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Os sambas de 2011 - Acesso A por Marco Maciel
Os sambas de 2011 - Acesso A por Marco Maciel



A GRAVAÇÃO DO CD - Mais uma vez sob o comando de Leonardo Bessa, o CD do Grupo de Acesso A mantém o padrão do disco de 2010, apresentando faixas de boa qualidade, dando espaço para bossas das baterias na abertura das mesmas, além de alusivos. As bases foram registradas na quadra do Salgueiro, cuja acústica favoreceu os trabalhos. Além da bateria, o cavaco aparece muito bem e a voz do intérprete sempre se sobressai, com o coral servindo como acompanhamento. Império Serrano e Viradouro são os destaques absolutos da safra, com a dupla superando também os 12 sambas do Especial em termos de qualidade. Alegria da Zona Sul, Renascer de Jacarepaguá, Cubango e Caprichosos também apresentam belas obras. Os demais apenas cumprem seu papel, com Santa Cruz e Inocentes de Belford Roxo como os destaques negativos. NOTA DA GRAVAÇÃO: 9,0 (Marco Maciel).

1 - INOCENTES DE BELFORD ROXO
- "O Robocop Gay vai te Pegar". Como o enredo em homenagem aos saudosos Mamonas Assassinas sugere, a escola abre o CD com um samba leve e animado. Porém, a letra se torna uma sucessão de clichês na hora de evidenciar as emoções que o irreverente conjunto musical de Guarulhos proporcionou ao brasileiro. A obra musical dos Mamonas é citada no refrão central que, embora bem humorado e sugestivo, é pobre poeticamente. Celino Dias tem boa atuação conduzindo este samba com características funcionais, que não chama atenção na safra. NOTA DO SAMBA: 8,0 (Marco Maciel).


2 - ESTÁCIO - "Estácio é o perfume da flor". Curto, o samba mantém melodicamente a característica dos últimos que a escola cantou: a valentia. Também com um toque de ousadia, com a maioria dos trechos em menor. Destaque para os cinco últimos versos da segunda parte, a partir de "Rosa da paz e impiedosa...". Leandro Santos, ex-apoio de Jamelão na Mangueira, mostra muita segurança na interpretação do samba-enredo, defendido pelo próprio intérprete nas eliminatórias. Boa obra, mas só faço uma ressalva: o trecho "De Caymmi a Cartola" pode também ser cantado como "De cair minha cartola". Portanto, eis o alerta para a harmonia estaciana! NOTA DO SAMBA: 9,1 (Marco Maciel).

3 - SANTA CRUZ - "Linkei o chip da evolução". A escolha da obra da agremiação da Zona Oeste foi muito contestada, pois por mais que o multicampeão Fernando de Lima tenha competência e experiência nas disputas da Santa Cruz, o samba de 2011 está muito abaixo dos anteriores que ele mesmo produziu para a escola. Embora o enredo sobre os anos 60 tenha dificultado a tarefa dos compositores, o estilo do samba-enredo prova que a Santa Cruz não pensa em se renovar no gênero, já que há pelo menos uma década a agremiação traz praticamente o mesmo samba para a Sapucaí, de característica apenas funcional, com trechos melódicos estendidos. A letra é tão simplória e direta que deixa a desejar em muitos momentos e peca pela criatividade, como na passagem que eu costumo chamar de "lista de compras" pelo excesso de citações: "Fã dos Beatles sempre sou com muito amor, Elvis curti, Roberto cantei, o Velho Guerreiro brindei...". E até hoje a seguinte questão me intriga: como se linka um chip? Como o samba é leve, caiu como uma luva na voz de David do Pandeiro, de volta à Santa Cruz depois de três anos. NOTA DO SAMBA: 8,1 (Marco Maciel).

4 - IMPÉRIO DA TIJUCA - "Vou sambar abaixo de zero". Pixulé deu um toque mais classudo a esse samba, que alia muito bem animação e valentia. Possui um bom refrão principal, já a primeira parte não tem tantas variações, chamando mais atenção o verso "juízo não nego, até posso perder", já utilizado no samba de 2005 da Viradouro. O refrão central é uma boa sacada e bem sugestivo, deixando clara a ideia de que o samba pode conquistar a todos em qualquer parte do mundo. A segunda parte tem os melhores momentos em termos de melodia. Enfim, é uma obra bonita, que passa muito bem sua mensagem. NOTA DO SAMBA: 8,8 (Marco Maciel).

5 - IMPÉRIO SERRANO - "Se o Canto é de Ossanha, eu vou bater o meu tambor". O melhor samba do ano em todos os grupos! Com uma leveza incrível, a vida de Vinicius de Moraes é lembrada através de suas canções. E com variações melódicas impressionantes, ao estilo da ala de compositores do Império. O refrão central é simplesmente impecável, tanto em melodia quanto em letra. O trecho a partir de "Eu vou só pra ver como é que é numa Arca de Noé..." também tem melodia primorosa. Sem contar a atuação da Sinfônica na faixa, provando porque é a melhor bateria da atualidade no carnaval carioca. Porém, o jovem Vitor Cunha, estreante no microfone principal imperiano, apenas não comprometeu na gravação. O experiente Carlinhos da Paz, pai de Vitor, se sai melhor nos trechos que canta. NOTA DO SAMBA: 10 (Marco Maciel).

