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Os sambas de 2011

Os sambas de 2011 pelo internauta Sandro Batista


A GRAVAÇÃO DO CD: A gravação do disco me parece que evoluiu.  Não acho que esteja perfeito, mas a utilização de mais membros de cada escola, e a caracterização através de cada bateria, me pareceu muito boa, e salvo um ou outro ajuste, creio que na avenida os sambas ficarão bem próximos do que estamos ouvindo no CD.  A sacada de cada intérprete anunciar o que virá na seqüência ficou simpática e deu um tom mais pessoal às gravações, mas acho que a solução dada ao samba da Tijuca, que abre a faixa, foi preguiçosa.  Eu por exemplo colocaria o grande intérprete SOBRINHO, que fez história na escola, para abrir a faixa.  Acho que causaria mais efeito, por tudo que ele próprio tem passado, além de ser um reconhecimento a alguém que já fez muito pela escola e pelo samba.  Não sei que implicações isso pode trazer, mas os produtores do disco precisam ser menos engessados e usarem mais participações especiais, afinal de contas, o disco é pra ser comercializado.  A idéia do “ao vivo” é muito boa, mas cabe um quê de espetáculo também, como acontece por exemplo na faixa da Mangueira, com a participação de Beth Carvalho, e de uma forma surpreendente: ao invés de cantar, o que seria óbvio, ela  faz uma espécie de depoimento, que serve de apresentação para o samba.  No geral, um disco melhor que o do ano passado, ajudado e muito, pelo nivelamento dos sambas. NOTA DA GRAVAÇÃO: 9,5 (Sandro Batista). 

1 - Unidos da Tijuca - A atual campeã do carnaval carioca veio com um samba que segue a linha do enredo, ou seja, precisa de legenda (no caso as imagens do desfile).  É evidente que a escolha se deu em função de valorizar as imagens, numa inversão de valores que acabou funcionando no último carnaval.  Confesso que nas eliminatórias, fiquei encantado com esse samba, principalmente na corajosa, irreverente e “abusada” utilização do “é o boooooom”, seguido de uma longa pausa.  Mas, como eu imaginava, seria risco demais manter essa parte como na versão de disputa, e aí, com a supressão da pausa, fiquei bastante decepcionado, pois o samba perdeu a graça. Sei que esse samba tem tudo pra acontecer na avenida, mas confesso que esperava algo mais, pelo menos na gravação. Um samba que deixou de ser excepcional, para se limitar a ser só funcional (embora a questão da “funcionalidade” seja também discutível, afinal de contas, ela está associada ao canto dos componentes e não à reação do publico, logo, nada que não seja resolvido com muito ensaio de canto,  e se funcionalidade fosse sinônimo de qualidade, a “Dança do Créu” seria uma das maiores músicas da MPB). A letra não é nenhuma obra prima do gênero, e talvez após o carnaval possa ser melhor compreendida. Um samba que na minha opinião, a exemplo do samba de 2010, após o carnaval, será esquecido, mesmo que a escola venha a ser campeã. NOTA DO SAMBA: 9,5 (Sandro Batista).

2 - Grande Rio - Segundo samba do disco, e a segunda decepção.  Quando a escola de Caxias optou por esse samba, fiquei feliz, por achar uma escolha bastante inteligente, pois enredos CEPs, e cheios de histórias de mistério e magia, já vimos vários, e um samba nessa linha, seria bom, porém, seria mais do mesmo.   Optaram por um samba valente, irreverente, que faz uma bela mistura entre a parte complicada (mística) e a parte mais leve (guia turístico), numa combinação que deve render um desfile de qualidade.  Porém, a correria desenfreada imposta na gravação, acabou tirando um pouco do brilho da obra.  Geralmente os sambas na avenida ficam mais rápidos do que na gravação, e se isso acontecer com o samba da Grande Rio, será um erro fatal.  Será um exercício de fôlego acompanhar o ritmo alucinante imposto já na gravação, e um verdadeiro exercício de trava língua em determinadas partes.  Acho que esse samba era muito melhor também na versão de disputa. Se derem a cadência correta, vira sambão, caso contrário, não. NOTA DO SAMBA: 9,8 (Sandro Batista).

