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Os sambas do Grupo Especial do RJ 2026 por Marco Maciel
As avaliações e notas referidas apresentam critérios distintos dos utilizados pelo júri oficial, em nada relacionados aos referidos desempenhos que as obras virão a ter no desfile' A GRAVAÇÃO
– O estilo de registro do CD é semelhante aos
últimos, com uma gravação técnica que
apresenta a maioria das faixas de forma cadenciada. Enquanto o disco
melhora muitos sambas, como Portela e Paraíso do Tuiuti, outros
caem de produção no álbum como Vila Isabel. A
produção utiliza alguns alusivos e até arrisca
alguns arranjos experimentais, percebidos nas gravações
de Grande Rio e Salgueiro. Ao mesmo tempo em que as cordas se
sobressaem, o coral é mais discreto, com a voz do
intérprete mais destacada. Embora a safra seja um pouco inferior
à do ano anterior, nos brinda com a obra-prima da Vila Isabel.
Na sequência, desponta Beija-Flor. Completam a primeira
prateleira pela ordem do CD: Grande Rio, Viradouro, Salgueiro e Unidos
da Tijuca.
1 - BEIJA-FLOR
- A primeira faixa da Deusa da Passarela sem Neguinho da Beija-Flor em
quase 50 anos é como se fosse uma apresentação ao
público de Jessica Martin. A intérprete vencedora do
concurso que elegeu os substitutos do veterano se sobressai na
gravação com relação ao seu parceiro Nino
do Milênio, este um velho conhecido dos bambas, mas que passa despercebido
na mixagem com a voz da cantora dominando a gravação do
início ao fim. Sobre o samba-enredo que exalta o Bembé do
Mercado na Bahia, mantém a pegada e a valentia
característica da escola nilopolitana. Uma das
junções da temporada, apresenta dois refrães
fortes oriundos do samba 1, com o principal inspirado no que embalou o
campeonato de 2025 através da repetição dos dois
primeiros versos. O restante da obra é formado pelo samba 39,
que apresenta uma letra mais descritiva da celebração baiana que
ocorre em Santo Amaro anualmente em 13 de maio. Um dos melhores sambas
do ano, abre muito bem o disco, com várias partes excelentes
melodicamente, como no trecho "Yemanjá alodê no mar (no
mar)". NOTA: 10.
2 - GRANDE RIO - A Tricolor de Duque de Caxias segue a sua fórmula de sambas mais pesados, com requinte melódico e feitos sob medida para Evandro Malandro. E com um bicampeonato particular na Grande Rio, consolida o paraense Ailson Picanço como um dos grandes nomes da nova geração de compositores do gênero. Para exaltar o Manguebeat, a agremiação utilizará uma obra com muitos momentos marcantes, principalmente na segunda parte na citação a Paulo Freire e com a sequência "Respeite os tambores do meu Ilê" apresentando uma melodia ainda mais forte que a do refrão principal, com o trecho representando o protesto contra as notas de bateria que tiraram o título da escola em 2025. A produção do CD apostou num estilo similar à faixa da Grande Rio do ano passado, com a entrada do samba na primeira parte com um andamento mais lento antes de partir para o normal. NOTA: 9,9. 3 - IMPERATRIZ - Numa safra muito contestada sobre a arte de Ney Matogrosso, que participa da abertura da faixa, os gresilenses construíram a segunda fusão de sambas de sua história, procurando repetir a fórmula bem-sucedida da Cigana Esmeralda de 2024 que resultou no Estandarte de Ouro de samba para a agremiação. Ainda que não repita a qualidade do hino do ano retrasado, o resultado final soa simpático, através dos dois fortes refrães que são o cartão de visitas da música, com uma excelente entrada de Pitty di Menezes (Tira o pé do chão! "Se joga na festa...", que proporcionou um meme no anúncio da junção na quadra). Por mais que tenha boas partes, como a sequência "Canto com alma de mulher/Arte que sabe o que quer", o excesso de aspas das canções de Ney transparece uma queda técnica do samba. Além disso, o verso "A voz que à cálida rosa deu nome" representa um risco, já que um jurado pode interpretar que a palavra 'cálida' é entoada com erro de prosódia, por mais que se faça todo o esforço para evitar. NOTA: 9,7. 