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Os sambas de 1991 - Acesso A A
GRAVAÇÃO DO DISCO: A partir da década de 90, a gravação
dos discos do grupo de acesso passou a ter uma qualidade bem
diferente (inferior) do que era verificado no Especial. A
divulgação e a distribuição também sofreram horrores desde
que a Top Tape encerrou as atividades. No disco do Acesso de 1991
– que na época era denominado oficialmente Grupo 1-B –
, a gravação ficou a critério de uma TPM (Tropical Produções
Musicais), que até conseguiu reunir gente boa na produção do
disco. A produção executiva e a concepção dos arranjos
ficaram a cargo do experiente Milton Manhães. A regência da
bateria em todas as faixas ficou com Paulinho de Pilares, que na
época, estava na Caprichosos. Entre os instrumentistas, Mauro
Diniz (cavaquinho e banjo), Jorge Simas (violão 7 Cordas) e Bira
Hawaii (percussão geral). O disco reuniu as 12 escolas que
concorriam naquela categoria e a ordem das faixas foi a mesma do
desfile. A gravação obedeceu à estrutura clássica dos discos
de samba enredo. A primeira levada do samba é cantada pelo
intérprete e o coral entra na repetição dos refrões e na
segunda virada da letra. Os instrumentos de cordas foram gravados
num nível mais baixo do que a percussão. O banjo, executado por
Diniz só fica audível mesmo na faixa da Paraíso do Tuiuti. As
convenções de Mestre Paulinho de Pilares são boas, com um
certo abuso nas paradinhas. No entanto, o andamento das baterias
ficou padrão e algumas escolas que tem cadências bem
características, como Lucas, Império da Tijuca e Ponte perderam
seu estilo. As vozes dos intérpretes estão em primeiro plano e
é possível ouvir o canto com muita nitidez. A safra dos sambas
é boa, a melhor desde a de 1988. NOTA DA GRAVAÇÃO: 9 (Rixxa Jr). 1A – IMPÉRIO DA
TIJUCA – A escola
do Morro da Formiga abre o disco com um tema que obteve
seqüência no ano seguinte: o Brasil, como a terra sonhada, o
país do futuro, o gigante adormecido, a fé na boa índole de
seu povo e a riqueza de seu folclore e belezas naturais. Num
trecho da letra, uma alfinetadinha no item do regulamento que
proibia a nudez explícita nos desfiles de carnaval “o
índio adorava a Lua/ gente inocente, genitália nua/ com lindas
plumagens se enfeitava/ caçava, dançava e cantava”. Samba
correto, sem muitas variações melódicas e uma boa
interpretação de Hamilton Vaz. NOTA DO SAMBA: 8,8 (Rixxa Jr). Clique aqui para ver a letra do samba 2A – LEÃO DE
NOVA IGUAÇU – A
emergente escola da Baixada Fluminense ascendeu ao Grupo de
Acesso bem atrevida. Para desenvolver o tema daquele ano,
contratou Lílian Rabello (na época Sra. Renato Lage). Para
atrair os olhos dos bambas, nomeou o jovem Andrezinho, filho de
Mestre André da Mocidade e futuro integrante do Grupo Molejo,
para diretor de bateria. O título “Quem te viu, quem
TV” é pra lá de manjado, mas o samba é muito feliz e
descreve com maestria o tema, que inspirou Joãozinho Trinta no
carnaval da Beija-Flor no ano seguinte, porém, sem muita
felicidade. Primeiro registro de voz do correto intérprete Jairo
Bráulio. NOTA
DO SAMBA: 9 (Rixxa Jr). Clique aqui para ver a
letra do samba 3A – SANTA CRUZ – Um samba classudo e com jeito de
épico. A Santa Cruz levou para a Sapucaí um tema até então
inédito, contando a vida e obra do escritor barroco baiano
Gregório de Mattos, apelidado “Boca do Inferno”,
devido à ácida crítica social e irreverência contidas em seus
poemas. Os autores, que conquistaram o Estandarte de Ouro de
melhor samba concedido pelo júri do jornal O Globo, só
cometeram um único escorregão. Os versos “surgiu no
seio da sociedade/ lutando pela igualdade/ contra o preconceito
sócial”muito se assemelham com o trecho de “Templo
negro em tempo de consciência negra” que o Salgueiro levou
à Sapucaí em 1989: “e na atual sociedade/ lutamos pela
igualdade/ sem preconceitos sociais”. Destaque para a
interpretação inspirada do excelente – e hoje sumido
– Sobrinho. NOTA DO SAMBA: 9,8 (Rixxa Jr). Clique aqui para ver a letra do samba 4A – UNIDOS DE
LUCAS – Lucas
conseguiu levar para a avenida um samba raro, sem refrões nem o
praticamente inevitável bis. A letra (um libelo pela paz) é
corrida, sem nenhuma repetição. Um fato inusitado, numa época
em que se começava a ouvir sambas com refrões arrasta-povo.
