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Os sambas de 2013 - Grupo
Especial (São Paulo) por
Ronaldo Figueira
E-mail: ronaaldo.figueira@gmail.com
As avaliações referidas apresentam critérios distintos dos utilizados pelo júri oficial, em nada relacionados aos desempenhos que as obras virão a ter no desfile A
Gravação - Seguindo
o mesmo padrão dos anos anteriores, a produção do
CD 2013 não muda muito. As
mudanças dizem respeito a elevação da
percepção dos arranjos da bateria e dos
coros das agremiações na segunda passagem do samba. A
“sensação de ao vivo”
ainda é o carro chefe do projeto. A principal
reclamação fica por conta da
distribuição, que está deixando mais a desejar que
em 2012. Nota da gravação: 9,2 Mocidade - E se
o vilão é o herói
afinal?
Depois
do ótimo samba de Rosas –
Superando a tristeza no
refúgio da minha saudade. A roseira continua com
a temática
de enredos de homenagem, dessa vez optando pelas festas da humanidade.
O samba
é alegre e agradável e marca bem o retorno da parceria de
Armênio Poesia. Nas
eliminatórias só me agradava menos que o samba de Sukata
e Cia. Foi uma boa
escolha. No universo catastrófico da safra de 2013 é uma
das salvações. Nota: 9,0 Vai-Vai
- Matriz, escola do povo/ Respeite o meu
pavilhão! A opção por um carnavalesco carioca
e a escolha do enredo sobre o
vinho em princípio não me agradaram em nada.
Porém, observou-se uma
eliminatória muito interessante na escola com o
antológico samba de Kaxitu e
Juninho Berin, não fosse a quase certeza sobre o vencedor. O
samba de Zeca do
Cavaco e Cia (sério?) cresceu imensamente com a
interpretação de Wander Pires e
é um dos melhores do CD (confesso que é o meu repeat). Nota: 9,3. Mancha-Verde
– É Mario Lago homem genial! Dessa
vez a Mancha Verde decidiu ser mais estranha na sua escolha de samba.
Se ano
passado com o sambaço de Thiagão a escola optou pelo
samba do Freddy
(intérprete da escola), dessa vez jogaram fora seu excelente
samba e novamente
o samba do Thiagão. Ambos sequer chegaram à final. O
samba escolhido é repleto
de clichês na letra e arranjos melódicos conhecidos e que
agradam os jurados
paulistanos. Só para exemplificar observem o refrão do
meio: “Vou vivendo
enquanto houver saudade/ Carmem Miranda é só
felicidade”. A melodia nem precisa
ser descrita porque todos conhecem. O grande dramaturgo Mário
Lago merecia
samba infinitamente melhor e esses sambas existiram... Nota:
7,0 Vila
Maria -
Quando o meu pavilhão girar, o povo vai
cantar feliz... O estranhamento com essa faixa se inicia já
pelo seu
posicionamento no CD frente ao desfile apresentado pela escola em 2012.
