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Comentários de 2012 - Porto Alegre

Comentários dos Sambas - Porto Alegre 2012 (por Samuel Santos)

A Gravação do CD: 2012 será um ano de boas obras, de grandes surpresas. As escolas que não são da cidade de Porto Alegre tiveram os melhores sambas junto à Imperadores do Samba. Aliás, quando será que uma escola fora da capital do RS vai ganhar o nosso carnaval? Na realidade, deveriam chamar de Carnaval da Grande Porto Alegre, porque têm escolas da Região Metropolitana. Justamente uma escola vinda do Grupo A (cada vez mais inchado, por sinal) tem a grande obra do ano. As baterias abafam um pouco os intérpretes. O coral abafa ainda mais as faixas. Parece uma gritaria. Padrão de CD de SP. O grande diferencial está nos intérpretes passando informações a anunciarem os sambas como: o dia e a ordem do desfile. Também falam quem assina o samba de suas escolas. Nota: 8

Estado Maior da Restinga: O samba de 2012 é bem melhor que o de 2011 do título da escola de samba da Zona Sul de Porto Alegre. André Diniz evitou a receita do ano anterior, assim, rendeu um samba mais qualificado. Entretanto, o tema-enredo é muito limitado para um samba-enredo contar a história sem se enrolar. Tratar de vinho e tentar fugir do lugar comum torna-se difícil. O refrão central tem uma melodia mais alongada, podendo arrastar na avenida. Já o principal, um belíssimo refrão. A obra tem mais dolência que o de 2011, tem mais a cara do intérprete Wander Pires. Ele também assina o samba. Nota: 8,8

Império da Zona Norte: A escola da Zona Norte de Porto Alegre contratou o consagrado carnavalesco Renato Lage, só por isso já é alta a expectativa pelo desfile do Império. Samba-enredo terrível em um concurso onde só tinha samba terrível. No entanto, tinha samba pior que o vencedor. O refrão principal serve apenas para embalar o desfile. Melodicamente, lembra os sambas da Mocidade Independente de Padre Miguel, mas com uma qualidade bem inferior. A primeira parte eu preciso de muita imaginação para entender a letra, isso é bom, fugiu do senso comum. Quando chega o refrão central até o fim da segunda parte, citam os tópicos da sinopse combinando com uma letra sem criatividade. Por exemplo, o verso: “Preservar a natureza” só está pela exigência na sinopse. O terceiro refrão que prepara para o principal é o melhor da obra. Bonitos os versos: “É o amor à arte que me faz lutar/Pra me tornar um vencedor/Neste carnaval”. Nota: 7,7

Imperadores do Samba: Samba que passa uma emoção verdadeira com rimas poéticas extraordinárias, embora preferisse uma homenagem a uma pessoa de mais importância cultural. Paulo Paim é orgulho do país, é o grande senador, é da resistência à força sindical... Enfim, o samba tornou-o um mito. Não precisa de aspas para expressar o mito, a pessoa. Descontos pela queda de qualidade nos últimos três versos começando por “Hoje sou mais feliz”. A sacada de uma parte mais forte no corpo da letra da primeira parte para preparar o refrão central é muito feliz. Diferente do samba de 2011, os versos não forçam uma lista de tópicos da sinopse como uma lista de supermercado. Aliás, o refrão central ficou gravado na minha cabeça. Ainda bem que consertaram os problemas de bastidores nas eliminatórias. Vale lembrar: o samba de 2012 na versão concorrente é muito ruim, parecia frevo. Nas eliminatórias, foram 35 inscritos, tinham sambas superiores (o dos vencedores na Acadêmicos de Gravataí lembrando os anos 90 da escola; o do Samir & cia com refrão principal fortíssimo; Vinícius Britto & cia com uma grande obra). Nota: 9,5

