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Os sambas de 2005

Os sambas de 2005

A GRAVAÇÃO DO CD - As inovações da gravação do álbum de 2005 respondem pelo anúncio das escolas pelo locutor oficial do Sambódromo Demétrio Costa no início de cada faixa, pela sirene que autoriza a entrada da escola na avenida, além de fogos de artifício que chegam a lembrar o CD de 1994, na época em que era gravado ao vivo no Teatro de Lona, em que na abertura de algumas faixas é possível ouvir os fogos estourando. O CD de 2005 também lembra o disco de 1985 ao reproduzir o grito da galera na entrada de cada escola logo após o anúncio do locutor e os fogos e a moçada animam desde a entrada da bateria, durante o grito de guerra do intérprete, se aquietando apenas ao término da primeira passada do refrão principal. O interessante é que o CD, se deixarmos tocar de maneira ininterrupta, não tem nenhum momento de silêncio, já que entre o tempo que o samba acaba e o que marca o início da próxima faixa, desponta o gritinho da rapaziada, que tem como seqüência o anúncio da próxima escola por Demétrio. Bem que a produção do CD - Laíla, Mário Jorge Bruno e Zacarias Siqueira - tentou reproduzir um clima de avenida no álbum, mas a gravação continua obedecendo fielmente a cartilha atual ao valorizar bastante os instumentos de corda, ao som da bateria ser ecoado de maneira a pensar que ele é feito somente por caixas (tamborins e repiques, que saudades!!!), o que faz com que o fato de acrescentar no CD um clima de Sambódromo seja falsidade pura. Menos mal que, em relação ao álbum de 2004, a bateria está de volta na primeira passada do samba. Tudo bem que a ausência das caixas na primeira passada valoriza a audição do samba na gravação, mas a bateria, mesmo assim, é mais do que imprescindível. O formato no canto continua sendo o clássico: intérprete na primeira passada e o coral na segunda (com participação na segunda passada do refrão na primeira passada e do intérprete soltando cacos na segunda e também integrando o coral nesta parte). A bateria também se encontra bem mais arrojada em relação aos anos anteriores, com direito a pequenos shows que antecedem o grito de guerra do puxador e com paradinhas envolventes durante o samba que há algum tempo não ouvíamos nos CD's do Especial. Com a volta da bateria na primeira passada do samba no CD, a gravação de 2005 ficou, na minha opinião, muito parecida com a de 2003, onde o canto do samba se destaca em relação à bateria (vale lembrar que, no CD de 2002, a bateria se destacou tanto quanto o canto). A diferença é que, no CD de 2003, durante todo o samba o coral "de Maracanã" abafava a voz do intérprete. Já no álbum de 2005 ele desponta mais comportadinho, mas bem barulhento em algumas faixas como nas da Portela e da Tradição. E a bateria de 2005 está um pouco mais discreta em relação ao CD de 2003. A gravação, no geral, está boa (porém, esperava mais). Se não tem como resgatar o clima de antigamente, deixando as artificialidades e as inovações tecnológicas de lado para destacar instrumento por instrumento da bateria... Os bambas podem descer a lenha na gravação no estúdio, pedindo a volta da gravação ao vivo. Mas vale lembrar que os grandes discos da década de 80 também foram gravados no estúdio. Quatro intérpretes estréiam no álbum oficial de sambas-enredo do Grupo Especial, marcando uma intensa renovação nas vozes das escolas: Ronaldo Ylê (Imperatriz), Bruno Ribas (Portela), Roger Linhares (Mocidade) e Tinga (Vila Isabel). E, na minha opinião, a safra de 2005 está boa, a melhor desde 2001 e infinitamente superior a de 2004 (claro, não considerando as reedições e sim os sambas inéditos). Todas as escolas desfilaram em 2005 com sambas de qualidade, equilibrados tecnicamente se compararmos um a outro, com muitos pontos positivos. A nenhum samba de 2005 creditei uma nota abaixo de nove (o que não deixa de ser uma façanha e um marco nos tempos de hoje). Se tivemos quatro reedições no ano anterior, em 2005 apenas a Porto da Pedra fará a releitura de um enredo antigo... de outra escola, o que sou totalmente contra. Se alguma agremiação tiver que reeditar, que o faça com um enredo próprio, né? A escola de São Gonçalo cantou na Sapucaí o samba da União da Ilha de 1989, Festa Profana. NOTA DA GRAVAÇÃO: 6 (Mestre Maciel).

Em 2005 teremos uma bela safra, uma das melhores desse início de século. Esse ano, os compositores estavam inspirados e, salvas algumas exceções, as escolas acertaram em cheio nas suas escolhas. A gravação também ficou boa, com sambas na devida cadência (o que não aconteceu em 2003) e baterias perfeitamente audíveis (o que não aconteceu em 2004). Um CD que, com certeza, continuará fazendo sucesso mesmo após o carnaval. NOTA DA GRAVAÇÃO: 9,4 (Cláudio Carvalho).

O carnaval de 2004 fez as escolas repensarem sua política em relação a sambas-enredo. A verdade é que se não tivesse sido aberta a possibilidade da reedição, a safra teria sido o maior desastre da história do carnaval carioca. As quatro escolas que reeditaram conseguiram classificações muito boas diante do espetáculo visual que apresentaram e mostraram que um grande samba ainda faz a diferença. Por conta disso, 2005 teve a melhor safra do milênio. Os desfiles foram bem ruins, fazendo com que muitos revalorizassem os sambas após sua passagem na avenida; mas basta uma pequena olhada nos comentários dos colegas de SAMBARIO para ver que o CD foi muito bem recebido quando da época de seu lançamento, com vendas acima da média. Por incrível que pareça, apesar do fenômeno de 2004, apenas uma reedição ocorreu em 2005 - a Porto da Pedra, que se apropriou de "Festa Profana" que, tornou-se, evidentemente, o melhor samba defendido pela escola em sua história, quase a levando ao desfile das campeãs. Apesar do que foi dito, é bom ressaltar que a safra não foi grande coisa, principalmente se comparada com as de 1994 para trás. Ressalte-se que 2005 teve uma quantidade de sambas abomináveis abaixo da média. A produção do CD foi muito bem feita, dando aos sambas um andamento cadenciado e agradável. O destaque absoluto da safra é o samba da Beija-Flor, mas tivemos alguns sambas que merecem uma conferida com atenção. NOTA DA GRAVAÇÃO: 7,5 (João Marcos).

