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Os sambas de 2022 -
Série Ouro por Marco Maciel As avaliações e notas referidas apresentam critérios distintos dos utilizados pelo júri oficial, em nada relacionados aos referidos desempenhos que as obras virão a ter no desfile A GRAVAÇÃO DO CD - A produção do CD do Grupo de Acesso, agora com a nova nomenclatura de "Série Ouro" dada pela emergente LigaRJ, ficou a cargo de Macaco Branco, mestre de bateria da Vila Isabel, que substituiu a equipe de Leonardo Bessa. A tônica do disco é a fidelidade com as versões de divulgação dos sambas por algumas escolas (no caso, as que encomendaram), com a produção mantendo arranjos idênticos e introduções parecidas. Ou seja, pouca coisa muda, a não ser o capricho maior com o banho de estúdio e o charme do disco que é o samba-exaltação de cada agremiação no começo das faixas. Macaco Branco, Maurício e cia fizeram o feijão-com-arroz, valorizando as baterias, deixando de lado a harmonização mais aprimorada de cordas e teclados que vinha sendo a marca dos mais recentes álbuns de Bessa. É um CD que você escuta com imensa satisfação da primeira a décima quinta faixa e fica com vontade de ouvir novamente. A safra, mesmo com sete encomendas e duas reedições, supera e muito a de 2020. O clássico da Em Cima da Hora, além dos inéditos de Império da Tijuca e Império Serrano, são os melhores do ano. Bem próximos, despontam Santa Cruz, Cubango, Inocentes, Vigário Geral e Porto da Pedra. NOTA DA GRAVAÇÃO: 10. ATUALIZAÇÃO:
Uma tiragem limitadíssima do CD físico foi
disponibilizada pela LigaRJ e as informações para a
compra estão nas redes sociais da entidade. O álbum
é duplo, e vem num encarte simples, sem as letras das
obras. Ao contrário das plataformas digitais, em que a ordem das
faixas aparece conforme as avaliações presentes abaixo, a
LigaRJ registrou no compact disc de acordo com a ordem de desfiles. Por
exemplo, o primeiro disco conta com as escolas de sexta-feira, em que a
Em Cima da Hora abre o CD e a Sossego é a última faixa. O
segundo tem as agremiações de sábado, com Lins
Imperial sendo a faixa de abertura e o Império Serrano
encerrando a bolacha digital. 1 - UNIDOS DE
PADRE MIGUEL -
O CD do Acesso é aberto mais uma vez pela UPM, como acontece
corriqueiramente nos últimos anos. O samba que fala de Iroko, o
Senhor das Árvores, foi eleito ainda em 2020 num expediente
então inédito, de uma eliminatória na
íntegra transmitida via YouTube e sem público na quadra.
É uma bela obra, ainda que seja pragmática e possua
características funcionais, sem tantos diferenciais
melódicos. O Boi Vermelho faz o básico a
respeito dos hinos da temática, que é o refrão
principal valente, a primeira e o refrão do meio pesados e a
segunda com mais pontos de explosão. Alguns versos são de
gosto duvidoso, como "Iroko é quem tira, Iroko é quem dá".
