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Os sambas de 2022 - Série Ouro por Cláudio Carvalho

Os sambas de 2022 - Série Ouro por Cláudio Carvalho

As avaliações e notas referidas apresentam critérios distintos dos utilizados pelo júri oficial, em nada relacionados aos referidos desempenhos que as obras virão a ter no desfile

1 - UNIDOS DE PADRE MIGUEL - Após fazer um desfile histórico (e trágico) sobre Ossain, o Boi Vermelho de Padre Miguel traz Iroko, outro orixá pouco conhecido de quem não é iniciado nas religiões de matriz africana. O samba, que também cita a Yami Oxorongá (guardiãs do pássaro que Oxossi matou com uma flecha só), além de envolvente, mescla bem termos em yorubá e português, consagrando a escola como uma referência nessa linha de enredos e composições. Nota: 10

2 - PORTO DA PEDRA - A escola de São Gonçalo parece disposta a reencontrar sua fase áurea de sambas-enredo, muitos deles defendidos por Wantuir, que canta o alusivo no início da faixa. O enredo e o samba sobre Mãe Stella de Oxossi são verdadeiros achados. A segunda parte do samba, apesar de pequena e com rimas repetitivas, não compromete o conjunto da obra. Nota: 10

3 - ESTÁCIO - No embalo dos últimos títulos conquistados pelo Flamengo, o Leão reedita seu samba de 1995, ano do centenário do clube. Apesar dos esforços da escola para não apresentar um hino datado, sobretudo com a mudança da letra em "parabéns pra essa galera campeã da nova era'', o desgaste da obra é inevitável. O grito de "Uh, tererê", adaptação do hit noventista "Whoomp There it Is", não é entoado nas arquibancadas há décadas. Para além da reedição em si, o samba de David Corrêa tem alguns, digamos, problemas, como o início, que não diz nada do enredo (trata-se de uma livre adaptação de um samba que o próprio David perdeu na Portela em 1977), e a expressão Fla-Vas, que já não era usada pela mídia futebolística da época. Vale mais como homenagem ao próprio David e a Dominguinhos do Estácio, que nos deixaram recentemente. Nota: 9.8

4 - UNIÃO DA ILHA - Após anunciar duas reedições e voltar atrás, a Ilha optou por um enredo sobre Nossa Senhora Aparecida, que gerou um "samba-prece", expediente pouco funcional, como pudemos ver em Unidos da Tijuca 2019. Esse samba, pelo menos, tem o mérito de apresentar uma melodia mais valente, mas está longe ainda do padrão de qualidade estabelecido pela escola nos anos 1970, 80 e 90, quando o pai do atual intérprete defendia o microfone principal. Nota: 9.8

5 - INOCENTES DE BELFORD ROXO - Além do competente trio de "tenores" no carro de som, a caçulinha da Baixada mantém a qualidade de seus sambas recentes em 2022, com uma obra consistente, que faz referência a Iansã Igbalé ou Iansã do Balé, a senhora dos Eguns, espíritos dos nossos ancestrais. Talvez o samba deva ser cantado um tom acima, para não correr o risco de não empolgar na avenida. Nota: 9.9

6 - CUBANGO - Uma das poucas escolas a ter samba para 2021, uma vez que mudou seu enredo para homenagear a grande Chica Xavier, a verde e branca de Niterói traz um hino cujos primeiros versos são muito parecidos melodicamente com os da obra citada. A despeito disso, trata-se de um belo samba, abrilhantado pela interpretação de Pixulé, que sabe Deus porque ainda não teve uma sequência no desfile principal do Rio de Janeiro. A referência a Obaluaê, padroeiro da escola, aparece no verso "sou Cubango de atotô, axé!' e no trecho do ponto cantado de umbanda "Ele é curador", mencionado na letra. Nota:10

7 - IMPÉRIO DA TIJUCA - O grande samba da safra. Vencedor num concurso que teve 56 concorrentes, recorde na história da agremiação, a obra de Paulinho Bandolim, Guilherme Sá e Edgar Filho se destaca pela beleza e simplicidade, sobretudo nos refrães da cabeça, com melodia de jongo, e do meio, inspirado numa cena do documentário "Partido Alto", sobre o homenageado Candeia e sua escola de samba Quilombo. Havia uma apreensão quanto ao encaixe da melodia na voz do Intérprete Daniel Silva, mas o samba só cresceu na gravação. É pra dar a volta na Praça da Apoteose e retornar pra pista cantando. Nota: 10

