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Os sambas de 2013 - Série A por Marco Maciel
As avaliações referidas apresentam critérios distintos dos utilizados pelo júri oficial, em nada relacionados aos referidos desempenhos que as obras virão a ter no desfile A
GRAVAÇÃO DO CD –
O expediente
capitaneado por Leonardo Bessa entre 2006 e 2008 está de volta.
Quando a AESCRJ
ainda tinha o comando dos Grupos de Acesso que desfilam na
Sapucaí, os sambas
do A e do B foram produzidos e comercializados em álbuns duplos,
bem-sucedidos,
nestes três anos. No entanto, a fundação da LESGA
para a administração do Grupo
A, mais a iniciativa do então presidente da Caprichosos, Paulo
de Almeida, de um
único álbum para os sambas do Segundo Grupo em 2009
(produção pra este disco de
Ivo Meirelles), encerrariam os CDs duplos, já que os discos do
Grupo B
continuaram com o selo da AESCRJ (a LESGA só iria inserir seu
logo na capa do
Terceiro Grupo em 2011). Com a extinção da LESGA
após os desfiles de 2012 e a
criação da LIERJ, optou-se pela unificação
dos Grupos A e B, totalizando 19
escolas na chamada Série A (antes denominada Série Ouro).
Dessa forma, o CD
duplo retornou para o Carnaval 2013. Como curiosidade, o mesmo
número de
agremiações compôs o Grupo de Acesso em 1995,
através da extinta LIESGA. A
safra é uma das melhores dos últimos tempos no Acesso.
Não contando as
reedições de Curicica e Tradição para os
clássicos portelenses de 1994 e 1981,
respectivamente (uma em cada CD), os favoritos destacados da
Série A são
Viradouro, Império da Tijuca e Unidos de Vila Santa Tereza. Num
segundo pelotão
aparecem Renascer de Jacarepaguá, Império Serrano e
Caprichosos. Os demais
sambas mantêm o bom nível, à exceção
de Rocinha, Alegria da Zona Sul,
Jacarezinho e Estácio, com este quarteto um tanto abaixo dos
demais. Sobre as
baterias, não é possível perceber tantas
diferenças de uma faixa pra outra. A
produção é semelhante aos três anos de CDs
duplos de 2006, 2007 e 2008. Há a
divisão trivial de vozes, tanto do intérprete quanto do
coral, com o puxador
aparecendo com destaque na primeira passada e o coro na segunda. NOTA DA
GRAVAÇÃO: 8,5 (Marco Maciel). 1-A
- PORTO
DA PEDRA
–
“Pego meu chinelo novo, quero me perder
no povo”. Em contrapartida à crise administrativa
vivida pela escola, o
Tigre de São Gonçalo abre muito bem o álbum duplo
com uma obra que superou e
muito as expectativas do enredo sobre o calçado. Pelo menos em
termos de samba,
a Porto da Pedra superou o trauma causado pelo hino sobre o iogurte que
se
arrastou na Sapucaí. O samba-enredo de 2013 lembra alguns
cantados pela São
Clemente em outros carnavais, é irreverente, pra cima, com bons
refrões e muito
bem defendido pelo cigano Igor Vianna, uma espécie de
Abílio Martins do Século
XXI: de qualidade indiscutível, mas que a cada ano se encontra
numa escola
diferente. NOTA
DO SAMBA: 9,3 (Marco Maciel). 2-A
- VIRADOURO
–
“Sou Viradouro no mar de Iemanjá, o sol
brilhará, Salgueiro” Avassalador. Para a homenagem ao
Salgueiro, a
Viradouro de forma sugestiva ousa ao optar por um samba... diferente.
Sem
refrões, apenas um estribilho. Impressiona como o samba cresce a
cada verso. Do
primeiro ao último, a obra te conquista cada vez mais. O
nostálgico “ôôô” com a
melodia de “Chica da Silva” (1963) emociona quem conhece
sambas mais antigos e,
principalmente, o bamba que vivenciou aquela época. Assim como
em 2009, David
do Pandeiro ganha o microfone principal da escola niteroiense
após defender o
samba nas eliminatórias. Diego Nicolau também tem boa
participação na faixa. Não
contando as reedições do Acesso, é o melhor do
grupo e está no nível de Vila
Isabel e Portela no Especial. Um massacre! NOTA DO SAMBA: 10 (Marco Maciel). 3-A
- SANTA
CRUZ
–
“Tô arretado, abestado, sanfoneiro”.