1 - BEIJA-FLOR - "Em nome do Pai e do Espírito Guarani, vem aí a bicampeã Beija-Flor de Nilópolis!". Esta frase marca a entrada triunfal da grande favorita ao tricampeonato, narrada por Demétrio Costa. Analisando comentários antes de eu ter em mãos o CD, a impressão que dava é que a Beija-Flor traria um samba totalmente lírico, já que qualificavam a gravação como triste (claro que não levamos em conta aí a qualidade do samba). Mas depois de ouvir o samba várias vezes, concluo que, embora a melodia do samba-enredo da Beija-Flor seja realmente envolvente, pesadinha e lírica em algumas ocasiões, a gravação até deu um astral um pouco maior ao samba, sobretudo na parte "Os jesuítas vieram de além-mar/com a força da fé catequizar e civilizar", onde enxergamos uma animaçãozinha. O refrão principal "Em nome do Pai..." também é entoado de maneira um pouco mais descontraída. As partes do samba de Sidnei de Pilares e cia que foram acrescentadas ao samba de Sumaré e parceiros realmente melhoraram ainda mais o samba, cujo resultado final é magnífico. O refrão central "Na liberdade dos campos e aldeias..." é sensacional e o trecho "Oh, Pai olhai por nós/Ouvi a voz desse missioneiro" também possui um tom conclamador maravilhoso. O curioso é que a parte "Com Tubichá e o Feitiço de Crué/na Yvy Maraey aiê... povo de fé" se assemelha em termos melódicos ao último refrão do samba da Unidos do Cabuçu de 1977 "O Boi Barroso/Ninguém consegue laçar/Tata Manha, Mãe do Ouro/E a guarda fiel/De Tumbaé Avá", cujo enredo também homenageava os Sete Povos das Missões. O fato da letra do samba utilizar expressões desconhecidas causou alguma polêmica e historiadores alegam que há alguns equívocos no nome "Yvy Maraey". Uma polêmica que se consagra é sobre a ausência do grande herói indígena Sepé Tiarajú na letra oficial. Seu nome constava no refrão central do samba anunciado originalmente como campeão, mas como a junção do outro samba este refrão foi trocado. Neguinho da Beija-Flor tem uma atuação comportada, cantando o samba de forma discreta. Mas reservo os elogios para a presença, no CD de 2005, das frigideiras da Beija-Flor que deram um toque especial na bateria durante o desfile que deu à escola o bi em 2004. Elas não apareciam nos discos de sambas-enredo oficiais desde 1979, quando as frigideiras ditaram o ritmo da bateria de todas as escolas nas faixas daquele álbum. A Beija-Flor desfilará com todo o favoritismo do mundo e com um samba magnífico. Considero o samba de 2004 da escola melhor em relação ao de 2005, mas, ainda assim, o hino da Beija-Flor de 2005 é, na minha opinião, o melhor do ano. Levou o Estandarte de melhor samba e sem dúvida ajudou a Beija a conquistar o tri. NOTA DO SAMBA: 9,7 (Mestre Maciel).

Mais uma vez a escola de Nilópolis larga na frente das co–irmãs do Grupo Especial, com um samba que pode ser considerado o melhor da safra. Samba este que é o resultado da junção de três hinos feitos para a disputa promovida pela agremiação. A base é o samba que foi cantado por Bruno Ribas e Carlinhos da Paz. Essa versão pecava pelo disparate entre a primeira e a segunda parte, sendo a última relativamente maior. Percebendo isso, a diretoria da azul e branco promoveu as devidas mudanças e o resultado é esse belo hino, que segue os mesmos moldes dos anos anteriores, ou seja, melodia sóbria e letra politicamente correta. Como no ano anterior, o índio é apresentado como mocinho e o invasor espanhol acaba pagando o pato. Não que eu ache errado, são histórias que a História não conta, mas soa repetitivo. Esse talvez seja o único pecado cometido pela Beija, mas como em time que está ganhando não se mexe, não creio que apostar na seqüência tenha sido um erro. NOTA DO SAMBA: 9,7 (Cláudio Carvalho).

Desde 98, a escola de Nilópolis trabalha com afinco na ânsia de trazer sambas que detalham com beleza seus enredos, primando pelo requinte de melodia e pela letra bem elaborada. Em 2005 não foi diferente. O samba da escola é quase perfeito. Fruto de uma fusão, o samba tem uma letra que descreve com beleza os Sete Povos das Missões. A melodia tem variávies bem interessantes, com pequenos momentos menos inspirados melodicamente, como no trecho "Traz do ceú a luz menino, em mensagem do divino, unir as raças pelo amor fraternizar" onde o tom é grave demais. De resto, mais um sambão da Beija Flor, que na avenida ganhou a cadência perfeita, foi muito bem cantado pelo contingente da escola, e foi peça chave para o tri-campeonato. NOTA DO SAMBA: 9,9 (Franclim).

Apesar de o enredo ser uma confusão dos diabos, os compositores conseguiram um milagre - o samba passa emoção. O grande trunfo é a melodia, muito rica e variada. Grande parte dos méritos disso é de Laíla que, ao fazer a fusão, colocando um refrão que deu mais leveza e dinâmica ao samba, mesmo sendo cantado num tom bem grave por Neguinho. O samba funcionou de forma esplêndida na Avenida, abocanhando o Estandarte de Ouro e sendo uma peça fundamental na conquista do tricampeonato justíssimo da escola. É um dos grandes samba da Beija-Flor, apenas inferior à "Criação do Mundo na Tradição Nagô" e "Manôa", disputando com "Mundo Místico dos Caruanas" a medalha de bronze. Excepcional. NOTA DO SAMBA: 9,9 (João Marcos). Clique aqui para ver a letra do samba

2 - UNIDOS DA TIJUCA - "Do Borel a Shangri-Lá: Unidos da Tijuca!". Sobre este anúncio, a vice-campeã de 2004 entrará na Sapucaí com a responsabilidade de manter o excelente nível do desfile anterior. A escola mantém a categoria de grandes sambas de enredo ao trazer um samba de melodia excelente, qualificadíssima e bem variada. Os dois refrões, assim como no ano anterior, são agradabilíssimos e envolventes. O temor é na parte do final do samba, já que os versos "Alerta pro mundo atual/Imagem, terror irreal/Humanos dominados pelo mal" são entoados de forma muito rápida. O samba ganha animação no CD, mas o mesmo ainda possui alguns traços líricos. Wantuir, um dos melhores intérpretes da atualidade, não teve uma interpretação de arrebentar na gravação (em 2004 ele arrasou), o cantando no CD de forma comportada. Mas na avenida ele deverá corresponder todas as expectativas. A Tijuca também traz um excelente samba de enredo. NOTA DO SAMBA: 9,4 (Mestre Maciel).

Assim como a bicampeã do carnaval, a escola do Borel, ao que tudo indica, vai apostar na mesma fórmula de 2004, inclusive no que se refere ao samba. Como no ano em que conquistou o vice–campeonato, a Tijuca vem com um samba certinho, que se não é uma obra prima também não pode ser tachado de ‘’boi com abóbora’’. É um samba envolvente, que tem tudo pra fazer sucesso na avenida, conduzindo a escola a mais um êxito em seu desfile. NOTA DO SAMBA: 9,3 (Cláudio Carvalho).

Samba que descreve o belo enredo idealizado por Paulo Barros, trazendo os mundos imaginários. O refrão principal é empolgante, apesar de um pouco marcheado. A primeira do samba é interessante apenas, sem nenhum arroubo de criatividade, e o refrão de apoio tem melodia um pouco apagada, passando quase desapercebido. A segunda parte do samba é seu ponto alto, com uma bela melodia e uma letra inteligente, como no trecho "O homem pensou, que o planeta era somente seu, pro futuro ele projetou, dominar a natureza que um dia o acolheu". Na avenida, o samba ganhou cadência forte, com uma pegada ótima da bateria que o jogou prá cima e o fez render na marra. NOTA DO SAMBA: 9,3 (Franclim) .