União da Vila do IAPI: Samba chatinho, porém tem suas qualidades. No CD, não se destaca, falta algo a mais. A IAPI vai trazer o tema-enredo sobre a água. O esquema melódico é praticamente igual tanto nas partes como nos refrãos. A letra é bonita, porém a melodia impede de mostrar a beleza poética da letra. Diferente de algumas co-irmãs, a IAPI optou por uma saída interessante para o tema-enredo não ficar muito curto para seis ou cinco setores: usou a água nas religiões para aumentar o tamanho do tema-enredo. Renan Ludwig tem boa atuação na faixa. Nota: 8,1

Imperatriz Dona Leopoldina: Samba carioca toda vida, incrivelmente, o melhor produzido do CD.  Tanto na parte de letra como na melodia. A homenagem à UNE (União Nacional Estudantil) traz uma obra extremamente confusa. Só de ler a letra, já entendo o caso. Estranho uma escola homenagear uma instituição que lutou contra a Ditadura com trechos à favor da Ditadura: “Um estilo dançante tão lindo surgiu/Dos anos dourados, a lembrança ficou”. Eu entendo o que os compositores queriam com os dois versos, mas não soa muito claro na hora em que se lê. O refrão principal usa um recurso forçado com “a UNE somos nós”, tentando lembrar a palavra união. A melodia é bem moderna, bem diferente do que a agremiação levou nos últimos anos. A poesia foi deixada de lado para a maldita “funcionalidade”. Tudo isso seria repreensível, inclusive o último verso antes do refrão principal ter mais a cara de Imperadores do Samba do que Imperatriz Dona Leopoldina (“Sou um guerreiro LEOPOLDINA até morrer”), se não fosse a misteriosa troca do samba vencedor anterior de Vinícius Britto & cia. A questão é: seria uma “Missão Impossível”? Porque abrir os desfiles de Porto Alegre é muita responsabilidade. Ainda mais com um samba totalmente fora dos padrões da Leopoldina na última década. Resta saber se a comunidade vai cantar a obra ou não. Nota: 7,5

Unidos de Vila Isabel: A escola vai contar a história de sua cidade da Grande Porto Alegre: a cidade de Viamão. Pra quem não conhece a história de Viamão, vai ter alguma dificuldade com a linha dos últimos sambas da escola, já que eram pesados estilo Beija-Flor anos 2000. Optaram por um samba simples e mais leve, lembra muito os sambas do anos 90 da escola de longe. “Sou a miscigenação” é um verso desnecessário, pois na primeira parte já conta a miscigenação. O verso sobre a padroeira da cidade, Nossa Senhora da Conceição, está simples demais para o resto da obra, muito fraco. Os refrãos são interessantes, embora o principal repita o nome da escola duas vezes de uma forma um pouco forçada. Nota: 9,4

Acadêmicos de Gravataí: Senhor samba, com uma melodia muito bem construída. A letra também leva o samba ao patamar de poesia. Ao contrário da Vila Isabel, a Gravataí optou por uma obra difícil pra quem não conhece o tema-enredo sobre Passo Fundo. Por exemplo, em um verso o samba trata indiretamente de Teixerinha, compositor gaúcho de relevância para música brasileira e do RS. As lendas da cidade do interior do RS também ficam contadas de forma indireta. Como isso é contado de uma forma que o ouvinte goste da obra, não vejo problema, mas os jurados são todos do RJ, o que dificultaria um pouco para escola contar a história de Passo Fundo, passando por detalhes interessantes. É do CD, o samba com o melhor conjunto. O único senão vai para o refrão central que fica muito frio, podia ser mais explosivo, pois a melodia pede explosão no refrão central. Aliás, belíssima atuação de Lú Astral na faixa. Nota: 9,8

Embaixadores do Ritmo: O tema-enredo é incompreensível, mas gerou um bom samba. Com rimas bem sacadas, a obra flui com uma melodia muito bem construída. Apesar disso, possui repetição desnecessária da palavra amor. É bem ousado na safra de Porto Alegre 2012, mas no final da primeira parte ficou parecendo uma enrolação para ir pro refrão central a partir de “Que o leva a amar e entender”. Destaque para a empolgação do Paulinho Mocidade na faixa antes de começar a cantar o samba. Nota: 9,5

