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Os sambas de 2017 - Grupo Especial (São Paulo) por Bruno Malta
Os sambas de 2017 - Grupo Especial (São Paulo) por Bruno Malta


Bruno Malta é colunista do site
Ouro de Tolo

Pelo segundo ano seguido, analiso os sambas de enredo do Carnaval Paulistano para o Sambario. Mais uma vez, agradeço o convite do Marco Maciel, editor chefe do site. É importante destacar o crédito que o Marco novamente deposita em mim. Sem mais delongas, vamos analisar os 22 sambas que desfilarão no Anhembi entre Sexta e Domingo nos grupos Especial e de Acesso. 

As avaliações do texto abaixo em nada tem relação com os critérios de julgamento utilizados pela Liga-SP e nem relação com o julgamento oficial. 

Gravação do CD: Outra vez mais de alto nível. A RW Studios – produtora do CD – dá um show na realização do CD. O disco é padronizado, mas não se torna repetitivo. Cada faixa tem seu estilo respeitando as características da escola e do samba. A sensação de “Ao Vivo” mesmo em estúdio é preservado, além das brilhantes participações inseridas ao longo das faixas. Por tudo isso, fica difícil não elogiar a produção. O único senão de tudo isso é a manutenção da limitação em no máximo 5:37 por faixa, onde alguns sambas não tem duas passadas completas. Nota: 9,9

Grupo Especial

Império de Casa Verde: “Meu maior tesouro é a vida”. - A atual campeã do Carnaval num primeiro momento me decepcionou, mas foi me conquistando. O tema sobre a paz rendeu um dos sambas mais interessantes do ano. A letra, embora muito previsível, é bem competente. Entretanto, isso não livra ela das rimas de baixo nível na primeira parte como podemos ver nos versos 4 e 5, 6 e 7 e 8 e 9. A melodia tem problemas, mas brilha no verso 5 com muita beleza no espaço cedido para a bossa. No refrão de meio, o samba continua com as rimas óbvias como nos versos 2 e 4 com eles terminando em “ar”, mas tem na melodia de boa qualidade uma compensação. Na segunda parte, a letra melhora e a melodia acompanha igualmente com muita competência funcionando muito bem. Só que ao chegar ao refrão principal, o samba se perde totalmente no primeiro verso ao dizer que a Casa Verde é paixão e amor, onde o sentimento de amor à escola se torna redundante ao ser repetido mais de uma vez. Além disso, a rima em “al” dos versos 2 e 4 é um exemplo de previsibilidade que poderia ser evitado. Enfim, é um samba que tem problemas sim, mas suas qualidades devem agregar simpatizantes. A gravação ficou muito agradável, especialmente pelo ótimo trabalho da bateria e as crianças inseridas na faixa. Carlos Júnior brilhou como sempre. Nota: 9,8

Acadêmicos do Tatuapé: “Abraça a liberdade, a igualdade em comunhão”. - Samba Afro é sempre um samba para se ouvir com atenção, portanto, o samba da Tatuapé não foge a essa regra. O enredo sobre o país africano Zimbábue é cantado de maneira poética sem apelar muito para o lugar-comum na letra.  O início do samba é forte já citando o termo “Negra mãe da humanidade” com muita propriedade. No verso seguinte, no entanto, o primeiro ponto baixo da obra; rima óbvia entre amor no verso 4 e dor no verso 6. Entretanto, no verso 7 a beleza já é retomada e assim vai até o ótimo refrão de meio que é sem dúvida nenhuma o ponto alto do samba. Com muita beleza e gingado na melodia, o refrão tem como destaque o verso 4 onde diz: “Na Fé e na religião...somos todos irmãos”. Na segunda parte, o samba vai muito bem obrigado do verso 1 ao 5 onde a letra e a melodia funcionam perfeitamente. Só que no verso seguinte há o verdadeiro problema da obra. Na tentativa de uma mudança melódica, o samba dá uma guinada complicada na melodia da virada do verso 5 para o 6. Passado isso, os últimos versos da segunda parte preparam bem para o ótimo refrão principal que funciona com perfeição exaltando a escola no momento certo. É mais um belíssimo samba que somente pelo alto nível da safra fica fora do meu top-5. Celsinho Mody que contou com o luxuoso auxílio de Lêci Brandão e Dominguinhos do Estácio brilha mais uma vez fazendo excelente gravação. Nota: 9,9