A escola sensação de 2004 repetiu o feito em 2005, só que, desta vez, com um samba bem melhor. O estilo do carnavalesco Paulo Barros, com seus enredos confusos, dificulta o trabalho dos compositores. O samba acaba sendo secundário, mera trilha sonora de um espetáculo criativo, muito divertido, mas que não me parece desfile de escola de samba. Esta marcha é competente, passa o enredo com muita competência, tem variações melódica ricas, mas tem trechos que dificultam o canto. Mesmo não sendo tecnicamente perfeita, só levou nota 10 dos jurados. Mas comigo não, violão. NOTA DO SAMBA: 8,9 (João Marcos). Clique aqui para ver a letra do samba

3 - MANGUEIRA - "Com toda a sua energia, vem aí: Estação Primeira de Mangueira!". A verde-e-rosa deixa de lado a cadência que predominava na mula-manca nos últimos álbuns e acelera a sua bateria de uma maneira semelhante a da avenida, pois o samba é animado e exige uma descontração maior da bateria para o hino mangueirense de 2005 crescer na cotação dos bambas. O samba-enredo me agrada muito, tem uma melodia contagiante que é a cara da Mangueira, dois refrões pra sacudir (principalmente o central) e, sobretudo, uma interpretação magistral do grande Jamelão, bem mais seguro em relação ao álbum do ano anterior, quando gravou o samba enfermo e sob cuidados médicos. Só acho que, na letra do samba, há uma obsessão em fazer um "merchan" (como diz o Clodovil) do slogan da Petrobrás, patrocinadora do enredo, que diz o seguinte: "O desafio é a nossa energia". É que conjugações do verbo "desafiar" aparecem por quatro vezes na segunda parte do samba, principalmente na sua melhor parte em termos melódicos (uma parte envolvente, por sinal, com a cara da Manga): "Se me desafiar, pode contar, não vou desistir/Pois a energia é o nosso desafio/E o nosso desafio é aqui". É um belíssimo samba-enredo que, sem dúvida, deverá levantar a Marquês de Sapucaí e crescer no desfile a cada passada. Curiosidade: é o primeiro samba-enredo do Especial a colocar na letra a palavra "Sapucaí" desde 1998. NOTA DO SAMBA: 9,3 (Mestre Maciel).

Esse tinha tudo pra ser o samba do ano. É a cara da escola, mas a chamada com o nome da escola já virou lugar comum e o verso ‘’A energia é o nosso desafio’’, lema da Petrobrás - patrocinadora do enredo - compromete a obra. Não consigo me acostumar com a influência cada vez maior que o dinheiro tem no carnaval, a ponto de influenciar a feitura de uma samba. E um samba da Mangueira, é bom que se diga. NOTA DO SAMBA: 9,4 (Cláudio Carvalho) .

Samba claramente preso pelo patrocínio. As palavras "desafio" e "energia" são encontradas várias vezes. A letra peca pela falta de um apuro maior em poesia, em decorrência do tema, e a melodia faz o que pode. Na Sapucaí, com uma bateria mais cadenciada, o samba ganhou um pouco mais de vida, mas sem dúvidas é o samba mais fraco da verde e rosa desde 97. NOTA DO SAMBA: 8,5 (Franclim).

Marcha sem graça, verdadeiro jingle do patrocinador. Jamelão tem uma performance exuberante no CD, mostrando porque é o maior intérprete de samba enredo da história e torna a faixa agradável. No desfile, entretanto, a bateria acelerou demais e o samba ajudou a afundar a escola, que se mostrou estranhamente apática, provavelmente pelo abandono do seu símbolo maior, sua cores. Mangueira sem verde e rosa não é Mangueira. NOTA DO SAMBA: 8,5 (João Marcos). Clique aqui para ver a letra do samba

4 - VIRADOURO - "Sorria! Sorria! Olha a Viradouro chegando!". O samba, que já havia me agradado bastante, melhorou ainda mais no CD. O samba-enredo de 2005 é realmente muito parecido com os anteriores da escola (claro, não conta o Círio de Nazaré, obra da Estácio), já que o compositor Gusttavo (isso mesmo, com dois tês - ê, numerologia...) obteve a sua sétima vitória consecutiva nos concursos da Viradouro. E há grandes semelhanças entre este samba-enredo e os anteriores que a agremiação niteroiense cantou nos últimos desfiles, a começar pela repetição do "eu vou", oração que sempre marcou presença nos sete sambas de Gusttavo para a Viradouro. Repare bem: 1998 (É na magia do sonho que EU VOU); 1999 (E com Anita EU VOU, é Garibaldi, amor); 2000 (Com a Viradouro EU VOU, EU VOU, EU VOU); 2001 (EU VOU me acabar); 2002 (Nesta ciranda é que EU VOU); 2003 (Se um vento soprar EU VOU); e, por fim, 2005 (Na bossa da bateria EU VOU). Hehehehe, e tal repetição também ocorre com o clichê "amor". Repare de novo: 1998 (Eurídice, o verdadeiro AMOR... Mitologia do samba, AMOR... Hoje o AMOR está no ar); 1999 (E com Anita eu vou, é Garibaldi, AMOR); 2000 (O dia vai raiar, AMOR, AMOR... Meu canto de AMOR se espalha no ar); 2001 (Mais AMOR no coração... E quem tem AMOR pra dar); 2002 (Hoje eu quero paz e AMOR); 2003, o campeão (A Viradouro, meu AMOR, faz a homenagem... AMOR, nessa avenida quanta emoção... Deixa o dom me levar, AMOR... Piaf, um hino ao AMOR); e, para encerrar esta seção de inutilidade pública, 2005 (Numa expressão de AMOR... Iluminado eu sou, palhaço do AMOR). O curioso é que não considero esses clichês uma falta de criatividade por parte dos compositores, pois vocês percebem a grande qualidade dos últimos sambas trazidos pelas escola, onde animação e lirismo formam uma singular união. E os sambas, como um todo, são idênticos em estilo melódico. O trecho de 2005 "Os amigos do sorriso/Brilham no meu clarear/É carnaval, oh! Quanto riso/Sou criança vou brincar" em melodia não se diferencia em praticamente nada desses trechos de sambas anteriores que costumam fechar os sambas com beleza e emoção: 2003 ("E quando o sol se põe/Desce uma estrela lá do céu/Vem reviver ao seu lado Bibi/O seu mais brilhante papel") e 2002 (Então, em forma de oração/A raça branca faz a sintonia/E nesta festa de coroação/O rei do mundo é o rei da folia). Até o formato da gravação no CD de 2005 é idêntico a estes. Bom pra Dominguinhos do Estácio, já que esses sambas têm a sua cara. Os últimos sambas da Viradouro são valentes, com refrões contagiantes que sacodem e em 2005 não será diferente. O central possui uma singular melodia e o principal já é mais apelativo. O já marcante "ja é, já é", que tanta fúria causou no bamba pelos evidentes traços de oba-oba, começa aos poucos a ganhar a simpatia de todos os críticos. Embora eu seja contra o oba-oba, este "já é" me empolgou desde a primeira vez em que ouvi o samba, na versão de concorrente, pela sua originalidade. Percebemos que a galera espera algo diferente nos sambas de enredo, já que não agüenta mais as mesmices de sempre. Por isso, a minha expectativa é que o "já é" ganhe o Brasil. E a intenção da escola é essa, já que, no CD, começou a cantar o samba a partir do refrão principal. A melodia do hino da Viradouro de 2005 é perfeita e a escola levará, para a Marquês de Sapucaí, um dos melhores sambas do ano. Na Viradouro eu levo fé! Só espero que o "já é, já é" não se transforme posteriormente em "já era, já era". NOTA DO SAMBA: 9,4 (Mestre Maciel).

Melodia interessante e letra inteligente, o que pode ser considerado uma proeza, dada a pobreza do enredo. Lamentável, porém, o verso ‘’Geral gritar, já é,já é’’, gíria de funkeiro, e não de sambista. Aliás, não sei que influência esse ritmo exerce na escola, pois em 97 sua bateria ficou famosa justamente pela paradinha que lhe fazia alusão. Ai, Viradouro: isso é funk ou samba? NOTA DO SAMBA: 9,2 (Cláudio Carvalho).