4 - VIRADOURO - A bela homenagem a Mestre Ciça ensina a lição de que as grandes personalidades merecem se tornar enredos em vida, através do singelo verso "Não esperamos a saudade pra cantar". O icônico mestre de bateria oriundo da antiga Unidos de São Carlos (hoje Estácio de Sá) proporciona um samba dolente de letra inspirada que tem na emoção a sua principal virtude. Mas sem deixar de lado a valentia, através de uma arrojada sequência gingada de seis versos na segunda parte, a partir de "Peça perfeita pra me completar", que certamente terá que ser bem trabalhada pela harmonia da vermelho-e-branco. Wander Pires como sempre deita e rola na gravação de um dos bons sambas do ano. NOTA: 9,9. 5 - PORTELA - A faixa portelense tem contornos de emoção por conta da precoce perda de Gilsinho poucos dias depois da escolha do samba, que pegou todos de surpresa. Conforme o esperado, o saudoso intérprete é homenageado com um "É tudo nosso" no fim da faixa, fazendo jus à rica história que o cantor construiu na Águia. Zé Paulo Sierra, familiarizado com a obra por a ter defendido nas eliminatórias, substitui Gilsinho e de imediato coloca o seu estilo no hino que exalta Príncipe Custódio. O samba sobre o africano que trouxe sua cultura para o Rio Grande do Sul é valente. Porém, é mais simples, possuindo uma característica funcional, sem apresentar uma melodia diferenciada. Além de Zé Paulo, a bateria é outro destaque do registro, que utiliza como alusivo no início a canção "O Passado da Portela", de Monarco. NOTA: 9,8. 6 - MANGUEIRA - O samba em homenagem a Mestre Sacaca, um ícone do Amapá, mantém a fórmula que a verde-e-rosa vem utilizando nos últimos Carnavais, com hinos extensos e pesados. Assim como a obra do ano anterior, a para 2026 também peca por ser cansativa, ainda que tenha bons momentos melódicos como a bela primeira parte e a sequência "Çai erê, babalaô, Mestre Sacaca". O ponto forte da faixa é a atuação firme e segura do jovem Dowglas Diniz, agora o único intérprete principal da Mangueira quase centenária, como diz o samba. Sem a parceria do experiente Marquinho Art Samba (agora na Unidos da Tijuca), será possível observar mais detalhadamente o talento da cria mangueirense. Pé direito, muita sorte! O alusivo do samba é cantado pela cantora amapaense Patrícia Bastos, que participou do registro da versão concorrente da obra. Ah, a voz sussurrando 'Sacaca' ao longo da faixa foi colocada na intenção de gerar memes na bolha? NOTA: 9,8. 7 - SALGUEIRO - A Academia enaltecerá Rosa Magalhães com um belo samba, valorizado por Igor Sorriso e fruto de mais uma junção da temporada. O talentoso Rafa Hecht enfim foi premiado com sua primeira vitória no Salgueiro, depois de sua parceria sempre se destacar nas eliminatórias da escola nos últimos anos. Sua obra era a melhor da disputa, mas possuía um refrão principal fraco, o que motivou a fusão através do ingresso do refrão da equipe do multicampeão Marcelo Motta. O resultado final é muito agradável, com os violinos dando um toque especial ao longo da faixa. O clímax da obra evidentemente é a sequência "Mestra, você me fez amar a festa", uma das mais bonitas do ano em termos melódicos. NOTA: 9,9. 8 - VILA ISABEL - Festejado pela bolha carnavalesca desde o lançamento de sua versão concorrente, o lindíssimo samba da Vila é candidato a todos os prêmios da temporada e com justiça é apontado por muitos como o melhor da década e possivelmente um dos grandes sambas-enredo do Século XXI. Contudo, os hinos da parceria de André Diniz sempre repetem um antigo problema: as gravações oficiais geralmente são inferiores às versões concorrentes do compositor, geralmente na voz de Wander Pires. No caso de Tinga, o experiente intérprete integrou um registro morno no CD, que pouco explora o