3 - Beija-Flor - A escola de Nilópolis prometeu um samba mais leve, e até conseguiu.  Na verdade, esse samba cumpre bem seu papel, conforme pedido pelo próprio homenageado, ou seja, fala superficialmente sobre o tema, e lança um olhar poético sobre o enredo, o que é um mérito para a Beija-Flor, que é muito boa em sambas-sinopse-de-enredo, que conta ala a ala, alegoria a alegoria, o que veremos no desfile,  em suas obras.  Eu gosto do estilo pesado da Beija-Flor, e esse samba, parece ser leve, mas tem a marca da Beija-Flor, que não conseguiria mudar de estilo completamente de uma hora pra outra.  Novamente, acho que a gravação não valorizou a beleza melódica, e talvez a opção por passar o samba reto se dê em função de fixar mais a letra, para que as pessoas aprendam a cantar, mas esperava uma produção mais caprichada, afinal de contas, disco é disco, desfile é desfile.  Não chegou a comprometer totalmente a obra, mas tirou também um pouco da beleza dela. Não gosto também da passagem “chegou a hora DE BOTAR PRA FORA a felicidade”, que pode não estar errada, mas que é estranha, ah, isso é! NOTA DO SAMBA: 9,7 (Sandro Batista).

4 - Vila Isabel - Costumo dizer que um samba-enredo é uma obra que somente demonstra-se boa ou ruim conforme se ouve mais e mais, afinal de contas, é uma música que será cantada repetidamente por cerca de 1 hora e meia ininterruptamente, então, corre o risco de ser chata ou então melhorar cada vez mais.  E pra mim, o samba da Vila é uma das maiores surpresas do disco.  A começar pelo enredo, que particularmente acho totalmente fútil, e cuja sinopse me surpreendeu negativamente (afinal de contas, Rosa Magalhães consegue transformar as histórias mais irrelevantes e estapafúrdias, em deliciosas viagens, o que não aconteceu nesse caso).  Mesmo assim, o samba foi valente, conseguiu escapar de algumas armadilhas óbvias, como fazer uma viagem no tempo e no mundo usando o cabelo como desculpa, sendo altamente poético e envolvente.  É um samba que quanto mais eu ouço mais eu gosto.  Tem irreverência, conteúdo e emoção na dose exata, sem ser exagerado, e talvez esteja nisso, em não ser exagerado, o grande mérito desse samba que pra mim é um dos melhores da safra. NOTA DO SAMBA: 10 (Sandro Batista).

5 - Salgueiro - O Salgueiro finalmente resolveu escolher um samba que não fosse feito exclusivamente para a voz do Quinho, e curiosamente, o samba ficou muito bom em sua voz!  Optou por um estilo bem leve, mas não um oba-oba.   O samba tem algumas passagens muito gostosas, e é inevitável não se render ao swing e a letra totalmente descontraída.  Apesar dessa descontração, o samba não é um “frango com tudo dentro”, ele consegue amarrar bem uma idéia a outra, e claro, comete um ou outro pecado, como o “bip bop” que até agora não entendi direito que função tem. Coisa rara nos sambas atuais, que costumam ser melhores na segunda parte, esse samba tem uma primeira parte muito boa, e desemboca num refrão central com um gingado e letra irresistíveis.  Não é nenhuma obra de arte, mas é um samba que salvo eu esteja muito enganado, vai crescer muito no desfile. NOTA DO SAMBA: 9,8 (Sandro Batista).

6 - Mangueira - A Mangueira, minha escola de coração, fez uma opção corajosa e como recompensa, deu de presente um samba com cara de samba, como aliás não poderia deixar de ser, afinal de contas, fala de um dos maiores sambistas de todos os tempos.  O recurso de utilizar a letra na primeira pessoa, dá um ar imponente ao samba, afinal de contas, a idéia é clara desde a sinopse, que frisa que Nelson vive, então não existe saudosismo.  Nelson Cavaquinho é quem nos conta sua história, e de fato, é perceptível a presença dele.  Podem achar fanatismo, ufanismo, ou o que quiserem, mas a segunda parte desse samba é um espetáculo à parte!  Ela começa muito boa, e vai crescendo, e termina com uma poesia cantada, bem ao estilo das obras de Nelson. “Impossível não emocionar”, ainda mais quando traz de volta, numa recitação, Beth Carvalho, o que muito mais que uma presença ilustre na faixa da escola (o que já é habitual), é o retorno de Beth, que aliás, é quem mostrou Nelson para o mundo.  O refrão é daqueles que prometem, pois toca fundo os brios do Mangueirense, que costuma desfilar com muita garra. Outra coisa interessante, talvez por conta da produção, é que escutando esse samba, me reporto aos grandes sambas da Mangueira das décadas de 80 e 90, enfim, um samba aguerrido e poético, que cresceu ferozmente nessa gravação. “Teu samba ninguém vai calar”, porque é de fato um samba à altura de Nelson e da escola. NOTA DO SAMBA: 10 (Sandro Batista).