Os sambas de Gusttavo e cia tem sempre a maestria de se poetizar qualquer tema, como o sorriso."Iluminado eu sou, palhaço do amor, na bossa da bateria eu vou", é um trecho que comprova a inteligência da letra, na mistura do quase lírico com o popular. O samba ainda vai pelo caminho mais difícil, que é o de ser em primeira pessoa, onde o próprio sorriso se descreve. De negativo, o tão comentado refrão principal, onde os autores se preocuparam apenas em sacudir as arquibancadas com termos cheios de clichês. Também fica clara que em certos momentos a melodia se parece com outros sambas da parceria. De resto o samba é muito bom. Mas o refrão na avenida, que tinha o intuito de explodir, passou quase desapercebido. NOTA DO SAMBA: 9,5 (Franclim).

Um sambaço, de melodia lindíssima e letra bem construída. Entretanto, ao ouvir o samba pela primeira vez, me veio na mente a imagem do personagem de Grande Otelo, na Escolinha do Professor Raimundo - na hora de tirar a nota dez, os compositores meteram os pés pelas mãos, de forma desnecessária. O refrão final, com o seu amaldiçoado "já é", expressão popularesca utilizada para fazer a escola se comunicar com o público, ficou meio forçado. O efeito pretendido não foi alcançado e o samba passou meio chocho na avenida. Mas é muito bonito, apesar de tudo. NOTA DO SAMBA: 9,5 (João Marcos). Clique aqui para ver a letra do samba

5 - IMPERATRIZ - "Contando histórias, vem aí: Imperatriz Leopoldinense!". O samba-enredo foi bem escolhido, era o preferido da torcida durante as eliminatórias da escola. O intérprete Ronaldo Ylê, que teve uma excelente atuação no desfile de 2004 quando substituiu com naturalidade David do Pandeiro em cima da hora, ganhou o posto de puxador titular da Imperatriz e no CD não desapontou, apesar de sua atuação na gravação ter sido um pouco discreta. Sua voz transmite garra ao samba e impulsiona a escola a entrar firme e segura. E tal segurança na harmonia vai ficar ainda maior, já que a voz da Cubango Tiãozinho Cruz (uah, que bonitinho!), que interpretou o samba com maestria na época em que era concorrente, será o auxiliar de Ronaldo na avenida. Pra se ter uma idéia do quanto a excelente atuação de Tiãozinho influenciou, Ronaldo encerra a faixa com um "Que bonitinho", principal caco do atual intérprete da Cubango. O samba-enredo que a Imperatriz levará para a Sapucaí no carnaval de 2005 realmente possui um clima de conto de fadas, o enredo da escola. Sua melodia é leve, encantadora e de muito boa qualidade. A preocupação fica por conta do refrão central. Um dos pontos fortes do samba em termos melódicos, causa dor-de-cabeça devido ao seu comprimento de cinco versos nada curtos, sem contar que o último pode provocar problemas de pronúncia: "Hans Christian Andersen" (apesar de não achar difícil cantarolar este nome, agora se fosse um polonês consoante-com-consoante...). O refrão principal também é encantador. A Imperatriz, pelo segundo ano consecutivo, vem muito bem de samba. NOTA DO SAMBA: 9,6 (Mestre Maciel).

Mais um sambão da escola de Ramos, tal qual o de 2004. Dessa vez, temos um hino de letra irretocável e melodia diferente, leve e encantadora. Pro ano, a Imperatriz promete, com Tiãozinho Cruz no carro de som e Jorjão na condição de diretor de bateria. Prenúncio de um grande desfile. É só dizer pirlimpimpim...NOTA DO SAMBA: 9,6 (Cláudio Carvalho).

Se o tema era de cunho infantil, a escola tratou de escolher um samba alegre e prá cima. É a busca dos últimos anos da Imperatriz de quebrar uma certa antipatia do público para com a escola, apontada como fria e calculista na busca pelo título. Em 2005 a escola procurou um caminho mais leve. A letra é bastante fácil e escorrega em pequenos detalhes, como no nome do homenageado, difícil de ser cantado. Além disso, se a sinopse da escola mostra apenas em um setor do desfile ( o último) o Sítio do Pica Pau Amarelo e o encontro de Monteiro Lobato e Hans Christian Andersen, a letra descreve o acontecido em toda a segunda parte, mostrando uma certa disparidade quanto a cronologia de desfile. A melodia é riquíssima, com destaque para os momentos que ela sobe muito, como no "Pega a viola, o repentista" , bem como no refrão principal "Emília cantando assim". Nenhum trecho foi mais agudo em 2005 do que estes dois. O samba foi bem cantado pela escola e pelo público. NOTA DO SAMBA: 9,7 (Franclim).

O samba de Josimar e cia. tem problemas técnicos seríssimos, bem como uma melodia que não é de samba enredo nem aqui, nem na China. Compassos são desprezados, a métrica é jogada para escanteio... Mas o sentimento de inocência que o samba passa - e que o enredo pedia - faz a faixa ser encantadora. É um samba que você tem de deixar de ser purista e ranzinza e apenas curtir, deixando a razão um pouco de lado. No carnaval de hoje, a idéia de quem assiste o desfile ou de quem julga é buscar defeitos. Mas tem hora que o negócio é buscar o diferencial, o que emociona, mesmo que tenha problemas técnicos. Por isso o samba da Imperatriz de 2005, apesar de não ser uma obra-prima, me agrada. NOTA DO SAMBA: 9,2 (João Marcos). Clique aqui para ver a letra do samba

6 - SALGUEIRO - "A Vermelho e Branco é fogo e o Salgueiro chegou!". Com este anúncio, a Academia entra com mais um samba pra levantar e sacudir a Sapucaí. Isso não chega a ser novidade, vem ocorrendo desde 1993 refletindo a era salgueirense pós-Ita tão criticada musicalmente, mas bem mais tranqüila em termos financeiros em relação ao período que envolve o fim da década de 70 e o começo da de 80. E o samba é a cara do intérprete e "animador de avenida" Quinho (que também, pra variar, foi incluído entre os compositores do samba a fim de tirar mais algum dindim da escola). Realmente é difícil ficarmos sem seus cacos criativos e sem seu alto astral. Seus notáveis problemas de dicção vem rendendo, desde o CD de 2003, enigmas sobre uma dúvida de pronúncia de um caco de Melquisedeque ecoado durante a faixa salgueirense. Em 2003 poucos conseguiram assimilar que ele abria a faixa com um "Tá sabendo" (eu entendia "tu tá ardendo"). Em 2004, foi a vez de soltar um "tá surdo" que antes eu entendia como "tatu". O mistério de 2005 é sobre o que ele grita na primeira passada logo após o canto do verso "Pra alma é purificação". Eu sinceramente entendo "A barata". Quem souber o que ele fala nessa parte mande-me um e-mail (é brincadeira...). A atuação de Quinho é a mesma de sempre, com sua voz pesadíssima, sua dicção um pouco rudimentar e dezenas de cacos engraçados. Uma pena que ele esqueceu do "se joga" no CD 2005, que tanto sucesso fez no desfile de 2004. O samba é valente, envolvente, com dois refrões contagiantes e a paradinha da bateria na segunda parte depois do verso "Um brilho explode no ar" é extasiante. O samba-enredo teve uma boa passagem na avenida e a musa Carolzinha Castro desfilou beleza como Rainha da Bateria... NOTA DO SAMBA: 9,1 (Mestre Maciel).

Falar o que? Que a escola mais uma vez errou na escolha do samba? Que é uma marchinha, cheia de cacos, feita sob medida para o intérprete? Toda vez eu digo isso, e pode parecer perseguição, mas não é. O pior de tudo é que eu sempre falei de sambas do Leonel, mas justamente quando o cara acertou a mão, perdeu na final. Vai entender o Salgueiro... NOTA DO SAMBA: 8,6 (Cláudio Carvalho).

