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Coluna do Cláudio Carvalho

CLÁSSICOS DO SAMBA

8 de julho de 2014, nº 32, ano XI

Estamos nas semifinais da Copa do Mundo 2014. A Copa do Brasil. A Copa das Copas. Uma breve pausa nos jogos me fez pensar em como seria uma Copa do Samba, e me remeteu à rivalidade entre as escolas, que, embora não seja igual à futebolística, existe. Segue então, em ordem alfabética, uma relação de possíveis “clássicos” entre agremiações do carnaval carioca:

BEIJA-FLOR X GRANDE RIO: O “Clássico da Baixada” ganhou força no final da década de 1990, quando a escola de Duque de Caxias se firmou no Grupo Especial, e a de Nilópolis iniciou uma nova sequência de títulos. Teve seu auge em 2007, quando a primeira foi vice da segunda.

BEIJA-FLOR X MANGUEIRA: “Classico do Povo” poderia ser o nome deste duelo, por contemplar as duas agremiações com maior torcida no carnaval carioca. A rivalidade remete à década de 1980, quando ambas disputavam títulos quase todo ano. Joãosinho Trinta chegou a dizer que sua escola era prejudicada pelo governo estadual, que adotava como lema “Brizola na cabeça e Mangueira nos pés”. No início dos anos 2000, houve uma retomada da rivalidade, após os títulos da verde e rosa, em 2002, e da Beija-Flor, em 2003, ocasião em que ambas se revezaram no vice-campeonato.

BEIJA-FLOR X IMPERATRIZ: “O Clássico do Patronato”  gerou muito bafafá no início das décadas de 1980 e 2000, quando ambas as agremiações disputavam acirradamente o título. Em 1980, ambas se sagraram campeãs ao lado da Portela (que também já teve seu patrono, Natal). De 1999 a 2001, a Imperatriz foi tricampeã sobre a Beija-Flor, o que mobilizou a torcida desta a dizer que em 2002 o “bloco de Ramos” não seria tetra.

BEIJA-FLOR X SALGUEIRO: Este derby poderia se chamar “Clássico dos Carnavalescos”, pela migração de duas das maiores figuras do Salgueiro (Joãosinho Trinta e Laíla) para a Baixada Fluminense. Joãozinho foi bicampeão pela vermelho e branca da Tijuca e tri pela azul e branca de Nilópolis, num pentacampeonato particular que criou a rivalidade entre as duas escolas, na década de 1970. Após um período de latência, nas décadas de 1980 e 1990, esta rivalidade voltou com força total nos anos 2000, quando ambas voltaram a brigar por títulos.

BEIJA-FLOR X PORTELA: Muita gente diz que a Portela perdeu parte do prestígio de outrora após a ascensão da Beija-Flor, e que Anísio está para a escola de Nilópolis como Natal já esteve para a de Madureira um dia. Mas quem foi rainha nunca perde a majestade e, mesmo sem vencer há 30 anos, a Portela segue disparada como a maior campeã do carnaval carioca.

BEIJA-FLOR X UNIDOS DA TIJUCA: Poderiamos chamar esse confronto de “Clássico Pós-Moderno”, pois remete à contemporaneidade dos desfiles, quando a figura de Paulo Barros (natural de Nilópolis e fã de Joãosinho Trinta) despontou na escola do Borel, levando a Unidos aos vice-campeonatos de 2004 e 2005, ambos vencidos pela azul e branca da Baixada.

ESTÁCIO X MOCIDADE: Existe uma rivalidade entre as duas escolas por conta do título estaciano de 1992, que evitou o tricampeonato da vice Mocidade. Além disso, ambas se orgulham de possuir baterias aclamadas pelo grande público.

ESTÁCIO X PORTELA: Apesar do clima de cordialidade e respeito entre as duas agremiações, existe uma disputa pelo pioneirismo. A Estácio reivindica para si a herança da Deixa Falar, e adota o ano de 1928 como o de sua fundação, enquanto a Portela se autoproclama fundada no ano de criação do Conjunto de Oswaldo Cruz, um de seus embriões, em 1923. A rivalidade ganhou força em meados da década de 2000, quando vários quadros da Portela migraram para a Estácio, após as eleições que afastaram Carlinhos Maracanã do comando da azul e branca, depois de vinte anos.

ESTÁCIO X SALGUEIRO: Apesar de não ter os mesmos títulos do Salgueiro, a Estácio sempre buscou se afirmar como pioneira e referência na região da grande Tijuca, o que, de certa forma, engendra uma rivalidade com a “Academia” salgueirense, a despeito do clima de cordialidade entre os componentes das duas agremiações.