Mocidade Alegre: “Um jubileu de ouro, uma eterna paixão”. - Com seu melhor samba desde 2012, a Morada do Samba vem com muita emoção para o desfile de seu cinquentenário e isso fica refletido claramente em seu samba-enredo. Na proposta do samba, Seo Juárez, baluarte principal da escola, é o narrador da viagem que logo nos versos iniciais pede passagem se dizendo “um bom malandro na essência de um menino” abrindo caminho para a descrição da história. Com qualidade poética, a narrativa é apresentada com correção nos ideais propostos. Os setores que falam de Vitória; Luta; Força e União são bem apresentados até os versos 4 e 5 da segunda parte que como no enredo se perde na citação a Zumbi dos Palmares e sua Kizomba ficando assim alheios ao resto da história e fornecendo ao samba o seu pior trecho na letra contrastado com a excelente bossa da segunda passada. No entanto, no verso seguinte, a beleza e a emoção são retomadas com brilhantismo no momento em que a narrativa fala de escola. Com muita emoção, “Seo Juárez” conta a alegria de ver o seu cinquentenário da escola na avenida encerrando com muita beleza o samba. A melodia tem belíssimos momentos como no refrão de meio e no trecho final da segunda parte servindo como um bom pano de fundo para a boa letra. Destaco também a emoção da abertura na voz da presidente Solange que exalta os baluartes e a comunidade. Tiganá e Ito Melodia cantaram de maneira bastante correta agregando potencial a obra. Nota: 9,9

Vai-Vai: “Abra o caminho pro Vai-Vai passar...” - Se a safra de São Paulo tem seu melhor conjunto desde 2012 e têm obras dos mais diversos estilos, o melhor samba do ano é de uma tradicional produtora de obras fantásticas. A escola do povo vem munida do melhor samba do ano e do melhor samba do Carnaval de São Paulo desde 2011. Cantando Mãe Menininha dos Gantois, a Saracura tem um samba inspiradíssimo, com beleza melódica e muita, mas muita força em sua letra. Logo de cara, o Vai-Vai pede licença para passar e a partir daí pede energia e força dos orixás para contar a história da Ialorixá mais bonita. Com beleza infinita na letra e a melodia irresistível, o samba chega ao excelente refrão de meio que exalta Xangô e Ogum com muita simplicidade e beleza. Após isso, chegamos à segunda parte que tem um refrão inserido nela. O verso “Iaô o Iaô... que lindo arco-íris que Oxumaré pintou” é o mais lindo do ano. Devido sua força virou refrão após a escolha e brilha no meio de uma segunda parte brilhante. Os versos finais são perfeitos e preparam para o espetacular refrão principal que não apela para nenhum chavão ou clichê exaltando a escola do povo de maneira subjetiva e incrível. Impossível não se emocionar. Mais uma vez, a escola do povo tem o grande samba do Carnaval. Wander Pires que teve o auxílio de Grazzi Brasil brilhou na gravação evitando seus tradicionais cacos. Nota: 10,0

Unidos de Vila Maria: “Não deixe de exaltar a padroeira”. - Comemorando os 300 anos de Nossa Senhora Aparecida, a Vila Maria vem cheia de fé para tentar o título do Carnaval. Com muita beleza poética num tema popular, a escola do Jardim Japão está muito bem servida de samba-enredo. O samba começa como uma reza pedindo aos céus para iluminar essa jornada e a partir daí conta com muita beleza a história da santa pecando somente na rima dos versos 8 e 10 da primeira parte. No refrão de meio, a repetição de “Oh, Senhora” causa um prejuízo mínimo na melodia que não chega a afetar a letra que segue em alto nível na segunda parte. Neste trecho, destaco os versos 6, 7 e 8 que são de beleza ímpar. No entanto, a melodia por conta da extensão do trecho fica um tanto cansativa e só se recupera com força nos versos finais que deságuam no excelente refrão principal que fecha o samba ou a oração, como preferirem. Por conta de pequenas falhas, a Vila Maria não terá seu samba no meu top-3 do Carnaval, mas que é um bom samba, é sim. Clóvis Pê se não grava mal, também não brilha. Nota: 9,8

