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Os sambas de 2010 por Sandro Batista
A Gravação do CD
– Desde as eliminatórias, eu imaginava que se tudo
corresse bem, teríamos em 2010 o melhor disco desde muito
tempo... Tirando o de 89 (pela qualidade dos sambas) e o "ao vivo",
lançado após o carnaval de 98 (por ser ao vivo) , que
reproduziu os sambas como ficaram na avenida, é de longe o
melhor disco desde muito tempo, tanto pela quantidade de bons sambas,
quanto pela produção mesmo. Os sambas ficaram mais
parecidos com cada escola, e menos pasteurizados como de costume, e
mesmo que na avenida os sambas mudem (sempre mudam o andamento), pelo
menos a diferença não será tão gritante
como em outros anos, que a gente aprende um samba no CD, e quando
vê o desfile, chega a pensar que estão cantando outro
samba, de tão diferente que fica. Carece de ajustes,
evidentemente, mas é uma boa produção. NOTA DA GRAVAÇÃO: 9,5 (Sandro Batista).
Salgueiro – “Nem melhor, nem pior, apenas diferente”. O slogan do Salgueiro ultimamente tem servido bem pra exemplificar seus sambas-enredo, o que não foi diferente dessa vez. Um samba que não é o melhor, nem o pior, e que é diferente pelo enredo, porque é aquele samba que percebe-se claramente que foi feito para o Quinho. Sintetiza bem o estilo da escola, e conta o enredo de forma correta, e aquela ginga típica dos sambas da escola. Poderia ter uma letra mais poética, mas fico a imaginar se uma letra mais poética ficaria bem no estilo do Quinho. Um samba que deve crescer na avenida, apesar das críticas. NOTA DO SAMBA: 9,6 (Sandro Batista). Beija-Flor – Impressionante o que a ala de compositores da escola consegue, que é transformar enredos duvidosos em sambas longos e extremamente belos. Esse samba é enorme, e proporcionalmente à sua extesão, está sua beleza poética. Que primor de letra tem esse samba. Conta o enredo ala a ala, como a escola gosta, mas com uma riqueza e poesia fora do comum. Impossível não se render aos belíssimos versos desse samba e à sua melodia, que consegue se renovar a todo tempo, apesar do tamanho do samba... Até poderia dizer que não gosto do finalzinho do samba “Legião de artistas, caldeirão cultural!/Orgulho patrimônio mundial”, muito mais pelo lindo trecho que o antecede, que acaba fazendo essa parte ficar clichê demais, mas nada que comprometa a bela obra, que na voz do Neguinho, fica praticamente imbatível. NOTA DO SAMBA: 10 (Sandro Batista). Portela – Na minha opinião a grande surpresa do disco. O samba ficou muito, mas muito melhor do que era. Conseguiram dar a beleza e emoção que faltava nesse samba nas eliminatórias. Um enredo estranho, com uma estranha mensagem política implícita, mas que demonstra o porque de ser a Portela a “Majestade do Samba”, e o “berço” de bambas, uma ala de compositores dessa dispensa qualquer comentário (sorte da escola, pq esse enredo definitivamente é “estranho) Creio que tenha sido o samba que mais cresceu na minha opinião, e se não é nenhuma obra prima, tem um toque de emoção que empurra o samba pra cima. NOTA DO SAMBA: 9,5 (Sandro Batista). Vila Isabel – “O SAMBA”. Pra mim o melhor do ano, da década, do século, do milênio, é um samba totalmente diferente. É aquele samba que merece ser gravado, regravado, em todos os ritmos possíveis e imagináveis. O Martinho pediu inspiração e acho que um “cometa” de poesia e bom gosto explodiu bem dentro de sua cabeça. Perfeito! Tem conteúdo, emoção, e uma linguagem tão apropriada para o tema, para o homenageado, realmente dá pra “sentir a presença do poeta” nessa obra! NOTA DO SAMBA: 10 (Sandro Batista). Grande Rio – Confesso que gostava mais do samba da parceria do “Barbeirinho”, sem a fusão, mas também não posso negar que os compositores da escola estão seguindo os passos da co-irmã da baixada , e conseguem operar milagres em enredos pra lá de duvidosos. É impossível não achar esse samba no mínimo interessante, e a grande sacada, e talvez saída genial, foi tocar em pontos que de alguma forma ou de outra mexe com todos os torcedores de outras escolas e amantes do carnaval. Quem não gosta de lembrar que “De ratos e urubus, veio a transformação, quero mais que nota trinta pro talento do João”?, ou deixar o corpo ir “Daqui pra lá, de lá pra cá” de Braguinha? Sacada de mestre. Um samba que não é primoroso pela letra, mas pelas sacadas. NOTA DO SAMBA: 9,4 (Sandro Batista). Mangueira – “Vai passar, nessa avenida, mais um samba popular”! O início do samba da Mangueira é auto descritivo. Com certeza um samba popular e “pra pular”. Samba animado, que com certeza vai fazer a