ESTÁCIO X VILA ISABEL: Embora Ismael Silva e Noel Rosa fossem amigos, sempre houve rixa entre os malandros dos dois bairros, e o fato da Vila se proclamar o “Berço do Samba” (mesma alcunha adotada pela Estácio) fomenta a rivalidade.

ESTÁCIO X VIRADOURO: Rivalidade nascida após a migração de diversos quadros da primeira para a segunda, no final dos anos 1990 e inicio dos 2000. Foi retomada este ano, no grupo de acesso, quando a escola niteroiense se sagrou campeã e a carioca vice.

GRANDE RIO X SALGUEIRO: A Grande Rio é afilhada do Salgueiro, escola que tem como referência, e com quem disputou boas colocações por várias vezes nas duas últimas décadas.

GRANDE RIO X VILA ISABEL: Pouca gente em Caxias digeriu a perda do título de 2006, no desempate, para a escola de Noel. Embora desde então, as duas agremiações nunca mais tenham disputado nada, falar desse assunto é polêmica certa até hoje.

IMPERATRIZ X IMPÉRIO SERRANO:  O “Clássico das Coroas” surgiu após a ascensão da escola da Leopoldina, que “coincidiu” com o enfraquecimento da agremiação de Madureira. Reza a lenda que Luizinho Drummond, partrono da Imperatriz, era imperiano, e que teria tentado assumir o poder em sua “escola de coração”, antes de criar seu reinado em Ramos. Alguns torcedores mais entusiasmados chegam a dizer que os oito títulos da Imperatriz seriam do Império, caso isso houvesse acontecido. Falácia à parte, o fato de as duas escolas ostentarem as mesmas cores, o mesmo símbolo, e terem um nome parecido, ajuda a criar um clima de rivalidade.

IMPERATRIZ X MOCIDADE: O “Clássico Verde e Branco” é disputado entre duas agremiações que despontaram no final dos anos 1970, tiveram seu auge nos anos 1990 e enfrentaram o ocaso nos últimos dez anos. Apesar disso, ambas parecem ressurgir, com as boas colocações da agremiação Leopoldinense em 2013 e 2014, e a contratação de Paulo Barros pela escola de Padre Miguel

IMPÉRIO SERRANO X IMPÉRIO DA TIJUCA: Ambas possuem o mesmo nome, as mesmas cores, o mesmo símbolo, e disputaram o título do acesso em 2013. Os componentes da Império da Tijuca rejeitam veementemente o rótulo de “Imperinho”, como passaram a ser chamados após a ascensão da escola de Madureira no carnaval carioca. Existe também uma polêmica quanto ao apadrinhamento da primeira pela segunda, fato nunca confirmado.

IMPÉRIO SERRANO X MANGUEIRA: Rivalidade que remete à época das “quatro grandes” (Império, Mangueira, Portela e Salgueiro), e que teve seu auge em 1973, quando o Império perdeu o título para a Mangueira, de forma contestada até os dias atuais. Apesar disso, o clima entre as duas escolas sempre foi de cordialidade.

IMPÉRIO SERRANO X PORTELA: O “Derby da Capital” teve origem no momento em que o Império se sagra campeão do primeiro desfile do qual participa, desbancando Mangueira e Portela, que resolvem abandonar a liga responsável pelos desfiles e se filiar à outra. Um encontro entre portelenses e imperianos, naquela época, quase sempre terminava em briga. Passados trinta anos sem que uma escola de Madureira se sagre campeã, a rivalidade arrefeceu, mas permanece uma disputa saudável entre as metades verde e azul de Madureira.

IMPÉRIO X SALGUEIRO: Durante muito tempo, as duas escolas brigaram pelo posto de terceira força do carnaval carioca, atrás de Portela e Mangueira. Com a ascensão de outras agremiações, como Beija-Flor, Imperatriz e Mocidade, o clima de fraternidade passou a tomar conta das relações entre imperianos e salgueirenses.

MANGUEIRA X PORTELA: O “Clássico dos Clássicos”! Na avenida, 41 títulos em disputa. Conhecidas como “eternas companheiras”, as duas escolas são comadres (uma batizou a outra). Apesar do clima ameno entre ambas, a rivalidade teve momentos tensos, como o do Supercampeonato de 1984, vencido pela verde e rosa. Hoje, ambas tentam retornar aos tempos de glória e brigar pelo título.

