Sambando por aí...
RESUMÃO DO CARNAVAL 2019
11 de março de
2019,
nº 14
Acabou
mais um carnaval. Vinte e sete escolas passaram pela Sapucaí
entre sexta-feira e segunda. Duas comunidades festejaram o
título. Outras também comemoraram seus grandes
resultados. Outras ficaram tristes. E é tempo de expor
rápidos pitacos sobre os desfiles do Rio de Janeiro, aos quais
pude acompanhar de perto pois estava representando a Rádio Show do Esporte e este Sambario na
Passarela do Samba. Sem mais delongas, vamos a eles.
GRUPO ESPECIAL
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Título absolutamente e rigorosamente incontestável e
inquestionável da Estação Primeira de Mangueira. E
ponto final.
- Um belíssimo desfile e um grande resgate da Viradouro, fazendo
o escriba esquecer o trabalho e se emocionar até não
poder mais. A destacar também o grandioso terceiro lugar da Vila
Isabel. Que a escola finalmente volte aos eixos.
- O que fizeram com a São Clemente é INACEITÁVEL.
Uma apresentação leve e criativa para pegar no
máximo um oitavo, nono lugar. Os jurados viram outro desfile dos
sambistas, a explicação mais plausível só
pode ser isso.
- A Beija-Flor precisa repensar muita coisa depois do pífio
desfile que celebrou seus 70 anos - as alegorias eram de um mau gosto
gritante. A Era Gabriel David/Misailidis no comando da escola promete
dar muitos calafrios aos nilopolitanos. Ao menos o primeiro citado teve
a humildade de reconhecer que a escola errou e pediu desculpas ao
torcedores. Menos mal.
- Lamentavelmente a Imperatriz Leopoldinense foi rebaixada com um
desfile muito aquém principalmente no conjunto visual - e os
problemas de evolução só "ajudaram". Cheguei a
comentar no real time após o desfile que, mesmo com recentes
presenças no sábado das campeãs nesta
década, a escola precisava de uma sacudida antes que fosse tarde
demais. Infelizmente não deu tempo. Que a Rainha de Ramos se
reerga e volte a elite o quanto antes.
- Desde quando anunciaram essa atrocidade de transformar "O que
é, o que é?" em samba-enredo, já considerei o
Império Serrano como rebaixado. Por falta de aviso não
foi né, Paulo Menezes e Vera Lúcia? Aprendam uma coisa:
"O
que é, o que é?" é um grande clássico da
MPB, mas não é samba-enredo nem aqui, nem na China ("que
deram de enredo pra gente compor", conforme desabafo de Arlindinho, que
pode ser visto aqui).
SÉRIE A
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Absolutamente justo o título da Estácio na Série
A. Foi um desfile estilo rolo-compressor do começo ao fim. O
Berço do Samba está de volta ao seu lugar. Agora que o
Leziário não invente de aprontar uma com o Serginho do
Porto tal qual fez com Dominguinhos e Leandro Santos em 2016.
- A vice-campeã Cubango merecia pelo menos uns 2, 3
décimos a mais na pontuação final. As notas de
Enredo e Comissão de Frente (9.6 e 9.7) são
inexplicáveis.
- Grandiosos resultados de Santa Cruz (5° lugar) e Império
da Tijuca (4° lugar), que finalmente largou a sina de ser só
7° lugar. Bela colocação também da Unidos da
Ponte (10° lugar), que mesmo desfilando debaixo de um
dilúvio, conseguiu a permanência na Sapucaí.
- E na bacia das almas, a Sossego se safou da degola por um triz e no
ano que vem irá desfilar no sábado de carnaval pela
primeira vez. Uma pena a queda do Alegria da Zona Sul pra Intendente
Magalhães dadas todas as dificuldades que a escola enfrentou no
pré-carnaval.
INTENDENTE
- Polêmicas extra-pista a parte - como a suspeita de
reutilização de alegorias da Unidos da Ponte, o que
é proibido pelo regulamento - a Acadêmicos de
Vigário Geral venceu a Série B e no próximo ano
contará com a responsabilidade de abrir o carnaval carioca na
Sapucaí.