Dragões da Real: “Sou nordestino arretado sim sinhô”. - Que sambaço! Um dos grandes sambas do ano. A Dragões da Real mudou sua linha de enredo e acabou encontrando junto do novo estilo, um samba que é o melhor de sua história. O samba que canta a música Asa Branca tem na melodia o seu ponto forte. Sem ser enjoativa, a melodia trabalha perfeitamente cada nuance do enredo e valoriza a letra que se não é brilhante é extremamente bem feita. A letra se propõe a contar o enredo com funcionalidade mostrando cada ponto do enredo, do lamento do início a alegria de ver a Dragões da Real cantando o tema no refrão principal. Destaco positivamente na letra os versos 4, 5 e 6 da primeira parte onde a beleza poética mostra claramente o momento de tristeza que vive o enredo. O refrão de meio é belíssimo e exalta a viagem do migrante de maneira sublime. Na segunda parte, destaco positivamente os versos 6 e 7 que mostram com perfeição o desejo de ver o renascimento da plantação no sertão, além disso, friso que a segunda parte mostra o “lamento da saudade” com muita poesia que torna o trecho muito bonito. O único senão do samba, infelizmente está na segunda parte na rima entre os versos 1 e 3 que apela para o lugar comum. Entretanto, ressalto a felicidade da composição e a certeza de que o samba está entre os melhores do próximo ano. René Sobral, que teve Fágner ao seu lado abrilhantando a gravação, fez mais uma gravação de altíssimo nível. Excelente! Nota: 10,0

Gaviões da Fiel: “Tenho a garra de um gavião, sou retrato da nação”. - A Torcida que Samba tem um samba que presa pela funcionalidade e que poderia ter sido mais bem trabalhado. Com um dos grandes enredos deste o ano, o samba também é de boa qualidade, mas deixa a desejar. Contando a história de um migrante, a letra começa com um lindo verso que destaca o sonho do migrante em mudar o seu destino em São Paulo e a primeira parte segue nesta linha de maneira belíssima. Com muita beleza, destaco os excelentes versos 4 e 5 que emocionam. Chegando ao refrão de meio, o samba cai um pouco de nível com a rima “forte” e “sorte” e “Gavião” e “nação” que são óbvias. No entanto, na segunda parte, a beleza do samba volta ao seu nível máximo com destaque para os versos que vão de 1 a 5 que exaltam o migrante e a cidade com muita beleza e poesia. O refrão principal que já não era brilhante teve sua melodia mexida de maneira equivocada o prejudicando ainda mais, porém, ele segue superior ao refrão de meio. No geral, o samba da alvinegra é de bom nível, mas fica a impressão de que poderia ser ainda melhor se os dois refrães fossem mais bem trabalhados e se a melodia não fosse tão comum. Ernesto Teixeira não foi mal, mas fica longe de seus melhores dias.  Nota: 9,7

Águia de Ouro: “Como faz Luísa Mell, defendam todos os animais”. - É o samba com mais problemas do Grupo Especial paulistano. Com um enredo bem problemático, a composição feita internamente não arrebatou o povo do samba causando inclusive muitas polêmicas. Sem entrar no mérito das polêmicas e analisando só o samba, as críticas são bem justas. Com um tema que não é nada brilhante, o samba tem muitos problemas de melodia e, especialmente, de letra. A primeira parte não brilha e tem uma letra muito vaga fazendo com que a narração fique comprometida. No refrão de meio, o melhor trecho do samba. Sem brilhar na letra, a melodia mais alegre impulsiona o canto do samba. Na segunda parte, novamente vemos uma letra vaga e o pior trecho que eu já vi num samba-enredo no Grupo Especial de São Paulo. O verso “Como faz Luiza Mell defendam todos os animais” é das coisas mais inacreditáveis da história do gênero. Nada, absolutamente nada contra a apresentadora que tem sua história de defesa dos animais devidamente reconhecida como embaixadora do enredo. Entretanto, citá-la num samba-enredo vai além do limite do aceitável. Simplesmente inacreditável. Após o verso, o samba continua numa narração completamente sem sentido chegando ao refrão principal que se não é horrível, também não chega a ser bom, passando sem brilho. No contexto geral, o Águia de Ouro encerrará a Sexta-feira de Carnaval com um samba que é o mais decepcionante de uma boa safra. Douglinhas Aguiar e Fernandinho SP não brilham e nem decepcionam, levando a obra de maneira correta. Nota: 9,2

