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Coluna do Cláudio Portela OS
MELHORES SAMBAS-ENREDO DE TODOS OS TEMPOS O
leitor que porventura esteja acessando essa página e me dando a honra de ler
essa coluna, pode momentaneamente se espantar ao ler o seu título. Muitos hão
de achar muita petulância da minha parte, sobretudo se levarem em conta que não
era nem nascido quando muitos desses sambas foram lançados. Posso assegurar,
porém, que sou um ouvinte incansável. Tenho um bom acervo de LP's e CD's de
samba-enredo. Sou um verdadeiro ''rato'' de sebos e troco conhecimento com
colecionadores de primeira, como Jorginho de Paula,do Guarujá, que teve
sua coleção exposta em um programa de TV, e Chico Frota, produtor do CD das
escolas de samba do Grupo B desse ano. Aviso
ao leitor, também, que essa lista não tem nenhuma pretensão de se tornar
oficial. É apenas uma compilação daqueles que considero os melhores hinos, e
como tal, está sujeita a influências que posso vir a ter sofrido durante a sua
elaboração. Escolhi
o número dezesseis pois não queria uma lista nem muito curta nem muito longa,
além do fato de que este é o número dos búzios, que tem forte influência na
vida dos sambistas e do samba em geral. Seguindo a ordem cronológica, o primeiro samba que aparece é ''Seca no Nordeste (Tupi de Brás de Pina - 61)'', que ficou conhecido após a brilhante interpretação dada a ele pelo mestre Jamelão em um LP. Outro belíssimo samba da ''era pré-LP's'', é ''Aquarela Brasileira (Império Serrano - 64)'', obra-prima de Silas de Oliveira, considerada por muitos o ''hino dos sambas enredo'', e que foi reeditada esse ano pela escola da Serrinha. Uma curiosidade a respeito desse samba é o fato de que muitos pensam que ele é da Vila Isabel, devido a uma gravação de Martinho da Vila que tornou-se bastante famosa. Em
1968 foi gravado o primeiro LP de samba-enredo, que contém o brilhante ''Sublime
Pergaminho (Unidos de Lucas)'', presença
certa em toda e qualquer lista de
melhores sambas e que será reeditado pelo Galo de Ouro da Leopoldina esse ano.
No ano seguinte tivemos ''Heróis da
Liberdade (Império Serrano)'', obra-prima de Mano Décio, Manoel Ferreira e
Silas de Oliveira, considerada o melhor samba de todos os tempos em pesquisa
recente, e que enfrentou sérios problemas com o regime militar na época. É de
1970 o samba ''Lendas e Mistérios da
Amazônia (Portela), reeditado pela águia esse ano. O choro dos componentes
ainda na concentração fala por si só a respeito desse samba, de Catoni, Jabolô
e Valtenir, que deu a escola seu último título
não dividido com co-irmãs. 1972 foi um ano farto em belos sambas-enredo,
dentre os quais destaco três que são dignos de entrarem na lista:'' Ilu
Ayê (Portela)'', também conhecido como ''Terra da Vida'', ''Onde
o Brasil aprendeu a Liberdade (Vila Isabel)",
obra-prima de Martinho da Vila, e ''Rio
Grande do Sul na Festa de Preto Forro'', da Unidos
de São Carlos, hoje Estácio de Sá.
Do ano seguinte temos ''O saber poético
da literatura de cordel (Em Cima da Hora)'', de Baianinho, e ''Lendas
do Abaeté (Mangueira)''. ''A Festa
do Divino'', de Tatu, Neizinho e Campo Grande, é um dos melhores sambas da
até então emergente Mocidade
Independente, e a meu ver não poderia ficar de fora da lista. Outra celebração,
"A Festa
do Círio de Nazaré (São Carlos 75)",
reeditado esse ano pela Unidos do Viradouro, também não poderia ficar de
fora. É
de 1976, porém, aquele que eu considero o melhor samba-enredo de todos os
tempos. ''Os sertões'' de Edeor de
Paula, faz muita gente chorar até hoje, sobretudo quando levamos em consideração
a situação que vive a sua Em Cima da
Hora nos dias de hoje. Fechando
a lista, não poderíamos deixar de incluir ''Do
Yorubá a luz, a aurora dos Deuses (Salgueiro 78), ''É
hoje (Ilha 82)'', de Didi e Mestrinho, e ''Bumbum
Paticumbum
Prugurundum
(Império Serrano 82)'', de Beto sem
Braço e Aluísio Machado, que há
20 anos atrás já alertava para o oba-oba que tomou conta dos desfiles de
escola de samba nos dias de hoje. Bem, amigos, essa é a minha lista. Espero que ela sirva como fonte de pesquisa para os mais novos, e de recordação para os saudosistas, que como eu sentem falta daqueles tempos em que samba enredo era feito por quem entendia do assunto e fazia por amor, não por dinheiro. Ah, que tempos aqueles... Cláudio Portela |
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