8 - SANTA CRUZ - Repetindo o sucesso do carnaval anterior, a escola da Zona Oeste faz nova reverência a uma personalidade negra, o querido Milton Gonçalves. Assim como em 2020, o samba é diferenciado, seja em sua estrutura, que foge ao padrão 8-4-8-4, seja em passagens geniais, como "Ê saudade grande feito monte santo / Santifica o filho, mais um rei do Congo" e "Um santo, a cruz da liberdade / A Santa Cruz é liberdade". O "quase estribilho" final "Obá obá obára ôôô...", depois do refrão de baixo, é a cereja do bolo. Nota 10.

9 - ACADÊMICOS DO SOSSEGO - O samba, que conta com a assinatura "in memorian" do saudoso Diego Tavares, vitima da COVID-19, e do ator Marcelo Adnet, que lê o texto no início da faixa, tem tiradas interessantes, como "eu não largo da batalha, Sossego", em referência ao local onde surgiu a escola. À parte disso, é uma obra cuja letra não empolga e a melodia não consegue fugir de determinados clichês comuns a sambas de temática indígena. Nota: 9.8

10 - IMPÉRIO SERRANO - Após fazer o pior desfile de sua história em 2020, o Império Serrano parece disposto a se reestruturar na atual gestão, o que se reflete na escolha do carnavalesco, do enredo e do samba. Manoel Henrique Pereira, o Besouro Mangangá, é homenageado com um hino valente, à altura do cancioneiro da escola da Serrinha. O trecho entre "No tucum do fim da vida" e "Idalina força bruta" não é de fácil execução, mas não chega a comprometer. Destaque para os dois refrães, e para o pré-refrão do meio que, sem sair do enredo, cita o atual mestre de bateria da escola e seu pai, que também já ocupou o posto. Nota: 10

11 - UNIDOS DE BANGU - Talvez esse seja o samba que mais destoe da bela safra de 2022. Politicamente correto e muito didático, traduz muito pouco em letra e melodia a malandragem do homenageado, e contém passagens infelizes, como "Cá estou" (homofonia de Castor) e "o samba me 'liga' ao passado", referência à criação da LIESA. O destaque positivo fica para a força do refrão principal. Nota: 9.7

12 - VIGÁRIO GERAL - O grande mérito desse samba, muito bem interpretado por Tem Tem Jr, talvez seja descrever a Pequena África e a Pedra do Sal para além da idéia festiva da Casa da Tia Ciata, toda vez que a região é mencionada. A poesia contundente e certeira toca em feridas ainda não cicatrizadas. A melodia é valente, quase em forma de lamento. A segunda parte, inspiradíssima, arrepia. Um samba que já nasce clássico. Nota: 10

13 - UNIDOS DA PONTE - A obra encomendada a Sandra de Sá e parceiros, em homenagem à recém-canonizada Santa Dulce dos Pobres, tem passagens pouco inspiradas como "a 'Ponte' entre o divino e a devoção". Além disso, apresenta os já mencionados problemas dos "samba-prece": letra e melodia que destoam negativamente daquilo que se espera do gênero, seja pelo excesso de candura, seja pela falta de ginga. Nota: 9.8

14 - EM CIMA DA HORA - Em que pese o fato de ser uma reedição, trata-se de uma obra-prima atual e necessária, pois tudo que a letra descreve ainda faz parte do cotidiano do carioca, sobretudo no contexto político e sanitário do momento. Escutar esse samba no desfile que abrirá o primeiro carnaval pós-pandemia será literalmente música para os ouvidos. Nota: 10

15 - LINS IMPERIAL - Trata-se de um bom samba, que talvez peque pelo excesso de didatismo em detrimento à irreverência do homenageado, que praticamente só aparece no refrão de baixo, onde não fica claro a que comunidade se refere a letra. Nota: 9.9

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