imenso potencial do samba-enredo em homenagem a Heitor dos Prazeres. Difícil é apontar qual o melhor trecho do samba, que desponta com incontáveis partes diferenciadas. Sem ficar em cima do muro, aponto a sequência "Macumba é samba e o samba é Macumba" como antológica, mostrando já na cabeça da obra um arrojo incrível. O conjunto melódico em sua maior parte é valente, cuja dolência é mais notada nos versos finais, através do "De todos os tons, a Vila, negra é" até o refrão principal, em mais uma sequência incrível. Aliás, os refrães são os melhores do ano. Enfim, um samba-enredo que tem tudo para se tornar histórico. NOTA: 10. 9 - UNIDOS DA TIJUCA - Uma bela obra marca a boa estreia de Marquinho Art Samba no Pavão, cantando a vida de Carolina Maria de Jesus. A letra em primeira pessoa narra toda a luta da escritora da favela paulistana do Canindé, com a melodia dolente valorizando versos que também sugerem um resgate da própria escola, como no refrão "Muda essa história, Tijuca/Tira do meu verso a força pra vencer". O dolente samba tijucano certamente integrará a 'zona da Libertadores' da safra de 2026 do Grupo Especial na Sapucaí. NOTA: 9,9. 10 - TUIUTI - A escola cantará a vertente religiosa afro-cubana Lonã Ifá Lukumi, difundindo na Sapucaí mais uma cultura pouco conhecida. Pixulé nos proporciona outra vibrante atuação, se consolidando como o intérprete mais recomendado para defender sambas de temática afro e enfim emplacando uma sequência no Grupo Especial. A produção do CD caprichou numa faixa bastante swingada. Entretanto, a obra é difícil de ser cantada, pelas expressões em iorubá e citações aos orixás serem entoadas rapidamente em muitos momentos. Mas o samba da Tuiuti para 2026 é muito envolvente, valorizado por um dos melhores intérpretes do Carnaval do país. NOTA: 9,8. 11 - MOCIDADE - A obra que celebra Rita Lee peca pelos mesmos problemas do samba da Imperatriz sobre Ney Matogrosso: o previsível excesso de aspas das canções da saudosa artista prejudica uma melhor narrativa, sobretudo na segunda parte. Mas é um samba animado que tem bons momentos, como os refrães, embora falte uma transição mais forte do fim da segunda parte para o refrão principal. O ponto forte da faixa é a estreia de Igor Vianna na escola onde seu pai Ney fez história com o sagrado microfone independente. Que tenha vida longa na Estrela Guia de Padre Miguel. NOTA: 9,7. 12 - ACADÊMICOS DE NITERÓI - O samba que marca a estreia da novata agremiação niteroiense deve dar o que falar no Carnaval. É inegável que o refrão "Olê olê olê olá Lula Lula", que abrirá os desfiles do Grupo Especial, será interpretado como uma propaganda eleitoral antecipada oito meses antes das eleições presidenciais. Como a Acadêmicos de Niterói vem do Acesso e será a bola da vez para voltar para a Série Ouro em 2027 pelo pré-julgamento que a LIESA infelizmente costuma fazer com as primeiras de domingo, a escola pelo menos vai 'cair atirando'. O samba é forte e certamente chamará a atenção fora da bolha tanto dos simpatizantes quanto dos detratores do Presidente da República. Como o hino é bastante extenso, ele oscila ao apresentar belos momentos e cair melodicamente na sequência. A primeira parte que retrata a infância de Luís Inácio é a mais bonita do samba, cuja letra mostra a mãe de Lula como o eu-lírico, com a poesia inteira representando um recado de dona Lindu para o filho. Porém, o samba fica mais cansativo a partir do falso refrão que cita as vítimas da ditadura militar, que soa um tanto forçado. Além disso, a obra aborda críticas atuais que serão datadas em pouco tempo, como as taxas de Donald Trump e os protestos contra a anistia aos golpistas de 8 de janeiro. Uma das compositoras, Teresa Cristina participa da faixa ao lado do intérprete Emerson Dias, com ambos proporcionando ao hino condução agradável. NOTA: 9,8. |
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