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Os sambas de 2011 - Acesso B por Marco Maciel
A GRAVAÇÃO DO CD –
Produzido por Leonardo Bessa e Chico Frota, o CD apresenta uma
gravação que se assemelha à maioria das
versões dos compositores para os sambas concorrentes nas
escolas, com um pouco menos de recursos em relação
às produções do Especial e do Grupo A. Sem
reedições de
enredos, a safra do Grupo B-2011 é inferior aos anos anteriores,
com poucas obras se destacando. Lins Imperial apresenta o melhor samba!
Tradição e Arranco também possuem ótimas
obras. Fora alguns boizões trashs, os demais hinos passam
despercebidos. NOTA DA GRAVAÇÃO: 8 (Marco Maciel).
1 - UNIDOS DE PADRE MIGUEL - "Hilária Batista de Almeida, é Tia Ciata que vem nos guiar".
O álbum abre com um tema sempre propício para grande
sambas, como as origens do samba através da imagem da
considerada mãe do gênero: Hilária Batista de
Almeida. Porém, quando se espera por um samba valente, ainda
mais vindo de Padre Miguel que tem o costume de levar obras
envolventes nos últimos anos, a agremiação apostou
apenas num samba correto, sem brilho e sem problemas para a
condução do estreante Hugo Júnior, pra tentar
regressar ao Grupo A em 2012. O samba-enredo poderia ser mais forte,
menos funcional. NOTA DO SAMBA: 8,5 (Marco Maciel).
2 - CURICICA - "Eu falo da vida, de sonhos, de amores, valorizando a mente dos compositores".
Mais ou menos o que se esperava na faixa da Unidos de Padre Miguel,
aparece no hino da Curicica. O enredo possui basicamente o mesmo
contexto, dessa vez falando da história do samba. Com letra
simples e narrativa direta, além das inevitáveis
citações a Donga e Tia Ciata, a melodia é valente,
tem pegada e ganha excelente interpretação de Ronaldo
Yllê. Primeiro bom momento do CD! NOTA DO SAMBA: 9 (Marco Maciel).
3 - SERENO DE CAMPO GRANDE - "O melhor perfume ocupa um frasco pequeno". A cada ano, chego à conclusão de que o Grupo B é muito pequeno para o talento do excelente intérprete Antônio Carlos. Com todo respeito à simpática agremiação de Campo Grande, acredito que o homem do "agita, agita" mereça alçar voos mais altos no carnaval carioca. Sobre o samba-enredo de 2011, a linha é semelhante aos anteriores da Sereno: funcional, com inúmeros trechos em maior para valorizar um dos melhores agudos da atualidade na Sapucaí, desde 2006 no comando do microfone oficial da Coruja. NOTA DO SAMBA: 8,9 (Marco Maciel). 4 - UNIÃO DE JACAREPAGUÁ - "A majestade vem coroar a União de Jacarepaguá". E a feijoada deu samba! O tema nada casual originou uma obra com momentos melódicos interessantes, apesar da letra, embora dentro do que o enredo propõe, deixar a desejar em alguns versos pela pobreza poética, abordando a feijoada de forma direta demais. O exemplo está nos versos "Tem torresminho, caipirinha como é bom/o mestre-cuca vai regendo o caldeirão". Mas a audição da obra cantada por Tiganá é agradável. A própria União já está habituada a trazer sambas interessantes para enredos curiosos como o bairro de Campinho e chá. Por que não para a feijoada, tão habitual nas quadras das escolas? NOTA DO SAMBA: 8,7 (Marco Maciel). 5 - DIFÍCIL É O NOME - O samba já provoca algumas gargalhadas a partir do título do enredo: "Anniversarius! Dies Sollemnis Natalis". Para falar do também nada casual tema sobre o aniversário, a escola optou pelo latim, talvez pra tentar sofisticar um pouco o negócio. A letra traz pérolas incríveis como "Tudo que tiver de ser será/E as guloseimas saborear/É hora de apagar as velinhas/Com brincadeiras vamos festejar". O samba é tão ruim que é sério candidato ao fictício prêmio "Jacarezinho ponto com ponto bê erre" de ícone trash do ano. Ou seja, este samba já tem certamente muitos simpatizantes. O Grupo B proporciona bons sambas, mas também coisas inacreditáveis como este hino da Difícil é o Nome. NOTA DO SAMBA: 6,4 (Marco Maciel). 