Apresenta
mais predicados positivos em relação aos últimos
sambas apresentados pela escola
da Zona Oeste na Sapucaí, que eram meramente funcionais e sem
muita qualidade. Apesar
do hino também ser de autoria de Fernando de Lima e companhia,
que há tempos
imperam em Santa Cruz, este é mais completo em
relação aos anteriores da
agremiação, sendo um pouco menos padronizado. E com muita
alegria, o Carnaval
Carioca é contemplado com a volta de Paulinho Mocidade,
após três anos na
Embaixadores do Ritmo de Porto Alegre. NOTA DO SAMBA: 9,2 (Marco Maciel). 4-A
- ESTÁCIO
–
“Vai meu Leão, do norte a poesia da
coroação”.
O samba que homenageia Rildo Hora tem uma linha melódica
semelhante a algumas obras
apresentadas no Carnaval paulistano. É dolente, mas na maioria
dos trechos a
melodia é genérica. Alguns versos em termos
poéticos também causam sensação de
“déja vú”. Mais uma vez, a escola do bairro
de Ismael Silva fica devendo em
termos de samba-enredo. Não chama muita atenção no
CD, a não ser pela gaita,
que dá um toque especial à faixa, além da boa
atuação de Leandro Santos. NOTA DO SAMBA: 8,4
(Marco Maciel). 5-A
- ROCINHA
–
“Pretinho, cheiroso, gostoso, você descobriu”.
É uma obra que gera opiniões pluralistas. Uns consideram
um samba
descompromissado e irreverente. Outros acham uma brincadeira de mau
gosto versos
como “Solta um X-bacon” e “tá
duro, pede um podrão no Seu João”. O
hino é de qualidade duvidosa, mas como é bem-humorado,
promete entrar para o
rol dos trashs históricos, bastante cultuados por alguns bambas.
NOTA DO SAMBA:
8,1 (Marco Maciel). 6-A
- ALEGRIA
DA ZONA SUL
–
“Vem pro Bola meu bem, hoje não tem pra
ninguém”. A escola realmente se identifica com bolas.
Depois de
homenageá-las em 2006, chegou a vez do Cordão da Bola
Preta. Mas o samba sobre
o tradicional bloco, como o esperado, apresenta um festival de
expressões
batidas e não chama atenção em nenhum momento.
Apenas burocrático. NOTA DO SAMBA:
7,8 (Marco Maciel). 7-A
- CURICICA –
“Capoeira, o samba vai levantar poeira”.
Primeira
aparição portelense no CD duplo. Boa
regravação de Ronaldo Yllê para o
excelente “Quando o Samba era Samba”,
reedição do samba da Águia em 1994, uma
das mais valentes obras que já desfilaram no Carnaval Carioca. NOTA DO SAMBA:
9,9 (Marco Maciel). 8-A
- UNIDOS
DE VILA SANTA TEREZA
–
“Na proteção do rei maior eu
peço axé”.
A Santa Tereza nos brinda com um afro na medida certa (o enredo
é similar ao da Unidos de
Padre Miguel), um dos melhores sambas do grupo. A maior bola dentro foi
chamar
Tiãozinho Cruz para defendê-lo. É o
intérprete mais recomendável para cantar
este tipo de samba, afinal imortalizou em sua voz recentes obras-primas
da
Cubango. O samba inclusive apresenta uma pegada semelhante aos hinos da
escola
de Niterói. Pesado, com belas variações e
refrões fortes, possui trechos de
melodia belíssima, como “No engano a
prisão, o mal a condenar fez padecer Oyó” e
“A lavagem do Bonfim varre o mal que há de ser”.
Lindo! NOTA DO
SAMBA: 9,8
(Marco Maciel). 9-A
- JACAREZINHO
–
“Vou à gafieira e lá quero ver Moleque
Saruê”.