- Império da Uva e União de Jacarepaguá
conquistaram os títulos das Séries C e D,
respectivamente. União do Parque Acari e
Acadêmicos do Jardim Bangu conquistaram o acesso para a
Série B. A estreante Botafogo Samba Clube e a Independentes de
Olaria estarão desfilando na Série C em 2020. A lamentar
que a Caprichosos de Pilares, automaticamente rebaixada para a
Série E por não ter desfilado pelo segundo ano seguido,
esteja a passos bem largos de enrolar a bandeira.
SEÇÃO DE CURIOSIDADES
- Portela (4° colocada), Mocidade (6°), Unidos da Tijuca
(7°) e União da Ilha (10°) repetiram suas
colocações de 2018. Assim como Porto da Pedra (3°) e
Rocinha (11°) na Série A e Curicica (vice-campeã),
Tradição (3°) e Lins Imperial (6°) na
Série B.
- Desde a Imperatriz Leopoldinense em 2001, o carnaval carioca
não tinha uma campeã com pontuação
máxima. A diferença é que naquele ano a escola de
Ramos fez 300 pontos e a verde e rosa alcançou 270, sendo a
primeira vencedora neste recurso desde que o quesito Conjunto foi
excluído em 2015.
- Na Série A, é a terceira vez na década que a
campeã faz pontuação máxima. Além da
Estácio, a São Clemente em 2010 e o Império da
Tijuca em 2013 (ano de estreia do atual formato do Grupo de Acesso)
haviam alcançado este êxito.
- O 11° lugar foi a pior colocação da Beija-Flor no
século e a segunda pior da escola no Grupo Especial, superado
apenas pelo 12° lugar em 1956.
- Além de ser o melhor desempenho de uma escola vinda do Acesso,
superando o quinto lugar da Unidos da Tijuca no ano 2000, a Viradouro
obteve o vice-campeonato pela primeira vez em sua história, sem
falar que é seu melhor resultado desde o título em 1997.
A escola de Niterói foi vice-campeã na Série A por
três vezes (2011, 2013 e 2017) mas no Grupo Especial nunca havia
sido vice - além do título, o máximo foi ter
alcançado por quatro vezes o terceiro lugar (1994, 1999, 2000 e
2006).
- Já que citamos o referido ano no
tópico anterior, desde 2000 a Grande Rio não termina um
carnaval em nono lugar. Neste século, a tricolor só ficou
abaixo disso em 2004 (10° lugar) e 2018 (12°).
- O rebaixamento encerrou a passagem da Imperatriz Leopoldinense pelo
Grupo Especial que durou 40 anos, além de ser o quarto
rebaixamento de toda a história gresilense - os outros foram
1965, 1967 e 1977. As quatro décadas da Imperatriz na elite lhe
renderam todos os 8 títulos de sua história (1980, 1981,
1989, 1994, 1995, 1999, 2000 e 2001) e um quase rebaixamento em 1988 -
a escola terminou na última colocação e não
foi rebaixada por um acerto nos bastidores.
- Aliás, a Imperatriz foi mais uma vítima da
"maldição do oitavo lugar" que consiste numa escola
terminar nesta posição num ano e ser rebaixada no
seguinte. União da Ilha (8° em 2000, rebaixada em 2001),
Império Serrano (8° em 2006, rebaixado em 2007), Viradouro
(8° em 2009, rebaixada em 2010) e Porto da Pedra (8° em 2011,
rebaixada em 2012) foram vítimas desta maldição.
Abre o olho hein, Tuiuti?
- O Império Serrano se tornou, ao lado da São Clemente, a
escola que mais vezes foi rebaixada no século com três
quedas (2007, 2009 e 2019). Esse número a Serrinha
alcançaria em 2018 não fosse a virada de mesa.