Nenê de Vila Matilde: “É o lado leste sacudindo a avenida”. - Nem bom e nem ruim. Podemos assim definir o samba da Nenê de Vila Matilde sobre Curitiba. Com uma melodia bem agradável, o samba não faz feio ao cantar a história da capital paranaense e sofre bastante por conta da complexidade do tema. Como uma lenda foi criada para cantar a história da cidade, a letra tenta explorar o máximo possível do tema. Na primeira parte, o tema é cantado de maneira correta abusando, claro, dos clichês na letra. A rima dos versos 9 e 10 são o ponto baixo dessa estrofe destacando pelo lado positivo os versos 5 e 6. Chegando ao refrão de meio, temos o destaque do samba. Com uma melodia envolvente e uma letra adequada, o refrão funciona perfeitamente como conectivo para a segunda parte. Na segunda parte, mais longa, a estrofe funciona melhor que na primeira, mas não brilha. Com rimas pobres como nos versos 3 e 4 e 9 e 10, o samba peca pela falta de ousadia e acaba tendo a melodia como destaque novamente. No refrão principal temos outro bom momento do samba. Mesmo sem ser fora do comum, o refrão funciona bem e serve bem a escola. Dito isso, digo que o samba apesar de mediano tem bons momentos, como vemos claramente nos dois refrães. Agnaldo Amaral mostrou toda a sua competência com ótima gravação. Nota: 9,6

Acadêmicos do Tucuruvi: “Sou a luz que ilumina a cidade”. - Samba bem subestimado nesse ano. Com muita qualidade de letra e melodia totalmente alegre, a Tucuruvi tem um dos sambas mais agradáveis do próximo ano. Apesar da qualidade do samba, o início do samba tem problemas ao iniciar a história com muita seriedade. Isso, entretanto, já muda a partir do verso 5 da primeira parte onde vemos a primeira mudança melódica de boa qualidade onde a melodia é trabalhada para desaguar no excelente refrão de meio que já muda a temática da letra para uma linguagem mais popular. Isso é intensificado na segunda parte onde a letra fica mais didática e mais interessante, destaco positivamente o verso 7. Só que no verso seguinte vem à rima mais pobre do samba, rima esta que é Cidade e Comunidade que é complementada negativamente com Imortal e Carnaval. A melodia pelo contrário, cresce e abre passagem para o bom refrão principal que se não é genial, funciona muito bem. É mais um samba que poderia ter melhor explorado, mas que inegavelmente não deixa de ser um bom samba. Alex Soares levou muito bem a obra, agregando a composição. Nota: 9,8

Rosas de Ouro: “A Roseira põe a mesa pra você...”. - Tentando se recuperar do péssimo resultado de 2016, a Roseira apostou num enredo bastante rico em detalhes e que não se explicou perfeitamente no samba ficando extremamente subjetivo e prejudicando a fácil leitura. O samba tem em sua primeira parte uma letra óbvia que rende rimas óbvias e prejudica muito a beleza do samba. São seis versos encerrados em “Ir”, “Er” e “ar”. Chegando ao refrão de meio temos o melhor momento do samba que é proporcionado pela ótima melodia. Já a letra, mais uma vez não brilha. Na segunda parte, mais uma repetição do que aconteceu no samba todo. A letra não emplaca, não encanta. Com soluções previsíveis, a letra segue por todo o samba o seu jeito óbvio acompanhado de uma melodia que também não prejudica e nem brilha – exceto no refrão de meio – fazendo assim que o samba chegue ao refrão principal sem acontecer. Portanto, apesar do samba não ter nenhum grande problema como o samba do Águia de Ouro, o samba não acontece e torna a audição extremamente arrastada. Isso faz com que a avaliação seja de um samba bem aquém do esperado. Royce do Cavaco após 23 anos volta a azul e rosa e grava com a competência habitual. Nota: 9,5