7 - Mocidade - Se alguém me perguntar quais sambas tem mais condições de fazer a sapucaí tremer, eu nunca deixaria de citar a obra da Mocidade.  A escola evidentemente optou por um samba  para “sacudir” a avenida, a exemplo do que já aconteceu no último carnaval, mas, é difícil engolir a confissão da escola,  explícita no refrão que diz “meu coração vai disparar de novo”.  Ou seja, o coração disparou já no samba passado, e vai disparar de novo, logo, o coração disparar pode ser repetido em qualquer samba, porque claramente não tem função nenhuma dentro do enredo a não ser “fazer o coração disparar”.  A letra tem alguns momentos muito bons, passagens de muita beleza, mas não consigo conceber um samba que deliberadamente quer antes de tudo, virar hit.  Se fosse o carnaval carioca uma micareta, eu diria que estaria perfeito, mas samba-enredo, como o nome sugere, tem que ter compromisso com a história. Uma forçada de barra desnecessária, pois é possível fazer samba nesse estilo, com mais criatividade. Como eu disse antes, pode ser “funcional” até por conta da força da comunidade, agora, funcionalidade e qualidade são palavras distintas. NOTA DO SAMBA: 9,5 (Sandro Batista).

8 - Imperatriz - A escola de Ramos, tida como fria, mantém o  histórico de grandes sambas-enredo, e nesse caso, como em anos recentes, conseguiu duas proezas: a de fazer um bom samba com um enredo totalmente sem graça e ainda,  ter  no refrão o ponto alto do samba, uma coisa que não é muito típica da escola.  Aliás, um refrão forte, e totalmente adequando ao enredo, embora caiba em qualquer samba de qualquer escola, bastando trocar o “é verde e branco meu DNA” por outras cores.  Mas nesse caso, em que o tema é medicina, temos um  belo exemplo de que um refrão pode ter ligação direta com o samba e com o enredo, pois está totalmente contextualizado na proposta.  Mas tirando o excelente refrão, o samba é mais um samba  que viaja o mundo, como tantos outros, usando a medicina como desculpa para falar de Egito, África, mistério e magia, e claro, a dose de misticismo que o carnavalesco Max Lopes sempre coloca na maioria de seus enredos.  A culpa não é dos compositores, que conseguiram literalmente “operar” um milagre, ao transformar em algo audível e até interessante, um enredo que na minha opinião é péssimo.  Aliás, enredos que abordam temas do gênero por mais esforçados que sejam, em geral são péssimos, e costumam se basear muito mais no luxo e em alegorias e efeitos de desfile,  do que propriamente na história em si. NOTA DO SAMBA: 9,7 (Sandro Batista).

9 - Portela - Que beleza de samba!  A Portela após a polêmica e conturbada disputa de samba, parece ter superado os problemas, e o samba que já era bom, ficou ainda melhor.  A escola conseguiu falar do mar, através do Porto do Rio, navegações, e tudo aquilo que a gente já ouviu falar milhares de vezes, de uma forma diferente.  “Lindo como o mar azul” é assim que classifico esse samba, que tem uma pegada forte, passagens brilhantes, e conta com grande propriedade o enredo.  De quebra, consegue exaltar a escola de forma branda, sem apelações, o que torna a audição dessa faixa uma coisa muito boa.  A Portela, a exemplo da Mangueira e do Império Serrano (no acesso), mostra nessa faixa que “respeito é bom, e ela gosta”, e que tradição é justamente fazer a diferença no que uma escola de samba tem de melhor, que é o samba.  Só vejo um pequeno pecado na letra, que diz “A AMBIÇÃO DO EUROPEU SE ENCANTOU”, o que pode não estar errado, afinal de contas, temos a licença poética para justificar tudo, entretanto, uma ligeira mudança do tipo “AMBICIOSO, O EUROPEU SE ENCANTOU” acho que ficaria perfeito e mais adequado.  Tirando isso, é um dos melhores sambas do disco. NOTA DO SAMBA: 9,9 (Sandro Batista).