escola “rasgar o chão” como se costuma dizer. A letra, que abusa do recurso da intertextualização, é extremamente pertinente ao tema, e os trechos das canções citadas, não são por acaso. Se encaixam perfeitamente dentro da proposta poética da letra, e com citações que nos remetem, de forma cronológica, ao ritmo que está sendo abordado naquela parte do samba. Genial! O samba consegue ter beleza poética, ser empolgante, e ao mesmo tempo ter um grande conteúdo, com uma melodia que fica martelando na cabeça. Um samba fácil de cantar, e que deve fazer a escola fazer um grande desfile. NOTA DO SAMBA: 10 (Sandro Batista). Imperatriz – Confesso que já tentei achar esse samba da Imperatriz isso tudo que tenho lido, mas quanto mais ouço, menos acho. Ele tem um refrão fortíssimo realmente, muito emocionante, e que arrepia realmente, mas acho que a letra desse samba, apesar de bonita, poderia ser mais criativa. O grande diferencial desse samba é a melodia, essa sim, que faz a diferença. Mas o samba nas eliminatórias, mais cadenciado, era mais emocionante. Na gravação, com a aceleração natural que o samba sofre, ele perdeu um pouco daquilo que achava seu ponto forte e a excelente melodia ficou meio que prejudicada. Não tenho dúvida de que será muito bem recebido pelos jurados, mas acho a segundo parte, falando de letra, um pouco perigosa... Uma seqüência de palavras “Traços de tradições, laços das religiões”...”Guiai ao divino destino, seus peregrinos...” Muito dígrafo junto... NOTA DO SAMBA: 9,8 (Sandro Batista). Viradouro – Um samba que oscila ótimos momentos poéticos como “Chegou o áureo tempo de reviver, a história, o alvorecer de uma nação guerreira...” com outros nem tanto como o refrão principal, que tem uma passagem que pode custar preciosos décimos : “O México em cores vou cantar”... Apesar de gostar do trecho escrito, acho que cantado é um risco desnecessário... Esse “México em cores” pode acabar, cantado por mais de 1 hora, tomando um outro rumo. Destaque pra excelente atuação de Wander Pires, que deu novo gás a esse samba. NOTA DO SAMBA: 9,3 (Sandro Batista). Unidos da Tijuca – Acho que a Tijuca não foi tão feliz na escolha de seu samba. Tinham outros sambas melhores na disputa, que foram ficando pra trás, até que se chegou a esse samba óbvio, que me dá a impressão de ter sido feito especialmente para “o desfile” e não propriamente para “o enredo”... Um samba que fala de tudo, e ao mesmo tempo mantém em “segredo” sua real intenção. Enfim, um samba que me parece um “frango com tudo dentro”, e que pode até empolgar, mas que não diz muito a respeito do tal “segredo”. NOTA DO SAMBA: 8,5 (Sandro Batista). Porto da Pedra – Fiquei decepcionado com essa faixa. O intérprete é excelente, esbanja seu potencial vocal, entretanto, o tema e a letra do samba me sugere uma coisa mais descontraída, mais solta, afinal de contas, uma letra que de cara lança o verso “Há muito tempo o homem deu no coro”, um trocadilho fabuloso e altamente malicioso, me dava a sensação de uma levada mais empolgante, e no entanto, o samba me pareceu ter ganho uma roupagem mais séria, mais clássica, e aí acaba não combinando com o que a principio me parecia que seria mais leve e solto. Acho que erraram a mão no andamento, esse samba se tivesse uma levada mais descontraída, cresceria muito, porque a letra o próprio enredo sugerem isso. NOTA DO SAMBA: 9 (Sandro Batista). Mocidade – Fiquei impressionado com o vigor desse samba no CD. Parece que nas eliminatórias era um samba, e agora no CD é outro. Esse samba deixou de ser mediano para figurar entre os melhores sambas do disco na minha opinião. Conseguiram dar a leveza e descontração que o enredo pressupõe, e me dá a sensação que vai ser o samba que vai cair “na boca do povo”. Um samba vigoroso, descontraído, que conta bem o enredo, de forma alegre. Samba que me remete aos áureos sambas da década de 80 da Caprichosos, São Clemente, com suas críticas sociais bem humoradas. NOTA DO SAMBA: 9,7 (Sandro Batista). União da Ilha – Acho que a Ilha encontrou uma certa dificuldade em transformar em samba o excelente enredo. Eu esperava um samba mais explosivo e descontraído, e de repente me deparei com uma fusão até justificável, mas achei um samba simples demais, que poderia explorar melhorar a mensagem do “Sonho impossível”. Acho que faltou “acreditar” como o tema sugere. Uma melodia gostosa de se ouvir, e uma letra correta, mas que me dá a sensação de estar lendo a sinopse do enredo de forma mais abreviada. NOTA DO SAMBA: 9,4 (Sandro Batista). |
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