Unidos do Peruche: “Eu sou Peruche, berço território africano”. - Com certeza um dos grandes sambas deste ano. Cantando a cidade mais africana do Brasil, a Filial do Samba vem com um samba de respeito. A letra começa brilhantemente já explorando o fato de que Salvador é a origem da mistura brasileira. A partir daí, o samba vai cantando a formação do povo e sua fé com de maneira belíssima. Destaque absoluto para o refrão de meio onde o verso “Me leva cidade d’Oxum, me leva nos braços da paz” é de uma beleza rara. Na segunda parte, o samba canta a alegria do povo baiano com competência fazendo uma linda relação com a história da Filial do Samba ao denominar a verde e amarelo como “berço território africano”. Golaço. A partir daí, o refrão principal é o momento onde o samba menos brilha, com uma rima previsível (Passar/Girar). Por conta disso, o samba não ganha a nota 10. Uma pena, mas que nada influencia no fato de que a Peruche pelo terceiro ano seguido tem um dos grandes sambas do Carnaval de São Paulo. Toninho Penteado a cada ano que passa grava melhor. Muito bem novamente. Nota: 9,9

Mancha Verde: “Muito prazer, Zé do Brasil”. - De volta ao seu verdadeiro lugar, a alviverde vem com o samba que não está à altura de sua belíssima discografia desde seu primeiro acesso em 2004. Não que o samba deste ano seja ruim, mas ele está abaixo do padrão alto que a Mancha acostumou os sambistas. Cantando a história dos “Zés do Brasil”, a letra não brilha e tem momentos previsíveis como nas rimas terminadas em ar nos versos 6, 8 e 9 da primeira parte. Chegando ao refrão de meio, o samba também conta com problemas, agora na melodia, onde por várias vezes, os desenhos melódicos são de tendência de arrastamento especialmente nos dois primeiros versos. Na segunda parte, o samba também não brilha e tem problemas na letra como nos versos 3, 9 e 10. A melodia, por outro lado evolui e se prepara para brilhar no refrão principal que é de longe o melhor trecho do samba. Com força e uma letra inspirada, o refrão mostra o melhor do enredo unindo muito bem Mancha Verde e os Zés. Ponto alto. Não dá pra dizer que o samba é fraco, mas é decepcionante se tratando de Mancha Verde. É um samba para a parte debaixo da tabela. Freddy Vianna se destaca valorizando muito a obra. Nota: 9,6

Tom Maior: “Tão Brasileira é a festa popular”. - Voltando ao Grupo Especial, a Tom Maior tem um bom samba, no entanto, isso não exime o samba de alguns problemas. A letra apesar de contar com boa didática o enredo da escola, tem alguns momentos previsíveis. Isso fica claro no refrão principal onde a escola é exaltada de maneira óbvia. Outro ponto problemático pra mim está na rima dos versos 9 e 10 onde a previsibilidade volta a acontecer. Entretanto, não só de problemas vive a letra do samba. Destaco positivamente a belíssima letra da segunda parte que valoriza de maneira poética os feitos da homenageada. Um belíssimo momento. No entanto, o grande senão do samba está na melodia. Com pouquíssimas nuances, o samba tende ao arrastamento precisando muito de um bom trabalho de Harmonia e Bateria para funcionar. No geral, vejo a Tom Maior como um exemplo de samba bom para se ouvir, mas não exatamente para a escola. Vejamos como esse samba funcionará nos ensaios técnicos para termos uma ideia melhor sobre seu desempenho no desfile. Na faixa do CD, Tom 30 tem o melhor desempenho de uma bateria no CD ajudando e muito o intérprete Bruno Ribas a ter mais uma excelente gravação. Nota: 9,8

Grupo de Acesso

Encerrados os trabalhos de análise do Grupo Especial, vamos analisar as oito obras que estarão presentes no Domingo de Carnaval no Anhembi.

