PRINCIPAL EQUIPE LIVRO DE VISITAS LINKS ARQUIVO DE ATUALIZAÇÕES ARQUIVO DE COLUNAS CONTATO |
||
Os sambas de 2023 por Marco Maciel As avaliações e notas referidas apresentam critérios distintos dos utilizados pelo júri oficial, em nada relacionados aos referidos desempenhos que as obras virão a ter no desfile Mangueira
sai na frente como o melhor samba da temporada na elite do Carnaval,
seguido de perto por Tuiuti e Império Serrano. Num segundo
patamar, se colocam Beija-Flor, Viradouro, Unidos da Tijuca e
Imperatriz. Na terceira prateleira, aparecem Grande Rio e Mocidade.
Numa penúltima, Portela, com Vila Isabel e Salgueiro sendo os
mais fracos do ano. A partir deste ano, passarei a utilizar notas
maiores para qualificar as obras. NOTA DA GRAVAÇÃO: 9,0. Aliás, a intenção da sinopse e, consequentemente, da letra é uma procura pelo sambista por locais característicos, pelos quais sempre "levanta o copo para o povo brasileiro", como diz o bem-humorado verso no final do samba. Afinal, a inspiração é a canção "Zeca, cadê você?", composta pelo próprio Zeca e por Jorge Aragão, de onde foi tirada a cabeça "Ô Zeca tu tá morando ond'é?". Então, ao ouvir o samba, você acaba fazendo um passeio da Zona Norte do Rio até a Baixada Fluminense . Assim, se depara com seu sincretismo ao "botar a cerva na encruzilhada", a devoção por São Jorge Guerreiro, seu amor pela Portela, até encontrar o sambista em seu quintal, no famoso sítio em Xerém, em Duque de Caxias, casa da Grande Rio. É
um samba bem mais leve com relação aos anteriores, que
consagraram a agremiação em sua louvável virada de
chave que proporcionaria o inédito título de abril. A
faixa mostra um Evandro Malandro cantando como nunca, além do
reforço da inconfundível gaita do maestro Rildo Hora, da
participação do próprio Zeca Pagodinho ao longo da
gravação e com poucas diferenças em
relação à estrutura da faixa concorrente.
Diferentemente de 2020 e 2022, não está entre os melhores
do ano, mas abre o CD com muito alto astral. NOTA: 9,8. Aliás, o fortíssimo verso "a revolução começa agora" que abre o samba da Beija-Flor é entoado um pouco depois do marcante complemento do grito de guerra de Neguinho. Se em 2003, o já veterano intérprete celebrava a primeira vitória de Lula com os brados "agora sim, o povo está feliz" e "a esperança venceu o medo", exatamente 20 anos depois, o novo triunfo do petista aliado ao teor do enredo motivam um "agora sim, é o povo no poder". A melodia do samba segue a linha da intensa valentia, no tom de clamor, característico da escola desde 1998, salvo algumas exceções. Ou seja, a Beija-Flor promete rasgar o chão com mais uma crítica fortíssima e colocando o dedo nas feridas, causando uma sensação de "déjà vu". Além de se referir à reconhecida Independência de D. Pedro I como uma "demagogia em setembro", a escola manda aquela indireta para o ainda presidente da República, através do verso "ordem é o 'mito' do descaso". Os refrães estão entre os muitos pontos altos do samba, apresentando o interessante efeito do "eh eh eh eh" no do meio e o recurso do estribilho ("deixa Nilópolis cantar") que antecede o principal, algo que sempre aprecio. Neguinho
ganha a parceria da funkeira Ludmilla na faixa, uma das mais aclamadas
cantoras do cenário brasileiro atual, como uma forma de furar a
bolha carnavalesca. Afinal, a grande popularidade da artista, uma das
mais renomadas do país no momento, é importante para
levar o samba-enredo e suas escolas para outros públicos. Ainda
assim, você estranha um pouco a entrada brusca da cantora na
faixa, ainda na reta final da primeira passada, poucos versos antes dos
refrães finais. Mas Ludmilla manda bem no registro, num bom
resultado para uma marinheira de primeira viagem no gênero,
honrando a grande responsabilidade em dividir a faixa da Beija-Flor com
Neguinho e seus quase 50 anos de escola. Desde 1976, o lendário
intérprete só havia dividido os microfones no disco
oficial do Carnaval com Belo, em 1999. NOTA: 9,9 É
um samba-enredo que carrega a beleza em sua tristeza, para valorizar as
interpretações conhecidas de Zé Paulo Sierra.
Inclusive, é um hino que parece feito sob medida para sua voz.
