Avaliação do CD: É
bom salientar que diferente da avaliação feita pros
sambas de 2010 da LIESV, vou cobrar mais rigidez na
avaliação do Grupo Especial do RJ para 2011. Levo em
conta aspectos como o Rio de janeiro ser o espelho para o resto do
país quando o assunto é carnaval. Não posso negar
que os demais estados passaram a utilizar de referência o modelo
carioca. Pelo lado plástico foi uma grande
evolução, entretanto, o lado musical está em
baixa. Isso explica a decadência de carnavais locais e regionais,
por exemplo, o carnaval de Porto Alegre. Pérolas do tipo:
“Vou invadir o Porto Seco, sacudir a arquibancada” da
Praiana 2011 de autoria de compositores gaúchos, não
constituindo um escritório de sambas-enredos. Ou outra
pérola bárbara: Bambas da Orgia 2007 –
refrão principal muito oba-oba, assim, descaracterizando uma
possível obra-prima gaúcha. Para piorar ainda mais, os
escritórios espalham pelo Brasil dominando não só
as grandes potências fluminenses, também dominam escolas
de povão, vide Estado Maior da Restinga do carnaval
portoalegrense. Samba de 2011 de autoria de quem??? André Diniz,
que deveria ficar na geladeira ouvindo a sua obra-prima da Vila de 1994
até dar conta que ele pode mais como compositor, e Wander Pires!
Sim, onde o próprio Wander interpreta o samba encomendado. De
uns anos pra 2011, cada vez mais escolas locais vem fazendo encomendas
para escritórios de vários portes. E qual é o
problema dos sambas de escritórios? O problema encontra-se na
síntese da nossa sociedade. Imagine, exemplo, o Zé
Ciclano, cria de uma comunidade qualquer, ama sua escola de samba, um
verdadeiro sambista nato. O Zé Ciclano JAMAIS IRÁ GANHAR
na sua escola uma disputa de sambas-enredos, pois falta apoio de
torcidas, além de financeiro. Zé Ciclano, daqui há
uns anos, vai parar de escrever sambas, vai acabar com um grande
talento esse sistema de eliminatórias. Escritório tem
dinheiro, usa sempre clichês ou melodias batidas.
Escritório destrói a identidade, chegando a
“fluminenciar” outros estados que têm
características únicas culturais no samba-enredo. Porto
Alegre está a um passo de ruir. No entanto, no meio de tantas
obras fracas, surge uma esperança: Imperatriz Leopoldina 2011.
Uma obra muito boa. Concorre com a Vai-Vai de SP pelo melhor samba do
ano de 2011. No RJ tem o Império Serrano no Grupo de Acesso.
Quanto ao CD, fora a melhora no quesito coral de fundo, o resto chega a
beirar o horrível. O mais curioso é as baterias: enquanto
criticam a bateria retíssima da Beija-Flor, mas com um surdo
fazendo BUM, o resto é marchinha alemã com PAM PAM PAM.
Nota: 5,5
1. Unidos da Tijuca: “É o boom! Quem não viu? A casa caiu”.
Antes de continuarem criticando a fraca letra, vou revelar a sacada
principal da Tijuca para 2011. O eu-lírico da sinopse de Paulo
Barros foi a MORTE. Quem canta é a MORTE. Portanto, Bruno Ribas
mais interpreta do que canta. Acertaram ao arredondarem o refrão
do meio. A melodia é o ponto positivo. Tentem ouvir no aspecto
de quem canta é a MORTE. Melhora o entendimento das
intenções dos compositores da obra. Por outro lado,
continua o “feijão com arroz” tijucano. Costumo
explicar assim: existia uma Tijuca antes Paulo Barros, outra
completamente diferente depois do carnavalesco chegar na
agremiação. Mesmo quando a comunidade do Borel enfrentou
um período sem o Paulo Barros, manteve as características
do carnavalesco. Nota: 8,5
2. Grande Rio: “Eu também sou carijó”
A bateria acelerada exageradamente contribui contra a proposta à
Ilha anos 80 com versos curtos. O refrão à Vila 1997
quebra a melodia que é aquela pesada da Beija-Flor anos 2000. O
resultado disso aparece em uma faixa curta com a boa performance
de Wantuir. Só perde na categoria trash do ano, “uma
pena”. Na realidade, atrapalhou muito a tal idéia de
“modernidade” dos escritórios, porque os autores
tentaram fazer uma grande obra. Não custa tentar, porém
tem um custo. Observação: o Ciça continua
acelerando os sambas com a bateria, logo, a faixa ficou horrorosa!
Nota: 8,5
3. Beija-Flor: A
faixa da Beija-Flor apresenta uma bateria acelerada, todavia fazendo o
som de surdo ser som de surdo. A ótima melodia está
desentrosada com a fraca letra, que força uma quantidade absurda
de “lá”. Fiquei a perguntar o real motivo disso.