Isso mostrava que a escola ousou escolher um samba com estilo
diferente, que a comunidade aprovou, sem se curvar às
exigências comerciais ou de apelo fácil. Os autores são os
veteranos Cosminho Magnata e o premiadíssimo Luiz de Lima
(ganhador de dois estandartes de ouro consecutivos, em 82 e 83).
As estrofes têm uma estrutura rimada digna de belas obras
literárias. Aparecem versos que foram rimadas a primeira com a
terceira frase, a primeira e a segunda e a segunda com a quarta
frase. Belo momento do Galo da Leopoldina. NOTA DO SAMBA: 9,5
(Rixxa Jr). Clique aqui para ver a
letra do samba 5A – ARRANCO – Mais um belo momento do Arranco. Barracão,
pregos, panos e paetês é uma volta ao tema apresentado pela
Vila Isabel em 1984, em que mostra os bastidores do carnaval e os
operários da folia. O samba é lírico, com boas variações
melódicas, que facilita o canto dos componentes. Último
encontro dos puxadores Sylvio Paulo e Juan Espanhol, que formaram
uma mais afinada dupla de intérpretes do carnaval do Rio de
Janeiro. Logo após este desfile, a bela voz e excelente dicção
de Sylvio Paulo encerrou um ciclo de 15 anos ao microfone da
escola do Engenho de Dentro – sendo 12 como cantor
principal. O veterano intérprete ainda freqüenta a quadra da
escola, mas como um simples folião. NOTA DO SAMBA: 9,7
(Rixxa Jr). Clique aqui para ver a
letra do samba 6A – TRADIÇÃO – “De geração a geração,
nas asas da Tradição” é um samba mediano, mas que ganhou
força no disco. O samba foi conduzido pelos quatro autores, o
que em alguns momentos dificulta o entendimento da letra se o
ouvinte não está acompanhando pelo encarte. O samba é cheio de
clichês, de acordo com o tema proposto, de retratar os ditados
populares. Nos primeiros anos de existência, a Tradição
apresentava naipes de agogôs ao estilo do Império Serrano, como
é possível perceber no disco. Infelizmente, esta prática foi
abolida com o passar do tempo. NOTA DO SAMBA: 9 (Rixxa Jr). Clique aqui para ver a letra do samba 1B – UNIDOS DA
PONTE – “Alô,
meu pooooovo... Vamos sorrir de noooovo!”. Este grito de
guerra marcava o retorno do veterano e excelente intérprete
Grillo, marca registrada da Unidos da Ponte nos anos 80, época
em que marcava presença nos desfiles do Grupo Especial. O
“vamos sorrir” também significa a recuperação da
auto-estima do carioca e o desejo de ver um Rio de Janeiro como a
Cidade Maravilhosa de antigamente. O andamento tornou
“Quando o Rio ria” bem animado. NOTA DO SAMBA: 9
(Rixxa Jr). Clique aqui para ver a
letra do samba 2B – ENGENHO DA
RAINHA – A escola
conhecida por apresentar belíssimos hinos errou a mão desta
vez. “Meu padrinho Padre Cícero, olhai pelo meu
Cariri” é o típico samba de escola pequena. Em tom menor,
que torna o canto dificultado, nem o recém-renomeado Ciganerey
(novo nome para o puxador Paulinho Poesia) segura a onda desse
samba. A bateria também mostra um virtuosismo desnecessário,