Conforme disse Felipe Filósofo na live em que Zé Paulo
participou no SAMBARIO em 2021, o intérprete da Viradouro
é a típica personificação de um
cantor-ator. E o brilhantismo de sua performance já é
flagrante na gravação do CD. Por fim, ao contrário
do CD de 2022, quando quase todos os mestres de bateria foram citados
pelos cantores, apenas Ciça ganha uma menção com o
já consagrado grito de guerra de Zé Paulo. NOTA: 9,9. Então, o samba vitorioso para 2023 era considerado o "menos pior" da disputa. No entanto, é um dos mais limitados do Grupo Especial. Ainda assim, recebeu um registro simpático para o CD oficial, com boa atuação de Tinga. O eficiente refrão principal é de longe o melhor trecho da obra. Mas a qualidade para por aí. A melodia é apenas correta, com clichês de letra, trechos de canções de Martinho no meio e pobreza poética em muitos versos. Mas é compreensível por conta da difícil sinopse de Paulo Barros, que complicou a tarefa dos poetas da Vila. Além disso, a qualidade ruim dos sambas nas eliminatórias provou que a escola continua como refém do talento de André Diniz ou até mesmo dos recentes hinos bissextos de Martinho. Quando um destes não assina ou coloca a sua marca no resultado final da música da Vila Isabel, transparece uma agremiação perdida. Como
fator positivo da faixa os constantes diálogos de Tinga com o
coral do disco. Muitas vezes se nota o intérprete entoando os
versos e deixando a sequência para o coro, em especial no
refrão principal. Aliás, este recurso é notado em
várias faixas no álbum desta temporada. O que torna a
faixa gostosinha de escutar, apesar das limitações
técnicas da obra. NOTA: 9,6. Mas falemos do samba-enredo que terá a honra de embalar o centenário da Portela. Cantado em primeira pessoa, com o eu-lírico sendo Paulo Benjamin de Oliveira, a opção foi por uma obra repleta de aspas, cheia de citações a sambas clássicos, que aparecem à exaustão no falso refrão central. Inclusive, é o trecho mais interessante do samba. Já os demais não chamam atenção, com um refrão principal retilíneo e apagado, e duas partes que não emocionam em nenhum momento. Como
destaque, a atuação de Gilsinho, que vive o melhor
momento na carreira, e faz o samba ser gostoso de ouvir no CD, apesar
dos problemas. E a participação no fim da faixa de Tia
Surica marca a primeira aparição da grande baluarte
portelense em discos recentes de samba-enredo. Consta que ela
participou dos coros dos primeiros álbuns dos gênero, os
Festivais lançados no fim dos anos 60. NOTA: 9,7. Cabeça da parceria, Moisés Santiago voltou a vencer um samba no Salgueiro depois do "Tambor" que embalou o último título em 2009. Apesar da melodia ser pouco inspirada, a maior virtude está na letra, que de alguma forma busca simplificar a salada feita por Edson Pereira em seu delírio vermelho. Então, na primeira parte, despontam os principais elementos do texto do carnavalesco, para na segunda a poesia se assemelhar a várias de clamor popular vigentes nos desfiles. Inclusive, não se estranharia se a letra da segunda fosse utilizada também no enredo anterior salgueirense "Resistência". Já
o conjunto melódico, pobre num todo, acaba significando um
retrocesso no Salgueiro. Infelizmente, o samba nos remete à nada
saudosa época da busca pelo Ita perdido que assolou a
discografia da Academia do Samba durante parte dos anos 90 e toda a
primeira década dos 2000. As melodias estendidas do "basta" e "chega"
já foram ouvidas diversas vezes no Anhembi, por exemplo. Enfim,
fica como ponto positivo na faixa a homenagem prestada por Emerson Dias
a Quinho, que se recupera de um câncer e não
desfilará no carro de som nesta temporada. Mas nem o animado
Emerson salva o samba da audição monótona no CD.