Inicialmente, foi postada nas plataformas digitais a versão
apenas com a voz de Diego Nicolau. Dias depois, ocorreu por lá a
troca por
outra em que Nicolau divide os vocais com Guto, recém-contratado
pela UPM. É uma facilidade que o mundo digital permite,
através dessa simples mudança a tempo de inserir a
participação do ex-intérprete da Sossego e atual
carro de som da Viradouro, algo inviável na mídia
física. No fim da
faixa, é entoado o ponto "Iroko" que inclusive é citado
no fim da sinopse. NOTA: 9,5. 2 - PORTO DA
PEDRA - O
Tigre de São Gonçalo apresenta um samba imponente pra
exaltar Mãe Stella de Oxóssi, sem dúvida o melhor
da escola desde 2011. A melodia é toda pesada, ainda assim a
música flui muito bem por conta da intensa valentia, valorizada
pela grande atuação de Pitty Di Menezes. A primeira parte
é a mais forte e também extensa, por contar com um falso
refrão como recheio, e a segunda é curta, servindo
basicamente como transição para o bom refrão
principal. Destaco melodicamente a cabeça que antecede o falso
refrão, com um "hoje vai ter festa no Orum"
que soa até nostálgico e o excelente refrão
central. Interessante a sequência "seis pra defender / seis para julgar", numa inteligente referência aos 12 obás de Xangô. Talvez falte momentos de explosão mais marcantes
ao longo da obra, mas desponta no pelotão de cima da safra. E a
presença de Wantuir cantando o clássico alusivo "sou
Porto da Pedra, faço samba por amor..." é um verdadeiro
retorno aos anos 90. NOTA: 9,7. 3 - ESTÁCIO - A opção do Leão pela reedição de 1995 se dá pelo apelo ao torcedor do Flamengo
e a mídia que o clube proporciona. Porque se a
motivação fosse apenas musical, seria algo
inexplicável. Por mais que seja um clássico, imortalizado
por uma performance magistral de Dominguinhos do Estácio (que recebe uma linda homenagem no início da faixa), o
samba tem claras limitações de letra e melodia. Na LIVE
SAMBARIO, o carnavalesco Alexandre Louzada recordou que o saudoso
compositor David Corrêa reciclou a primeira parte inteira de um
concorrente derrotado na Portela em 1977 para o samba-enredo
rubro-negro. Isso explica o fato do trecho inteiro não dizer
nada com coisa nenhuma: "o céu rasgou/na noite que reluzia...".
O refrão do meio David compôs antes mesmo de sair a
sinopse original, de acordo com relato de Mestre Ciça a Pedro
Migão no canal Blog Ouro de Tolo. O "uh tererê" desmascara uma
obra datada, já que o grito era ouvido nas arquibancadas na
primeira metade da década de 90. A história do clube
é contada a partir da segunda parte, porém com melodia truncada
e narrativa desprovida de soluções poéticas.
Afinal, "Fla-Vas" sequer existe. E a funcionalidade ocorre
graças às inspiradas bossas de Ciça em 1995, tanto
que todas elas reaparecem no CD de 2022. Em alguns trechos retos, de
tom baixo, foram necessárias subidas e mexidas com
relação a 27 anos atrás, como nos versos "não tem pra ninguém", "sou Flamengo até morrer", "Fio Maravilha", "que o Zico foi buscar" e, é claro, o datadíssimo "100 anos de primavera" (95 foi o ano do centenário do Flamengo) que virou "campeão da nova era".
Apenas o refrão principal acho ótimo, podendo repetir o
sacode de 1995. Mesmo com os problemas relatados, o samba até
hoje é muito lembrado. Ainda assim, preferia que uma nova
música fosse desenvolvida para o tema, a fim de atualizar as
recentes conquistas da equipe. Até porque Fio Maravilha
não é mais relevante do que Gabigol na história do
clube, só pra dar um exemplo. Vascaíno roxo, Serginho do
Porto levou na esportiva o fato de cantar um samba-enredo que exalta o
coirmão, mas com malícia solta um caco, no começo
da segunda passada no disco, que muitas vezes dá a entender "ah,
como vascou". NOTA: 8,8. 4 - UNIÃO DA ILHA - Pra
enaltecer a figura de Nossa Senhora Aparecida, depois de cancelar duas
reedições previamente anunciadas, a
azul-vermelho-e-branco mais uma vez opta por um samba
burocrático, seguindo a linha dos últimos insulanos. Por
mais que a letra seja inspirada, como se fosse de fato uma
oração pra Santa, a melodia em contrapartida não
apresenta explosão e torna o hino morno, com refrães que
não se destacam. A poesia talvez indicasse uma melodia mais
dolente, mas no entanto é a valentia que prolifera. Infelizmente
há muito tempo o velho lirismo dos clássicos da escola
não é sentido. Os pontos positivos na faixa são as
grandiosas atuações de Ito Melodia e da Baterilha, cujo
desempenho desta pra mim é o melhor do disco entre todas as
baterias. NOTA: 9,1. 5 - INOCENTES
DE BELFORD ROXO
- O tradicional ritual do Carnaval de Recife gerou um belíssimo
samba para a Inocentes, com Luizinho Andanças e Leléu
reforçando a escola e fazendo companhia pra Temtem Sampaio na
faixa. Como está há mais tempo na casa e é um dos
autores, é a voz de Temtem que prolifera na
gravação. A obra é bem densa, de boas
variações melódicas. A primeira parte é
mais pesada, tendo como sequência um igualmente robusto falso
refrão (algo que está na moda, tanto no Especial quanto
no Acesso). Aí despontam dois versos de preparação
para um pequeno refrão do meio, quase um estribilho.