Talvez, a resposta venha em alguma comparação com a
“Canção do Exílio” de Gonçalves
Dias. A segunda parte é bonita, embora apresente versos com
rimas forçadas como um terminado pela palavra
“emoção”. Os refrãos apesar de
conseguirem cativar o povão, continuam com a redundância
na letra. Para fechar com a chave quebrada, registro o verso do samba
concorrente de Erasmo Carlos escondidinho no samba oficial: “Esse
momento lindo”. Nota: 8,5
4. Vila Isabel: Primeiro
samba horroroso da safra. A estrutura tenta ousar, porém
decaí muito pelo artifício clássico de jogar pro
alto a sinopse do enredo. Samba chega desanimar o ouvinte,
curiosamente, pela aceleração extrema da bateria. Tinga
melhora seu desempenho ao cantar mais do que gritar no samba. A letra
confusa aliada com a falta de uma qualidade de sintonia entre a
idéia e a prática dela. A introdução parece
mais de bloco, jamais de uma escola de nomes consagrados na parte de
composições como Martinho da Vila e Noel Rosa. Por isso,
peço a volta da Vila dos grandes sambas, com um detalhe: a
plástica deve continuar sendo a do sucesso vitorioso de 2006 em
diante. Nota: 8
5. Salgueiro: “O cenário é perfeito/De braços abertos sobre a Guanabara”.
Não é um filme de terror, sim um filme de suspense.
Versos fraquíssimos, casos de “E o ‘King Kong’
no relógio da central”, além de “Toca um
‘Bip-Bop’, a furiosa bateria”, desnecessárias
as aspas, fora a viagem paranóica do “Bip-Bop” que
não aparece na sinopse. Já saí perdendo ponto em
enredo. Em compensação, os refrãos são
bons, direito ao principal usando o recurso de versos brancos.
Há umas sacadas interessantes na letra, mesclando com aquelas
pérolas... Parabéns aos intérpretes, cantaram
muito bem no CD, mais pro Quinho, uma grata surpresa. Surgiu aquela
faixa despretensiosa, sem valor, que consegue crescer na avenida.
“Tambor” voltou melhorado. É outro Salgueiro. Nota:
8,5
6. Mangueira: Bacana
a introdução da Beth Carvalho sobre Nelson Cavaquinho,
literalmente, “Você voltou!”, a Mangueira
também. Só penso que chega a um ponto de enjoar ouvindo
repetidas vezes a introdução da faixa. Os três
tenores versão 2011 acertaram no entrosamento. O melhor samba do
ano começa com um refrão arrasa-quarteirão, depois
faz uma homenagem a própria agremiação na primeira
parte junto a homenagem ao Nelson Cavaquinho. O clássico
“Sou Mangueira!” aparece mais uma vez no samba-enredo da
escola fundada por Cartola. O refrão do meio não condiz
com o resto da obra. A segunda parte emociona o ouvinte. Uns errinhos
poderiam ser evitados, além do fraco refrão do meio.
Aspas desnecessárias nas citações de
músicas do homenageado, por exemplo, “Aquela dor”.
Isso tiraria um pouco da poluição na
visualização na letra. O verso desnecessário
“Morro de alegria, emoção” prejudica a
qualidade da obra, pois na segunda parte já aparece
“Impossível não se emocionar”. O samba tem a
cara dos anos 80. A Mangueira possuía obras mais qualificadas.
É apenas um bom samba, não chega perto de uma obra-prima.
Nota: 9,1
7. Mocidade: Daqui
em diante, transforma em um show de horrores. Eu canto só o
refrão principal, porque é o pula-faixa do CD. O hino de
2011 compara-se com outros hinos truculentos do século XXI da
escola da Zona Oeste. Marchinha mal feita, Nego tentou melhorar o
boi-de-abóbora de 2011, contudo, evangelizou o bom
refrão. O resto apresenta pérolas incríveis,
versos “maravilhosos” a exemplo de “Meu
coração venceu o medo” ou “O que era gelo
virou felicidade”. Para deixar bem “claro” o enredo
sobre a agricultura, na segunda parte, soltaram versos citando tudo o
que poderia ter direito. Virou “salada de frutas” de
informações. Para acabar com os problemas do mundo
resolveram escrever que se plantar algo, o mundo vai colher e um
milagre vai acontecer, pelo menos é o que afirma o refrão
do meio. Rimas clichês também permeiam a tragédia
musical como liberdade com felicidade. Parece competição
para ganhar de pior samba da história da Mocidade, vamos ver
quem ganha: “Bye, bye, Brasil” ou “Parábola
dos Divinos Semeadores”? Façam as apostas. Só
aviso, a segunda opção é samba de
escritório. Nota: 5,5
8. Imperatriz Leopoldinense:
Samba razoável. Comprovo isso contando as
repetições de palavras das famílias de curar e
ciência. Ou seja, a obra fica enrolando até pra não
ficar trash. A segunda parte faltou um pouco de clareza no que
significa “Luz”, sem chances para um entendimento mais
objetivo. É o samba oposto da Beija-Flor 2009. Torço para
que escola consiga arrumar a melodia carregada da
gravação do CD para uma leveza, já proposta nas
fantasias e no enredo. No geral, ainda dá tempo para mudar o
resultado do CD para avenida. Eu não gosto de rimas excessivas
com verbos no infinitivo, prejudica a criatividade do compositor. Nota:
8,2
9. Portela:
Mais um samba razoável, porém pior em
relação ao anterior. Dois refrãos diferentes um do
outro, pois o principal é valente e chega a ser interessante, no
entanto, o do meio é clichê até a tradicional rima
de especiarias com mercadorias, uma redundância, já que
especiarias são mercadorias de fato. A falta de criatividade
fica evidente ao contar quantas vezes aparecem na letra palavras do
gênero navegar ou navegador. A melodia tem poucas
variações, mas interessantes, além do erro de
métrica em “Nas águas de Iemanjá”
contribui para desqualificar a obra. Tem uma pérola
fortíssima a candidata do ano para o prêmio pérola
do ano: “A ambição do europeu se encantou”.