O Salgueiro trouxe um samba valente e que funcionou muito bem na avenida. Mas um samba enredo não pode ser analisado apenas por este viés. Como letra e melodia o samba deixa a desejar em muitos momentos. A melodia é apenas funcional, sem nenhuma variação inspirada e que chame realmente atenção. A letra também é apenas pálida, com vários termos pra lá de requentados. Definitivamente, o Salgueiro deve dar uma guinada em direção a outro caminho quanto a seus sambas. Uma escola de repertório tão rico, pode muito mais que isso. NOTA DO SAMBA: 8,8 (Franclim) .

Eis um bom samba oba-oba da escola. O refrão é muito inteligente, dando espaço e tempo para Quinho ficar caqueando, coisa que ele faz com muita competência. A letra passa o enredo com clareza e a melodia tem boas variações, alternando trechos em tom maior e menor. Evidente que quando se pensa em Salgueiro, o nível de exigência tem de ser mais alto porque, afinal de contas, estamos falando de um dos pilares do carnaval carioca. Ficar apresentando marchinhas ano após ano é muito pouco. Eu gostaria de ver a escola com um SAMBA. Mas esta aqui é uma marcha muito boa. NOTA DO SAMBA: 9,1 (João Marcos). Clique aqui para ver a letra do samba

7 - PORTELA - "Amor e felicidade! É a mensagem da Portela!". Essa abertura narrada pelo locutor anuncia a melhor gravação do CD. Impressionante como a versão do CD melhorou o samba-enredo portelense. Aquela marchinha sem vergonha cuja vitória gerou críticas vorazes dos bambas ganhou uma cadência maravilhosa e uma harmonia encantadora, com um coral sensacional e a atuação magistral de Bruno Ribas, que estréia no Grupo Especial como intérprete titular. Tem tudo para ser a grande revelação do ano este puxador que já fora eleito o melhor do Grupo A em 2004 quando defendeu a Inocentes da Baixada (que voltou a ser de Belford Roxo). A letra faz com que a escola exponha a sua mensagem de maneira direta (direta até demais, pois a parte do HIV empobrece um pouco a letra). O refrão central ("Um mundo sem fome/Sem dor e sem guerra...") tem tudo para ser um dos melhores do ano e os versos que abrem a segunda parte ("Ensinando ver a vida como ela é/Respeitando os direitos da mulher") tiveram uma melhora significativa na melodia. E voltando a falar sobre Bruno Ribas, ele ganha todos os créditos pela melhor gravação do CD 2005, sobretudo por não ter imitado Wander Pires e suas reverberações exageradas, como ocorrera na gravação do samba da Inocentes para 2004, sendo felizmente mais natural possível, cantando não como Wander Pires e sim como Bruno Ribas. A excelente gravação cessou um pouco as críticas a respeito do samba da Portela para 2005. Mas os problemas que a escola enfrentou durante o desfile fizeram com que o samba passasse despercebido. NOTA DO SAMBA: 9,1 (Mestre Maciel).

Dizer que um samba do Noca é fraco seria heresia da minha parte, mas havemos de convir que este hino está muito aquém da safra da Portela, hepta Estandarte em samba–enredo. A letra é fácil e a melodia animadinha, mas versos como ‘’combater o HIV’’ e ‘’Ver o bem vencer o mal’’ soam apelativos, a meu ver. Pode até ser que faça sucesso, o que não o exime da crítica. NOTA DO SAMBA: 8,9 (Cláudio Carvalho).

Outra escola de tradição em sambas de enredo, que em 2005 ficou devendo. Começamos pelo refrão principal que não apresenta força capaz de mexer com os brios do portelense. A primeira parte apenas "cumpre tabela". O refrão do meio "Um mundo sem fome, sem dor e sem guerra, quem viver verá", com a já marcada estratégia da pergunta e resposta, é o melhor momento do samba, e foi o trecho mais bem cantado no desfile. A segunda parte tem seus piores momentos em relação a letra, como no já mais que violentado pela crítica "combater o HVI, e toda a epidemia que aparecer". O grande Noca da Portela não estava inspirado na composição de sua obra, assim como a diretoria da Portela na escolha de seu samba. NOTA DO SAMBA: 8,9 (Franclim).

A escolha do samba de Noca e cia. gerou polêmica e discussões intermináveis nos fóruns de internet. Acusaram o compositor de fazer um samba sem poesia, com trechos de letra muito pobres e apelativos. Muitos chamam este o "samba do HIV", por causa do verso que trata do combate a AIDS. Entretanto, a verdade é que, diante do desastre total que foi a passagem da escola em 2005, com sua águia sem asas, com sua Velha Guarda impedida de desfilar, se teve alguma única coisa que funcionou no desfile da Portela, foi o samba. Não é uma obra de arte, longe disso, mas tem uma melodia que, apesar de trechos marcheados, principalmente no refrão de cabeça, vai envolvendo o ouvinte. A prova de que o samba foi bem é o prêmio de revelação do ano para seu intérprete. NOTA DO SAMBA: 8,5 (João Marcos). Clique aqui para ver a letra do samba

8 - MOCIDADE - "Brilha uma estrela no céu! É a Mocidade Independente de Padre Miguel!". O samba da agremiação de Padre Miguel para 2005 vem caindo de cotação, já recebendo duras críticas dos bambas. O samba é gostosinho de ouvir, possui uma melodia leve e correta e dois empolgantes refrões (sobretudo o principal). O hino de 2005 já é bem melhor do que os dois últimos sambas tenebrosos que a escola levou para a avenida, porém ainda está num nível muito abaixo dos grandes clássicos da verde-e-branco de Padre Miguel. O desacreditado Roger Linhares tem uma segura atuação no CD. Na avenida, porém, o filho do lendário compositor Toco teve atuação discreta e acabou dispensado da Mocidade logo após o desfile. O samba acabou se arrastando e, depois, a trupe independente de Padre Miguel e seu estilo e "apetite" foi muito prejudicada por ter recebido a ingrata missão de ser a primeira a entrar na avenida. NOTA DO SAMBA: 8,4 (Mestre Maciel).

No início eu não gostava desse samba, pois achava que era cheio de lugares comuns e algumas de suas passagens me pareciam um repeteco de Viradouro 2003. Mas confesso que, ao escutar o CD, mudei de idéia. O samba ganhou corpo com a interpretação de Roger Linhares, intérprete na nova geração que tem tudo para trilhar um caminho de sucesso no Grupo Especial, ao contrário do que a maioria prevê. NOTA DO SAMBA: 9,3 (Cláudio Carvalho) .

Mais uma grande escola, mais um samba opaco. A Mocidade completa em 2005 três anos de sambas esquecíveis. A melodia em nenhum momento é marcante, passando quase reta, sem deixar saudades. E a letra...bom, a letra é caso de polícia, tamanha falta de criatividade, de capricho com as palavras e com as rimas. Há momentos em que claramente se percebe trechos onde a falta de conteúdo é deixada de lado por expressões que apenas "enchem linguiça", como "ê paixão", "Vem me dar seu coração" e "se a arte tá na mesa, eu tô". Apesar da sinopse ter sido escrita em forma de receita, ficou no mínimo sem cabimento as expressões "o molho tá na consciência", e "eu agito a massa". Muita pobreza de letra e melodia dentro de um samba só. NOTA DO SAMBA: 7,8 (Franclim).