É uma estrutura rara no gênero. A segunda parte
mantém a melodia envolvente, com o bonito efeito em "clareia, clareia", "vadeia, deixa vadiar".
Os versos finais realizam a boa transição para o
ótimo refrão principal, fechando muito bem o hino e
iniciando a boa sequência de sambas-enredo no CD que vai
até a faixa da Serrinha. NOTA: 9,8. 6 - CUBANGO -
É de se admirar que Pixulé nunca tenha cantado na
verde-e-branco de Niterói até então. O
intérprete é o que mais se identifica com sambas de
temática afro e a agremiação é uma das mais
tradicionais no expediente. E dá show na faixa, como era de se
esperar. A saudosa atriz Chica Xavier recebe uma homenagem que foca
mais na sua ancestralidade, já que incorporou uma mãe de
santo ao longo de sua trajetória e o samba tem como marca a
utilização quase integral do ponto de Obaluaê "Na
Pedra Fria" como estribilho que antecede o falso refrão
principal, algo contextual pra enaltecer a cura que vem do amor preto.
O expediente nos faz remeter ao Salgueiro, que pra 2016 quase escolheu
um concorrente que reproduzia um ponto como refrão central.
É uma obra que no CD aparece bem cadenciada, valorizando a bela
melodia que alia bem dolência e valentia, sendo bonita sem deixar
de lado a imponência. Uma das melhores faixas do disco, de
audição deliciosa, é mais um samba-enredo pra
abrilhantar a riquíssima discografia da Acadêmicos do
Cubango. NOTA: 9,9. 7 - IMPÉRIO DA
TIJUCA
- O grande samba inédito da Série Ouro. Seria
inevitável um enredaço sobre a trajetória da
lendária escola de samba Quilombo, fundada por Candeia nos anos
70, não gerar uma obra-prima com potencial pra se tornar um dos
históricos hinos do Primeiro Império do Samba, de
tradicional discografia. No CD oficial, o samba-enredo ganhou
animação com relação à versão
concorrente, que era um tanto cadenciada, melhorando ainda mais a
lindíssima obra, que tem uma interpretação
ímpar de Daniel Silva. Aliás, enfim o cantor recebe um
samba de qualidade na escola, algo que ela vinha devendo nos
últimos anos. Arrisco dizer que os dois refrães
são os melhores que serão executados na Sapucaí em
2022, nos dois grupos. No principal, lírico e jongueiro, a
melodia impressiona e a virada com o "negritude é lei, é lei" é magnífica. O central do amoladinho é um irresistível samba de roda que "puxa o partido pro mestre versar"
e faz você ouvir e cantarolar sorrindo e com brilho nos olhos.
Sem contar o divertido coro emendando um "puuuuxaaa" na virada.
