Os sambas da Série Ouro 2023 por Cláudio Carvalho
Os sambas da Série Ouro 2023 por Cláudio Carvalho
As avaliações e notas referidas apresentam
critérios
distintos dos utilizados pelo júri oficial, em nada relacionados
aos referidos desempenhos que as obras virão a ter no desfile
Arranco:
Homenagem mais do que justa (e talvez um pouco tardia) ao grande
Zé Espinguela, criador do primeiro concurso de escolas de samba,
em 1929, no próprio Engenho de Dentro. A gravação
começa com um trecho do samba-enredo de 2006, quando a escola
ganhou seu segundo Estandarte de Ouro no quesito (o primeiro foi em
1977 com "Logun, príncipe de Efan). Trata-se de um bom samba,
interpretado de forma segura por Diego Nicolau. A letra poderia ser
menor e um pouco menos rebuscada. Nota: 9.9
Lins Imperial: Na
reedição do enredo sobre Madame Satã, a
escola traz um samba muito melhor que o de 1990. Destaque para a
ousadia dos compositores de colocar a palavra "puteiro" na letra
(não dá pra ser politicamente correto numa homenagem
dessas). Duas ressalvas em relação aos refrões: o
do meio, além de grande, traz o nome de guerra do homenageado,
de difícil execução. O de baixo, embora muito
bonito, poderia prescindir do verso "muito mais que carnaval" ou falar
deste em outro contexto. Nota: 9.9
Vigario Geral:
Samba que mantém o padrão de qualidade estabelecido em
2022, embora com enredo totalmente diferente e, dessa vez, com uma
mensagem otimista. Importante ressaltar, no entanto, que trata-se de
uma visão saudosista e adulta da infância, algo
desconectada, portanto, da atualidade. Infelizmente, a maioria das
crianças de hoje desconhece grande parte das brincadeiras
citadas na letra. Nota: 9.9
Estácio de Sá:
O começo, com "Semente de uma raiz" emociona ao lembrar o
saudoso Dominguinhos. Bela interpretação de
Tiganá, excelente aquisição. Trata-se, no entanto,
de apenas mais um samba regular do Velho Estácio. Não
custa lembrar que o último grande samba da escola foi "A
dança da lua", e que lá se vão trinta anos...De
lá pra cá, teve, sim, coisa boa, mas nada que chegasse
perto. O leão está devendo! Nota: 9.8
Unidos de Padre Miguel:
Acostumado a nos brindar com grandes sambas nos últimos anos, o
boi vermelho deixa um pouco a desejar nesta obra de letra e melodia
relativamente simples. É possível, no entanto, que
esse samba "aconteça" na avenida, sobretudo pelo refrão
"mordido" no qual a escola diz que não deve nada a
ninguém e pede respeito ao povo da Vila Vintém, numa
clara demonstração de insatisfação com os
resultados dos últimos carnavais. Nota: 9.8
Acadêmicos de Niterói:
A presença inusitada da escola, da qual muito pouco se sabe, no
lugar da tradicional Academicos do Sossego, fez com que tudo, inclusive
o samba, tivesse de ser produzido a toque de caixa. O resultado, como
esperado, não poderia ser dos melhores. Letra simplória,
rimas manjadas e melodia que não empolga. Nota: 9.7
São Clemente:
Depois de 11 carnavais no Grupo Especial, a escola da Zona Sul volta ao
acesso com um enredo que é sua cara: uma visão
indigenista e bem humorada sobre o Rio de Janeiro. Embora em alguns
momentos lembre o irreverente samba de 2004, este tem expressões
datadas, como "oi, sumido" e "samba de ladinho", das quais muitos
não saberão o significado daqui há alguns anos.
Nota: 9.8
Uniao de Jacarepaguá:De
volta ao acesso após 17 anos, a escola do Campinho traz um
bom samba, que lembra um pouco o de 2005, quando desfilou pelo
última vez no grupo. O atual não é tão
grande e difícil como aquele. A faixa oficial foi gravada por
Luiz Paulo, que deixaria a escola dias depois, sendo substituído
por Silas Leléu e Zé Paulo Miranda, que não
chegaram a gravar outra versão. Nota: 9.9
Unidos da Ponte:
Samba que segue a mesma linha do ano anterior. Além da
temática religiosa, é correto, traz uma mensagem
importante, mas não empolga. Além disso, insiste no
expediente de inserir o nome da escola na letra, nesse caso, no verso
"unidos feito ponte", que não caiu bem. Nota: 9.8
Unidos de Bangu:
Sem dúvidas um belo samba, que se destaca positivamente na
safra. Mais um show de Pixulé. Discordo de quem considera o
excesso de termos afro um problema para sua execução. O
excesso de enredos sobre o orixá Xangô nos últimos
anos, no entanto, acaba tornando a obra repetitiva em alguns momentos,
infelizmente. Nota: 9.9
Em Cima da Hora:
Após abrir o primeiro carnaval pós-pandemia com "33" e
emocionar a todos, a escola de Cavalcanti traz um samba regular, que
começa dizendo, em tom de justificativa, que o carnaval é
o "lugar do folião", como se isso fosse necessário (fiz
uma critica semelhante no samba da Lins Imperial). As já
mencionadas repetitivas referências ao orixá Xangô
também podem ser encontradas aqui. Nota: 9.8
Porto da Pedra:
Um dos melhores sambas da safra, quiçá do ano. Muito bom
ver a escola de São Gonçalo desfilar novamente com um
grande samba, o que provavelmente não acontecia há pelo
menos quinze anos, quando ela ainda estava no Grupo Especial. Trata-se
de um samba diferenciado, com letra que remete aos saudosos anos 80 e
variações melódicas interessantíssimas.
Embora tenha "descido um tom" em relação à
versão concorrente, se manteve em altíssimo nível.
A ver como será na avenida o entrosamento entre Nêgo e
Pablo. Nota: 10
União da Ilha: Assim
como o samba da Portela, deixa a desejar pela simplicidade da letra
diante de um enredo tão inportante, afinal, trata-se do
centenário da instituição escola de samba. Ainda
assim, emociona em alguns momentos (sobretudo aos portelenses) e chega
a lembrar "Bom, bonito e barato", o saudoso samba de 1980 da tricolor
insulana. Nota: 9.8
Império da Tijuca:
Outro grande samba da escola cujo cancioneiro mais tem
contribuído para o gênero samba-enredo nos últimos
anos. Destaque para o perfeito entrosamento entre Daniel Silva e a
Sinfonia Imperial, como pode se ouvir na faixa e se pôde
verificar na festa na Cidade do Samba. Palpite: briga cabeça com
cabeça com a Porto da Pedra pelo Estandarte de Ouro. Nota: 10
Inocentes:
Estandarte de Ouro de samba-enredo em 2022, a escola de Belford Roxo
traz outro bom samba, embora ligeiramente inferior ao do ano anterior.
Trata-se de um samba valente, que não "cai" em momento nenhum, e
que tem tudo pra manter o público na Sapucaí até o
final do desfile, já que a escola será a última a
se apresentar. Nota: 9.9