PRINCIPAL    EQUIPE    LIVRO DE VISITAS    LINKS    ARQUIVO DE ATUALIZAÇÕES    ARQUIVO DE COLUNAS    CONTATO

Sambando por aí...
     
20 ANOS APÓS ÚLTIMO CAMPEONATO, IMPERATRIZ E NENÊ TRILHARAM CAMINHOS DISTINTOS

1º de março de 2021, nº 52

Neste último fim de semana completaram-se 20 anos em que duas tradicionais escolas do Rio de Janeiro e de São Paulo levantaram a taça pela última vez no Grupo Especial das respectivas cidades. Em 27 de fevereiro de 2001, a Nenê de Vila Matilde conquistou o título do carnaval paulistano - dividido com o Vai-Vai - num grito de campeão que estava entalado desde 1985 no lado leste. No dia seguinte, 28, a Imperatriz Leopoldinense faturava o tricampeonato, o primeiro da Era Sambódromo, com todas as notas 10, num resultado que até hoje gera discussão. Algo que só a Mangueira, dezoito anos depois, conseguiria fazer.

Após conquistar o título em 2001, Imperatriz e Nenê trilharam caminhos distintos nos vinte carnavais seguintes. Uma de altos e baixos, outra com mais baixos do que altos... Aqui, fazemos uma retrospectiva dos respectivos caminhos trilhados por elas.



Nenê de Vila Matilde e Imperatriz Leopoldinense: escolas levantaram seu último troféu há 20 anos (Fotos: Museu dos Eventos Anhembi Parque e LIESA)

'

Retorno nas campeãs, rebaixamento após 40 anos e volta por cima

O tricampeonato só fez aumentar uma certa antipatia do público com a Imperatriz. Antipatia que a escola, claro, não recebia bem. Vide o discurso inflamado de Maria Helena, histórica porta-bandeira da escola, após a apuração: "A Imperatriz não ganha roubado. A Imperatriz trabalha pra isso. Eu respeito todas as coirmãs, mas exijo que me respeite e respeite a Imperatriz.". O estopim da bronca do povo com a escola da Ramos provocou reflexos em dois momentos.

Primeiro já no desfile das campeãs de 2001, quando a GRESIL foi alvo de muitos protestos do público, que arremessou latinhas de cerveja, bolinhas de papel, vaiou e levou ao Sambódromo cartazes do tipo "ano que vem o bloco de Ramos não será tetra". A reação não foi mais enérgica pois a escola desfilou sob um cordão de isolamento do Batalhão de Choque da Polícia Militar.

Reação enérgica que foi acontecer no desfile de 2002. Momentos antes de entrar na avenida com o enredo sobre Campos dos Goytacazes, os protestos se intensificaram. Bandeirinhas e prospectos (distribuídos pela escola) foram atirados contra os componentes junto de latinhas e garrafas, além de alucinadas vaias e gritos de "escola de ladrão". Bem que o filho do patrono da escola tentou pedir calma às pessoas dizendo ao microfone que "o desfile é pra vocês". Sem sucesso. Foi o desfile arrancar para o momento de tensão acabar. A Imperatriz desfilou sem maiores problemas e saiu da apuração com o terceiro lugar.

Bem certo que se olharmos apenas para os números, a Imperatriz coleciona 10 retornos ao desfile das campeãs nos últimos vinte anos. Porém, fazendo uma análise mais calculista, a escola viveu altos e baixos no período. Até 2005, pelo menos, disputou as primeiras posições: 2003, com um enredo sobre a pirataria, fica em quarto lugar. 2004, com Breazail, em quinto. E 2005, "Uma delirante confusão fabulística", um novo quarto lugar. Foi a partir daí, então, que a Rainha de Ramos começou a viver na gangorra, de amargar o nono lugar em 2006 e 2007 - pior colocação da escola desde o 14° em 1988 - a voltar ao sábado das campeãs em 2008 com o sexto lugar. Depois, o sétimo lugar em 2009 (com o enredo em celebração ao cinquentenário da escola, o último de Rosa Magalhães em sua primeira passagem) e o oitavo em 2010, um novo retorno às campeãs em 2011 - mais uma sexta colocação - e um novo resultado ruim em 2012 - o décimo lugar.

O samba-enredo de 2013, sobre o Pará, falava na "sorte da Imperatriz". Ela dava indícios de regressar em 2013, quando a escola voltou a brigar pelo pódio, terminando com o quarto lugar e mais uma vaga no desfile das campeãs, assim como aconteceu em 2014 (5° lugar), 2015 e 2016 (6° lugar). Fora do sábado com o 7° lugar em 2017 e o 8° em 2018, o baque maior viria em 2019: com o 13° lugar num malsucedido enredo sobre o dinheiro, a Imperatriz amargava um rebaixamento para a Série A após quatro décadas, justo no dia em que completara 60 anos de fundação. Rebaixamento que em dado momento chegou a ser revertido em plenária após o carnaval, mas que fora confirmado definitivamente em julho do mesmo ano.