Pérola Negra: “Comunidade que impõe respeito”. – Buscando retornar ao Grupo Especial, a Jóia Rara do Samba tem um samba bem que acaba sendo confuso devido à complexidade de seu enredo. Na primeira parte, as rimas não são óbvias excetuando a última, mas o samba é muito confuso. Você acaba não conseguindo saber do que o tema trata apenas pelo samba. Chegando ao refrão de meio, o samba acaba tendo rimas pobres terminadas em “ão” e “ei” deixando o nível da letra pior. A melodia, por outro lado, não faz feio em momento nenhum. Quando vamos para a segunda parte, a confusão piora, o samba segue dizer pra onde vai ou aonde quer chegar e a letra segue um padrão de boas rimas com rimas horríveis. No refrão principal, o samba exalta a escola de maneira clichê o que acaba dando o tom do samba em geral. Juninho Branco, mesmo com todos os problemas do samba, se destaca positivamente dando um show na gravação. Nota: 9,6

X-9 Paulistana: “Que tudo volta ao seu lugar”. – Querendo voltar ao seu lugar, a escola da Parada Inglesa resolveu homenagear Inos Corradin e tem um samba que, digamos, é curioso. A composição na primeira parte dá o tom de samba de homenagem contando de maneira simplória a vida do artista e o exaltando como um “semideus” como pede o enredo. No refrão de meio, a melodia brilha dado um toque especial ao trecho que na letra segue a tônica do restante do samba, sendo apenas funcional. Na segunda parte, o homenageado e a narrativa chegam ao Brasil, onde ele se tornou um “ser natural” que o “Brasil consagrou”. A letra segue o padrão imposto sendo apenas correta e sem brilhar, a melodia funciona como acompanhamento. No refrão principal, a escola se exalta e exalta o homenageado de maneira comum como é o resto do samba. Darlan Alves, estreante na escola, gravou de maneira correta. Nota: 9,6

Independente Tricolor: Sou Independente, pode apostar!” – Lutando chegar ao Grupo Especial, a tricolor conta com um samba dos mais competentes do próximo ano. Se propondo a servir ao enredo, a composição conta com uma letra descritiva que serve bem ao que a escola quer. A letra na primeira parte não peca nas rimas, ficando como destaque apenas os versos 9 e 10. A melodia acompanha bem, com bastante funcionalidade e variações interessantes. No refrão de meio, o samba brilha. Mesmo sem ser espetacular, letra e melodia vivem grande momento com um casamento perfeito. Na segunda parte, o samba segue o ritmo da funcionalidade, embora, com menos competência. As rimas dos versos 2, 3, 5, 7 e 9 e 10 não são das mais inspiradas e jogam o nível da letra para um nível inferior ao visto na primeira parte. A melodia, por outro lado, segue em bom nível. No refrão principal, o samba tem outro bom momento e termina com os interessantes versos “Um novo tempo há de florescer e quem viver, verá!” que podem anunciar sua chegada ao Especial. No geral, é um samba bem interessante que servirá bem como fundo musical para a escola. Pê Santana e Rafael Pinah fizeram boa gravação. Nota: 9,8

Camisa Verde e Branco: “Sou Barra-Funda, sou samba no pé” – O Camisa Verde e Branco resolveu reeditar seu histórico samba sobre João Cândido apresentado originalmente em 2003. Embora, com as outras duas reedições, o samba não seja o melhor do grupo, é, certamente, o que mais me agrada. De cara, o samba fala com orgulho de contar a história de João Cândido que com a narrativa em primeira pessoa fica extremamente emocionante. A composição mostra com muita felicidade tudo que o enredo se propõe a falar: A infância, a chegada a Marinha, o sofrimento, a revolta da Chibata, a falsa anistia... Enfim, um primor de narrativa. Na segunda parte, o samba nos versos finais exalta a luta de João Cândido em nome do povo brasileiro desaguando no refrão principal que com perfeição diz que João é Barra Funda, é samba no pé. Brilhante. Thiago Brito faz gravação bem competente. Nota: 10,0