- O vice-campeonato na atual Série A foi o melhor resultado da
Cubango no Grupo de Acesso. O quinto lugar foi o melhor resultado da
Santa Cruz no grupo desde 2004.
- Desde a criação do formato atual da Série A foi
adotado em 2013, a Unidos da Ponte foi a quinta
agremiação que veio da Série B a permanecer no
grupo. As outras foram a Em Cima da Hora em 2014, a Rocinha em 2016, a
Sossego em 2017 e a Unidos de Bangu em 2018.
- Aliás, o décimo lugar da Unidos da Ponte é o
melhor resultado de uma escola que veio da Série B desde 2013,
quando a Série A foi criada. O êxito pertencia
anteriormente ao 11° lugar da Acadêmcios do Sossego em 2017.
- Com o 12° lugar na Série A este ano, a Sossego
desfilará pela primeira vez no sábado de carnaval da
Sapucaí em 2020.
- Se não obtiver êxito em cancelar seu rebaixamento
perante a justiça conforme prometido por seu presidente
após a apuração, a Alegria da Zona Sul deixa de
desfilar na Sapucaí depois de 18 anos. A estreia da escola no
Sambódromo foi em 2002 no antigo Grupo de Acesso B.
- Na contramão, a Acadêmicos de Vigário Geral volta
a desfilar na Sapucaí após 21 anos (já incluindo
2020). Sua última participação foi em 1999 no
antigo Grupo de Acesso B, quando teve o jovem Cahê Rodrigues como
seu carnavalsco. Inclusive, será a estreia da
agremiação na Série A.
- Pela primeira vez a Globo exibiu todos os desfiles da Série A
ao vivo. E isto só aconteceu devido ao atraso de meia hora para
o início do desfile (de 22h30 pra 23h) em decorrência do
temporal que castigou o Rio de Janeiro na noite da sexta-feira de
carnaval e alagou a pista do Sambódromo (foto abaixo). Este
é um fato inédito desde que a emissora passou a
transmitir os desfiles do segundo grupo, em 2013. Inicialmente, o
desfile da Unidos da Ponte seria mostrado em VT após a
apresentação da Sossego.
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Também motivado pelo atraso em decorrência da forte chuva,
mas no domingo de carnaval, a Globo voltou a exibir ao vivo a primeira
escola do Grupo Especial após dois anos. A última havia
sido a Paraíso do Tuiuti em 2017.
- Pela primeira vez desde 2013 não houve transmissão do
Desfile das Campeãs nem pela TV muito menos pela internet. A
Globo, que detém os direitos e repassa sem custos, negociou com
outras emissoras mas não fechou pois estas alegaram falta de
viabilidade financeira para realizar a transmissão. Coube apenas
as rádios fazerem a transmissão.
Dez, nota dez!
Para
a estreia de Pedro Bassan no comando da transmissão da
Série A ao lado de Mariana Gross. O jornalista substituiu Carlos
Gil, que virou correspondente da emissora no Japão ano passado.
Nota zero
Para o "Nosso Camarote", localizado atrás do Setor 10 do
Sambódromo, que abusou do insuportável som alto de sua
"rave", atrapalhando demais o público que assistia os desfiles
naquele setor - da sala de imprensa, localizada atrás do setor
2, eu conseguia ouvir tamanho o barulho. Nas redes sociais há
várias reclamações acerca do barulho que vinha do
espaço. O camarote tem como sócios o ex-atacante Ronaldo
Fenômeno, a promonter Carol Sampaio e o conselheiro da Beija-Flor
Gabriel David.
Até
quando a Liesa será omissa em impedir que continue essa falta de
respeito com o sambista que está lá para ver as escolas
de samba?
A última volta do
ponteiro...
Duas
escolas já estão sem carnavalesco: Jack Vasconcelos
deixou o Tuiuti e Alexandre Louzada não está mais na
Mocidade, apesar de ter encaminhado sua renovação.
"Sambando por aí" volta assim que o troca-troca (que não
é na beira da praia tampouco em Noronha) para o carnaval de 2020
estiver frenético.