Inicialmente muito elogiado nos fóruns de carnaval, rapidamente mostrou sua fragilidade. O samba da escola é o chamado "samba moderno", marchinha com trechos em menor, versos com palavreado embolado, num discurso falsamente poético, mas que não quer dizer absolutamente nada. O samba foi elogiado porque a escola trouxe nos anos anteriores sambas totalmente "trash". Eu prefiro um samba "trash" a uma coisa tanto insossa, chata, sem graça, desprovida de qualquer beleza ou valor artístico. O refrão de cabeça é terrivelmente simplório. O samba é todo horrível. Poucas vezes um samba prejudicou tanto uma escola como este da Mocidade, em 2005. Apesar de belíssima, a Mocidade desfilou desanimada, apática, com um samba totalmente arrastado, uma desgraça. NOTA DO SAMBA: 4,5 (João Marcos). Clique aqui para ver a letra do samba

9 - IMPÉRIO SERRANO - "Um grito ecoa no ar! Império Serrano". A entrada do Império no CD é de arrepiar! O naipe dos agogôs da escola é, sem dúvida, um dos maiores êxtases do CD. E ao som dos agogôs e do foguetório, Nêgo canta com garra o refrão principal conclamador do samba. É a melhor abertura de faixa de todas, disparada! E também uma das melhores partes do álbum. O intérprete Estandarte de Ouro Nêgo (que homenageia novamente a presidente Neide Coimbra, a Cigana Guerreira) dá um verdadeiro show cantando este sambaço (sempre acompanhado pelos agogôs), que realmente cresceu na potente voz do irmão caçula de Neguinho! A letra é, na minha opinião, a melhor entre os 14 sambas do Especial e a sua melodia é envolvente, empolgante, com dois refrões valentes, enfim, um samba-enredo daqueles que não cansamos de ouvir no CD (espero que aconteça o mesmo na avenida). Pouco importa que a segunda parte seja bem maior do que a primeira! O que realmente importa é que a Império Serrano vem com um excelente samba de enredo para o carnaval de 2005. Só para quem é curioso: um dos compositores do samba chama-se João Bosco. Vocês podem se perguntar: é aquele mesmo que é parceiro do Aldir Blanc e autor de sucessos como "O Bêbado e a Equilibrista", "O Mestre-Sala dos Mares" e "Linha de Passe"? O famoso João Bosco realmente é torcedor da Império Serrano, tanto que regravou na Coletânea Sony da escola em 1993 o samba "Heróis da Liberdade". Mas o compositor do samba-enredo de 2005 é apenas xará do grande cantor, compositor e violonista. NOTA DO SAMBA: 9,4 (Mestre Maciel).

O que salva esse samba, a meu ver, é a melodia, pois a letra, onde a palavra ‘’homem’’ se repete a todo momento e a segunda parte é imensa, não me agradou. A parte que se segue ao verso ‘’Coloca em risco toda civilização’’ é desnecessária, até porque traz a palavra ‘’lixo’’ em um dos versos. É a tal história, não é porque Tiradentes foi esquartejado que eu preciso colocar isso numa letra. O que faz um samba enredo, acima de tudo, são belas palavras, e essa definitivamente não é uma delas. NOTA DO SAMBA: 8,8 (Cláudio Carvalho).

O samba do Império é correto. Parece ser um elogio mais não é. Pois o samba da escola é absurdamente correto. Correto demais! Em nenhum momento se percebe uma variação melódica mais arrojada, fugindo do lugar comum. Enfim, a melodia deste samba parece não sair do lugar. Por outro lado, a letra é bem descritiva, sempre dentro do enredo, mas também não traz novidades quanto ao uso de expressões. O samba não chega a comprometer, mas poderia se arriscar um pouco mais. Faltou arrojo. NOTA DO SAMBA: 9,0 (Franclim).

Depois de emocionar os verdadeiros sambistas com o desfile mais empolgante do novo milênio por ter reeditado o samba que muitos julgam ser o melhor da história, o Império voltou a optar por um enredo de gosto duvidoso, o que atrapalhou na escolha do samba. O melhor samba das eliminatórias, de Jorginho do Império, acabou tendo de ser preterido por este aqui, que tinha maior ligação com o enredo proposto. O samba em si é bom, apesar da letra não ser lá grandes coisas. A melodia é seu ponto alto, indiscutivelmente. A performance de Nêgo no CD é muito boa e a faixa é agradável. Mas isso é pouco para Império Serrano. NOTA DO SAMBA: 8,8 (João Marcos). Clique aqui para ver a letra do samba

10 - GRANDE RIO - "Alimentar o corpo e a alma! Este é o recado da Grande Rio!". A escola fez uma junção de três sambas concorrentes a fim de formar o samba-enredo oficial da Grande Rio para 2005. Tal junção ocorrera também em 1993, gerando o melhor samba da história da escola. O hino da Grande Rio de 2005 é bonito, possui uma bela melodia e dois refrões magníficos, ganhou no CD uma cadência maravilhosa e a letra não é das piores. É o melhor samba da escola desde 2001. A Nestlé, patrocinadora do enredo (e do CD também), conseguiu de maneira criativa incluir dois célebres produtos na letra do samba: o Leite Moça ("Moça, o teu doce é saboroso") e o leite Ninho ("Lá em nosso ninho tem sabor especial"). Wander Pires, aproveitando a cadência do CD, aproveita para caprichar nas suas reverberações desnecessárias, gerando assim um clima saudosista do velho Wander do início da carreira na Mocidade, quando cantava sem enfeitar. Mas, ainda assim, é um dos melhores intérpretes da atualidade. Seu talento é óbvio que é inquestionável! O samba é bom, mas posteriormente acabamos por considerar sua melodia um tanto enjoativa. NOTA DO SAMBA: 9,1 (Mestre Maciel).

O que eu disse a respeito do samba da Mangueira se aplica perfeitamente a escola de Caxias. As palavras "moça" e "ninho" remetem a produtos da Nestlé, assim como o verso ‘’Alimentar o corpo e a alma faz bem’’. Mais merchandising numa letra impossível. Só que ao contrário do hino mangueirense, esse não é lá essas coisas, daí sua nota não ser boa. NOTA DO SAMBA: 8,7 (Cláudio Carvalho). 

Um dos bons sambas de 2005. O samba começa lá em cima, com "Oh mãe terra. solo fértil abençoado" e segue com uma melodia interessante, que flui com simplicidade. As palavras "Ninho"e "Moça", tão criticadas por citarem produtos do patrocinador não me parecem atrapalhar o conjunto da obra. O refrão do meio é apenas bom. Na segunda parte, volta a melodia coesa e firme. Ainda não é um samba comparável com as obras primas da escola de 92, 93, 94 e 97, mas é um bom samba, independente da interferência do patrocinador. NOTA DO SAMBA: 9,3 (Franclim).