Na homenagem a Jamelão no ano de seu centenário, a escola
batizada pela
Mangueira apresenta um samba burocrático, que se limita a citar
canções
“dor-de-cotovelo” imortalizadas pelo intérprete,
além das inevitáveis citações
à verde-e-rosa. A poesia também fica devendo em versos
como “Lembranças de tantos carnavais, até do seu humor, ai que saudade me traz”.
Jamelão merecia mais e o samba está muito abaixo das
grandes obras já
apresentadas pela rosa-verde-e-branco do Jacarezinho. A bateria se
destaca
na faixa,
sobretudo quando se remete ao Surdo Um mangueirense no final. NOTA DO SAMBA:
8,0 (Marco Maciel). 1-B
- RENASCER
DE JACAREPAGUÁ
–
“O dia firma, a pele sente o clima de um
doce lugar”. Após o samba mediano que embalou sua
única apresentação no
Grupo Especial em 2012, a escola retoma sua característica de
obras de melodia
complexa que marca seus desfiles no Acesso. Extenso, apresenta uma bela
poesia
e variações arrojadas, que até podem representar
um risco de arrastamento,
tamanho o peso da linha melódica. Mas sempre me agradou este
estilo da Renascer,
que casa bem com a voz de Rogerinho. Destaco o fim da primeira parte
(“despertar”), o refrão central e o
começo
da segunda parte, cuja melodia em “Rio
Rio” se assemelha à canção do filme de
animação homônimo (que remete ao
último parágrafo da sinopse). Bela faixa de abertura para
o segundo CD. NOTA
DO SAMBA:
9,5 (Marco Maciel). 2-B
- IMPÉRIO
SERRANO
–
“A cada ano renasce na fonte do samba um
novo Império Serrano”. Até o Império, a
vanguarda do Carnaval, uma das
poucas escolas que reluta em abandonar suas raízes e ideais,
aderiu ao
patrocínio de uma cidade: a mineira Caxambu. Talvez o samba, se
cantado
por qualquer
outra agremiação, passasse despercebido. Mas é o
Império Serrano! Em termos de
qualidade, me remete ao samba sobre a Carmen Miranda de 2008, a
princípio
desacreditado, mas que proporcionou um espetáculo épico
na Passarela. Na faixa,
a Sinfônica chega rasgando. Um show à parte! Sempre
identificado com a
Serrinha, Nêgo retoma o microfone oficial e dá mais vida
ao valentíssimo samba.
Tem tudo para não só passar na Sapucaí, como
também emocionar. NOTA DO SAMBA:
9,4 (Marco Maciel). 3-B
- IMPÉRIO
DA TIJUCA
–
“Toca o tambor, eu quero ver requebrar”.
Esplêndido. Um samba para encher de orgulho a comunidade do morro
da Formiga.
Dois refrões espetaculares, certamente os melhores do Acesso. As
duas partes
são dolentes, com momentos de explosão no ponto certo.
Enfim, um samba
praticamente impecável. A única ressalva que faço
é na diminuição do tom por
parte de Pixulé no trecho “Nessa festa
vai ter zoeira”, no refrão principal. Mas isso
não diminui o brilho da
obra, favorita ao Estandarte de Ouro ao lado da Viradouro. NOTA DO SAMBA: 9,9 (Marco Maciel). 4-B
- CUBANGO
–
“Do vime ao metal, a mente genial, a dádiva
do Criador”. O samba já é bem superior à
obra apática de 2012 da Cubango, mas
ainda segue sendo apenas correto, sem se destacar na safra e muito
abaixo das
obras históricas que a escola niteroiense nos presenteou.
Simpático, tem na sua
segunda parte o seu melhor momento, sobretudo na explosão a
partir do verso “canta meu povo, que a festa é
nossa”. NOTA
DO SAMBA:
8,6 (Marco Maciel). 5-B
- TUIUTI –
“Sonha Tuiuti, é nesse sonho que eu vou
viajar”. Para falar de Chico Anysio, a escola da Zona Sul
optou por um
samba que mescla bem animação, valentia e
emoção – esta última presente na
segunda parte. A cabeça, em termos poéticos, apresenta
uma bela sacada: “O céu está em festa,
milhões de acordes vão
anunciar, os anjos a receber o Professor que acabou de chegar”.
