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Os sambas de 2010
por Bruno Guedes
. Gravação do CD:
Enfim uma produção como todos aguardavam: Com cara de
carnaval e ao vivo. Verdade que ainda não é perfeito, mas
já melhorou 10000000% do que era produzido em estúdio.
Há peso nas baterias, podendo-se ouvir nitidamente todos os
naipes, as bossas das mesmas são exatamente como executadas nos
ensaios e os corais que "rasgam" a faixa por inteiro, dando
animação. A única ressalva é justamente
esse coral, um pouco alto e exagerado na primeira passada do samba. Do
resto, maravilhoso. NOTA DA GRAVAÇÃO: 9,6 (Bruno Guedes).
Salgueiro: Samba estilo Salgueiro pós-Ita. Refrão forte, letra simples, sem muito interesse em ser poético ou antológico. Pelo que li na sinopse, ela está encaixada e na ordem que o Renato Lage pediu. A melodia é boa em algumas partes, mas em outras se arrasta, como no refrão do meio e a preparação que leva ao mesmo. Acho muito superior ao samba de 2009, mas ainda assim, um samba mediano que a "grife" Salgueiro vai tornar bom na avenida. Boa participação da bateria na gravação. NOTA DO SAMBA: 8,5 (Bruno Guedes). Beija-Flor: Ao meu ver, o melhor samba do ano. Gosto dessas melodias pesadas e letras que necessitam recorrer a sinopse pra compreendê-las, bem ao jeito Beija-Flor de encarnar musicalmente seus desfiles. Samba-enredo encorpado, maior que os pseudos-padrões ultrapassados. Letra perfeita, toda dentro do enredo e sem muita firúla ou clichê. Melodia toda em tom menor, com exceção da preparação para a entrada do refrão principal. Um sambaço em que o Neguinho deu uma aula de interpretação. NOTA DO SAMBA: 10 (Bruno Guedes). Portela: Pedir um bom samba enredo para a escola após aquela sinopse apresentada, seria uma covardia. A letra tenta ser criativa em algumas partes, como na cabeça do samba, onde cita expressões "deleta" e "num clique", mas sinceramente, para uma escola como a Portela, os ouvidos não acostumam com essa qualidade de poesia. A melodia é o destaque do fraco samba, sendo que no refrão do meio e na segunda parte fica evidente a melhora na mesma. Mas com tudo isso, a obra não tem o perfil da "Majestade do Samba". Uma coisa é você querer modernizar uma agremiação, outra é descaracterizar a mesma. E a culpa não é nem um pouco dos compositores, haja vista que a própria safra foi abaixo do que era anos anteriores. Destaca-se a maestria com que Gilsinho e a bateria da Portela defendem a obra, uma das melhores gravações do CD. NOTA DO SAMBA: 8,2 (Bruno Guedes). Grande Rio: Outro exemplo de uma confusa sinopse refletindo no samba. O enredo já é confuso, há muitas citações, sem a preocupação de ser linear, mas de difícil compreensão. A letra parece colcha de retalho de momentos da Sapucaí e tem uma métrica de difícil canto, principalmente no refrão. A melodia é reta, sem muita coisa nova. Mestre Ciça já começa a apresentar seu cartão de visita com algumas excelentes paradinhas, como na que simula a bateria da Mangueira no trecho que cita o Mestre Jamelão. Wantuir foi correto. NOTA DO SAMBA: 8 (Bruno Guedes). Vila Isabel: Martinho da Vila novamente assinando samba enredo. Todos questionavam (e questionam ainda), se o formato do genial mestre ainda rendem bons desfiles. A pergunta só poderá ser respondida após a quarta-feira de cinzas, mas a obra já é uma das melhores da década. Mais uma para vasta discografia do maior compositor de samba-enredo vivo e que não se preocupa em seguir pseudo-padrões. Tem uma letra pouco comum, com palavras que raramente aparecem nos sambas. Melodia fantástica e dois refrões que são de matar qualquer torcedor de emoção. Um deles é enorme, fora do que costuma-se usar, mas excelente. Já o principal, é de sair pulando e cantando, cara de Vila Isabel, forte, guerreiro. Só há um porém na letra e melodia, ambas estão exatamente nos primeiros versos da segunda parte, onde "chororô" destoa da boa letra e a melodia muito baixa, idem. Difícil cantar