Os sambas de 2010 por Marcos Lodi

1 - Salgueiro: Atual campeão, o Salgueiro vem para a avenida com um samba de refrão fácil e empolgante. Porém não é atributo suficiente para alcançar a nota máxima num universo de sambas mais elaborados. Apesar de conter a “cara” da escola, o samba não é do mesmo nível comparado á 2009, que diga-se de passagem não é nenhuma obra prima mas funcionou com eficiência na avenida. Achei a segunda parte cansativa pelos “encaixes melódicos”, alguns já conhecidos e batidos de outros sambas que ouvimos por ai. Pode funcionar bem no desfile, disso não tenho dúvida, porém sente-se uma ausência da fibra de escola que briga para ser bicampeã. Esperava mais. NOTA DO SAMBA: 9,8 (Markão Melodia).

2 - Beija-Flor: A velha fórmula de samba enredo que vem caracterizando a Beija-Flor a cada ano, muito provavelmente vai obter notas máximas novamente. Apesar de seguir uma linha de sambas, a escola nilopolitana mais uma vez acertou na escolha de sua obra, que descreve como poucas o enredo sobre Brasília. Destaque para a segunda parte do samba, simplesmente emocionante. Um samba com jeito de Beija-Flor que cresceu ainda mais na voz do inimitável Neguinho. NOTA DO SAMBA: 10 (Markão Melodia).

3 - Portela: Mais do mesmo. Entretanto podemos nos acalmar. Talvez a Portela tenha seguido uma linha de padronização de seus sambas como a Beija-Flor vem fazendo. E até o momento tem dado certo. O samba tem a “cara” da escola e consegue ser melhor do que muitas obras de 2010. A Portela vem com jeito de Portela e isso sempre fez bem a ela em toda a sua história. Não entendo tantas críticas a este samba. A escola simplesmente não está arriscando e preferiu não trocar o certo pelo duvidoso. Destaque para o refrão de meio e o final da segunda parte, muito agradáveis. NOTA DO SAMBA: 9,9 (Markão Melodia).

4 - Vila Isabel: Em por falar em ousadia, ai está. Chegamos ao samba diferenciado deste carnaval, tanto na melodia quanto na letra. E a Vila Isabel acertou. Homenagear Noel Rosa não poderia ser algo comum, por que faz parte da história da escola e do samba deste país. Martinho da Vila inovou com o seu estilo. Vamos aguardar o que os senhores jurados acharão de tudo isso. Na minha modesta opinião, eu acho louvável quem arrisca e tava na hora e ouvirmos sambas diferenciados em meio a tanta fórmula batida. Merece a nota máxima pela ousadia, embora não seja “a grande obra” de 2010. NOTA DO SAMBA: 10 (Markão Melodia).

5 - Grande Rio: Para mim é a maior decepção do CD. Para quem não sabe sou torcedor declarado da escola tricolor de Caxias, mas como jornalista não posso fugir das críticas. O samba parece mais um emaranhado de frases e junções melódicas de qualidade duvidosa. Apesar de descrever o enredo basicamente o samba peca pelo cansaço da segunda parte. O refrão principal salva uma nota mais baixa. Na avenida pode funcionar, mas infelizmente não consigo ver minha querida Grande Rio com pinta de brigar pelo título com este samba. Espero que a apuração me mostre algo diferente, embora ache difícil. NOTA DO SAMBA: 9,2 (Markão Melodia).

6 - Mangueira: Respeito às opiniões divergente sobre este samba. Porém não vejo por que tanta crítica. O samba é agradável, apesar de ser o “mais do mesmo” não tão acertado como Portela e Beija-Flor. Porém na avenida deve funcionar muito bem. Com a vulgarização da nota dez, pode fechar a conta neste carnaval. Pontos positivos no refrão principal e no final de segunda parte. Mas ao meu ver, um samba bom e só. NOTA DO SAMBA: 9,8 (Markão Melodia).

7 - Imperatriz: A opinião é quase unânime, mas não vou ficar preso a tudo o que foi dito sobre este samba. Tentando ser diferenciado na análise, diria que é um samba enredo imponente, daqueles que quando se ouve no início do desfile sabe-se que a escola vem para vencer. É o modelo de samba que disfarça as eventuais falhas no desfile e leva a escola para os braços do povo. Um samba de enredo com a força da Imperatriz de Amauri Jório e tantos outros que estariam felizes se vivos estivessem para presenciar este momento. NOTA DO SAMBA: 10 (Markão Melodia).

8 - Viradouro: É o modelo de samba que podemos denominar “decrescente”. O samba começa bem com um refrão interessante, entra com imponência na primeira parte e de repente vai caindo, caindo... Um refrão de meio que tenta levantar o samba mas deixa tudo frio e uma segunda parte que adormece. Uma pena por que a descrição do enredo é bem feita com interessantes adequações de letra. Mas melodia não consegue prender a atenção de quem ouve, apesar da interpretação competente do grande Wander Pires. Samba que começou com pinta de “sambão” e terminou como simplesmente regular. NOTA DO SAMBA: 9,5 (Markão Melodia).

9 - Unidos da Tijuca: Basta pegar a análise feita anteriormente da Viradouro e adequar a Tijuca. O modelo decrescente que começa bem e termina deixando a desejar. Uma pena também, porém no caso da Tijuca o samba é mais cansativo até mesmo pela interrogação presente na concepção do enredo. Realmente a nota deste samba será um segredo desvendado somente na quarta-feira. NOTA DO SAMBA: 9,0 (Markão Melodia).

10 - Porto da Pedra: Outro samba muito criticado que sinceramente, não vejo pra tanto. Tudo bem, não é o melhor samba do ano, mas adequa-se bem ao enredo. Verifica-se que o final da segunda parte é muito parecida com o refrão de meio, enfraquecendo melodicamente o samba. Mesmo assim, consegue ser melhor que a conterrânea Viradouro e outros sambas. NOTA DO SAMBA: 9,6 (Markão Melodia).

11 - Mocidade: Taí uma escola que está na fase de se encontrar em termos de samba de enredo. O refrão de cima é forte, mas infelizmente o restante vai se tornando cansativo. Parece que tomou da mesma dose de Viradouro e Tijuca. Porém vejo com mais gravidade pelo fato de que no ano passado a escola quase foi rebaixada e um samba diferenciado seria um pontapé inicial e tanto para uma volta por cima em grande estilo. Torço por isso e claro que o samba não corresponde a tudo isso. A garra da comunidade de Padre Miguel e o refrão principal poderão salvar o samba. NOTA DO SAMBA: 9,5 (Markão Melodia).

12 - União da Ilha: Uma volta alegre com pinta de União da Ilha. Um refrão principal interessante e um samba leve, daqueles que não comprometem. O inicio com “voltou a Ilha” é bastante vibrante, chamando os componentes. É um momento importante na história da escola. O samba não é obra prima mas sua leveza vai proporcionar a escola desfilar tranqüila e brigar pela permanência. NOTA DO SAMBA: 9,7 (Markão Melodia).

Marcos Lodi é jornalista, compositor, intérprete e pesquisador do tema. Conhecido no mundo do samba como Markão Melodia.