Imperador do Ipiranga: “Abençoado é o teu chão, meus parabéns!”. Mais uma reedição de qualidade. O melhor samba da história da Imperador do Ipiranga volta ao Anhembi após 13 anos de sua exibição original. O samba conta a história do bairro do Ipiranga de maneira brilhante. A parte histórica do enredo é contada na primeira parte que brilha com os versos: “Meus olhos se perderam no horizonte, esse quadro é o cenário que pintei pro Carnaval” que servem de conectivo perfeito para o ótimo refrão de meio que pedem para irmos ver a manifestação de exaltação do bairro. Coisa linda. Na segunda parte, vemos uma exaltação propriamente dita do bairro onde a narrativa fala de arquiteturas, palcos geniais e dos fatos cantados em verso e prosa sobre o bairro. Um espetáculo novamente. No fim da segunda parte, o samba abre espaço para parabenizar aquele chão abençoado.  (No ano original da apresentação do samba, São Paulo fazia 450 anos e foi homenageada com um Carnaval Temático). Chegando ao refrão principal, o samba termina dizendo que o canto levanta poeira e o samba é a bandeira. Um fim arrebatador para um samba não menos arrebatador. Adeílton Almeida dá um show particular na gravação. Além de cantar com extrema competência o samba, brilha com seus cacos impagáveis. Um show à parte. Nota: 10,0

Leandro de Itaquera: “Axé pra quem tem fé e quem não tem... Axé para você também!”- Um clássico. Um dos maiores sambas da história do Carnaval Paulistano volta à pista após 28 anos. O samba é um absurdo de tão bom. A composição tem uma estrutura totalmente diferente do que estamos acostumados, começa com um “ôôôô eu vim de longe cruzei mares quem diria…” que na verdade é um refrão inserido de cara na cabeça do samba. A partir daí temos uma estrofe que é acompanhada de dois novos refrães espetaculares que servem de conectivo para o início da “segunda parte” que tem novamente três versos antecedendo dois refrães colados. A estrutura é espetacular e diferente do rotineiro. Sendo: Refrão + três versos + refrães + três versos + refrães. O que impressiona é que você canta o samba e não sente os refrães ou as viradas melódicas dos conectivos por conta da construção espetacular na melodia. O samba acaba se tornando uma audição despretensiosa e maravilhosa. Por tudo isso, é simplesmente impossível não considerar o samba da Leandro de Itaquera o mais impressionante do ano. Fantástico. Daniel Collête estreando na escola da Zona Leste dá um show na gravação pelo domínio impressionante do samba. Espetacular. Nota: 10,0.

Colorado do Brás: É muito bom, é bom demais!”. – Um dos sambas que mais gosto no ano é o melhor dos inéditos no grupo. O samba da escola do bairro do Brás é daqueles que grudam na cabeça à medida que as audições vão acontecendo. Na primeira parte, a letra mesmo com rimas mais previsíveis encanta pela beleza e a simplicidade que o enredo é contado. A melodia, ao mesmo tempo, valoriza muito cada nuance que o enredo pede. No refrão de meio, o samba mais uma vez tem uma boa sacada ao abrir com “ôôô Roliúde vem aí” que encanta. Na segunda parte, a narrativa segue com beleza e simplicidade, onde a melodia se propõe a servir a letra de maneira adequada e com qualidade. Chegando ao refrão principal, o samba tem nos dois primeiros versos, a rima óbvia entre “coração/chão” que tira um pouco da beleza, mas fecha a obra com o maravilhoso verso “É muito bom, é bom demais!”. O samba é, realmente, muito bom. Bom demais. Chitão Martins gravou de maneira competente a obra.  Nota: 9,9

Estrela do Terceiro Milênio: “Que a nossa Estrela vai brilhar”. – Samba divertido. A Estrela do Terceiro Milênio, de volta ao Grupo de Acesso e na busca pelo sonho de estar entre as melhores da cidade, tem um samba que se não é dos mais brilhantes, é bem divertido. Com o tema da simbologia, a composição tem momentos de puro entretenimento como no refrão de meio. Na primeira parte, o samba é bem funcional com destaque para a melodia que valoriza bem os momentos mais “divertidos” da obra. No refrão de meio, repito que o samba tem um momento de entretenimento total com a melodia valorizando muito esse aspecto da obra seguindo assim também na segunda parte e no refrão principal. O ponto negativo da obra é que embora a letra seja correta e nem tenha muitas rimas de baixo nível, o enredo não fica claro no samba dificultando a fácil leitura. Vaguinho, estreando na escola da Zona Sul, dá seu show costumeiro na gravação.  Nota: 9,7