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A OUTRA COISA 17 de março de 2014, nº 31, ano X Acelera, Tijuca!
Corre, Salgueiro! Voa, Portela! O tempo é curto, e vocês
têm que cruzar a pista
com quatro mil componentes, alegorias e tripés em 82 minutos.
Não importa se a
qualidade do samba estará comprometida,
se a cadência da bateria irá pelos ares e se, obviamente,
ninguém conseguirá
sambar de verdade. Os tempos agora são outros, mas os jurados
continuam
implacáveis, taciturnos, como na época em que
começaram os desfiles. Gozado que
houve evolução (?) em tudo, menos em quem julga a festa.
Porque, na verdade, não
são eles que fazem isso... Preparem a pista!
Sim, não se pode mais falar em passarela! Virou pista mesmo.
Pista de corrida,
como não poderia deixar de ser diante do gigantismo das escolas
atualmente. Em
1982, o Império já alertava para isso em forma de samba.
A São Clemente fez o
mesmo, em 1990, e repetiu a dose, já revestida pelo verniz
politicamente
correto da "ordem de choque", em 2010. Porque até a
crítica, hoje em
dia, tem que ser velada, maquiada, senão você paga caro,
como pagou a Império
da Tijuca, do presidente Antônio Marcos Telles (o Tê), que
disse,com toda
razão, que não quer mais desfilar no Grupo Especial. Quem será o
vencedor? Ora, isso não nos diz respeito! Quem somos nós,
meros mortais, para
nos metermos nos assuntos da cúpula? Eles fazem lá o
rodízio deles, e não temos
nada com isso! Dane-se se a minha ou a sua escola fez um desfile
arrebatador,
que emocionou a todos. Se não faz parte da cúpula, vai
ser tungada, como foi a
Portela em 1995, 2008, e esse ano. Perdeu pro jegue, pro Amapá,
e pro Dick
Vigarista. Há quem diga que a escola hoje prova do
próprio veneno, pois teria
sido ela a criadora do monstro, mas me recuso em ver na figura de Natal
da
Portela qualquer relação com estes que estão
aí. Já falei uma vez, e repito,
que, perto deles, ele é Madre Tereza de Calcutá! E lá vão eles, numa
corrida maluca! Não há termo mais preciso para descrever
o que uma escola
precisa fazer para ser campeã atualmente. Manter a qualidade do
espetáculo é
tarefa inglória, que poucas conseguem realizar, mas
ninguém está preocupado com
isso. E gradativamente, o desfile das escolas de samba, pelo menos no
Grupo
Especial, vai se transformando, como bem disse um argentino que conheci
num
ensaio técnico, em "otra cosa". Se há algo de genial em
Paulo Barros,
com certeza é o fato de sacar como ninguém os rumos que a
festa tomou,
ludibriar público e mídia com seus truques de
ilusionismo, até cegá-los,
repetir-se a cada ano e, mesmo assim, sair aclamado. Mas que
ninguém se engane
achando que o "mérito" é exclusivamente dele. Paulo
já esteve em
outras escolas, e não arranjou nada. Acima dele, está a
figura influente de
Fernando Horta, daí se une o "útil ao agradável",
se bem me
entendem... Nada mais oportuno para a cúpula do que um Paulo
Barros, quando
Laíla já dá sinais de cansaço em seus
devaneios. E eis que a Beija-Flor, que
nunca foi de fato julgada, vem reclamar justamente no ano em que isso
acontece! "Na reta, a
consagração. O tema, a emocionar. A supercampeã da
maior festa da cultura
popular". Opa, peraí. Muita calma nessa hora! Sem querer, acabei
misturando a letra de dois sambas. Pudera. Em tempos de
escritório, tudo é
muito parecido, senão igual. Copia daqui, cola dali, e tá
pronto. Não importa a
qualidade, basta "funcionar na avenida". E muito cuidado ao criticar
o samba de uma escola, porque você pode comprar briga com o
comp(r)ositor de
outra, e de outra, que, em nome da ética (um Engov, por favor),
defende seus
interesses.
A campeã do
carnaval voou baixo, e alcançou a vitória. Veio de
McLaren na
comissão-de-frente e atropelou
Portela,
Salgueiro e União da Ilha, que "ousaram demais" ao não
abrir mão do
tradicional, e trazerem aquilo que sempre foi o
feijão-com-arroz: samba no
pé.
Voltemos
ao
presidente Tê: "a apuração faz quem gosta de
carnaval desgostar de
carnaval". Mas eu, você, e muitos, ainda somos visionários
a ponto de
enxergar luz no fim do túnel, ou mesmo carnaval no meio da "la
otra
cosa". O desfile principal, que ironia, não é mais nem
pra gringo ver. Só
mesmo loucos como nós é que ainda acreditamos nele. E em
2015, pelo menos isso,
não será diferente! |
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