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É O DESTINO 14 de janeiro de 2014, nº 30, ano X Dez anos se passaram
desde que o webmaster do Sambario, meu querido amigo Marco
Andrews Felgueiras Maciel, que ainda não tive o prazer de
conhecer pessoalmente, me convidou para escrever no site. De lá
pra cá, aconteceu muita coisa. Eu já não tenho
mais 23 anos, não estou mais namorando a menina que implicava
com meu samba, nem cultivo ilusões de ser diretor ou compositor
de escola nenhuma (a não ser da Bambas Sambario). Carnaval pra
mim virou puro entretenimento, pois meu trabalho já consome
demais minhas energias. Pois bem. Depois dessa breve
introdução, quero fazer uma análise do que mudou
nos desfiles, de 2004 pra cá. E faço isso me reportando
às escolas que compunham o Grupo Especial e à
tríade Estácio, Ilha e Vila, que amargava tempos
difíceis no Grupo de Acesso, exatamente como a mesma
Estácio, Império e (quem diria) Viradouro faz hoje. Vamos
lá, então.
GRUPO ESPECIAL Beija-Flor: A bicampeã de 2003/04 ganhou no ano seguinte e mais três vezes (2007/08/11), voltando a ser a escola temida e respeitada do final da década de 1980 e do início da década de 1990. Hoje, para ganhar o carnaval, qualquer escola precisa bater a Beija-Flor primeiro. A hegemonia que antes pertencia à Imperatriz Leopoldinense mudou de endereço, e desde então está localizada na Baixada Fluminense, para alegria de uns e tristeza de outros. Unidos da Tijuca: Vice-campeã em 2004, a Tijuca surpreendeu a todos, posto que era apontada como favorita ao rebaixamento, ao lado da São Clemente. Neste ano, a escola revelou Paulo Barros, e iniciou sua trajetória rumo aos títulos de 2010 e 2012, quando, após mais de setenta anos, se firmou novamente como uma das forças do carnaval carioca. Mangueira: A Estação Primeira vinha de um vice-campeonato, precedido por um título. Era uma das escolas “da moda’, e isso permaneceu até 2007, quando a suposta ligação com o tráfico e a gestão Ivo Meirelles detonaram o trabalho que vinha sendo feito. Daí em diante, foram desfiles pífios, abandono do patrimônio, etc. Menos mal que houve mudança no comando, e a escola vem forte para 2014. Ícone da verde e rosa, Jamelão interpretou pela última vez em 2006, e faleceu dois anos depois. Viradouro: Outra força do Grupo Especial na ocasião, a escola de Niterói gerou muita polêmica ao reeditar um samba da Estácio de Sá, do qual já havia importado Dominguinhos e Mestre Ciça. A polêmica foi maior pelo fato do então presidente Monassa ter interrompido a disputa de samba para anunciar o remake. Monassa faleceu no ano seguinte, e de lá pra cá, a Viradouro nunca mais foi a mesma. Sob o comando de Marco Lira, beliscou o título em 2006, fracassou em 2007 e desceu ladeira abaixo dali em diante, até o rebaixamento em 2010. Hoje, com Gusttavo Clarão como presidente, a escola luta para voltar aos tempos de glória, que parecem cada vez mais distantes. Imperatriz: A então “papa-tudo” do Grupo Especial iniciou sua descida de degrau em degrau em 2004, até namorar o rebaixamento no início da década atual. De forma igualmente surpreendente, a escola beliscou o título em 2013 e vem forte para o próximo desfile. Parece que os bons tempos voltaram na Leopoldina. Salgueiro: Ao longo desses dez anos, a escola de Tijuca manteve a regularidade que se tornou sua marca (exceto em 2006), e voltou a ser campeã. Assim como em 2004, o Salgueiro continua sendo uma potência do carnaval carioca. Uma escola temida e respeitada. E meu amigo Thiago Daniel, depois de bater na trave tantas vezes, venceu a disputa de samba lá, em 2011 e 2012. Portela: O carnaval 2004 foi o último da gestão Carlinhos Maracanã, que em três décadas engessou a escola. A mudança de comando, no entanto, foi desastrosa. Logo em 2005, a escola fez um desfile trágico (sem águia e Velha Guarda), e não foi rebaixada por complascência dos jurados. Nos anos seguintes, Nilo Figueiredo até conseguiu bons resultados (a Portela voltou ao desfile das campeãs depois de 10 anos, em 2008, e repetiu o feito em 2009 e 2012), mas os alternou com apresentações pífias, como as de 2010 e 2013, mais 2011, quando a escola desfilou como hors-concours, após incêndio na Cidade do Samba, inaugurada em 2005. Atualmente, a Portela é comandada por Serginho Procópio, Marcos Falcon e Monarco, e tenta brigar