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Os sambas de 2011

Os sambas de 2011 por Marcos Paulo Barbosa

A GRAVAÇÃO DO CD: É uma gravação competente, que tem lá os seus méritos, e evoluiu do ano passado para cá. É bem verdade que os sambas estão muito acelerados, mas é uma tentativa de repetir o que se passa na avenida. Se você não gosta de sambas "ligeiros", reclame com cada uma das escolas de samba, pois essa é a tendência da década, ou do século. A ideia de um intérprete "falar" com o outro no fim da faixa é muito original, mas se torna confusa para quem não sabe disso e ouve na internet, por exemplo. Ainda é muito melhor que os sambas "de computador" dos últimos anos. NOTA DA GRAVAÇÃO: 9,2.

UNIDOS DA TIJUCA: A escola do Borel repete a fórmula não muito boa, muito menos original, do ano passado. Decidiram fazer como um alusivo, um enfeite para o entendimento do enredo, que não é um dos mais fáceis. A rima "cartaz, faz" é repetida duas vezes, e, obviamente, tal fórmula não é intencional e não foi vista pela direção. Faltou criatividade para eliminar um dos dois erros. "Meu medo não teme ninguém" não é uma antítese lá muito feliz, e pode confundir o mais desavisado. No refrão central há muitos -iu verbais: "viu, caiu, explodiu". Também faltou criatividade nessa parte. "...Isso não se faz" não possui melodia certa, há o erro de métrica. É um samba ruim. Péssimo para a "campeoníssima do carnaval". NOTA DO SAMBA: 8,5.

ACADÊMICOS DO GRANDE RIO: É um samba muito curto, e isso é bom quando o objetivo é fazer os componente se lembrarem da música. É guerreiro, mas a letra é quem peca. Primeiro, o samba não explica o enredo com clareza e fica tudo muito vago, sem nexo. Segundo, há a repetição de -ão na letra (7 vezes), e isso fere visualmente a obra. No restante, perfeito! NOTA DO SAMBA: 9,8.

BEIJA-FLOR: O fiasco do ano, sem dúvidas! Só não consegue piorar porque o Neguinho dá uma condução boa, mas mórbida para um samba "em tom maior". Faltou força para contar a vida, porém não caiu no erro do "samba de retalhos" que normalmente os compositores fazem quando o tema é homenagem de artista. A melodia cansa, e a tentativa de inovar pelo menos um pouco vai para o espaço. A letra, por sua vez, tem erros normais para obras "inferiores", e é uma vergonha que isso aconteça na Beija-Flor, a maior escola dos últimos tempos. Primeiro erro, o "botar pra fora a felicidade", que é feio esteticamente e tira o brilho do refrão, que normalmente é a melhor parte de qualquer samba. O próximo, no refrão central: a repetição de "amor" duas vezes sem qualquer sentido para ter tal efeito. Pobreza poética, é o nome certo. Pobreza também para os ""s em " no meu Cachoeiro.../E  vou eu..." e "eu"s na partes "Eu cheio de fantasias/... E lá vou eu...". Também há repetição de palavras terminadas em -ão em todo o samba (12 vezes, contando os plurais, que de pouco ajudam). NOTA DO SAMBA: 5,5.

UNIDOS DE VILA ISABEL: Gosto muito do samba. Muito mesmo. Mas não é o melhor do carnaval desse ano. O andamento poderia ser mais lento para o nosso entendimento, porém vai ser desse jeito que o samba irá. Sabemos como as coisas funcionam no bairro de Noel. A melodia é muito boa, e os três refrões não influenciam no samba. Só falha em duas partes: a primeira "Os ritos aos astros" que o "ri" de "ritos" é esticado para se encaixar na melodia. A outra "...a inspiração, afinal", o "afinal" não é entendido. A letra também apresenta dois erros: "Vila" rimando duas vezes, sem a criatividade para formar novos versos. E "-ão" repetido dez vezes na letra pequena, o que expõe ainda mais o problema. No mais, é um ótimo samba arrasta-quarteirão. NOTA DO SAMBA: 9,5.

ACADÊMICOS DO SALGUEIRO: A obra é cantada por três intérpretes: Quinho, Leonardo Bessa e Serginho do Porto. Todos são ótimos puxadores, mas a voz do Quinho é a que impera, restando a parte mais "pobre" para os outros dois resolverem. A parte "Já não há mais lugar pra nos ver na passarela" não tem melodia alguma, além de ser enorme e de ser engolido a seco por quem cantar. Não dá para entender a obra: primeiro vem mostrando a maravilha do cinema, para depois vir com "retalhos", cada um mais estranho que o outro. Falta nexo à obra, uma parte não interage com o resto e tudo fica sem entendimento. "Bip-Bop" não é lá muito poético e tira a lógica dos últimos versos. A melodia é boa, mas não promete ser cantado fielmente pelo público no dia do desfile. Faltou criatividade. NOTA DO SAMBA: 8,0.

ESTAÇÃO PRIMEIRA DE MANGUEIRA: O melhor samba do ano, sem dúvidas. A letra é criativa e não peca muito. "Muito" por causa do refrão central, que repete "-ão" no final de três de quatro versos, ou seja, é repetido seis vezes sem parar. A melodia é perfeita e promete encerrar com chave de ouro a noite de domingo. Parabéns aos compositores paulistanos, especialmente Alemão do Cavaco e Rifai, velhos conhecidos da Gaviões. NOTA DO SAMBA: 9,9.