e que derruba as boas passagens anteriores. Um dos melhores do ano e que teve uma belíssima participação do Tinga. NOTA DO SAMBA: 9,9 (Bruno Guedes). Mangueira: Novamente um samba com cara de Mangueira. É simples, mas emocionante. Principalmente na segunda parte, onde conseguiu-se falar de funk sem citá-lo diretamente, o que soaria estranho. A melodia é original em algumas partes, como nas primeiras passagens das duas principais partes da obra, com explosão nos dois refrões. Um samba que não precisamos de muitos adjetivos para falar, apenas apreciar. E tem uma interpretação valente e forte dos três puxadores da Verde e Rosa. NOTA DO SAMBA: 9,8 (Bruno Guedes). Imperatriz: Outra obra-prima do ano e, possivelmente, da escola. Forte em todas as suas partes. Melodia emocionante e que não tem como não se contagiar, principalmente na parte do "óh Deus pai...". Na primeira vez que ouvi, ainda como concorrente, tive certeza de estar ouvindo um samba que faltava para o carnaval. Guga e cia mostram que não se precisa de fórmula mágica para compor algo genial, o importante é fugir desses padrões paupérrimos que imperam. E Dominguinhos? Sem comentários... A bateria da Imperatriz também é algo de se louvar. NOTA DO SAMBA: 10 (Bruno Guedes). Viradouro: Ainda estou na dúvida se é ou não a melhor gravação do CD. Bateria e Wander Pires, apesar de seus falsetes e vibratos exagerados, foram quase perfeitos. O samba em si, acho irregular. Algumas passagens melódicas lindas, como na primeira parte, mas fracas em outras, como nos dois refrões. A letra é dentro do enredo, mas também não contagia o suficiente. Aliás, muito extensa na segunda parte. O refrão principal sente falta de um pouco mais de explosão. NOTA DO SAMBA: 8,3 (Bruno Guedes). Unidos da Tijuca: Adoro esse samba, acho o Bruno Ribas muito melhor no estúdio que na Avenida, o que mais uma vez confirmei. A interpretação dele é excelente. A melodia é recheada de coisas que já ouviamos, mas tem desenvolvimento certo, feito com bom gosto e que anima. A letra tem algumas tiradas interessantes e boa colocação, apesar de demonstrar a fragilidade do tema (porque não é enredo né?!) que Paulo Barros apresentará. Refrão principal, mais uma vez, destaque absoluto. Certeza de mais um sacode da comunidade tijucana na Sapucaí. NOTA DO SAMBA: 9,4 (Bruno Guedes). Porto da Pedra: O samba mais fraco do ano. O velho clichê de rimar cidade/felicidade já vem no refrão principal. Melodia que é até animada, parece que vai crescer, mas não acontece. A letra é encaixadinha na melodia e na sinopse, apresenta o tema. Bateria e Luizinho Andanças foram simplesmente PERFEITOS. Luizinho é de longe o melhor puxador do Especial, seja pela técnica, seja pela forma como conduz o samba. Sorte do Tigre tê-lo como cantor. NOTA DO SAMBA: 7,5 (Bruno Guedes). Mocidade: Parece que a escola da Vintém tentou mudar a forma de cantar na Avenida. Escolheu um samba oba-oba, totalmente fora do que vinha apresentando e da sua história. Com exceção do refrão, o samba é correto, tem a sinopse resumidinha e de forma correta. O mesmo serve pra melodia. Mas tudo se explode no refrão principal, talvez um dos mais fortes de 2010. Não me agradou a gravação do David do Pandeiro. PS: A cabeça do samba é maravilhosa e que já "puxa" o sambista a cantar. Pode ter sido uma boa inovação escolher um samba diferente. Só após o carnaval nós saberemos. NOTA DO SAMBA: 8,8 (Bruno Guedes). União da Ilha: Ainda não entendi porque encaixaram um refrão no meio do samba, que tornou o samba "dividido" melodicamente. Parece que a obra se perde e volta, após o mesmo. E é uma pena, porque a letra é perfeita, toda dentro do enredo e com um refrão principal criativo ao comparar a ilusão/sonho do Quixote, com o da Ilha de ficar no Especial. A melhor gravação do CD. Show da bateria da Ilha e do Ito Melodia. Faixa que vale repetir inúmeras vezes. NOTA DO SAMBA: 9,2 (Bruno Guedes). |
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