novamente pelo campeonato. Mocidade Independente: Após Luma de Oliveira renunciar ao posto de rainha de bateria (sob o pretexto de uma falsa gravidez), a Mocidade saltou para fora do desfile das campeãs, e iniciou uma curva descendente, que culminaria no quase rebaixamento de 2013, quando se salvou pelo descarte de notas mínimas e máximas. Em dez anos, a verde e branco de Padre Miguel perdeu muita força, mas não tradição. Sua grande torcida (a quinta maior da cidade) contribuíram e contribuem para evitar o pior. Império Serrano: Desde aquela época enfrentando problemas financeiros, o Império também sofreu com trocas de comando, mas fez um grande desfile. No peito e na raça, a escola se manteve no desfile principal até 2007, um ano após Humberto Carneiro assumir a presidência. Campeã do Acesso em 2008, a verde e branco de Madureira voltou no ano seguinte, mas caiu novamente, e permanece na segunda divisão do samba até hoje (agora sob o comando de Átila Gomes, mestre de bateria na ocasião em que a escola reeditou “Aquarela Brasileira”). Grande Rio: O “desfile da camisinha” foi o último de Joãosinho Trinta à frente de uma escola do Grupo Especial. Anos depois, ele viria a falecer em decorrência de sequelas de AVC, deixando um legado de grandes carnavais, títulos e irreverência peculiar. Demitido pelo presidente Jaider Soares, João chegou a trabalhar na Vila Isabel, não mais como protagonista. A Grande Rio, por sua vez, iniciou uma trajetória ascendente, que teve seu auge nos vice-campeonatos de 2006 e 2007, mas permanece estacionada entre o quinto e o sexto lugar atualmente. Em 2011, a escola desfilou como hors-concours após incêndio (que também atingiu Portela e União da Ilha) em seu barracão. Porto da Pedra: Cotada desde aquela época para o rebaixamento, a escola de São Goncalo conseguiu o feito de se manter no desfile principal até 2012, superando até mesmo a vizinha e rival Viradouro, que caiu dois anos antes. Hoje, no entanto, a crise financeira e política é grande, e a perspectiva de retornar ao Grupo Especial, quase nula. Tradição: Após homenagear a Portela com a reedição de “Contos de Areia”, em virtude do fim da briga entre Nésio do Nascimento e Carlinhos Maracanã, a agremiação do Campinho foi a mais prejudicada com a mudança de comando na escola-mãe. Assistiu de forma atônita à volta de vários componentes a Oswaldo Cruz, desceu no ano seguinte e foi parar no Grupo B, até ser resgatada pela junção do terceiro e segundo grupos num só. Caprichosos: A escola de Pilares, que desde 1998 vinha lutando para se firmar no Grupo Especial, sofreu com a desastrosa gestão Paulo de Almeida, que a rebaixou ao segundo grupo em 2006 e ao terceiro em 2011. Voltou como campeã do Grupo B, antes da junção, e hoje luta ao lado de Estácio, Império Serrano e Viradouro para retornar ao seu lugar de direito. São Clemente: Rebaixada em 2004, a São Clemente voltou em 2008, caiu de novo, subiu novamente em 2011 e permanece no Especial pelo quarto ano consecutivo, algo surpreendente para uma escola até então “sem ambições” no carnaval. Por conta disso, virou a “ovelha negra” do Grupo Especial. É sempre cotada para cair (mesmo que injustamente), como já aconteceu com Tradição e Porto da Pedra um dia. GRUPO DE ACESSO Estácio: O Berço do Samba caiu para o Grupo B em 2004, mas teve ascensão meteórica até 2006, quando, sob o comando do “renegado” Carlinhos Maracanã e do seu diretor de carnaval Marco Aurélio Fernandes, voltou ao Grupo Especial após dez anos. É certo que caiu no ano seguinte, mas desde então se consolidou novamente como uma das forças do acesso e (por que não dizer?) do samba carioca. União da Ilha: A tricolor insulana teve de esperar por mais cinco anos para retornar ao Grupo Especial, onde permanece de forma sólida, mesmo após o incêndio no barracão em 2011, quando desfilou como hors-concours ao lado de Grande Rio e Portela. Vila Isabel: Campeã do Acesso em 2004, a escola venceu o Especial dois anos depois, firmou-se como grande potência do desfile principal e repetiu o feito em 2013. Talvez a trajetória mais surpreendente dentre todas! Como podemos ver, muita coisa mudou, pra melhor e pra pior. Vejamos o que o destino nos reserva para os próximos dez anos, e espero estar por aqui para contar essa história! |
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