O refrão
central também me agrada muito. Um samba perfeitamente adequado
para um desfile
no Acesso, que recomenda obras mais leves, ao contrário do hino
pesado
apresentado pela escola em 2012 que ainda teve a ingrata missão
de abrir os
trabalhos no grupo. NOTA
DO SAMBA: 9,0 (Marco Maciel). 6-B
- CAPRICHOSOS
–
“É fanatismo, amor, paixão de
enlouquecer,
meu vício é você”. A sempre
simpática agremiação de Pilares apresenta um
ótimo samba sobre o fanatismo, reforçando a boa fase de
sua ala de
compositores, que pelo terceiro ano consecutivo leva para a
Sapucaí uma
excelente obra. Toda animada, pra cima, possui fortes refrões e
uma segunda
parte ousada e gingada. A Caprichosos é o exemplo no Acesso do
que virou moda
no Especial, ao apresentar uma equipe de intérpretes oficiais
formada pelo
experiente Celino Dias, mais Lico Monteiro (ex-Tradição),
Sandro Motta e Pepê
Niterói. NOTA
DO SAMBA: 9,4 (Marco Maciel). 7-B
- UNIDOS
DE PADRE MIGUEL
–
“Já fiz a cabeça, bati meu tambor”.
Sempre
aguardamos um samba originário de um enredo afro com
expectativa. Afinal,
algumas das maiores obras-primas do gênero despontam
através desta temática. Ainda
mais que Unidos do Cabuçu em 1983 e Império da Tijuca em
1997 mostraram um
enredo semelhante, com sambas primorosos (Santa Tereza também
não deve em quase
nada esse ano). No entanto, o hino de Padre Miguel fica devendo. Ao
invés de um
samba pesado, comum pra este tipo de tema, a escola opta por uma obra
leve, sem
brilho, apenas correto e com bons refrões. E alguns versos soam
vagos, como “tô cheio de amor pra nesta noite,
ver
brilhar meu pavilhão”. NOTA DO SAMBA: 8,7 (Marco Maciel). 8-B
- SERENO
DE CAMPO GRANDE
–
“É a voz que ecoa e nos guia a vencer”.
O samba num todo procura não fugir das características da
escola, de obras pra
cima e funcionais. Mas em termos melódicos, é mais
ousado. Tanto que o refrão
central em menor é a parte mais destacada do hino da escola de
Campo Grande,
mais uma vez bem conduzido por Antônio Carlos. NOTA DO SAMBA: 9,1 (Marco Maciel). 9-B
- TRADIÇÃO
–
“E lá vou eu pela imensidão do mar”.
A
segunda aparição da Portela no CD duplo. “Das
Maravilhas do Mar, fez-se o
Esplendor de uma Noite” (1981) dispensa qualquer
comentário, está em quase
todas as listas dos melhores sambas-enredo de todos os tempos. Como
é um hino
que estamos acostumados a ouvir cadenciado, é estranha a
sensação do mesmo ser
cantado na velocidade atual das baterias. E a atuação de
Marquinhos Silva é
burocrática, um tanto abaixo da qualidade do samba. NOTA DO SAMBA: 10 (Marco Maciel). 10-B
- UNIÃO
DE JACAREPAGUÁ
–
“Do alto da Serra à Jacarepaguá”.
Este
simpático samba sobre a cidade fluminense de Vassouras fecha o
CD. Encomendado
pela escola, que optou por não realizar concurso de
samba-enredo, o hino é
leve, funcional, de boa melodia e audição
agradável, embora não fuja à batida
regra de lembrar, na cabeça, a origem histórica da
cidade, passando pelos
costumes, chegando às fontes de economia, etc. O ponto forte da
faixa é a
atuação de Tiganá, possivelmente a melhor do
álbum duplo. NOTA
DO SAMBA: 9,0 (Marco Maciel).
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