Em 2020, sob a batuta do carnavalesco Leandro Vieira, a Imperatriz revisitou o passado e fez uma releitura de um clássico enredo de sua escola: "Só dá Lalá", do bicampeonato de 1981. A volta por cima tinha de ser da melhor forma possível: brincando de carnaval. E foi o que a Imperatriz fez. Com uma belíssima apresentação de ponta a ponta, a escola de Ramos levantou o título com 10 em todos os jurados, conquistou o acesso e a tão esperada volta ao Grupo Especial, que agora ficou para 2022. 




Imperatriz venceu a Série A em 2020 e espera retorno ao Grupo Especial em 2022 (Foto: Carlos Fonseca/Rádio Show do Esporte)

'

Últimos respiros na elite, queda inédita para o Acesso II e crise sem fim

Ao festejar o título de 2001, o então presidente Alberto Alves Filho declara: "O título marca que o resultado vai refletir o que é visto na pista". Palavras que traduziam clara insatisfação com os desempenhos da Águia nos anos anteriores. O que não se esperava é que a Águia entraria numa crise histórica que terminaria em muitos rebaixamentos e uma enorme distância dos tempos de glória.

De 2002 a 2004, o desempenho ainda era bom com trinca de quarto lugar e retorno nos desfiles das campeãs. Entre 2005 e 2008, a escola entrou em problemas financeiros e começou a ficar longe da briga pelo campeonato se contentando com um sétimo lugar como a melhor colocação no período. A esperança passava por 2009: com um grande samba e falando de si mesma e de seu fundador, a azul-e-branco pisou firme na avenida para contar seus sessenta anos. Só não contava com a fragilidade financeira agravada e com brigas internas entre seu presidente e o carnavalesco. Recheada de erros na pista e problemas nas suas alegorias, nem mesmo um chão fortíssimo impediu o primeiro rebaixamento. Em 2010, retornou ao Especial com uma vitória imponente no segundo grupo. Mesmo assim, a alegria durou pouco pois naquele mesmo ano, o fundador e baluarte-mor, o Seo Nenê, faleceu. Na sequência, mais um rebaixamento. Falando do sal, a agremiação terminou em penúltimo lugar e, mais uma vez, iria para o Grupo de Acesso.

Em 2012, começou o "último respiro". Com mais um campeonato no segundo grupo, a Águia voltou ao Especial e ainda fez bons desfiles em 2013 (Revolta dos Canudos) e 2015 (Moçambique) se reestabelecendo com uma força, mesmo que intermediária, na elite do samba paulistano. Mesmo assim, a política interna dava sinais de que a calmaria era temporária. Com muitos questionamentos, o presidente Rinaldo Alves, o Mantega, entrava em mais um período de comando com um criticado enredo sobre Cláudia Raia. Com um desempenho muito abaixo ao ano anterior, a situação parecia insustentável. Mesmo assim, o controle seguiu com o mandatário que apresentou um enredo patrocinado sobre Curitiba. O resultado foi desastroso. Mais um rebaixamento e dessa vez recheado de polêmicas como escola incompleta faltando uma hora para o desfile e pancadaria na quadra após a apuração.

Mesmo após mais um rebaixamento, a escola seguiu sendo comandada por Mantega que anunciou um enredo afro sobre Iemanjá para tentar o retorno ao Grupo Especial. Não teve sucesso e terminou em quarto lugar e, pela primeira vez em toda a sua história, a povo da Vila Matilde iria para dois anos no segundo grupo. Em 2019, um "pedido de desculpas" para a Portela. Depois de homenagear a Mangueira e esquecer a madrinha em 1998, a Águia bateu cabeça para a referência e fez um enredo que trazia um encontro fictício entre Nenê e Paulo da Portela. O resultado foi um terceiro lugar que quase levou a agremiação de volta para o Especial.

Em 2020, a tentativa foi um enredo patrocinado sobre a cerveja. Com a assinatura do carnavalesco Zilkson Reis, campeão pela Mocidade Alegre em 2004 e 2007, a Nenê fez um desfile muito aquém de suas tradições e acabou terminando em último lugar no segundo grupo. Nem mesmo o chão, historicamente bom, acabou salvando a agremiação da Vila Matilde do inédito rebaixamento para o Grupo de Acesso II. Outra vez mais, existiu confusão e muitas brigas internas. Mesmo assim, Mantega se manteve firme no cargo e anunciou uma nova equipe para a disputa do terceiro grupo. O grupo que contaria com Amauri Santos, carnavalesco, e Janny Moreno, porta-bandeira, já foi desfeito em grande parte com a maioria dos dispensados reclamando de incompatibilidades com a direção da agremiação. Em resumo, com discordâncias da gestão atual. 



Nenê amargou inédito rebaixamento para o Acesso 2 no último carnaval (Foto: Gustavo Lima/Site Carnavalesco)


Ao passar os próximos vinte anos, o futuro da Rainha de Ramos e da Águia Guerreira será promissor? Já diria o poeta: responda quem puder.

(Colaborou: Bruno Malta)


Carlos Fonseca
Twitter: @eucarlosfonseca
Apresentador do Carnaval Show na Rádio Show do Esporte todas às quartas-feiras às 20h
www.radioshowdoesporte.com.br