Resultado da fusão de três sambas, o hino da Grande Rio foi um dos mais criticados no pré-carnaval. Realmente, do ponto de vista artístico, é bem fraco. É um jingle, com letra enrolada e melodia falsamente clássica, mas totalmente genérica. Entretanto, confesso que funcionou bem no desfile, provavelmente por força da bateria da escola, que impôs uma cadência perfeita para a obra. A performance de Wander Pires também foi muita boa... no desfile. No CD, os vibratos insuportáveis tornam a faixa difícil de escutar. NOTA DO SAMBA: 7 (João Marcos). Clique aqui para ver a letra do samba

11 - PORTO DA PEDRA - "Um porre de felicidade! Porto da Pedra!". O único samba reeditado do ano no Grupo Especial abre com um desnecessário e enjoativo coro "o rei mandô, o rei mandô". Totalmente supérfluo! Luizinho Andanças, na gravação do samba, se consagra como o novo tenor do samba, fazendo frente a Rixxa, o velho Pavarotti do Samba. É interessante o show de reverberação que o ex-intérprete da Santa Cruz dá na hora dos "êêêêêêêêê" na segunda parte do samba. Seria bizarro pensarmos o animador-de-avenida Quinho dando uma de tenor, já que ele, em 1989, cantou este mesmo samba pela União da Ilha com uma categoria que acabou por consagrá-lo como intérprete. "Festa Profana" é considerada uma marcha-enredo, cujos moldes originais não combinam com o estilo lírico de Luizinho Andanças (ainda mais puxando pela memória e lembrando que Quinho foi o intérprete oficial do samba 16 anos antes). Tanto que é notada uma nítida aceleração da bateria na segunda passada em relação à primeira na gravação do CD. A bateria entra um pouco mais cadenciada na primeira passada para que Luizinho possa mostrar tranqüilamente seus dotes e, com a entrada do coral, o ritmo acelera consideravelmente, pois o samba realmente exige um andamento mais rápído. Por isso, prefiro muito mais a animada versão do samba com Quinho do que a lírica de Andanças. Mas o samba deu novamente um verdadeiro show na avenida, assim como há 16 anos atrás! NOTA DO SAMBA: 9,6 (Mestre Maciel).

É covardia comparar esse samba aos demais, até porque não é esse o critério. A concepção de um desfile mudou bastante, e isso teve reflexos na escolha de um samba–enredo. A interpretação de Luizinho Andanças é muito boa, um retorno em grande estilo desse bom intérprete ao desfile principal. Mas, como já disse algumas vezes, sou contra o fato de uma escola reeditar o samba da outra. Acho a coisa mais sem graça que existe, e ao contrário do que preconizam, só serve para acirrar rivalidades. NOTA DO SAMBA: 9,8 (Cláudio Carvalho).

O mais que conhecido samba da Ilha de 89, é uma alegria só. Ou podendo se dizer, é uma alegria E só. Sendo um crítico detalhista o observador deste samba, com certeza ele perderia vários décimos por não tratar o enredo de forma direta e objetiva, mas sim abstrata e poeticamente apenas. Mas o samba da Ilha tem a alegria e a simplicidade que o carnaval necessita e sente falta nos últimos anos. O refrão de apoio "eu vou tomar um porre de felicidade" é um clássico que exprime o que é o carnaval. Seu ponto negativo é puxar demasiadamente para a marcha. Reparem como ele marcheia facilmente, podendo se tornar uma marchinha de carnaval. A Ilha em 89 o tratou com uma cadência de samba enredo, mas a Porto da Pedra o destratou, transformando-o em uma marcha graças a sua acelerada bateria. NOTA DO SAMBA: 9,5 (Franclim).

A escola apelou para uma das marchinhas mais conhecidas da história. Reeditando "Festa Profana", samba de 1989 da União da Ilha do Governador, a escola conseguiu uma boa comunicação com o público e uma ótima colocação. Mas uma coisa é interessante com relação à faixa do CD: tanto em 2005 como em 2006, a Porto da Pedra traz o andamento mais lento do CD; só que no desfile, a escola vem a mil por hora, com a bateria impondo uma cadência rapidíssima, desconsiderando compassos, fazendo Luizinho Andanças se desdobrar para conseguir cantar o samba sem engolir sílabas. De qualquer forma, é o melhor samba defendido pela escola em sua história. NOTA DO SAMBA: 9 (João Marcos). Clique aqui para ver a letra do samba

12 - TRADIÇÃO - "De sol a sol, é a Tradição". Preto Jóia faz o samba da escola crescer, dando mais garra, categoria e emoção ao até então discreto samba da agremiação. O intérprete foi praticamente escorraçado da Porto da Pedra devido ao pífio desempenho em 2004 (também, com um samba daqueles, nem Jamelão...) e, no samba da Tradição, ele consegue mostrar toda a sua potência vocal, coisa que não aconteceu na gravação do samba de 2004 (estava rouco, com a voz parecida com a do Luizito, ex-Caprichosos e atual 2º puxador da Mangueira). Embora a garra e a empolgação incrementadas ao samba de enredo tenham aparecido também na avenida, o bom hino da Tradição para 2005 não impediu o rebaixamento da escola. O coral também tem uma atuação empolgante. O melhor samba da escola desde 2000 (opinião minha) peca apenas na letra, já que a mesma toca pouco no assunto "soja", o que pode acarretar a perda de pontos no quesito samba-enredo. NOTA DO SAMBA: 9,2 (Mestre Maciel).

Finalmente a escola do Campinho parece ter acertado a mão e escolhido um bom samba. O verso "Brasil, meu Brasil, meu Brasil se fez presente’’ soa repetitivo e trata–se de lugar comum. Esse talvez seja o único aspecto sombrio desse belo hino, que tem tudo pra fazer sucesso na voz do Preto Jóia. NOTA DO SAMBA: 9,0 (Cláudio Carvalho).

Tentando entrar num caminho mais condizente com uma grande escola de samba, a Tradição largou seus temas fúteis e procurou na soja uma mudança de rumo. O estilo de samba não mudou tanto. Não ganhou mais riqueza em letra e melodia. Apenas esteve menos pobre do que antes. Na avenida, o samba passou bem nos primeiros 15 minutos, e depois, assim como o defile, serviu para ninar o público. Os componentes, que sempre levaram bem os sambas mais "oba-oba" da escola, parece que não aprovaram o novo estilo, e pouco cantaram. NOTA DO SAMBA: 8,5 (Franclim).

Podem falar o que quiser, mas este samba é bem bacana. O esquema é mais ou menos o mesmo do samba da Imperatriz - o samba é tecnicamente horroroso, mas é divertido. A performance de Preto Jóia no CD é exuberante e o samba passou razoavelmente bem na avenida. A melodia é o ponto alto. Provavelmente os compositores fizeram a melodia primeiro e, por isso, ficou difícil de encaixar a letra com perfeição. Em muitos trechos, os versos têm menos sílabas do que deveriam ter, fazendo com que Preto Jóia se utilize de uns malabarismos vocais para resolver os problemas. A produção do CD foi perfeita nesta faixa, e o coro ajudou muito o intérprete. O resultado é bom, mas o samba não salvou a escola do rebaixamento. NOTA DO SAMBA: 8,4 (João Marcos). Clique aqui para ver a letra do samba