Ouvimos
então uma narrativa confusa sobre a história da Coreia
(do Sul, em nenhum
momento eles deixam claro qual das Coreias se trata) e a
imigração coreana para
o Brasil. A letra por todo o samba, usa palavras de
exaltação à cultura coreana
de um modo vazio, prolixo e genérico. Vazio porque não
tem a narrativa do
enredo bem explicitada, resumindo-se em a) coreanos vêm ao
Brasil; b) tem
tecnologia que exportam pro mundo e uma segunda parte que só
cita aspectos que
todo país tem (culinária, arte, esporte), sem ao menos
explicar o que a Coreia
tem nessas suas representações culturais que diferem de
outras. Prolixo porque
todos os demais versos do samba basicamente repetem adjetivos positivos
a
respeito do povo/cultura coreano. Nota: 7,1 Tucuruvi
- Atrás de um
sonho eu vou, o
final feliz encontrar. “Voltando pra
onde não foi”, a
Tucuruvi interrompeu um enredo (provavelmente já parcialmente
desenvolvido)
sobre Rondônia, interrompendo a fase turística da
temática
da escola. O enredo
não me trazia pessoalmente esperanças de um grande samba
antes das
eliminatórias porque, por mais que Mazzaropi tenha sido um
personagem
importante na cultura cinematográfica brasileira, imprimir uma
“biografia” sua
em alas e carros poderia ser prejudicado pela desconexão das
partes da
história, já que seriam representados personagens de
filmes diferentes e com
histórias diferentes cada um. O samba resolve isso muito bem,
apresentando uma
letra não tão descritiva de sinopse, não apenas
listando nomes que não fariam
sentido algum a quem não assistiu a todos os filmes do enredo,
mas fugindo pra
um lado mais poético e, também mérito do enredo,
encontrando uma coerência
entre os personagens pela característica caipira comum entre
eles. Assim, o
samba se apresenta bem em dois níveis. A quem não conhece
a obra de Mazzaropi,
pois ele faz sentido e é bonito, de qualquer forma; e a quem
já assistiu a seus
filmes, pois ele faz referência direta aos principais. A melodia
também é
alegre e bem construída, possuindo variações
diversas entre os diversos
momentos do enredo descritos pelo samba, como no divertidíssimo
refrão do meio
ou no final da segunda, em homenagem a Dona Edna. Nota:
9,8 Dragões
- Liberte a sua
emoção. O
que acima eu enfatizei que a Tucuruvi não fez em seu samba,
é o oposto do
resultado obtido pela Dragões. O enredo também é
fragmentado e multifacetado,
falando do dragão, que é um ser mitológico que
“existiu” ao mesmo tempo em
diversas culturas do planeta, por isso a necessidade de se falar de
várias
civilizações e simbologias ligadas a este . Só que
aqui os compositores optaram
por uma letra mais tradicional, narrando mais linearmente os pontos da
sinopse.
O resultado é razoável, passa a mensagem com clareza,
pontua as principais
ideias do enredo e cumpre com os objetivos listados no manual do
julgador, mas
é chato e burocrático. No mais, segue o estilo de sambas
que a escola vem
escolhendo desde seus desfiles no grupo de acesso. Nota: 7,8. Tom
Maior - Só mesmo
“Vênus” pra nos
proteger. Com um enredo criativo
que busca uma
abordagem diferente para o tema, o samba (e o enredo) conseguem fugir
completamente da cara panfletária de alguns trechos do samba da
Grande Rio de
2004, sua comparação mais óbvia. O samba é
bom, e descreve de forma poética e
divertida algumas passagens do enredo, sendo o refrão do meio um
de seus
clímax. O verso destacado é o
“Esquimó” de 2013. O ponto baixo, talvez o
único,
seja uma cara comercial meio exagerada ao fim, no “Num mundo de
cores / Textura
e sabores”, que foge um pouco da abordagem mais generalizada
sobre “sexo
saudável” que esteve no restante da letra e especifica
demais algo que é,
claramente, uma característica do produto da patrocinadora,
não algo realmente
relevante à narrativa. Por fim, em seguida a isso, vem a
redenção, a parte alta
em letra e melodia, fechando o samba com um verso sintético
à toda a ideia do
enredo, “curta a vida com paixão”. Nota:
9,1 Gaviões
da Fiel - Sou a estrela,
“Fiel Gavião”. Se
a Tom Maior prega uma vida a ser curtida com muita paixão, a
Gaviões acha que
ser fiel é a alma do negócio. O enredo bem estruturado
trouxe um samba bom,
entre os melhores da escola desde que retornou ao especial, em 2008.