MANGUEIRA X SALGUEIRO: Esta talvez seja a rivalidade mais acirrada atualmente. Apesar de ser madrinha do Salgueiro, a Mangueira sempre teve rivalidade com a escola Tijucana, que, por sua vez, nunca “fugiu da raia”. Rumores dão conta de que, em 1972, a “homenagem” do Salgueiro à Mangueira teria sido uma forma de mostrar aos carnavalescos da verde e rosa como conceber um desfile com estas cores. Boataria à parte, e mal comparando, Salgueiro x Mangueira é uma espécie de Vasco x Flamengo do samba. Sem violência, diga-se.

MANGUEIRA X VILA ISABEL: “Eu, eu, eu: A Mangueira se f...”. Esse era o grito na Apoteose e na 28 de Setembro, em 1988, quando a Vila se sagrou campeã e evitou o tri da verde e rosa. O cântico, apesar dos anos, se repete toda vez que a Vila está no páreo.

MOCIDADE X VIRADOURO: A rivalidade vem desde a época em que a escola da Zona Oeste cedia quadros para a Acadêmicos do Cubango (rival da Viradouro) desfilar em Niterói. A vermelho e branca, por sua vez, é madrinha da Unidos de Padre Miguel. No ano de 1997, a Mocidade foi vice da Viradouro, que, na ocasião, contava com Mestre Jorjão, cria da Vila Vintém, à frente de sua bateria.

PORTELA X SALGUEIRO: Rivalidade que também remete à época das “quatro grandes”, e que teve seu auge em 1974, quando, após ganhar da Portela, os salgueirenses parodiaram o samba da azul e branca ("Lá vem Portela, com Pixinguinha e Seu Natal. Pra aprender com o Rei da França, como é que faz, pra ganhar o carnaval").

PORTELA X TRADIÇÃO: A escola do Campinho foi criada com o objetivo de ser uma “nova Portela”, e contou com apoio de gente de nome no mundo do samba (incluindo portelenses) para isso. Nos primeiros anos, chegou a ameaçar o reinado da Majestade, até que desceu de grupo e nunca mais se firmou novamente. Em 2005, caiu de forma polêmica, num desfile em que a Portela correu sério risco de rebaixamento.

PORTO DA PEDRA X VIRADOURO: Rivalidade regional, que começou em 1996, teve seu auge no ano seguinte (a escola de São Gonçalo se considera alijada pela niteroiense na briga pelo título), e permanece até os dias atuais, independentemente do grupo em que desfilem as duas agremiações.

PORTO DA PEDRA X SÃO CLEMENTE: Ambas as escolas brigaram durante anos pelo acesso ou para evitar o rebaixamento, daí a rivalidade.

SALGUEIRO X UNIDOS DA TIJUCA: O “Classico da Tijuca” nunca foi tão disputado quanto nos últimos anos, quando a vermelho e branca se sagrou campeã, em 2009, e vice da rival, em 2012 e 2014. Até então, pode-se dizer que a disputa se dava unicamente no bairro onde ambas surgiram, com evidente vantagem da vermelho e branca.

SALGUEIRO X VILA ISABEL: Outro clássico regional, dada a proximidade geográfica entre as duas escolas e a disputa por território. A ascensão da Vila Isabel, de 2006 pra cá, colocou tempero na rivalidade.

SALGUEIRO X VIRADOURO: Rivalidade que foi muito forte nas décadas de 1990 e 2000, quando ambas as escolas brigavam na parte de cima do mapa da apuração. Com o rebaixamento da Viradouro, em 2010, houve até homenagem niteroiense à agremiação tijucana, mas, com ambas no Especial, tudo pode mudar novamente.

UNIDOS DA TIJUCA X IMPÉRIO DA TIJUCA: Rivalidade que se acirrou pela proximidade entre as duas escolas, e pelo fato de, durante décadas, elas terem brigado para subir ou não cair.

VIRADOURO X CUBANGO: O “Clássico de Niterói” é disputado desde a época em que ambas as escolas desfilavam nas terras de Araribóia, e transferiu-se para o Rio de Janeiro, até as duas se reencontrarem no grupo de acesso, de 2011 a 2014.

Apesar de nem todas as rivalidades serem contempladas nesse espaço, é importante mencionar que elas existem, e que podem servir de combustível para uma disputa sadia entre as agremiações, como sempre se viu ao longo dos anos. O tema, em si, daria uma tese, mas esse texto pode servir de ponto de partida para uma discussão ampliada acerca dele, com a ressalva de que, no final, tudo acaba em samba!


Cláudio Carvalho
clau25rj@hotmail.com