13 - CAPRICHOSOS - "Chegou Caprichosos! Chegou Caprichosos de Pilares!". A partir do anúncio de Demétrio Costa, o intérprete Serginho do Porto aproveita o gancho para fazer uma homenagem a Jackson Martins, puxador da agremiação de Pilares de 1997 a 2004 e que teve sua bela voz calada em agosto ao ser brutalmente assassinado por criminosos até hoje nunca identificados. O célebre "chegou Caprichosos", o caco mais famoso de Jackson, abre a faixa através do coral. Serginho também homenageia Carlinhos de Pilares, lendário puxador da escola e que luta contra um câncer, imitando a sua risadinha por duas vezes. O samba-enredo animado marca o retorno da Caprichosos a suas origens, com seus enredos irreverentes, críticos e bem humorados. Os vinte anos da LIESA são relacionados com a criminalidade do Rio, lembrando o polêmico desfile de 1993 da escola, onde um dos carros mostrava um assalto a mão armada. A coloquialidade dos versos "Não vai dá pra terminar, eu estava de bobeira/Um pivete bateu minha carteira" e "Vem cá meu bem, me dê seu coração/E não a bolsa, o relógio e o cordão" evidenciam este grande problema social. No mais, diversos enredos históricos que fizeram sucesso nos últimos vinte anos são lembrados na letra, como os da Caprichosos de 1985 ("Vamos recordar e ver também bumbum de fora... Eu ouvi alguém gritar: bota fogo nisso/A virgindade já levou sumiço") e de 1987 ("Ajoelhou tem que rezar..."), além dos da Estácio de 1987 ("Olha aí tem tititi de novo na Sapucaí...") e 1992 ("No me dê, me dá..."), da Vila de 1988 ("Nessa kizomba, viu, tudo mudou..") e do Salgueiro de 1993 ("o Ita foi só alegria"). O esquisito é que dois enredos de 1982, quando a Liga ainda não existia, também são citados na letra, como o Bumbum Paticumbum Prugurundum da Império Serrano (que nos avisou) e o Moça Bonita Não Paga da Caprichosos, que deu à escola o título do Acesso-82 e marcou a primeira subida da agremiação ao desfile principal desde 1961 (lembrado no samba de 2005 nos versos "Pisa na casca de banana e escorrega/Moça bonita aqui também não leva"). Até a campeoníssima carnavalesca Rosa Magalhães, maior vencedora da era-Sambódromo, é lembrada ("A Rosa que desabrochou campeã..."). Há uma distorção no verso "Povo e Liga se abraçam", pois creio que não seja isso que aconteça realmente... O samba, como um todo, é bem criativo, melhorou bastante com as diversas mudanças feitas pela diretoria e é muito bem interpretado por Serginho do Porto, de volta ao Grupo Especial onde estava ausente desde 2000 quando cantou o samba da União da Ilha, conseguiu suplantar a sua fama de pé-frio, já que as escolas que defende, coincidência ou não, sempre são rebaixadas (só para recordar: Ponte-96, Unidos da Tijuca-98, São Clemente-99 e Estácio-2004). A Caprichosos, que passou por um ano turbulento com trocas de comando e mudança de enredo em cima da hora (a idéia era que a escola falasse sobre a reciclagem), até conseguiu levar um bom samba de enredo para a Marquês de Sapucaí, onde realizou um animado e cativante desfile. NOTA DO SAMBA: 9,1 (Mestre Maciel).

Esse, pra mim, é o boi do CD. É ate animadinho, mas tem uma letra sem pé nem cabeça, uma colcha de retalhos dos sambas que fizeram sucesso na avenida. O verso "Vamos recordar e ver também bumbum de fora’’ contraria a mensagem que a escola pretendia passar em 85, que era a de crítica a apelação desnecessária nos desfiles. Serginho do Porto, mais uma vez, vai pegar um pau com formiga na avenida. NOTA DO SAMBA: 8,4 (Cláudio Carvalho).

Se o tema era uma salada, tratando de desfiles sem obedecer a nenhuma cronologia, com escolha de enredos mais antigos que o surgimento da Liga, surgiu um samba apenas alegre, mas com total falta de apuro em letra e uma melodia também pobre. Fica de bom a alegria e leveza, características da Caprichosos que estavam esquecidas. NOTA DO SAMBA: 8,5 (Franclim).

Marchinha sem sentido, fruto de um enredo feito às pressas e de uma sinopse que não fala coisa com coisa. A homenagem à LIESA gerou um desfile trash, de mau gosto impressionante. Entretanto, só o fato de trazer de volta o lado leve e brincalhão da escola, já é muito. Em 2005, a Caprichosos voltou a ser Caprichosos e, só por este motivo, a marchinha merece minha simpatia. Pena que a escola se desviou do seu caminho novamente em 2006. Resultado: rebaixamento, o que foi uma pena. NOTA DO SAMBA: 8,4 (João Marcos). Clique aqui para ver a letra do samba

14 - VILA ISABEL - "Singrando os mares, vem chegando a Unidos de Vila Isabel". Este excelente samba-enredo, que teve como característica a animação e o alto astral na voz de Wander Pires na época das eliminatórias, ganhou no CD um toque de lirismo através do estreante no Grupo Especial Tinga. Embora o intérprete tenha uma atuação discreta na gravação, o samba ficou muito bonito no álbum, continua sendo um dos melhores do ano na minha opinião e marcou positivamente a volta da Vila de Martinho e Noel ao Grupo Especial, de onde estava ausente desde 2000. A exclusão de "Branca paz" entre os versos "Depois da tempestade/a felicidade, a bonança" (que, a princípio, não havia gostado, pois achava que a frase enriquecia a melodia) acabou sendo positiva para facilitar o canto do samba e, na letra, acrescentava pouco. A melodia do hino da Vila para 2005 é sensacional, bem original e envolvente, com bom astral na primeira parte e lírica na segunda (com direito a um coral feminino para aumentar ainda mais o lirismo). A parte "No Egito embarcou, cultura milenar/À fria região, com viking a velejar/A proa da ambição, fez brilhar" é maravilhosa em termos melódicos e o refrão central então "Caravela, leve a Vila..." para mim é o melhor do ano. Para vocês verem o quanto que a ala de compositores da Vila é competente, a escola, que entrará com um dos melhores sambas-enredo do ano, teve um outro samba maravilhoso concorrendo, o do Luiz Carlos da Vila (autor de Kizomba-88), e dizem que, se fosse este o samba vencedor, marcaria época no carnaval. Segundo a diretoria da Vila Isabel, o samba de André Diniz e companhia só foi escolhido devido ao fato da escola ter sido a penúltima a desfilar no domingo e, pelo horário, é necessário entrar com um samba-enredo animado. O samba de Luiz Carlos era cadenciado demais e poderia arrastar a escola. NOTA DO SAMBA: 9,6 (Mestre Maciel).

Um bom samba, que conforme anunciado na letra, marca o retorno da escola de Noel ao Especial, de onde aliás nunca deveria ter saído. Eu só não gosto muito da melodia, um tanto quanto marcheada, a meu ver. NOTA DO SAMBA: 9,3 (Cláudio Carvalho).

Samba fortíssimo, de pegada. A Vila voltou ao Especial com um belo samba enredo, envolvente em sua melodia, com destaque para o refrão de apoio. belíssimo, que chama a escola prá cantar. E a escola cantou junto o tempo inteiro. O refrão principal é talvez o único que não acompanha o restante do samba. Mas a Vila manteve o nível de seus ótimos sambas. NOTA DO SAMBA: 9,8 (Franclim).

A escolha do samba de André Diniz e Cia, em detrimento ao de Luis Carlos da Vila, um dos autores de "Kizomba, Festa da Raça", foi um momento crucial na história da escola. De um lado, uma marcha excepcional, feita para jurado e para funcionar no carnaval de resultados da LIESA; do outro, um samba clássico, lindíssimo, de provocar nostalgia nos sambistas que viveram os grandes momentos do carnaval carioca. A escola escolheu a marcha e conseguiu a proeza de se segurar no Grupo Especial, com um desfile muito ruim do ponto de vista visual. A marcha ganhou quatro notas dez. Vou ser sincero - eu torci para a marcha em 2005. A melodia é muito forte e a letra é belíssima. Trechos inspiradíssimos como o seguinte: "num cisne branco flutua, a luz do almirante em noite de lua", merecem ter sua qualidade reconhecida. O fato de ser uma marcha não tira suas qualidades. Só espero que o sucesso deste samba, bem como do de 2006, não imponha um padrão nas escolhas da Vila Isabel, e que a escola também possa levar para a avenida um samba tão belo quanto o de Luis Carlos da Vila num futuro próximo. NOTA DO SAMBA: 9,7 (João Marcos). Clique aqui para ver a letra do samba

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