NOTA: 9,5. Sobre a obra que exalta a africanidade da Bahia e a força exercida pela mulher, a fortíssima melodia busca sempre fugir do lugar comum, através de variações criativas que enriquecem o produto final. A cabeça fechada pelo "sou eu Mangueira, a flecha da evolução" marca o ápice da valentia, sendo um excelente cartão-de-visitas que faz o samba te conquistar desde o início. O fim da primeira que serve de transição para o ótimo refrão do meio busca uma solução diferenciada que acaba funcionando muito bem. O
começo da segunda parte prepara com muita qualidade para o
trecho final do samba, uma das melhores sequências
melódicas do ano. A partir do "Quando a alegria invade o pelô"
até o último verso do refrão final, o fechamento
do samba mangueirense se torna primoroso. Então, o vibrante
penúltimo refrão "Eparrey oya! Eparrey mainha" embala e antecede o igualmente empolgante "O samba foi morar onde o rio é mais baiano". Enfim, o melhor samba do Grupo Especial 2023 do Rio e candidato ao Estandarte. Oyá por nós! NOTA: 10. O
hino combina bem dolência e valentia, misturando os dois estilos
muito bem durante a melodia coesa, mostrando uma letra de boa
qualidade. Até o trocadilho "amassa" e "a massa"
funciona muito bem, de acordo com o contexto. Enquanto o refrão
principal é de mais explosão, o do meio é mais
pesado. A pegada nordestina acaba bem aliada à levada
característica da Mocidade, que levará um samba que,
embora inferior ao de 2022 que conquistou o Estandarte, promete ser
eficiente para a proposta da escola. NOTA: 9,8 O
samba-enredo da Unidos da Tijuca demonstra valentia e
animação ao mesmo tempo. Ainda que seja um samba bem pra
cima, apresenta muita qualidade técnica. O ótimo
refrão principal tem um ótimo efeito ("Um banho de axé").
A primeira parte é mais curta, com o menor proliferando,
servindo de preparação para o central, que também
aposta num efeito semelhante ("Ilu Ayê... Ilê Ayê").
Então a segunda parte, embora bem mais quilométrica,
acaba gerando os melhores momentos do samba, com excelentes
variações que acabam misturando estilos: um mais gingado
no começo, um tom menor na metade, até chegar na
explosão e o estribilho que serve de transição
para o refrão principal. Enfim, um samba arrojado e
simpático que tem como triunfo uma grande segunda parte nos dois
sentidos, mas ainda assim é mais padrão com
relação ao aclamado e injustiçado do ano anterior.
NOTA: 9,9. As
duas partes são mais pesadas, bem como o refrão central
(com o verso já clássico e muito contextual "e foi-se então, adeus Capitão"),
como se também fossem versos entoados por repentistas
nordestinos. Portanto, o samba mostra qualidades bem peculiares, o que
exige bastante do intérprete. E um estreante no Grupo Especial
deu conta do recado. Pitty Di Menezes colocou a sua identidade no
samba, o deixando com a sua cara, gravando com muita personalidade a
obra para o CD. Esperamos que o jovem cantor tenha vida longa na
Imperatriz. NOTA: 9,9. A primeira parte é mais extensa. Embora seja pesada, ainda assim os versos entoados um pouco mais rapidamente tornam a levada excelente. E a interpretação do estreante na agremiação Wander Pires eleva a qualidade da ótima obra. O refrão do meio é mais gingado, enquanto a segunda parte serve mais como preparação para a repetição que emula o carimbó, com as notas mais estendidas em "das cantigas da vovó" servindo como uma boa solução para anteceder o irresistível "É lá! É lá! É lá!". Por
fim, Claudio Russo, Moacyr Luz e parceiros são compositores que
conhecem todos os atalhos do Paraíso do Tuiuti. Com
méritos, vêm enriquecendo a recente discografia
história da simpática escola de São
Cristóvão, proporcionando o segundo melhor samba do ano,
só perdendo para a Mangueira. NOTA: 10. É um samba que apresenta um refrão principal que outrora era gingado, contudo difícil de cantar por conta da métrica atropelada. Portanto, era necessária a adaptação do trecho e ela foi muito bem sucedida, com o refrão não perdendo o embalo planejado pelos compositores. Sobre a estrutura, diferentemente dos padrões, a obra apresenta três partes. A melodia alia bem a dolência e a valentia, emocionando em muitos momentos. A primeira do samba prolifera o menor, e o tom aumenta na preparação para o primeiro dos dois refrães centrais, ambos semelhantes, com o efeito "dagô dagô" (o termo significa "dá licença" no candomblé) enriquecendo muito o samba-enredo. Já a segunda e a terceira parte são mais emocionantes, proporcionando um resultado final muito bonito para o hino que fecha o CD e abrirá o Grupo Especial na Sapucaí. Ito Melodia estreia no Império Serrano depois de 20 anos seguidos na União da Ilha. Contudo, você não estranha o experiente intérprete, embora tão identificado com os insulanos, cantando um samba tão diferente dos últimos que vinha defendendo. Assim, imprime a categoria de sempre, comprovando uma versatilidade. Por fim, o melhor momento de todo o CD é o começo da segunda passada do samba, com o banjo à la Arlindo embalando o samba. Que certamente o próprio Arlindo Cruz assinaria. NOTA: 10 |
Tweets by @sitesambario Tweets by @sambariosite |