PRINCIPAL EQUIPE LIVRO DE VISITAS LINKS ARQUIVO DE ATUALIZAÇÕES ARQUIVO DE COLUNAS CONTATO |
||
Os sambas de 2010 - Acesso A por Marco Maciel A GRAVAÇÃO DO CD – O que já estava
bom, ficou ainda melhor! No CD de estreia da LESGA para os sambas do Acesso, a
bateria foi o destaque absoluto do álbum. Porém, os corais despreparados, um
tanto desentrosados e com falta de afinação em muitos momentos fizeram o disco
ser bombardeado por críticas negativas. Ivo Meirelles, produtor do CD 2009, foi
substituído por Leonardo Bessa, que voltou a ser o responsável pelo álbum do
Grupo A. A missão de Bessa foi corrigir os defeitos do bom CD de
1 – RENASCER DE JACAREPAGUÁ – “O tempo não para, como uma onda do mar”.
Numa menção ao clássico enredo “Tupinicópolis”, desenvolvido pelo saudoso Fernando
Pinto para a Mocidade em 2 – ROCINHA – “Mulheres de luta, as filhas da guerra”. Mantém
o bom nível do samba da Renascer, com uma melodia muito bem trabalhada e que
tem, na sua primeira parte, o seu ponto forte. Os primeiros versos “Aurora de uma nação, o vento soprou: eram
Miracemas...” melodicamente chegam a se remeter a sambas mais antigos.
Muito bonito mesmo! Refrão central e segunda parte também correspondem muito
bem. Talvez o refrão principal destoe um pouco das demais partes, de forma
inferior. Mas nada que comprometa o bom samba da Rocinha, que se encaixou
perfeitamente na voz de Leléu. NOTA DO SAMBA: 9,3 (Marco Maciel). 3 – SÃO CLEMENTE – “Baderna em cada esquina, o gato agora é geral”. Exatamente 20 anos depois
do clássico enredo “E o Samba Sambou...”, a escola realizará um desfile com
crítica semelhante direcionada ao fim das tradições do carnaval e da
proliferação do mercantilismo na folia, porém mais atualizada, tratando de
questões como a rainha de bateria pagar para obter o posto nas escolas. Já foi
prometido que a escola terá uma ala falando dos sambas-enredo fracos escolhidos
atualmente. A ironia é que este mesmo samba da própria escola, que serve para
criticar os atuais rumos tomados pelo carnaval, é muito fraco. É só compará-lo
com o sensacional “E o Samba Sambou...” de 1990, para perceber que a diferença melódica e
poética entre ambos é abissal. E ainda há uma contradição na letra do samba 2010, pois
praticamente a primeira parte toda exaltando o Rio de Janeiro em pleno “choque
de ordem na folia”, com a crítica despontando apenas a partir do refrão central
e na segunda parte, com versos simples e diretos demais, como “Genitália apareceu, o Rei Momo emagreceu e a
Rainha paga pra sambar” (com direito a Leonardo Bessa encarnando uma
personagem do “Zorra Total”). O verso “Carnavalesco
a esmolar” é muito pobre poeticamente. Enfim, faltou um choque de ordem na
própria disputa de samba da São Clemente... Pelo visto, o samba continua sendo
dirigido com sabor comercial! NOTA DO SAMBA: 7,5 (Marco Maciel). 4 – ESTÁCIO – “Eu sou do Velho Estácio e se morrer é de
emoção”. É um samba bonito, porém ainda creio que falte alguma coisa nele,
tipo uma parte de maior explosão ou de maior lirismo para deixá-lo com um
status marcante. A auto-homenagem da Estácio de Sá
possui momentos inspirados, como o refrão central e a menção a Dominguinhos do
Estácio na segunda parte. Como não poderia deixar de ser, possui um grande
número de aspas em virtude da lembrança de canções de Ismael Silva e de
desfiles clássicos da escola, como “Paulicéia Desvairada”, que rendeu o título
de 1992 e “Arte Negra na Legendária Bahia” (1976). Poderia haver pelo menos
menções a sambas famosos como “Rio Grande do Sul na Festa do Preto Forro”
(1972) e “Festa do Círio de Nazaré” (1975), mas nada que comprometa a obra.