Magistral! As duas partes mantêm o excelente nível, com
ótimas variações, completando um samba-enredo que honra o legado de Candeia
e seu Quilombo, que exaltou a negritude ao povo em forma de arte. NOTA:
10. 8 - SANTA CRUZ
- Assim como a Cubango na homenagem a Chica Xavier, a Santa Cruz
também foca mais na negritude e na ancestralidade ao transformar
Milton Gonçalves em enredo. A escola mantém a
fórmula que vem revolucionando seus carnavais desde 2019, com
sambas encomendados à mesma parceria, buscando sair da zona de
conforto do Grupo de Acesso e faturando o Estandarte do quesito como em
2020. Aproveitando o embalo, os compositores procuraram inovar,
trazendo um estribilho "Obá obá obara ôôô"
entre o falso refrão (mais um) e a cabeça, algo que no
Grupo Especial procuram evitar. A melodia toda é
fortíssima e marcante, com letra que mostra
indignação em versos inspirados como "Desde cedo aprendi / Que o verbo resistir / Se conjuga no presente"
e uma segunda parte repleta de contracantos, em mais uma
demonstração de que os autores buscaram o tempo todo
fugir do lugar-comum. A citação a "O Bem-Amado" no trecho
é um presente pra quem acompanhou a novela no Globoplay e teve a
honra de acompanhar a saga de Zelão das Asas (um dos principais
personagens de Milton) e sua obsessão em pagar uma promessa
saltando da torre da igreja de Sucupira pra voar. Roninho tem mais uma
atuação segura na condução na obra, com os
belos sambas da Santa Cruz ajudando o intérprete a se firmar
cada vez mais. NOTA: 9,9. 9 - ACADÊMICOS DO SOSSEGO -
O simpático samba da agremiação é aberto
por um discurso de Marcelo Adnet (um dos compositores) que me remete
à Bíblia narrada por Cid Moreira (créditos da
comparação para Carlos Fonseca). Estreante na Sossego,
Nino do
Milênio rapidamente colocou sua cara no samba-enredo, que parece
feito sob medida pra sua voz e estilo. A estrutura apresenta duas
partes com oito versos, sendo estes quase todos extensos e com
problemas de métrica em muitos. Mas a melodia ainda assim flui
bem, destaques para a interessante preparação pro bis
principal com um falso ("Okê okê arô… Odé odé") e os refrães agradáveis. O trocadilho "eu não largo da batalha"
(referente ao bairro de Niterói em que se situa a escola) se
tornou um cartão-de-visitas bem humorado do samba-enredo. NOTA:
9,3. 10 - IMPÉRIO
SERRANO -
Pedrada! A continuidade da iniciativa do conceituado carnavalesco
Leandro Vieira em enaltecer grandes personagens outrora esquecidos de
nossa história chegou na Serrinha em forma de
arrasa-quarteirão. A exaltação a Manoel Henrique
Pereira, o Besouro Mangangá, um dos ícones da capoeira,
proporcionou um hino valentíssimo
do primeiro ao último verso, valorizado por Igor Vianna e o
veterano Nêgo. Dois refrães incríveis, imponentes,
com o "camará Mangangá"
do refrão central apresentando a melodia do toque do berimbau.
Uma levada irresistível do início ao fim,
transições incríveis para os refrães que
geram ótimos efeitos, através do estribilho "filho de faísca é fogo..." e o falso "não chore não meu mano...".
Um samba-enredo vibrante que simboliza uma nova gestão no
Império Serrano e que pode significar uma positiva virada de
chave na agremiação, depois da escola ter sido quase
devastada pela diretoria anterior, que "quebrou pra São Caetano" em demasia. NOTA: 10. 11 - UNIDOS DE
BANGU
- Depois de uma bela sequência no CD, a faixa da Bangu
infelizmente se mostra muito aquém das antecessoras. Por mais
que Thiago Brito tenha feito uma ótima gravação, o
samba em homenagem a Castor de Andrade não empolga, sendo
comprido e morno, com poucos momentos de explosão. A primeira
parte é extensa e retilínea. No refrão do meio que
faz referência ao Bangu Atlético Clube, a qualidade
musical melhora um pouco. A segunda até apresenta trechos
interessantes ao citar a relação com a Mocidade, mas no
entanto o trocadilho que eu temia que aparecesse assim que o enredo foi
anunciado desponta na letra: "cá estou", seguido de um "o samba me 'liga' ao passado",
cuja aspa significa a fundação a LIESA. Por fim, o
refrão principal apresenta na narrativa toda a imponência
de Castor, porém a melodia deste é apenas mediana. Algumas
bossas na segunda passada inseridas pela produção
(sobretudo a batida da verde-e-branco de Padre Miguel) ajudam a tornar
a faixa audível, mas é samba-enredo pro último
pelotão da safra. NOTA: 8,9. 12 - VIGÁRIO
GERAL -
Primeiro samba divulgado pra Sapucaí ainda visando 2021, um
pouco depois do Carnaval 2020 e da decretação da pandemia
mundial. Temtem Jr se consolida como um dos melhores intérpretes
da nova geração, concedendo muita categoria para o
ótimo samba da Vigário. Por mais que a letra seja
extensa, a melodia é excelente e não cai em nenhum
momento, mesmo sendo bastante densa, muito por conta do grandioso
desempenho de Temtem Jr. A participação do coral nos
contracantos também abrilhanta a faixa. Dois ótimos
refrães, com uma
irresistível bossa no central, uma primeira parte envolvente e
uma segunda que inicia pesando uma tonelada, mas que fecha bem a partir
do "sou o fim de todo açoite". A letra é rebuscada, de versos como "pretos novos acuados / feitos ratos de armazém / suplicavam piedade / aos senhores do Vintém" e "aos rebanhos de pastores / que me queiram destruir / da estiva sou patente / negro ruim de desistir". É o Vigário sentinela figurando no pelotão de frente! NOTA: 9,7. 13 - UNIDOS DA
PONTE -
Sandra de Sá assina o samba da Ponte em louvor à Santa
Dulce dos Pobres. Talvez por isso, o intérprete Charles Silva,
numa gravação de muita personalidade, até encarne
a famosa cantora, com sua voz em muitos momentos se assemelhando a
dela. O registro repleto de energia do jovem cantor torna interessante
a audição da faixa, pois o desempenho busca mascarar as
limitações do samba. Assim como o da Ilha sobre a
Padroeira do Brasil, a letra é em forma de oração,
mas a melodia busca mesclar a dolência com a valentia.