MOCIDADE INDEPENDENTE DE PADRE MIGUEL: É mediano em praticamente tudo, letra e melodia, e parecido com o samba do ano passado. É um samba "certinho", feito para quatro ou cinco pessoas. Não vai para embalar. Só a última parte que não tem sentido, cada verso tem um significado diferente, que nos faz pesquisar o enredo para entendê-lo. Simplesmente passa por batido! NOTA DO SAMBA: 8,5.

IMPERATRIZ LEOPOLDINENSE: A melodia é ótima e disfarça erros que tiram a soberania da Imperatriz dos sambaços. Primeiro, repetição de treze verbos terminados em "-ar" no samba. Dezenove, se contarmos com os refrões repetidos. Pobreza poética extrema, principalmente nos refrões e na segunda estrofe. "Chamar, doutor" já pode ser considerado um chavão para enredos "medicinais", e na última parte tem um clichê horrível, e muito imperceptível. "...Dividida em doses de amor.../...o remédio pra curar a minha dor". Rimar amor com dor devia ser proibido nas escolas de sambas. NOTA DO SAMBA: 8,8.

PORTELA: A águia traz um samba que explora o enredo ao máximo, e não consegue fazer uma ótima obra. O refrão, devidamente plagiado do melhor samba das eliminatórias de 2010 em São Paulo (isso mesmo, São Paulo) já mostra uma falta de criatividade. A primeira estrofe e o segundo refrão não empolgam em momento algum, além de repetirem as rimas do refrão principal ("mar" e "navegar"). Aliás, o grande problema desse tipo de samba é a repetição de significado, ou seja, a mesma coisa dita várias vezes, em palavras diferentes. Na Portela não foi diferente. A segunda estrofe emociona, apesar de ter a repetição de verbos em "-ar" (4 vezes) nos últimos sete versos. O refrão, plagiado, como já dito, mas muito bonito. NOTA DO SAMBA: 8,2.

UNIDOS DO PORTO DA PEDRA: Quem é "Clara"? Essa é a pergunta indevida da Porto da Pedra em seu samba. Não é a Nunes, a gente sabe. É a Maria Clara Machado, uma escritora infantil. Já foi enredo na União da Ilha, em 2003. Vamos agora à letra, pois a melodia é mais do mesmo quando o assunto é Porto da Pedra. "Vento vendaval" é redundante, e praticamente sem sentido. Há a repetição de quatro verbos em "-ar". Isso seria pouco, se não estivesse na menor estrofe, ficando bem visível. O "vai, vai, vai, vai" não tem lógica alguma e parece um samba da Vai-Vai. Sonhar se repete em uma parte além do refrão, sendo esse o problema. É muito feito repetir versos que já existem no refrão. É um grande samba (só no tamanho) para um tema infantil, que geralmente tem um tom maior, maior que esse samba, e uma letra simples e pequena. Não vai empolgar sendo a penúltima a entrar na segunda. NOTA DO SAMBA: 7,8.

UNIÃO DA ILHA DO GOVERNADOR: Parece, no começo, ser um samba valente, mas só parece. A melodia é fraquíssima, e a letra acompanha o ritmo. 17 repetições de "-ar" em todo o samba, que é pequeno. Isso é muito, e torna o samba o de pior letra do Grupo Especial deste ano. Ito Melodia não ajuda muito. A melodia do refrão chega a ser forte, mas vai diminuindo no restante, chegando com anemia de volta ao refrão. Esse é um erro que jamais se deve ser cometido em qualquer samba de Grupo Especial. Pôr "Deus e Darwin" no mesmo samba é brincadeira. Não vi muito do enredo na composição. Preciso dizer que é fraco de novo? Em suma, o samba é para Grupo de Acesso, sem desmerecê-lo, e se a União voltar a fazer um desfile como o do ano passado, é para lá que ela vai voltar. Grupo Especial é profissional, não brincadeira. Por mais que quiséssemos. NOTA DO SAMBA: 4,0.

SÃO CLEMENTE: Não é um samba ruim, mas não chega a ser uma obra-prima. É bem funcional, mas não chaga a cumprir a tarefa de abrir com brilho os Desfiles. Se não abre bem, é rebaixada (menos se vier uma muito, muito, muito pior, no caso da Viradouro no ano passado). Falar sobre a cidade de origem é pouco original e previsível na falta de assunto. Falar que o carioca é malandro, feliz, moreno, etc., também é clichê. O mais estranho do samba é a passagem entre o segundo refrão e a segunda estrofe, onde o fio da meada é perdido totalmente. Na verdade, o samba não é bem definido e muda de tema várias vezes sem "aviso". "Passo a "passos"... Civilização" é um verso sem sentido, ou que não é bem explicado, ou seja, é errado em qualquer uma das hipóteses. Outro problema é a mudança de tom maior para menor e vice-versa, o que deixa a melodia com altos e baixos. A coisa boa é o Igor Sorriso mostrando ser o futuro dos intérpretes, e muito bem. Ele salvou o samba! NOTA DO SAMBA: 8,5.