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O VERDADEIRO RENASCER DAS CINZAS 9 de fevereiro de 2011, nº 26, ano VII Tragédias
acontecem em qualquer lugar. Tivemos no início do ano as chuvas
na Região Serrana, que deixaram para trás um rastro de
mortos e desabrigados bem acima do que é divulgado pela
imprensa. Guardadas as devidas proporções, o carnaval
carioca, maior espetáculo da Terra, também viveu sua
tragédia na última segunda-feira, quando os
barracões de União da Ilha, Grande Rio e Portela
sucumbiram ao incêndio que gerou um prejuízo calculado em
torno de 12 milhões e mudou os rumos do desfile do Grupo
Especial em 2011.
O momento é de dor, mas também de reflexão. Afortunadamente, não houve nenhum óbito, e a despeito de todo o trabalho de um ano das agremiações jogado fora, deve-se tirar lições dessa penosa experiência. A Liga Independente das Escolas de Samba, junto à Prefeitura, decidiu que não haverá rebaixamento neste carnaval e que as escolas prejudicadas não serão avaliadas pelos jurados, desfilando como hours concours. Todos aqui sabem que sou portelense de coração. O fato de ter desfilado ou realizado trabalhos em outras escolas não depõe contra isso, sobretudo se levarmos em consideração que tais escolas, como Império Serrano e Estácio de Sá, são sementes da mesma raiz que a Portela, raiz esta que só poderia render bons frutos. Ao contrário do que pensam ou dizem por aí, não "tenho uma bandeira e aderi à outra". Minha única bandeira é a do Samba, a qual defendo na minha Portela ou em qualquer escola que eleve o nome deste verdadeiro fenômeno social. Pois bem. Feito esse breve esclarecimento, quero dizer que a notícia do incêndio no barracão da Portela me pegou de surpresa, mas que, da consternação, passei à realidade rapidamente. Pra ser sincero, não esperava muito da minha escola esse ano. Não sei se pelo fracasso no ano anterior ou se por discordar de alguns rumos que sua diretoria tem tomado ultimamente. Entretanto, parece que o infortúnio feriu meu orgulho portelense, e creio que também seja assim com todos aqueles que de alguma forma simpatizam com a azul e branca de Oswaldo Cruz e Madureira. Sigmund Freud dizia que a cura de uma neurose é saber usar o sintoma a seu favor, ou seja, tomar aquilo que o prejudica em benefício próprio. O sintoma da Portela atual sempre foi barracão. Todo ano que visito a Cidade do Samba, saio de lá com medo de não dar tempo pra escola terminar suas alegorias e, exceto em 2008, isso acaba realmente acontecendo. Em 2011, parecia que não ia ser diferente. Digo parecia, porque agora sabemos que não será mesmo. Não vai dar pra botar um carnaval competitivo na rua, e mesmo se desse, estamos fora da disputa. Se isso é bom ou ruim, depende do ponto de vista... O desastre acontecido pode, de cara, ser encarado sobre uma ótica positiva se levarmos em conta que ele "mexeu com os brios" da escola, e se lembrarmos que ela terá a chance de desfilar isenta de avaliação (e portanto despreocupada com as notas) para mostrar isso. Como já disseram por aí, não haverá prejuízo que chegue perto da emoção que se verá nos desfiles das escolas prejudicadas, sobretudo no da Majestade do Samba. A Portela já passou por momentos dos mais difíceis ao longo de sua história e superou todos eles. Disseram que a escola ia acabar quando se fundou Império Serrano, Quilombo e Tradição (esta última com a intenção clara e manifesta de ocupar seu lugar). Disseram que ela não ia muito longe quando Paulo da Portela, Natal e Clara Nunes se foram, e até deram-na como rebaixada após o melancólico desfile de 2005. Nada disso aconteceu. A família portelense tem a propriedade única de se reinventar. Enverga, não quebra e retoma seu posto de maior agremiação carnavalesca da cidade, até hoje não superada em seus 21 títulos. O desfile de 2011 pode ser um divisor de águas para nós portelenses, e talvez a chance de provocarmos uma catarse capaz de nos empurrar à tão esperada vitória em 2012. Que as almas de nossos baluartes, lá do céu azul e branco como as cores da nossa bandeira, estejam presentes na avenida, e que a Águia possa, como fênix, literalmente ressurgir das cinzas. Cláudio Carvalho
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