com uma paradinha gigante antes de cair para o último refrão. O
tema relembra Lins Imperial em 1981. NOTA DO SAMBA: 7,8 (Rixxa Jr). Clique aqui para ver a letra do samba 3B – UNIDOS DO
CABUÇU – Acredito
que a escolha do tema “Aconteceu, virou Manchete” deve
ter sido o estopim para não ter ocorrido a transmissão do
desfile do Grupo de Acesso em 1991. Como a Rede Manchete tinha a
tradição – desde a inauguração do Sambódromo – de
apresentar as escolas desta categoria, talvez não ficasse bem a
emissora exibir o desfile que tinha uma agremiação homenageando
Adolpho Bloch, sob a acusação de um suposto jabá. Não sei o
Rio de Janeiro, mas o restante do Brasil assistiu naquele sábado
de carnaval ao desfile das escolas de São Paulo. Do Grupo de
Acesso do Rio, só foi mostrado um compacto da Unidos do Cabuçu
– que coincidência! – na tarde de domingo, horas antes
da transmissão do Grupo Especial. O samba tem verdadeiros
achados, como chamar o empresário de “Menino de Kiev”
e usar expressões judaicas como “shalon”, lembrando a
ascendência da família Bloch. Um dos grandes momentos da letra
é quando os autores reverenciam “o homem que veio de
lá”: “Oh, senhor Adolpho Bloch/ ainda ajuda a
cultura nacional/ com a imprensa, falada e televisada/ mostra os
costumes desta terra tão amada”. Para muitos, esse
samba recebeu a pecha de trash. Eu apenas classifico como ruim. NOTA DO SAMBA: 7,2
(Rixxa Jr). Clique aqui para ver a
letra do samba 4B – JACAREZINHO – Belo momento do Jacarezinho
falando sobre a raça negra brasileira. Um ótimo samba, animado,
dois refrões de peso e Eliezer Rodrigues em plena forma, dando
show de interpretação. A escola rosa e branco chegou em
terceiro lugar e por pouco não retornou ao Grupo Especial. NOTA DO SAMBA: 9,6
(Rixxa Jr). Clique aqui para ver a
letra do samba 5B – TUIUTI – Para falar de Luiz Gonzaga, a
escola de São Cristóvão não apresentou um samba tão belo
quanto Lucas em 1982. No entanto, a letra (rigorosamente
descritiva), contava bem a história do Rei do Baião. A
cadência acelerada deixou o samba animadinho, mas com um
andamento difícil para o componente cantar na avenida. Pedrinho
da Flor se revela uma grata surpresa nesse samba. NOTA DO SAMBA: 8,5
(Rixxa Jr). Clique aqui para ver a
letra do samba 6B – CORDOVIL – De tão ruim, esse samba virou cult. A Independentes do Cordovil resolveu homenagear as figuras do submundo da noite, como prostitutas, travestis, ladrões, canas-duras, cafetinas e aos próprios sambistas. Para isso, pediu licença ao “povo da rua” e às linhas do candomblé. A idéia era interessante, mas o samba era sofrível. Teve espaço até para um pequeno plágio. O verso “no esplendor da noite” é muito parecido melodicamente com idêntica frase presente no samba “Vovó e o rei da Saturnália na corte egipciana”, que a Beija-Flor desfilou em 1977. NOTA DO SAMBA: 7,5 (Rixxa Jr). Clique aqui para ver a letra do samba |
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