Como ressaltei, falta um pouco mais de brilho, um toque especial que deixaria
este samba diferenciado. Correta a atuação do Serginho do Porto, com destaque
para a participação de Dominguinhos do Estácio cantando o alusivo. NOTA DO
SAMBA: 9 (Marco Maciel). 5 – SANTA CRUZ – “Vem pierrot, pra Colombina não te ver chorar”.
O samba é curto, tem características funcionais, letra simples, com a marca do
compositor multi-campeão Fernando de Lima... mas é encantador. A pureza da
melodia, com refrões belíssimos e uma segunda parte muito bonita, aliada à
forte interpretação de Igor Vianna (que precisou cantar numa de suas mais
elevadas oitavas) e à excelente atuação da bateria, faz da faixa da Santa Cruz
uma das melhores do CD, tanto pela qualidade da produção quanto pelo
samba-enredo 6 – PARAÍSO DO TUIUTI – “Voa e vai buscar na lua, onde ainda chora o
seu pierrot”. O samba-enredo sobre a pesquisadora Eneida de Moraes ficou
muito mais encorpado e valorizado com a interpretação de Anderson Paz, que
também contou com uma excelente atuação da bateria. O refrão central,
melodicamente, é a sua melhor parte. No mais, a letra e as demais partes
melódicas são apenas corretas, com o refrão principal não se destacando muito.
É um bom samba, porém sem brilho. NOTA DO SAMBA: 8,5 (Marco Maciel). 7 – IMPÉRIO DA TIJUCA – “Quem sou eu? Guerreira que nasceu lá em
Matamba”. Com um enredo afro, homenageando a rainha africana Ginga, o samba-enredo
corresponde as expectativas, sendo bastante valente, com a letra em primeira
pessoa, refrões fortes e melodia bem variada, com cada nota sendo valorizada
por Pixulé, um dos melhores intérpretes da atualidade. Certamente, um dos
melhores do Grupo A. NOTA DO SAMBA: 9,4 (Marco Maciel). 8 – INOCENTES DE BELFORD ROXO – “Vou matar minha sede na mensagem de fé”.
O samba tem um formato diferente, com primeira parte longa e a segunda curta,
mais refrões fortes, com amplo destaque para o diferenciado refrão central “Roda d’água, faz mover o meu pilão...”.
O samba-enredo tem um absurdo crescimento devido a mais uma fantástica gravação de
Preto Jóia, talvez o melhor intérprete da atualidade em gravações de
sambas-enredo para discos. Impressiona a facilidade que o ex-intérprete da
Imperatriz possui para se adequar aos sambas que canta. Ele consegue imprimir
sempre o seu mesmo estilo malandreado em sambas das mais distintas qualidades,
sem que estes percam suas identidades originais. Feliz a Inocentes 9 – CAPRICHOSOS – “Tem bumbum de fora pra chuchu”.
O
samba-enredo dispensa comentários adicionais. É conhecido
por todos, é um dos
maiores clássicos do gênero e símbolo da abertura
política que se desenhava
definitivamente a partir daquele distante carnaval de 1985. O
único problema é
que a letra da obra é datada no início da segunda parte,
por se referir à
ausência das eleições diretas para presidente,
restabelecidas desde 1989. Mas esse trecho é de menos, já
que o restante da segunda é bem atual, principalmente nos
trechos “Hoje está tudo mudado, tem muita gente no
lugar errado, onde andam vocês, antigos carnavais...”. Vale destacar a
excelente estreia do jovem intérprete Thiago Brito. Com um estilo semelhante ao
do saudoso Jackson Martins e de Zé Paulo, Thiago segura tranquilamente o famoso
samba-enredo, com a categoria de um veterano. Deverá ter um futuro brilhante pela
frente! Bonita a homenagem à Carlinhos
de Pilares no final da faixa. NOTA DO SAMBA: 10 (Marco Maciel). 10 – IMPÉRIO SERRANO – “Me amparo na lança do Santo Guerreiro”.
