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Os sambas de 2011

Os sambas de 2011 por Marco Maciel

A GRAVAÇÃO DO CD- O estilo de 2010 foi mantido, com o registro da bateria e do coral na Cidade do Samba, a fim de dar o clima de gravação ao vivo. Claro, ainda está devendo em relação às impecáveis produções do saudoso Teatro de Lona da Barra da Tijuca nos anos 90. Mas, pelo menos, se distancia das modorrentas artificialidade e frieza de estúdio que marcaram as produções entre 1999 e 2009, com alguns desses álbuns com registros desprezíveis. O que se percebe no CD 2011 são os destaques para a voz do intérprete e, principalmente, do coral, que na maioria das faixas chegam a abafar a bateria, mais discreta com relação a 2010. As cordas também estão praticamente imperceptíveis. Infelizmente, algumas baterias erraram feio no andamento, prejudicando o registro de alguns sambas, em especial a Vila Isabel. No geral, elas estão um tanto aceleradas, adeptas à síndrome do "samba afrevado" cantado pela Imperatriz no ano do bacalhau, à exceção de Unidos da Tijuca e Mocidade, que optaram por cadenciar o ritmo. Como em alguns anos a produção procura inovar, buscar novas ideias, a sacada da vez é o intérprete chamar o próximo cantor, anunciando a faixa seguinte. Na de abertura, é Jorge Perlingeiro, o leitor das notas na Quarta-Feira de Cinzas, quem anuncia a Unidos da Tijuca. Expediente semelhante foi realizado no CD de 2005, quando o locutor oficial da Sapucaí, Demétrio Costa, era quem anunciava cada agremiação. Sobre a safra 2011, está anos-luz de ser brilhante, mas felizmente está longe da tragédia que previ inicialmente (algo similar à tenebrosa safra 2009) graças às corretas escolhas das escolas num âmbito geral. Não temos nenhuma obra-prima, ao contrário das duas de 2010 (Vila Isabel e Imperatriz), mas também não temos bois (em 2010, Portela e Porto da Pedra foram as ovelhas negras). Praticamente todos os sambas são nivelados, colocados num patamar de médio para bom, porém distantes do status de excepcionais. Coloco, na ordem, Mangueira, Beija-Flor, Vila Isabel, Imperatriz, Salgueiro e Unidos da Tijuca como os melhores do ano, o restante médios e apenas União da Ilha como inferior aos demais. Como irão perceber ao longo dos comentários, faço uma brincadeira com as constantes e recentes citações do Egito nos sambas. Nada diferente com relação a 2011... NOTA DA GRAVAÇÃO: 7 (Marco Maciel).

"Vem aí a campeoníssima do carnaval 2010. A Unidos da Tijuca! Com vocês, Bruno Ribas! Só se for agora..."

1 - UNIDOS DA TIJUCA - "É o boom, quem não viu, a casa caiu". Abrindo o CD, a atual campeã do Grupo Especial aparece com um samba simpático e envolvente, que segue a linha dos anteriores da agremiação, com características funcionais visando o movimento das alas coreografadas de Paulo Barros. Natural, pois em time que tá ganhando... E relação ao de 2010, é um samba mais forte e encorpado, com variações melódicas mais presentes e dois qualificados refrões que chamam o componente para cantar a plenos pulmões. Sobre a letra, ela não deixa tão clara a ideia do enredo numa primeira leitura, dando a impressão que será melhor compreendida apenas no momento do desfile, sobretudo pela descrição de alguns elementos que deverão constar na apresentação tijucana. A gravação a princípio não agradou a alguns, em virtude da cadência excessiva da "Pura Cadência". Bruno Ribas também teria deixado alguns trechos retilíneos com relação à gravação dos compositores, além da mudança do canto do emblemático trecho "é o boom", que pode explicitar um duplo sentido para uma resposta aos críticos do estilo do carnavalesco da escola. Mas eu rapidamente me habituei a esse estilo mais cadenciado, assim como aprecio cada vez mais a boa atuação do intérprete tijucano na faixa. Abre o álbum em grande estilo! NOTA DO SAMBA: 9,4 (Marco Maciel).

"Faz barulho pro Wantuir..."

2 - GRANDE RIO - "Eu também sou carijó". Cresceu muito na gravação! O samba caxiense dava a impressão que passaria despercebido na safra, mas a obra ganhou força com a excelente atuação de Wantuir e principalmente da bateria do Mestre Ciça, que recebeu um toque especial dos atabaques, também abusando das bossas. Tem poesia simples, até com alguns clichês, e seu melhor momento ocorre no fim da primeira parte, a partir do verso "eu também seu carijó", que inicia uma bela preparação para o bom refrão central. A melodia do estribilho lembra Vila Isabel-1997 e também Curicica-2010 com seu "Caldeirão vai ferver". O samba não é um primor, longe disso. Mas também deve se destacar por sua eficiência no desfile. NOTA DO SAMBA: 9 (Marco Maciel).