6 - CAPRICHOSOS - "É Pilares no grito da geral". Finalmente a escola de Pilares traz um samba competente, pois há tempos sua ala de compositores estava devendo uma obra de qualidade para sua comunidade. Após uma penca de hinos inexpressivos, o jovem Thiago Brito conduz muito bem um samba todo coeso em sua melodia, forte, valente e bom de cantar. Destaque para a boa segunda parte, a partir de "Morada, onde o samba estabeleceu..." até a explosão no verso "É Pilares no grito da geral", funcionando como excelente transição para o refrão principal. O trecho "Com garra, com raça e amor..." do refrão central é semelhante melodicamente ao estribilho de um concorrente da Estácio em 2009 (enredo da Chita), que chegou à final da disputa. NOTA DO SAMBA: 9,3 (Marco Maciel).

7 - RENASCER DE JACAREPAGUÁ - "O sol a tristeza no mar afogou". O samba-enredo da Renascer impressiona por sua magistral primeira parte. Letra e melodia perfeitas, aliadas a uma irresistível bossa de bateria na primeira passada, um requinte de obra-prima. O samba conquista os ouvidos de qualquer bamba no ato, por mais que as demais partes não possuam o mesmo nível da primeira. Os refrões não tem a mesma força ("a minha sede é tremenda" não soou tão bem poeticamente) e a segunda parte tem melodia genérica em alguns momentos. Rogerinho Renascer mais uma vez nos brinda com uma excelente gravação. Impressiona a categoria aliada à simplicidade de sua condução do samba, sem enfeites ou floreios, como sempre deve ser. A escola pelo segundo ano seguido traz um enredo referente à água. NOTA DO SAMBA: 9,5 (Marco Maciel).

8 - CUBANGO - "Pode aplaudir porque a emoção está no ar". Outro bom samba! De melodia envolvente do primeiro ao último verso, apresenta dois refrões fortes, com destaque absoluto para o central, cuja bem sucedida variação lembra a excelente obra de 2007 da escola (Paracambi). Com inúmeros momentos de explosão, a obra ganhou uma gravação cadenciada, muito bem realizada por Igor Vianna (estreante no microfone da escola). Tem tudo pra fazer bonito na Sapucaí. NOTA DO SAMBA: 9,4 (Marco Maciel).

9 - ROCINHA - "Estou vidrado em você, Rocinha". A escola surpreende ao apresentar um samba cujo estilo é incomum nos grupos de acesso, de melodia bastante pesada (daquelas que pesam uma tonelada) pra falar sobre o vidro. Chega a lembrar sambas da Beija-Flor, principalmente pela frigideira presente na bateria na faixa. A letra está em primeira pessoa, o que é casual em enredos deste tipo, já que dão a ideia que o próprio objeto é quem realiza a descrição de seus feitos. Assim, é inevitável a sucessão de verbos conjugados no passado, espalhados por toda a letra, em especial na primeira parte. Anderson Paz, em seu retorno à agremiação depois de uma breve passagem pela Tuiuti, tem grande atuação no CD. NOTA DO SAMBA: 8,9 (Marco Maciel).

10 - ALEGRIA DA ZONA SUL - "Os alabês vão tocar para os doze Obás no Xirê". Uma pedrada! Como era de se esperar, para um enredo afro, daqueles mais tradicionais. A Alegria da Zona Sul faz bonito em termos de samba no seu retorno ao Grupo A, de onde estava ausente desde 2006. Edmilton Di Bem é o responsável por uma gravação vibrante, a melhor do CD do Acesso e também superando as 12 faixas do álbum do Especial, valorizando com maestria cada verso, em especial no ponto de Xangô que serviu como alusivo. Valente e com intensa ousadia nas variações melódicas (sobretudo no trecho "O vento que sopra a vida"), além de dois excelentes refrões, compõe a trinca de ouro do Grupo de Acesso 2011. NOTA DO SAMBA: 9,7 (Marco Maciel).

11 - VIRADOURO - "O verbo coloriu o saber e o verso sorriu ao te escrever". O samba perfeito para a Viradouro superar o baque do rebaixamento e conclamar sua comunidade. O enredo sobre comunicação inspirou os compositores niteroienses, que brindou os bambas com uma obra que realizou um casamento singular entre letra e melodia, com trechos de extrema felicidade, dando a impressão que todos estão entrelaçados no momento certo na hora certa, sem exceção. O resultado final é impecável: a melodia é coesa e a poesia ainda mais louvável, com versos como "O verbo coloriu o saber e o verso sorriu ao te escrever" sintetizando a emoção que a obra representa, servindo de vanguarda em tempos de sambas pasteurizados, predomínio de firmas e letras presas a sinopses burocráticas. Diego Nicolau e Leléu têm atuações corretas no CD. Fecha muito bem o disco, sendo o segundo melhor samba do Acesso (e também do ano), atrás apenas do Império. NOTA DO SAMBA: 9,9 (Marco Maciel).