6 - TUIUTI - "Adoça a bossa no mel da abelha rainha". Caetano Veloso é o homenageado do Paraíso do Tuiuti, mas o samba-enredo da escola parece sem sal, a impressão é que falta alguma coisa, um momento de explosão. A letra apresenta uma sucessão de clichês, os refrões não empolgam e a segunda parte é a mais interessante em termos melódicos, sobretudo no trecho da "abelha rainha". Mas creio que Caetano merecia mais! Boa atuação do intérprete Daniel Silva, ex-Santa Cruz. NOTA DO SAMBA: 8,3 (Marco Maciel). 7 - TRADIÇÃO - "O verde da vida lá no Cariri, cordéis e santeiros na Sapucaí". A escola encomendou o seu samba junto a uma parceria de São Paulo, onde se inclui o intérprete da Rosas de Ouro, Darlan Alves. Coincidência ou não, o samba tem uma pegada semelhante não só aos hinos da campeã do desfile de 2010 no Anhembi, como também à maioria das agremiações de São Paulo. E a voz de Lico Monteiro se enquadrou perfeitamente à envolvente melodia do samba mais paulistano do Grupo B, que tem a ousadia de possuir três refrões, "desafiando" assim a atual hierarquia de sambas-enredo no Rio. Se destaca numa safra fraca de sambas! NOTA DO SAMBA: 9,4 (Marco Maciel). 8 - ARRANCO - "Amada amante, fiel companheira". Muito bonito! O samba do Arranco, pra falar da mulher, consegue o lirismo adequado na melodia para exaltar a figura feminina, além de possuir belos momentos poéticos. Enfim, um samba-enredo sobre mulheres consegue fugir da polêmica. Que o digam Portela-1978 e Porto da Pedra-2006, considerados abaixo da crítica, só pra citar os exemplos mais notáveis. Nino do Milênio, ex-Inocentes de Belford Roxo, estreia no microfone da escola do Engenho de Dentro. Nota-se que o intérprete é da mesma escola de Jackson Martins e Zé Paulo Sierra. NOTA DO SAMBA: 9,3 (Marco Maciel). 9 - ACADÊMICOS DO SOSSEGO - "Seu dourado me seduz". O samba do Sossego é semelhante àquelas obras que se ouviam nos bolachões de grupos inferiores no começo dos anos 80: letra curta, refrões simples, melodia leve... e que não chamavam muita atenção. O refrão principal é reto! Enfim, consegue passar despercebido numa safra sofrível. NOTA DO SAMBA: 7,4 (Marco Maciel). 10 - MOCIDADE DE VICENTE DE CARVALHO - "Tem laquê nesta folia". Para efeitos de comparação, a Vila Isabel apresentará no Grupo Especial um enredo semelhante ao da Mocidade Vicentina em 2011. Basta comparar a letra de ambos os sambas para ver as abissais diferenças. E tome "Tem laquê nesta folia", "o salão está em festa", "A peruca reluziu", "Cabelo feio é sinal de bruxaria"... Um pouco mais de criatividade e canja de galinha não fazem mal a ninguém... O único bom momento melódico está presente nos dois últimos versos do refrão central: "O feitiço no cabelo da mulata...". NOTA DO SAMBA: 7,3 (Marco Maciel). 11 - INDEPENDENTE DE SÃO JOÃO - "Ah seu doutor, coragem e garra de um povo vencedor". Pra falar sobre a revolução cultural das favelas, a Independente optou por uma obra de letra simples e direta, mas a melodia, apenas correta, não empolga em nenhum momento. É outra obra que carece de um momento de explosão, que seria mais adequado para o belo enredo da escola de São João de Meriti. Os versos do refrão principal parecem até de sambas da Beija-Flor da primeira metade dos anos 70: "O progresso da nação, o bem-estar do cidadão, a marca desse meu país". NOTA DO SAMBA: 7,8 (Marco Maciel). 12 - LINS IMPERIAL - "Onde o samba nasceu, na favela". Pra fechar o CD, a Lins surpreende apresentando o experiente Wander Pires na gravação do belo samba, o melhor do ano no Grupo B. De melodia deliciosa, daquelas que você tem vontade de ouvir mais de uma vez, a obra apresenta ótimas variações, numa levada empolgante, excelentes refrões e as demais partes envolventes. Talvez tenha faltado valentia à faixa anterior da Independente, cuja temática de enredo é semelhante. O gingado refrão central da Lins é um achado, apostando de forma bem sucedida no efeito de repetição da palavra "favela" no final dos versos. Um samba acima dos padrões no Grupo! NOTA DO SAMBA: 9,6 (Marco Maciel). |
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