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Os sambas de 2011

Os sambas de 2011 por Cláudio Carvalho

A GRAVAÇÃO DO CD: A grande, e talvez única novidade do CD de 2011 seja a interatividade entre as faixas, representada pelo "recado" que cada puxador deixa para o colega do samba seguinte. Não deixa de ser interessante, mas ao mesmo tempo reflete um clima de pieguice entre uma agremiação e outra. No mais, permanecem a nitidez do som e o bom andamento de 2010. Destaque para os sambas e Vila Isabel e Mangueira. Nota:9,5

Tijuca: Seguindo a linha dos anos anteriores, a escola do Borel vem com um samba redondinho, que se não chega a empolgar muito, promete ser extremamente funcional num desfile onde o cantor não compromete, a bateria se garante e a comunidade canta muito. A obra tem momentos de irreverência, como não podia deixar de ser numa homenagem à José Mojica Martins, o Zé do Caixão. Eu só "to com medo" de errar o palpite da escola mais uma vez e o desempenho do hino na avenida ser desapontador, mas sinceramente não creio nisso. Nota: 9,0

Grande Rio: Y-Jurerê Mirim - A Encantadora Ilha das Bruxas (Um conto de Cascaes) é a homenagem da Grande Rio à cidade catarinense de Florianópolis. Enredo sobre município já deu no saco, mas o samba é bom, sobretudo se comparado ao de 2010, o que não necessariamente quer dizer muita coisa...O samba se garante numa melodia valente, nos refrãos empolgantes e, como não poderia deixar de ser, na excelente bateria do Mestre Ciça. Nota: 9,0

Beija-Flor: Está provado por A mais B que Roberto Carlos definitivamente não dá samba. Cabuçu 87 e Beija 2011 estão aí para não nos deixar mentir. Na boa: "chegou a hora de botar pra fora", não dá! O samba tem a melodia arrastada, e a letra razoável passa um "pente-fino" na vida e na obra do Rei. Ouvir essa faixa me faz sentir saudades da época em que a escola de Nilópolis nos brindava com sambões do porte de "Agotime", "Manoa, Manaus" e outros. Nota: 8,5

Vila Isabel: A entrada do samba, com as frases "É a swingueira" e "Eu sou da Vila" repetidas incessantemente, é a nota triste de faixa (e talvez a única). O samba da Vila para 2011 é uma porrada! A letra, com versos que remetem à escola de Noel e exaltam o orgulho de seus componentes, somada à melodia que varia constantemente de tom e à bateria de Mestre Átila, são garantia de um grande hino, à altura de outros da azul e branco do Boulevard. A história do cabelo nunca foi, nem jamais será tão bem contada quanto em 2011.Nota:9,5

Salgueiro: Muito criticado durante as eliminatórias da escola por ser supostamente uma coletânea de frases soltas e aparentemente sem conexão entre si, o samba do Salgueiro tem tiradas inteligentíssimas, como "Maravihosa chanchada sob a direção do Redentor", "No maior espetáculo da tela" e "O Oscar sempre é da Academia" (do samba, e não do cinema). A melodia não é a oitava maravilha do mundo, mas funciona. Destaque para o desempenho de Serginho do Porto, que se junta a Quinho e Leonardo Bessa no carro de som da vermelho e branco. Nota: 9,0

Mangueira: Mais uma vez, um samba exaltando o centenário de um baluarte é o melhor do ano. Se em 2010 tivemos a Vila cantando Noel Rosa, em 2011 temos a Mangueira homenageando Nélson Cavaquinho num emocionante samba em primeira pessoa. A letra, que exalta tanto a escola como seu "filho fiel", se encaixa perfeitamente numa melodia capaz de fazer a verde e rosa desfilar, dar a volta na Praça da Apoteose e começar tudo de novo. Promessa de mais um sacode, como no ano passado. E fica aqui a pergunta: quem disse que paulista não faz samba? Nota:DEZ

Mocidade: Samba tão empolgante quanto o do carnaval passado, mas ao mesmo tempo tão parecido que perde um pouco da força. Não que seja errado seguir uma fórmula que está dnado certo na hora de escolher um samba, mas fica aquela sensação de deja vu quando se escuta a "parábola dos divinos semeadores" da escola de Padre Miguel. Mesmo assim, a promessa é de escola quicando na avenida novamente. Nota:9,0

Imperatriz: Samba de melodia pouco empolgante e letra pouco inspiradora, principalmente em versos tais como: "É verde e branco meu DNA", "É a minha escola a me chamar, doutor" e "posso ouvir o som da bateria". O hino da escola leopoldinense talvez seja o mais desapontador dentre os das grandes escolas. Dominguinhos, entretanto, mostra que está como vinho: quanto mais velho, melhor. Nota: 8,0

Portela: Ouvir o samba da Portela para 2011 é ter a sensação de que se está escutando a mesma coisa de cinco, seis anos atrás. A melodia é quase sempre a mesma, com uma variação aqui e outra acolá. A letra insiste no manjado "é preciso navegar", que aliás é interpretado erroneamente pelos compositores. Quando Fernando Pessoa disse que navegar é preciso e viver não é preciso, referia-se à precisão da navegação e à imprecisão do viver, e não à necessidade de se lançar aos mares para garantir o sustento de um povo. De resto, é mais do mesmo até no merchindising. Nota:8,5

Porto da Pedra: Outro samba manjado, com Luzinho Andanças dando uma de tenor e pedindo aplausos para a escola. Cabe a pergunta: para quem mais o sonho viria se não fosse para quem sonhar? Nota: 8,5

União da Ilha: Belo samba, que remete aos tempos áureos da tricolor insulana, que pelo menos no papel parecem estar de volta (pelo menos a escola dá pinta de ter força suficiente para se segurar por um bom tempo no Grupo Especial). Além disso, ouvir Ito cantando é sempre um momento de nostalgia pelo grande Aroldo, seu pai. Entretanto, um enredo sobre Darwin daria margem à uma letra bem mais inspirada, e fica a sensação de que os versos que lembram o passado da escola entraram na letra como retalhos de uma colcha incompleta. Nota: 9,0

São Clemente: Rimar "São Clemente" com "irreverente" devia ser proibido, sobretudo num samba falando sobre o carioca e o Rio de Janeiro, enredos pra lá de batidos. Batido, aliás, é o adjetivo perfeito para esse hino, que em nenhum momento chega a empolgar. Nota: 8,0