Em “Oi leva mar, oi leva” até o refrão
é a parte boa do samba. Para o grand finale da
avaliação, aparece um erro bisonho de Geografia nos
versos “As galés do oriente já vêm/Da
Fenícia e do Egito também”, mostrando o
“belo” conhecimento da localização dos povos
da Antiguidade. Ainda assim, no primeiro verso do erro
geográfico citado, utiliza “vêm”, um recurso
de tentar ser moderno, interativo. Enfim, samba de péssimo
gosto. Apenas o parabéns ao Gilsinho pela bela voz na faixa.
Nota: 7,2
10. Porto da Pedra:
Legítimo samba que no CD inverteu a proposta da escola. Deixaram
a faixa muito pesada, contudo ainda temos erros em letra, alguns
estranhos, outros até aceitáveis. Primeiro, não
sabemos quem é a tal Clara mencionada na obra, isso torna mais
difícil compreender a mensagem passada pelo samba-enredo.
Abordar os livros de Clara Machado é conhecer as suas
características como o feminismo evidente, a busca pelo
existencialismo interior, além da linguagem rebuscada e
simbólica. A autora inspirou Lygia Fagundes Telles, Lya Luft e
Clarice Inspector. Vamos pra análise da obra musical: o
refrão do meio é muito ruim nos dois primeiros versos,
onde esquecem de nexos, ou seja, ficam informações
soltas. “Vem no galope o corcel, feito azul do céu”
tem uma caída que pode prejudicar o canto dos componentes.
Impressionante o número de vais e vens aparecendo na letra.
Ainda sobre o refrão do meio, o terceiro verso repete vento
vendaval, uma redundância óbvia. As duas partes do samba
apresentam listas de informações, fazendo um enxugamento
ao ouvinte, não entendendo absolutamente de cada história
da escritora. Desejo uma boa sorte à agremiação de
São Gonçalo, ao Luizinho Andanças e a toda a
comunidade que apóia uma entidade tão envolvida nos meios
sociais da região. Nota: 8,5
11. União da Ilha:
UM HORROR DE SAMBA! O trash do ano de 2011.
“Parabéns” aos compositores pelo prêmio
alcançado, realmente, as farmácias genéricas no
Rio de Janeiro precisam de uma música para divulgar os descontos
aos sambistas. Melodia mais genérica do que a da Ilha para 2011
só se for de alguma escola dos grupos bem debaixo - D e E -
porque é difícil bater a meta da agremiação
em levar em um G-R-U-P-O E-S-P-E-C-I-A-L uma obra muito ruim. Uma letra
tão clichê, mais tão clichê, um atestado aos
ouvidos. Não há variações nem
inovações ou qualquer tipo de ousadia. Tem cada
pérola escolhida para cada verso do samba, não dá
pra citar qual é a pior. O refrão principal feito para
empolgar o componente, tenta disfarçar o horror do ouvinte com o
resto da obra. Cadê a União da Ilha do povo, da forma
simples, além de lírica? “Ah, temos que
modernizar...”, chega de discursos furados. Queremos carnaval
como ele foi. “No entanto, ele mudou...”, sim, houve
transformações, todavia, não perdeu a sua
essência. Isso visto hoje nas escolas com disputas viciadas com
esquemas ou manobras políticas para um samba X em vez de
escolher o melhor, ou até realmente alterar a obra vencedora
para melhorar a sua qualidade, são desconsideradas. Importante
é fazer grana, ter grana, sem preocupações com a
qualidade do lixo feito musicalmente. Dá vontade de chutar o
balde para esses argumentos de modernidade ou interatividade... Nota: 6
12. São Clemente:
Enredo saturado, samba cansativo de versos sem criatividade. Outra
faixa onde o CD deixou pesado. Aliás, lá no G1 no site
sobre o carnaval no Brasil, estão os vídeos com os sambas
cantados com o bate-papo com os compositores responsáveis pelo
CD trágico. Enfim, podem esperar um samba mais leve na avenida.
Estreia destaca do Igor Sorriso com muita energia na faixa. Boa sorte
ao garoto. Nota: 8,3
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