"Alô, Neguinho! Chega mais..."

3 - BEIJA-FLOR - "O beijo na flor é só pra dizer". Muito bonito! Roberto Carlos ganha mais uma homenagem à altura em termos de samba-enredo, assim como em 1987 com a Unidos do Cabuçu. A maior virtude da obra é não se prender na obrigação ou necessidade de sua letra ser uma compilação de aspas referente à canções do Rei, com a letra buscando uma poesia própria em exaltação ao cantor, que pediu para que a letra não estivesse em primeira pessoa. O refrão principal talvez seja seu trecho mais discreto, com o discutível verso "botar pra fora a felicidade". A primeira parte, com relação a versão dos compositores, teve a supressão de dois belos versos melódicos, mas que para a descrição do enredo não fizeram falta. O refrão central é primoroso em termos de melodia e letra, o melhor estribilho do ano. A segunda parte mantém a dolência, com destaque para o trecho "de todas as Marias vêm as bênçãos lá do céu", que evoca sua religiosidade. Neguinho da Beija-Flor mantém a média, ou seja, belíssima atuação, juntamente com o coral nilopolitano cantando muito. Candidato ao Estandarte! Milagre que deixaram o Egito de fora dessa vez... Em se tratando de Beija-Flor, é de se admirar! NOTA DO SAMBA: 9,5 (Marco Maciel).

"Alô, Tinga! Solta o bicho!"

4 - VILA ISABEL - "Modéstia a parte, amigo, sou da Vila". De onde menos se esperava, saiu um belíssimo samba. O enredo sobre o cabelo criado por Rosa Magalhães, naturalmente, municiou os céticos, que logo se calaram ao se depararem com a obra da Vila Isabel. A escola ressuscitou o alusivo no começo da faixa ao aparecer com um "A Swingueira... eu sou da Vila..." de qualidade discutível. Mas, particularmente, a gravação me desagradou e muito. Não era necessário a Swingueira da Vila acelerar tanto, o que tirou um pouco o brilho do samba, enquanto que na versão dos compositores o andamento é perfeito. No CD, foi o samba que mais caiu, mas ainda assim não deixa de ser um dos melhores do ano. A melodia é forte, com um bom número de trechos inspirados - em especial na segunda parte - com os dois refrões ousados carregando a marca do compositor André Diniz, o maior vencedor da história da agremiação. Tinga tem atuação correta. Momento Egito: o país aparece representado por suas perucas... NOTA DO SAMBA: 9,5 (Marco Maciel).

"Arrepia Quinho..."

5 - SALGUEIRO - "Meu Salgueiro, o Oscar sempre é da Academia". Muito bom! Depois de alguns sambas inexpressivos, a Academia enfim resolveu trazer para a Sapucaí uma obra elogiável. Mais do que a boa qualidade, o mais importante foi o Salgueiro se despreender dos sambas-enredo discutíveis, de melodia genérica, e eternos seguidores do estilo Ita que empobreceram os hinos da escola nos últimos carnavais. A escolha desta obra na final salgueirense foi a mais agradável surpresa que tive esse ano, já que muitos torceram o nariz, alegando que Quinho não conseguiria ter um desempenho satisfatório ao entoar um samba longo, complexo, repleto de variações melódicas de boa qualidade e de belíssimos versos como "Em um simples instante, Orfeu vence as dores em som dissonante, e as cordas do seu violão silenciam para o amanhecer". Curiosamente, Quinho se sai muito bem na gravação do refrão principal e da primeira parte, na minha visão até melhor do que Serginho do Porto e Leonardo Bessa, incumbidos do estribilho central e da segunda. Aliás, foi uma bola dentro do Salgueiro ao trazer esses dois bons intérpretes para dividir o microfone oficial com o veterano Melquisedeque. O único porém do samba do Salgueiro talvez seja o excesso de citações de elementos dos desfiles presentes na segunda parte, o que torna a letra um pouco incompreensível e até confusa (mas a bela melodia compensa). Pergunta que não quer calar: será que a Furiosa conseguirá tocar o dito "bip-bop"? Ficaremos no aguardo do desfile... ou do ensaio técnico para os mais ansiosos. NOTA DO SAMBA: 9,4 (Marco Maciel).

"Comunidade, aí vem os três tenores da Mangueira. Ai que lindo, que lindo, hehehe..."