É
um caso à parte. O Império tinha, em sua disputa final,
dois sambas superiores
a este vencedor, principalmente a obra-prima de Arlindo Cruz e um dos
refrões
mais emocionantes dos últimos tempos (“Quem é
Império Serrano não chora...”).
Porém, a escola optou por este samba-enredo, o mais valente dos
três
finalistas, talvez objetivando um sacode semelhante ao executado no
desfile de
2008 em homenagem a Carmem Miranda. Pela gravação,
você já pode prever com
total precisão: este samba-enredo promete promover um dos
maiores sacodes da história do Sambódromo. Se optasse pela obra da parceria de Arlindo
Cruz, a escola teria
o melhor samba-enredo disparado do Grupo de Acesso, já que era
um samba de
apelo semelhante ao vencedor, mas com melodia muito melhor trabalhada.
Mas o
Império planeja colocar a Sapucaí abaixo, com um samba
bem superior ao de 2008 e
com uma capacidade ainda maior de embalar um desfile histórico
da Serrinha. A
aceleração em demasia da bateria na faixa deixa clara a
intenção do Império
Serrano, ao colocar o exato ritmo de avenida no CD: a
emoção aumenta a cada
audição. O samba tem um apelo impressionante, um clamor
que atrai o bamba a se
apaixonar cada vez mais por esta escola: uma verdadeira vanguarda do
samba, uma
das poucas que não abre mão de suas
tradições em contrapartida a um sistema
injusto que insiste em rebaixá-la porque esta quer
apenas fazer seu
carnaval tradicional, sem qualquer tipo de luxo, mas com chão e
emoção. A voz
que se sobressai na gravação é a do
intérprete Bira Silva, que terá vários
cantores da casa para auxiliá-lo no desfile. Enfim, pela
capacidade de
emocionar o bamba e o componente, é o melhor samba do Grupo A
(não contando a
reedição da Caprichosos). Curiosidades: a bossa de
agogô no início da faixa faz
menção à música “O Descobridor dos
Sete Mares”, na gravação de Tim Maia. E o
único porém da faixa, aquele “Império
Serrano é a sinfônica”, lembra muito um
recente comercial de sandálias: “Só Ipanema tem as
anatômicas”, também repetido
exaustivamente. Procurem no YouTube e comparem... NOTA DO SAMBA: 9,7 (Marco
Maciel). 11 – UNIDOS DE PADRE MIGUEL – “Sou aço da lança, trazendo a bonança, pra comunidade da Vila Vintém”. Na gravação, a bateria da Padre Miguel errou a mão. Acelerou demais o andamento, comprometendo a melodia e a interpretação de Edson Carvalho, apenas discreta, de maneira a não ouvirmos o que canta em alguns trechos, em função da bateria abafar a sua voz. Sobre o samba, o estilo melódico é bem característico dos famigerados sambas de escritório, a começar pelo refrão central com a fórmula “pergunta e resposta”, sem contar a descrição em terceira pessoa do aço, com melodia genérica em muitos trechos. O refrão principal, que é a parte mais bem desenvolvida em termos melódicos, foi muito prejudicado pela bateria acelerada. NOTA DO SAMBA: 8,4 (Marco Maciel). 12 – CUBANGO – “Mais doido
é o povo ou quem te governa?”.
Decididamente, a irreverência de Milton Cunha
não tem a cara da escola. É o carnavalesco quem
está colocando a sua cara ao Cubango, de maneira ao
intérprete Tiãozinho Cruz soltar o bizarro caco
“Milton
Cunha chiquérrimo” ao término da faixa. Em
detrimento aos tradicionais enredos de
tendência afro do Cubango, ele traz para a verde-e-branco de
Niterói um tema
sobre... a loucura. O samba-enredo, como esperado, é animado,
completamente pra
cima, e será o fundo musical de um espetáculo
irreverente, bem como o samba,
com trechos divertidos como “Ta lotado de
maluco” e “O meu Brasil pinel
desperta pra folia”. O hino é bom para descontrair. Mas é totalmente
diferente do estilo cubanguense. NOTA DO SAMBA: 8,8 (Marco Maciel).
|
Tweets by @sitesambario Tweets by @sambariosite |