Entretanto, poucas partes chamam atenção numa obra quase
toda retilínea, a não ser a explosão dos
últimos versos da segunda e a transição para o
refrão principal. E o eu-lírico não define se
usa a segunda ou a terceira pessoa, pois um "nos dê SUA proteção" aparece no último bis, com o restante se referindo à Santa como "tua". Ah, a aspa em "a 'Ponte" entre o divino e a devoção" ficou um tanto forçada. NOTA: 9,0. 14 - EM CIMA DA HORA - De volta depois de sete anos à Sapucaí, a azul-e-branco de Cavalcanti também reencontra Ciganerey, que empunhou o microfone na desastrosa apresentação de 2015. E sua experiência tira de letra o clássico samba que embalou a Em Cima da Hora originalmente em 1984, no primeiro desfile da Passarela do Samba, uma reedição muito pedida pelos torcedores da tradicional agremiação. "33, Destino D. Pedro II" é uma aula de coloquialismo numa letra de samba-enredo, utilizado pra ser fiel ao contexto que é narrar o cotidiano do suburbano que diariamente encara o trem da Central do Brasil. Pra que florear em termo erudito "a razão do dia-a-dia pra ganhar o pão"? A narrativa simples e eficiente situa quem ouve a letra dentro do famoso 33 desde a estação D. Pedro até seu destino. E você vai se envolvendo com a lida diária de quem tenta chegar a tempo de bater cartão e tem que enfrentar o patrão (que mora logo ali) mal-humorado, enquanto aparece a menina de laço de fita batucando na marmita, o jogo de ronda, vendedores, cartomantes, repentistas, trombadinhas, o paquera, entre outras figuras e situações pitorescas. Quase 40 anos depois, pouca coisa mudou e o trabalhador segue aturando o trem lotado. O samba apresenta uma estrutura muito distinta dos atuais. Uma cabeça marcante e classuda, curtinha, que serve de transição para o único refrão, de linguagem bem informal ("não é mole, não"), pra segunda desenvolver os acontecimentos do célebre trem, impulsionada por estribilhos (repetições de um único verso) característicos nos anos 70 e 80, em melodia envolvente que te conquista a cada audição. Que a querida Em Cima da Hora não desperdice essa nova chance de uma sequência na Sapucaí. E bacana Ciganerey manter, no começo da segunda passada, o caco "vamos que vamos", utilizado com frequência pelo intérprete original do samba, César do Valle. NOTA: 10. 15 - LINS IMPERIAL -
Fechando muito bem o ótimo CD, a alegria do samba em homenagem a
Mussum que marca a volta da Lins à Sapucaí depois de 11
anos (estava ausente do Segundo Grupo desde 2008). A simpatia da obra
te contagia de imediato, sendo carismática tal qual o saudoso
humorista e sambista trapalhão. Os jovens Rafael Tinguinha e
Lucas Donato transmitem segurança e entrosamento para o
samba-enredo, todo pra cima, leve e funcional, sem tantas
inovações melódicas, mas de audição
muito agradável. Destaco o balanço do refrão do
meio, que possibilita uma bossa mangueirense na segunda passada da
faixa. Hino bem propício pra quem vai abrir a segunda noite de
desfiles. NOTA: 9,4. |
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