Coluna do Cláudio Carvalho
DÁ PRA MELHORAR
Estamos às vésperas de mais um
carnaval, e, como em todos os anos, a expectativa começa a tomar
conta de nós. Quem será a grande vencedora do Grupo Especial?
Quem volta no Sábado das Campeãs? Quem cai? Quem sobe? Enfim, a
hora vai chegando e a ansiedade aumenta, mas só na quarta-feira
de cinzas é que saberemos os resultados. Independentemente do
que acontecer, este colunista quer aproveitar o espaço para
discutir sobre um tema candente no mundo do samba: as atuais tendências
do GE.
Esse assunto é polêmico. Já foi palco para calorosas discussões
no Espaço Aberto (fórum do site Galeria do Samba), e existe até uma comunidade no Orkut
denominada ''Por um Grupo Especial Melhor''. A grande questão é
que geralmente cada um puxa a brasa para a sua sardinha, só que
essa coluna não tem como objetivo dizer quais escolas deveriam
fazer parte da elite do samba, mas sim apontar rumos para que
injustiças não sejam cometidas, e para que possamos melhorar a
qualidade do nosso produto. Baseio minha opinião naquilo que
vivenciei até hoje, e também no que li e chamou minha atenção.
Pra começar, falemos do preço das arquibancadas. O povão está
cada vez mais afastado dos desfiles. O acesso aos ingressos é
difícil, pois além de caros, são vendidos apenas por telefone
e acabam em menos de 45 minutos. Resta para o público recorrer
aos setores populares, e até a venda destes é pouco divulgada.
Construir arquibancada no Canal do Mangue, além de excludente,
parece assistencialismo. Sugiro, portanto, uma revisão dos preços
e da forma de acesso aos ingressos dos desfiles.
Passemos então ao número de escolas desfilantes. Em 1996,
tinhamos 18 agremiações no Especial. O número pode até ser
exagerado, mas tínhamos um carnaval mais alegre, onde todas
possuíam um lugar ao sol. Tá certo que alguém tem de ficar de
fora, mas tem gente aí dentro que passou direto do quarto para o
segundo grupo. Estranho, né? Agora, surgiu a idéia de diminuir
para 12 o número de escolas, sob a justificativa de que melhora
a qualidade do desfile. Há de se tomar muito cuidado com isso,
pois algumas agremiações mais tradicionais encontram-se
combalidas, e corre-se o risco de que uma delas se perca pelo
caminho. Já imaginaram, por exemplo, um GE sem Portela? Logo,
creio que a atual medida não resolve nada, porque a questão da
qualidade é relativa. Porque não mexem no contingente a
desfilar, por exemplo?
Hoje em dia, dá-se prioridade
ao desfile técnico, e isso tem gerado mudanças em cada vez mais
quesitos. Acontece que técnica nunca foi sinônimo de empolgação,
e o que tem prevalecido atualmente são belíssimos espetáculos
cenográficos, óperas, e não desfiles de escolas de samba. As
coreografias deveriam se restringir à Comissão de Frente, pois
chega a ser irritante o número de alas de passo marcado, e você
não vê mais aquela empolgação de antigamente. O último
grande desfile que assisti foi ''Aquarela Brasileira'', um show
de samba no pé e harmonia de canto, e em que colocação o Império
ficou? Nona, apenas. O atual modelo acaba por privilegiar escolas
ricas e excluir as pobres, por mais tradicionais que sejam. O
tamanho das alegorias é outra questão. Devia haver um limite,
tanto para diminuir as disparidades como para gerar igualdade de
condições entre as escolas que concentram no Correio e as que o
fazem no Balança.
A pista também merece atenção especial, sobretudo no que diz
respeito à construção de arquibancadas do lado direito, para
diminuir o eco emitido pelo ''paredão'' onde se localizam os
camarotes. Há de se revisar também o sistema de som, pois
muitas escolas já foram prejudicadas em virtude de falhas no
mesmo.
Passando à questão da bateria, acho que os atuais critérios de
julgamento, ao invés de estimular a criatividade, tem feito
justamente o contrário. Agora, todas as escolas tem de fazer
paradinha ou coreografia, copiando os modelos implantados por
Mestre André na Mocidade e Ciça, na Estácio. Acontece que
algumas agremiações tem o direito de não concordar com isso,
pois seria o mesmo que fugir de suas características. As
baterias de Mangueira e Vila Isabel, por exemplo, sempre foram
retas, e hoje são obrigadas a se descaracterizar para não
perderem pontos. Paradinha e coreografia podem parecer sinônimo
de ousadia, mas para mim, ousadia de fato é resistir à tentação
de não ''montar'' uma bateria, dando privilégio, em
contrapartida, a seus componentes.
Por fim, seria importante selecionar melhor os jurados para que não
tenhamos de aturar mais ''Benvindos Siqueiras'' ou Annas
Benachis'' da vida. O quesito samba-enredo, por exemplo, merece
atenção especial. Não dá pra um samba como Salgueiro 2002 ser
dez de ponta a ponta. As tais notas decimais até ajudaram a por
fim ao excesso de notas máximas, só que esse tal décimo extra
não deve vingar. E no que tange ao Desfile das Campeãs, porque
não mandar a famigerada escola italiana às favas e dar lugar
para a campeã do Grupo A?
Enfim, são sugestões que ficam, e espero, com isso, ter
contribuído para que mudanças possam ser pensadas e critérios
revistos. Sou passional e por vezes me excedo, mas é a forma
como vejo as coisas. Reconheço que muita coisa mudou pra melhor,
mas acho que ainda há muito por fazer, e por isso me propus a
ajudar dando sugestões.
Essa é minha última coluna em 2005. Sei que estou em falta com
meus leitores, mas prometo que vou diminuir a periodicidade dos
meus escritos no ano que se inicia. Desejo a todos um Feliz Natal
e um ano novo repleto de realizações. Um abraço e até a próxima,
se Deus quiser!
Cláudio Carvalho
claudioarnoldi@ig.com.br