10 - Porto da Pedra - Quando o enredo é bom, é meio caminho andado para um grande samba.  E foi isso o que aconteceu com o tigre de São Gonçalo.  O samba é de uma beleza, de uma poesia, é algo tão cativante, que não dá vontade de parar de ouvir.  Diferentemente do que se imaginava, ele não é um mosaico de títulos de Maria Clara Machado.  Os autores conseguiram contar a história da homenageada, utilizar obras emblemáticas dela, e ainda exaltar valores da essência dela e de suas histórias, aliás, nesse aspecto o samba é perfeito, pois consegue fazer-nos entender quem foi Maria Clara, não só a artista, como a pessoa.  É brilhante esse samba!  Ele consegue a proeza de ter uma temática meio que infantil, sem ser aquela coisa chata e melosa de sambas nessa linha que já ouvimos algumas vezes (sim, porque toda vez que tentam fazer sambas mais infantis, por assim dizer, fazem sambas que chegam a ser enjoativos de tão doces que ficam!). Um samba que tem a inocência da criança, mas a força de um adulto.  É samba de gente muito grande! NOTA DO SAMBA: 10 (Sandro Batista).

11 - União da Ilha - A União da Ilha trará para o desfile um samba alegre e descontraído, bem ao seu estilo.  Conseguiu utilizar bem o enredo, que por si só oferece belas imagens, em um samba compreensível.  Senti falta de uma letra mais abusada.  Seja na poesia, ou na irreverência, não sei ao certo, mas o fato é que o samba embora seja bom, é meio burocrático demais, comum demais.   Tem algumas boas passagens, e outras apenas comuns.   É um samba que quanto mais eu ouço, mais tenho a sensação de já ter ouvido em outro ano.  Não sei se as semelhanças em utilizar uma “viagem” pra contar o enredo (recurso que a escola tem utilizado bastante) é o que causa essa impressão.   Achei meio forçada a citação de “O Amanhã” numa clara demonstração de que quer lembrar a todos que é essa a escola que produziu esse e outros sambas de igual brilhantismo e impacto.  Não é um samba ruim, mas longe de ser uma obra prima.  Tem na melodia sem ponto forte, com algumas passagens que ficam martelando na cabeça da gente.  Mas repito, acho que faltou a ousadia característica da escola, que parece estar querendo se moldar ao padrão pasteurizado do Grupo Especial para manter-se nele. NOTA DO SAMBA: 9,6 (Sandro Batista).

12 - São Clemente - O disco termina com uma bela surpresa! A discutida fusão de sambas acabou funcionando, e como por mais repetitivo que possa parecer, falar do Rio, seja de que maneira for, na maioria das vezes, dá samba, e aí o milagre aconteceu!  O grande mérito do samba (e claro, do enredo)  é abordar o Rio de Janeiro do ponto de vista de suas belezas naturais, e aí, fica fácil termos uma bela letra.  A primeira parte do samba tem passagens muito bonitas, e o Rio de Janeiro é mostrado de forma maravilhosa, como de fato é.  Os mais politicamente corretos poderão achar absurdo o que vou dizer, mas em geral  eu não gosto de sambas e nem de enredos que falem de preservação, por achar meio “greenpeace” ou “Partido Verde” demais, mas também nesse caso, embora meio que forçando uma barra, conseguiu encaixar a mensagem no samba, sem ser tão apelativo e sem parecer um jingle de campanha política ou de propaganda de “empresa amiga da natureza”.  Enfim, é um samba que embora seja mais sério quanto à temática, consegue manter o espírito irreverente da escola, o que é sem dúvida alguma uma marca registrada. Um belo samba! NOTA DO SAMBA: 9,8 (Sandro Batista).

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