Bambas da Orgia: A escola de samba mais tradicional de Porto Alegre vai contar a cidade do interior Bagé, localizada na fronteira do RS. Pra quem não conhece nada da cidade, o samba consegue passar bem na primeira parte e na segunda parte sem a mesma clareza. Isso acontece pelo fato dos compositores colocarem os tópicos restantes como uma lista sem poesia, sem criatividade. No entanto, estão misturados com os versos criativos e poéticos. Soa estranho escrever isso. Por exemplo, o verso bacana “E a nação reconheceu, um presidente e o analista de Bagé” é seguido por verso ruim apenas para citar o clássico de futebol de Bagé: “O clássico Ba-Guá e o tetra jogador”. O samba pode arrastar na avenida, pois são 3 minutos e 30 segundos uma passada, fora que a melodia alonga alguns versos sem necessidade. Os dois refrãos são muito bons e inteligentes, além de fácil canto. Nota: 8,5

Protegidos da Princesa Isabel: O samba do ano. Quando saiu o tema-enredo da escola de Novo Hamburgo (Grande Porto Alegre), pensei: “Mais um daqueles que fala sobre o lado espiritual, tudo está ruim e no final o bem vence o mal”. Normalmente, o resultado é sambas chatos cheios de clichês. Só que o samba da Protegidos tem poesia, letra criativa e cativa a ouvir constantemente. Sentia falta da melodia com a cara do nosso carnaval, onde a cadência faz presente, lembrando muito os anos 80 e 90. Nossas características locais dos sambas estão se perdendo, estamos descaracterizando a nossa trilha sonora. Olhando os autores da obra, não tem ninguém do Rio Grande Sul, nem de Porto Alegre. Isso mostra que pessoas de outros estados podem compor sambas característicos do nosso carnaval. Sobre o samba em si, a primeira parte é mais poética, ela já começa fugindo do clichê com uma pergunta: “Senhor, onde foi parar a criação?”. A escuridão vem, o mal reina. Todos os grandes pesadelos da humanidade aparecem na letra. O refrão central trata do caos da natureza com uma sacada genial. A natureza também “sente”, ou seja, um recurso poético bem usado. Aí, na segunda parte, o samba toca até a alma, ganha uma EMOÇÃO impressionante. Os versos, sobre o bem aparecer para reverter a situação caótica, vão ganhando uma intensidade cada vez mais forte até chegar ao ápice no verso sobre as cores da escola: “No céu o verde, o vermelho e o branco”. Sem forçar, o verso seguinte faz a homenagem ao fundador da agremiação, Sebastião Flores, que morreu ano passado: “Saudade que brilha nas cores do manto”. Os único senãos são a rima manjada coração/emoção (não descontei por não estarem às palavras próximas e completamente conectadas) e a rima manjada amor/vou no refrão principal, fechando bem o samba. Ananias tem uma voz mais suave, sem deixar de passar a emoção da obra. Vi um vídeo da bateria da Protegidos, fiquei preocupado. Se acelerarem demais o samba, vão tirar a magia da obra, a emoção pro público, pro componente cantar. Nota: 9,9

Os Comanches: A tribo carnavalesca apresenta mais uma obra digna de MPB. Para contar “Os Sonhos de Paraguaçu”, a obra usa sacadas inteligentíssimas. Vale a pena ouvir, uma aula de cultura indígena, além de tratar da influência católica pelos europeus em solo indígena.

Homenagem a Carlos Medina: A grande voz do nosso carnaval deixou-nos em 2011. Belíssima homenagem. Apenas esqueceu-se de mencionar o início na Praiana (escola tradicional de Porto Alegre, acabou de ser rebaixada em 2011 ao Grupo A). “Alô, Harmonia!”. Voz de grande sucessos como Imperadores do Samba 1981, 1996; Bambas da Orgia 1998, 1999; Restinga 2000. Foi um tenor do samba. 

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