro-brasileiras.

Freqüentemente presenciam-se em Madureira filhos de santo vestidos de branco, misturando-se a multidão, que enche as ruas dessa verdadeira cidade no cotidiano. Nos dias de São Sebastião e São Jorge, as tradicionais procissões de Portela e Império percorrem as ruas do bairro, levando consigo as imagens dos padroeiros das escolas e um pouquinho de esperança aos lares dessa gente humilde do subúrbio. No dia de São José, a tradicional capela no alto do morro, eternizada no samba de Zeca Pagodinho e Beto Sem Braço, recebe gente de todo o canto, que vem em busca de dias melhores. E a cada 30 de setembro, as yaôs sobem o morro da Serrinha, onde nasceu o Império, em direção a Pedreira de Xangô, de onde se avista toda Madureira, para deixarem suas oferendas.

Ah, Serrinha! Terra do jongo, onde hoje funciona um Centro Cultural destinado a preservar o ritmo. Lá se encontram verdadeiras preciosidades, como a casa de Vovó Maria Joana Rezadeira, a Tenda Espírita Cabana de Pai Xangô (Rua Balaiada, 124) e vestígios daquilo que um dia foi a primeira quadra do Império Serrano. Passear pelas ruas de Madureira é viver um pouco da história do samba, pois se foi no Estácio onde ele nasceu, no bairro da Zona Norte é onde se criou. Em tempos de carnaval, suas escolas saem as ruas entoando uma batucada infernal, que atinge seu ponto auge quando seus casais de mestre-sala e porta-bandeira se encontram e beijam, cada um, a bandeira da co-irmã, num misto de admiração e respeito. Sim, porque, ao contrário do que acontecia antigamente, quando um encontro entre portelenses e imperianos resultava em briga, hoje o que conta para os componentes destas escolas é o sucesso do bairro, em primeiro lugar. Não importa sob a batuta de qual agremiação. Uma vitória da Portela é uma vitória do Império, e vice-versa. Ambas somam juntas um total de 30 títulos, fazendo com que o bairro tenha muito mais conquistas do que qualquer outro, ou até mesmo do que qualquer outra cidade do estado que não a capital.

Falemos então da Portela, que possui uma das mais belas quadras dentre todas as escolas do Rio, localizada na Rua Clara Nunes, 81. A Portela de Natal, que mandou asfaltar centenas de ruas em Madureira, e que teve um séqüito até hoje inigualável em seu cortejo fúnebre. A Portela que até o início da década de 70 ensaiava numa modesta quadra na estrada que leva seu nome, lugar que hoje conhecemos como Portelinha, e que constitui-se como um verdadeiro museu da memória portelense. Lá podem ser encontradas relíquias, como tamborins quadrados, usados nos primórdios dos desfiles das escolas de samba, por exemplo.

Mas não é só desse gênero musical que vive o bairro. Madureira tem uma vocação para o comércio que chega a ser surpreendente, em se tratando de um bairro do subúrbio carioca. Seus três lados, divididos por duas estações de trem, abrigam verdadeiros pólos comerciais, como o Madureira Shopping Rio, o Shopping Tem Tudo,que possui uma das mais badaladas casas de show do Rio, o Shopping São Luiz (conhecido como ''shopping dos peixinhos'', devido ao imenso aquário que abriga), o Polo Um, e tantos outros. Não podemos deixar de citar, é claro, o Mercadão de Madureira, um dos maiores centros comerciais vinculados a cultura afro-brasileira do país. No mês de dezembro, é quase impossível transitar sossegadamente pelas ruas do bairro, tamanha a quantidade de pisões no pé que você está arriscado a levar. Mas o esforço para conseguir uma pechincha aqui e outra ali compensa o sacrifício, e ninguém sai de lá com a mão abanando.

O bairro também é sinônimo de bom futebol, representado pelo Madureira Esporte Clube, o Tricolor Suburbano, um dos mais bem estruturados times pequenos do futebol carioca. Celeiro de craques, já forneceu diversos jogadores para os grandes do Rio, e Marcelinho Carioca é o exemplo mais recente que não nos deixa mentir. Enfim, quando se fala em Rio de Janeiro, cria-se logo uma associação com o Cristo Redentor, Copacabana ou Ipanema, mas muito pouco ou quase nada se fala do subúrbio. Mas é lá, e principalmente em Madureira, que se pode encontrar o retrato mais fiel do nosso povo. É em meio a essa gente hospitaleira, representada pelos senhores de idade que cumprimentam a todos que passam, pelas normalistas da escola Carmela Dutra ou pela irreverência dos camelôs driblando a Guarda Municipal, que a gente reconhece o verdadeiro espírito do carioca.

E você que está ai, lendo essa coluna, não se faça de rogado. Pois se quem não gosta de samba, bom sujeito não é, vir ao Rio e não conhecer a capital do samba é o mesmo que ir ao Vaticano e não ver o papa. Tá falado? A gente se encontra lá então, numa dessas esquinas que vendem pastel e caldo de cana para os mais moços, cachaça e chope para os menos jovens, como diria o Rildo Hora. Um abraço, e até a próxima, se Deus quiser!

Cláudio Portela

claudioarnoldi@ig.com.br