6 - MANGUEIRA - "Sonhei que folhas secas cobriam meu chão". O melhor samba do ano! Curiosamente, a opção do presidente Ivo Meirelles por uma obra oriunda de compositores paulistanos gerou muitos protestos, que confesso particularmente ainda não compreendê-los, já que sempre torci por este samba na disputa. A justificativa mais plausível: na gravação dos compositores, o samba tinha uma levada dolente demais, em alguns momentos melancólica, mas a beleza de sua melodia sempre foi nítida. A obra, como o esperado, recebeu uma "adaptação" com uma levada mais "pra cima". Necessário, já que a Estação Primeira mais uma vez fechará uma noite de desfiles. Os "três tenores", com Ciganerey no lugar de Rixxa além de Luizito e Zé Paulo Sierra, têm boa atuação, mas eu sempre reforçarei minha ideia de que Luizito deve ser o único intérprete, por este ser o mais identificado com a verde-e-rosa (além de possuir o melhor desempenho entre o trio na faixa). Como ressaltado por Ivo ao justificar a escolha na final, a bela letra está em primeira pessoa, como se o próprio homenageado Nelson Cavaquinho estivesse contando sua trajetoria. O refrão principal, acusado por muitos de ter característica de samba-enredo paulistano, me agrada. O estribilho central melhorou muito com as alterações, recebendo uma certa identidade mangueirense. A segunda parte é primorosa melodicamente, a partir do verso "Sonhei que folhas secas...". Deverá ser o favorito para receber o Estandarte de Ouro, já que, felizmente, começo a perceber que muitos já estão abraçando o samba-enredo mangueirense. Lá do céu, Nelson agradece! Como diria Beth Carvalho na emocionante abertura da faixa: "Você voltou!". NOTA DO SAMBA: 9,7 (Marco Maciel).

"Nêgo, agora é contigo!"

7 - MOCIDADE - "Meu coração vai disparar de novo". Em 2010, a escola recebeu mais uma vez a ingrata missão de abrir uma noite de desfiles, como em 2005 e 2008. Missão dura? Não para os componentes, que proporcionaram um verdadeiro espetáculo de harmonia, como há algum tempo não se via na Sapucaí. O samba, mesmo limitado e até marcheado em alguns momentos, deu um verdadeiro sacode e embalou a Mocidade, que vinha de uma sequência de apresentações ruins, a um sétimo lugar muito comemorado. Como previsto, a agremiação fará um expediente semelhante em 2011. Basta comparar as letras dos refrões principais de 2010 e 2011... Sobre este, será o coração da ambição da escola em voltar ao Sábado das Campeãs, algo que não ocorre desde 2003. Mais uma vez carrega a característica de ser um "arrasta-povo", quase uma "micareta". Mesmo com o sucesso do samba de 2010, o mesmo acabou sofrendo descontos dos jurados por alguns versos que justificaram ser pobres poeticamente. Daí o cunho crítico presente na segunda parte, encabeçado por "Mudaram meu papel, oh Padre Miguel, hoje ninguém vai me censurar" e "Aonde vou arrasto a multidão, de cada cem só não vem um". Temo que os jurados impliquem com versos como "O que era gelo se tornou felicidade" e "Até a nobreza teve que engolir" e também pelo fato do refrão principal e da maior parte da segunda não retratar o enredo. Nêgo, que já havia puxado o samba de 2010 (com David do Pandeiro), dessa vez foi o responsável pela boa gravação do CD, que contou com uma bateria cadenciada, ao invés da aceleradíssima do ano anterior. Curiosidade: o início da primeira parte lembra um pouco o começo dos sambas portelenses de 2007 e 2010. NOTA DO SAMBA: 8,8 (Marco Maciel).

"Olha o Dominguinhos chegando..."

8 - IMPERATRIZ - "Se alguém me decifrar, é verde-e-branco meu DNA". O samba comprova a grande fase da ala de compositores gresilense, atualmente a melhor do Grupo Especial. Fazer um samba-enredo sobre medicina é uma tarefa árdua. Pois com simplicidade e sutileza, a Imperatriz esbanja qualidade poética na sua obra para 2011. Particularmente, acho o refrão principal a melhor parte, levando em consideração sua ousada - e um tanto arriscada - linha melódica, apesar do temor por arrastamento ser flagrante. Lembrando que o primoroso "Mar de Fiéis" em 2010 teve um desempenho aquém da expectativa... Porém, a letra do mesmo estribilho impressiona, sendo uma verdadeira exaltação à escola adequada ao enredo. A linha poética segue no mesmo ritmo no decorrer do samba, apesar de inevitáveis trechos como "uma injeção de alegria" e "é a minha escola a me chamar, doutor". Mas os dois últimos versos "Posso ouvir no som da bateria o remédio pra curar a minha dor" revelam uma excelente transição para o ousado refrão principal. É o samba mais pesado do ano no Grupo Especial. Possui boa qualidade, mas temo por seu desempenho na Sapucaí. Desde já, fico na torcida por sua boa passagem! Destaque também para a bateria, em especial para a cuíca que é um show à parte (e os pratos, que já se tornaram uma marca da Swing da Leopoldina), e para a interpretação de Dominguinhos do Estácio. Momento Egito: um dos sambas finalistas e derrotados cita o país africano. NOTA DO SAMBA: 9,4 (Marco Maciel).