Nas
eliminatórias, observamos duas parcerias consagradas disputando
acirradamente,
Grego versus Rifai e Ernesto. Porém, os sambas eram parecidos e
destoam
bastante dos já criados por eles. No samba escolhido, de Rifai,
a letra é bem
descritiva e linear, sem prejudicar a clareza de ideias, já que
a história
contada também é mais cronológica, com
exceção do primeiro trecho que exalta a
torcida. A melodia é bem animada, com excessivos momentos de
explosão. Nota: 8,5 X-9 - Hoje a
X-9 é uma corrente de
fé, que traz amor e união. O enredo da X-9
é uma exaltação
à cidade de São Paulo como se aqui não existissem
preconceitos ou desigualdades
muitas. Algo muito comum nos tempos mais duros da Ditadura Militar,
lá pelos
anos 1970. Confesso que não me agrada. O samba, por outro lado,
deixando de
lado a necessária defesa dessa tese do enredo, é
interessante por apenas uma
pessoa assiná-lo e por fugir melodicamente dos padrões
atuais de composição de samba-enredo.
A letra é simples e poética, o que torna o samba
agradável de se ouvir. Nota: 9,0 Império
de Casa Verde - Uma terapia pra curar a
dor/ O
nosso remédio é sambar. Até hoje
não compreendo com
clareza a escolha desse enredo. Temáticas parecidas foram
tratadas recentemente
em São Paulo e no Rio de Janeiro (Imperador 2010 e Imperatriz
2011). Ao próprio
desenvolvimento do enredo faltou clareza nas oportunidades anteriores e
falta
nessa. Por toda a letra, as formas de cura citadas são
mágicas/divinas (ritual
de magia, cura divina, filosofia oriental, Obaluaiê, amor,
samba), mas, em dois
momentos, evoca-se a medicina/ciência. Uma vez na primeira parte,
dizendo que a
medicina surgiu no Egito (se for a cura mística surgiu bem
antes, se for algo
com um tratamento mais científico, começou com
Hipócrates, na Grécia) e no
quase fim da segunda, com um contraditório “E assim
mostrou, que a ciência é o
caminho a seguir”, depois de um samba inteiro apregoando o
contrário. Nota: 8,2. Águia
de Ouro - E o meu medo maior
é o
espelho se quebrar/ E o meu medo maior... A opção
por
homenagear o sambista carioca João Nogueira, autor de
antológicos sambas-enredo
na Tradição não poderia ser mais acertada. O foco
em sua vida musical resultou
em um samba-enredo ótimo, de autoria do seu filho Diogo Nogueira
e cia. A letra
possui sacadas ótimas como na primeira em “Eh
vida...”. O refrão do meio é
primoroso. Na segunda, a imortalização de João
mencionando suas composições é
belíssima, culminando no trecho selecionado. Só temo pelo
andamento que a
escola vem dando a esse samba, que prejudica demais sua qualidade e
interpretação. Na gravação da vinheta, por
exemplo, Diogo Nogueira sequer
conseguia acompanhar os intérpretes. Pelo histórico de
desfiles da Águia é
previsível que o andamento será acelerado e o samba
perderá muito. Nota: 9,8 Nenê
de Vila Matilde - Cabanagem no
Pará, na Nenê
samba no pé. Depois de voltar ao
grupo especial com
um clássico da sambografia universal,
a Nenê busca se manter no grupo especial com o samba da mesma
parceria campeã
desde 2009, exceção somente de Tatuapé - Ao som dos acordes do seu violão, que não se calou diante da opressão. Reestreando no grupo especial, dessa vez com uma subida aparentemente bem mais promissora do que com o rei abacaxi, a Tatuapé trás um dos melhores sambas do grupo, seguindo a mesma linha de biografia de sambista, que a fez ser vice-campeã do acesso apesar da plástica simples.O sistema de eliminatórias empregado na escola (copiado da Mangueira) mostrou-se eficiente. apesar do pequeno número de obras inscritas, todas possuíam qualidade e poderiam representar a escola. Ganhou a da parceria do intérprete da escola e do já diversas vezes campeão na escola André Ricardo, com mais partes animadas e em tom maior, que talvez sejam mais adequadas a quem vai abrir os desfiles. A letra é poética, citando vários versos de sambas da homenageada sem se prender a esse recurso, e apresenta as ideias da sinopse com clareza e coesão. A união de ótima letra e ótima melodia gerou, claro, um ótimo samba, com qualidade bastante homogênea, sem trechos que se destaquem positiva ou negativamente. Nota: 9,5
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