"Aí, Gilsinho! Agora é contigo! Vai na ginga, vai na ginga!".

9 - PORTELA - "Oi leva mar, oi leva". A melhor gravação do CD! Foi o samba que mais cresceu no álbum, graças à excelente atuação de Gilsinho, que vive uma fase espetacular e por também estar naturalmente bem habituado ao samba-enredo do qual é um dos autores. Mesmo assim, sua maior virtude foi tornar a obra portelense perceptível, já que está longe de ser um dos destaques da safra 2011. Melodicamente, o samba não se destaca, a não ser na segunda parte a partir do trecho "oi leva mar, oi leva", cantado com uma força impressionante pelo coral, e também pelo trecho "Portela vai buscar no horizonte", embora este se remeta aos anteriores da escola, ambos com melodia semelhante. Como se fosse alguma novidade em termos de Portela, a letra mais uma vez é extremamente descritiva, procurando resumir todos os elementos que estarão presentes no desfile. Tal complexidade do enredo recebeu queixas do compositor com maior número de vitórias na história da agremiação, David Corrêa. Pra variar, é mais um samba que cita o Egito... Pelo menos a obra é superior à tragicômica "jaqueira positiva pra nação deletadora de barreiras e de raiz linkada" de 2010. Tarefa nada difícil... NOTA DO SAMBA: 8,8 (Marco Maciel).

"Agora é tudo contigo, meu parceiro Luizinho Andanças".

10 - PORTO DA PEDRA - "A bruxa boa vem aí, eu quero ver". Maria Clara Machado é mais uma vez homenageada na Sapucaí, assim como Jacarezinho-1992 e União da Ilha-2003. O samba, felizmente, é de intenso agrado, ao contrário dos últimos da agremiação. De melodia leve, possui bons momentos melódicos. Aprecio os refrões, principalmente o central (apesar do vago trecho "no vento vendaval da liberdade"), e insisto que o "vai vai vai vai" da segunda deve ser alguma indireta homenagem à escola do Bexiga. Luizinho Andanças conduz de forma segura a obra. NOTA DO SAMBA: 9,3 (Marco Maciel).

"Caramba! É tudo contigo agora Ito Melodia".

11 - UNIÃO DA ILHA - "O show da Ilha vai começar". Não chega a ser um samba ruim, mas é o mais fraco da safra. Sua melodia não possui grandes momentos, carecendo de explosão. Traz a característica de ser "pra cima", como é tradicional na agremiação insulana, porém a ausência da emoção, presente no samba de 2010 por exemplo, empobrece a obra tecnicamente. Ito Melodia, o atual Estandarte de Ouro de intérprete, até faz o samba crescer. Mas a bateria, excessivamente acelerada, dá ao samba um quê de marcha em alguns momentos. O refrão central é o trecho que mais me agrada na obra. Mas, num todo, fica devendo! Minha torcida é que a União da Ilha não dependa do samba para continuar no Grupo Especial. A bela obra de 2010 recebeu alguns descontos dos jurados, mais pela junção desnecessária. Evidentemente, apenas uma parceria foi vitoriosa em 2011, o que, como consolo, pode servir de precaução para a Ilha manter sua tão sonhada sequência na elite. NOTA DO SAMBA: 8,3 (Marco Maciel).

"Agora é com você, Igor Sorriso! Boa sorte! Dá um show! Dá um show!"

12 - SÃO CLEMENTE - "Sou carioca e São Clemente". O maior destaque da faixa, sem dúvida, é a estreia do jovem Igor Sorriso, desde já candidato ao Estandarte de Revelação. O intérprete, que defendeu a escola em 2010 no desfile vencedor do Acesso, registra pela primeira vez a voz em um álbum de samba-enredo justamente no Grupo Especial. E com pose de veterano, fornece segurança à condução do samba-enredo clementiano. Sobre a obra, única fruto de uma junção de duas parcerias no grupo, é apenas correta. De melodia leve, é perfeitamente adequada para a ingrata tarefa de abrir os trabalhos na Marquês de Sapucaí e, acima de tudo, tentar permanecer no Especial e se livrar de vez do incômodo rótulo de escola-ioiô. No mais, não chama muita atenção! NOTA DO SAMBA: 8,8 (Marco Maciel).